Sweet Sacrifice escrita por Hacda


Capítulo 4
Derramamento de sangue




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Alaíde entendia muito bem o porquê de suas roupas de luta sempre tivessem a cor preta agora: para que o sangue nelas não fosse tão evidente depois de uma batalha. Sim, ela já tinha lutado antes. Mas agora era algo diferente. O sangue ainda quente em suas roupas e mãos não era sangue de demônio, mas sim sangue de seus irmãos. Ou no mínimo, de seus antigos irmãos.

Há exatamente uma semana o anjo a visitou e lhe deu uma missão clara. As mulheres em Idris estavam inférteis e nenhum dos bebes que conseguiam sair da madri, nasciam com vida. Era um horror e todos estavam confusos e temiam que fosse uma obra das trevas. Nenhum deles sabia, mas a verdade era que isso tudo vinha diretamente do alto.

Aproveitando o alvoroço a primeira coisa que Alaíde fizera foi vestir um capuz longo preