–Se vocês fizerem alguma coisa com ela, eu arrebento com a cara de vocês... - Graham disse batendo o punho contra a mão.

–Assim?- Nick investiu um soco contra o nariz de Graham que começou sangrar, ele recuou, mas depois de se recuperar andou até Nick e com o punho fechado socou a barriga até ele arfar de dor.

As pessoas no refeitório pararam de comer e começaram a dar gritos de incentivo à briga.

–Eai, Jones?- ele disse subindo as mãos da minha barriga para os meus seios- Acho que você não vai se importar se eu fizer isso.

Quando percebi onde suas mãos estavam, a minha única reação foi dar uma forte cotovelada em seu abdômen, fanzendo-o gemer.

–Isso já é demais- Killian levantou-se bruscamente acertando um murro no rosto de Joey.

–Killian... - falei baixinho- Não vale a pena.

–Ninguém faz uma coisa dessas com a minha garota.

–Parece que o pequeno Killian tem uma namorada durona- Joey disse antes de investir um forte soco no lado direito do rosto de Killian fazendo sua pele ficar avermelhada.

Ouvimos as portas do refeitório abrirem com força. A figura com características orientais entrava no local com um semblante chateado. A sala se tornou silenciosa.

–Parem já com essa bagunça- Senhora Lee disse furiosa- No primeiro dia de aula e vocês já arrumaram confusão. Dois dias de suspensão para os quatro.

–Mas... - Nick tentou protestar.

–Sem mais- Sra. Lee o cortou- Agora, vocês devem tomar algum analgésico para ,pelo menos, amenizar a dor. Senhoritas Swan, Bell, Adams e White, vocês poderiam, por favor, levar esses rapazes até a enfermaria? Vocês ficarão dispensadas das últimas aulas.

Concordamos com a cabeça. Levantei juntamente com Tink enquanto os alunos que ainda estavam agitados por causa do alvoroço retornavam aos seus lugares.

–Você está bem?- perguntei enquanto apoiava os braços de Killian em meu ombro.

–Não muito.

A loira da minha aula de Sociologia segurava Nick ao mesmo tempo em que a moça com pequena estatura, Srta White, guiava Joey. A enfermaria ficava a poucos passos dali. Entramos na estreita sala e a senhora rechonchuda veio ao nosso encontro.

–Já no primeiro dia, meninos?- ele disse com uma expressão brincalhona- Vou pegar algumas pílulas.

Ela entregou uma pequena cápsula azul e amarela e um copo de água para cada garoto.

–Vocês podem se deitar naquelas macas- ela disse apontando para uma porção de camas enfileiradas, encostadas na parede esquerda do local- O remédio pode provocar sono.

Levei um Killian zonzo para se deitar.

–Você não precisava fazer aquilo... - falei quase inaudível.

–Valeu apena- ele disse tocando no meu queixo com a ponta dos dedos.

Logo ele adormeceu. Notei um pequeno ferimento em sua testa.

Levantei-me para pegar um papel para limpar o sangue e fui interrompida por Tink.

–Pode deixar que eu cuido disso- ela disse segurando um lencinho de papel- Você pode cuidar do Graham?

–Claro... - falei forçando um sorriso.

Sentei-me na cadeira ao lado da cama de Graham, percebi que sangue ainda escorria pelo seu nariz. Tratei de limpa-lo delicadamente com o papel que ainda estava em minhas mãos. Voltei a me sentar na poltrona ao lado da maca. Observei que Tink olhava para Killian atentamente.

–Oi... - Graham se sentou meio zonzo- Onde eu estou?

–Você está na enfermaria.

–Tink... - ele disse se sentando na cama- Você pode me levar em casa?

–A Emma pode te levar- ela disse ainda olhando para Killian.

–Por favor- ele fez manha.

Cheguei perto dela e sussurrei.

–Não se preocupe, seu príncipe vai chegar bem em casa.

Ela sorriu em gratidão.

–Meu príncipe... - ela repetiu baixinho e saiu pensativa pela porta.

Só estávamos eu, Killian e a enfermeira na pequena sala. Os outros meninos já tinham despertado e ido para casa.

Peguei um pano e molhei-o com água gelada. Passei-o devagarzinho no lado do rosto de Killian onde tinha recebido a pancada e que ainda estava vermelho e inchado. Notei uma pequena cicatriz no lado direito de seu rosto, uma que eu nunca tinha notado antes.

Já se passava das três horas quando os olhos azuis se abriram.

–Swan?- ele disse com os olhos semicerrados por causa da luminosidade.

–Boa tarde, Bela Adormecida- brinquei ainda pressionando o pano ao seu rosto.

–Que horas são?- ele disse se sentando.

–Três e dez- falei verificando o visor do meu celular.

–Você ficou aqui esse tempo todo?- falou sem jeito.

–É para isso que os amigos servem- falei bagunçando seus cabelos negros.

–Claro... - ele disse se levantando- Eu preciso ir para casa, por sinal.

–Eu te levo- falei em um salto.

–Não é preciso, Emma, eu estou muito bem- ele disse cambaleando para a saída.

–É... Estou vendo- falei ironicamente- Aliás, a Tink me deixou de guarda para saber se o Príncipe dela chegaria bem no castelo.

–É por ela que você está fazendo isso?- ele disse temeroso.

–Não, idiota, é por você, porque eu me importo com você.

Ele abriu um pequeno sorriso quase imperceptível.

–Vamos, eu ainda preciso pegar a minha mochila- falei o arrastando para fora da enfermaria.

Entramos no meu carro, que eram uns dos poucos que ainda estavam estacionados.

–Você me fez passar pela maior vergonha da minha vida- falei com os olhos na direção.

–Do que você está falando?- ele perguntou irônico- Da minha pequena palavra no auditório.

–Sério, por que tinha que ser justo eu?-perguntei o fazendo rir.

–Ah, Swan... - Ele suspirou enquanto o vento morno da cidade batia em seu rosto.

–Enquanto você estava falando lá no auditório, uma menina que estava ao meu lado falou que você era gato- falei fazendo-o levantar a sobrancelha surpreso- Você é um cara muito cogitado, não é?

–Isso é VOCÊ que está dizendo.

–Por favor, as meninas se jogam as seus pés.

–E isso depois de um tempo é irritante. Aquela namorada do Nick, principalmente.

–Ela está na minha aula de Sociologia e pelo o que eu ouvi, a voz dela é extremamente irritante.

–Só uma dessas para namorar o idiota do Nick...

–Nem os conheço e já adquiri um ódio profundo por aqueles dois, principalmente por aquele Joey. O que ele fez foi inaceitável.

–Bela cotovelada, por sinal.

–A sua garota sabe se proteger, Killian.

–Pare na frente daquele prédio verde- ele disse me dando instruções para chegar em seu apartamento.

Chegamos à porta do edifício.

–Você quer entrar?- ele perguntou ansioso.

–Por que não...- falei ajudando-o a subir os lances da escada.

Ele pegou a chave no bolso de trás da calça e abriu o apartamento cuja plaquinha indicava "2D". Entrei no local e me surpreendi com a organização e sofisticação. Um aquário com vários peixes, uma prateleira infestada de livros e uma enorme coleção de miniaturas de barcos piratas eram apenas algumas partes da decoração.

–Quem diria que você seria um homem tão refinado- falei tocando nos pequenos barquinhos com a ponta dos dedos.

–Eu já lhe disse, você não sabe nada sobre mim- ele disse misterioso.

–Quando mistério- falei o encarando.

–Sabe uma coisa que não é mistério? A minha barriga estar roncando de fome.

–Vamos ver o que você tem aqui- falei abrindo a geladeira- Você gosta de macarrão com queijo?

–No estado em que estou, eu como qualquer coisa. Mas, macarrão com queijo é uma boa.

–Vá se trocar, pode deixar comigo.

–Vê se não faz a minha cozinha pegar fogo- ele disse dando uma piscadinha.

–Vai logo, idiota- falei o apressando.

Meia hora depois, a comida estava pronta e Killian ainda não tinha saído do banho.

–A comida está pronta- gritei da cozinha.

–Já estou saindo- ele gritou de volta.

Quando ele saiu do banheiro o cheiro de seu perfume exalou todo o apartamento. Ele adentrou o cômodo da cozinha, onde estava estabelecida a mesa, e eu fiquei perplexa por alguns segundos.

A camisa fina grudava em corpo molhado que deixava transparecer seu abdômen. Ele enxugava os cabelos com a toalha que estava em suas mãos. Os olhos me fitando com um sorriso encantador.

–Sente-se- falei saindo do transe.

Ele se sentou à mesa onde o prato com o macarrão estava posto.

–Você não vai comer?- ele perguntou enquanto pegava os talheres.

–Eu estou bem- respondi.

Ele deu a primeira mordida e fechou os olhos.

–Melhor macarrão com queijo que eu já comi na vida- ele foi abrindo os olhos devagar enquanto dava lentas mordidas.

–Deve ser a fome- falei desconcertada.

–Não, isso aqui está divino. Você quer um pouco de Uísque?

–Prefiro não abusar muito na bebida alcoólica, da ultima vez, eu me lembro de apenas flashes de coisa que aconteceram depois de eu tomar uma taça.

–Seu pai pediu para eu me certificar que você não faria nenhuma besteira- ele disse levantando os olhos do prato.

–E você se certificou?

–Tirando o fato de encontrarmos a Belle e o Senhor Gold aos amassos, a nossa madrugada foi tranquila.

–Eu me lembro de te contar sobre o Neal.

–Sim e mesmo você não querendo, eu vou quebrar a cara daquele palhaço- falou me fazendo dar uma pequena risada.

–Lembrei disso também.

–Mesmo assim, seu pai não gosta de mim.

–Ele não gosta da maioria dos meus amigos.

–Ele gosta do Graham.

–Mas o Graham...

–É o príncipe dos contos de fada- ele interrompeu.

–Quase isso- falei.

–A minha cabeça ainda está doendo- ele disse levando as mãos até o ferimento na testa.

–A Tink que cuidou disso- apontei para a lesão- Ela insistiu.

–Ela é uma ótima amiga... - ele afastou o prato- Mas, não tão boa quando você.

–Calma, eu não sou uma pessoa possessiva- brinquei- E, eu acho que você deve repensar o seu relacionamento com ela.

–Sério, mesmo?- ele disse irônico.

–Qual é, só estou tentando ajudar.

–Vinho... - ele saltou da cadeira.

–O quê?- perguntei intrigada.

–Ele sempre me ajuda- ele disse trazendo uma garrafa.

Vi os raios do Sol descendo pela janela do quarto.

–Só um gole e eu vou embora.

–Por quê?-ele perguntou fazendo cara de manha.

–Porque já vai anoitecer e eu ainda tenho que fazer as tarefas e aturar as perguntas dos meus pais.

Bebericamos um pouco do vinho enquanto jogávamos conversa fora.

–Tenho que ir- falei dando o último gole- Amanhã eu vou para a aula, diferente de determinadas pessoas que pegaram dois dias de suspensão.

–É mesmo!- ele levou as mãos à cabeça- Cuidado para não se perder no caminho.

–Tchau, idiota. Se cuida- disse saindo pela porta.

Desci as escadas no prédio e me deparei, mais uma vez, com o frio da noite. Corri para o carro com medo de pegar algum resfriado. Dirigi pelas ruas de Storybrooke até a minha casa, que não ficava muito longe.

Adentrei meu novo lar quando os últimos raios de Sol já estavam desaparecendo. Tirei as botas e a jaqueta. Notei uma carta destinada para mim. As passagens da Tia Helen. Enfiei-a no fundo da minha mochila a fim de escondê-la.

–Emma, nós já estávamos preocupados- meu pai apareceu na porta da cozinha.

–Onde você esteve?- minha mãe saiu de trás dele.

–Alguns imprevistos na escola, não vai se repetir- falei.

–Vá tomar banho e depois desça para jantar, todos temos novidades.

Concordei com a cabeça e subi as escadas. Abri a minha bolsa e tirei o envelope de dentro dela. Levantei meu colchão e coloquei-a entre ele e o suporte de madeira. Prometi a mim mesma que só usaria aquela passagem em uma ocasião muito especial e com alguém muito especial.

Tomei um banho rápido e vesti um short e uma blusa larga.

–Emma, venha comer- minha mãe chamou enquanto estava descendo as escadas.

–Então, como foi seu dia, minha filha?- meu pai perguntou enquanto botava um pouco de salada no prato.

–As aulas são ótimas e a estrutura é magnífica- falei colocando na boca um pedaço de carne.

–Graham não foi para a delegacia hoje. Ele me disse que faltavam duas matérias para ele concluir a faculdade então eu fiquei como titular.

–E eu estou muito orgulha- minha mãe disse passando a mão no ombro de meu pai- Emma, você precisa conhecer os meus alunos, eles são uma graça.

–Tenho certeza que são... -suspirei- Mãe- chamei sua atenção- obrigada por me mostrar a escolha certa a se fazer. Por me mostrar que a escolha certa era Storybrooke. Por me mostrar a minha verdadeira casa.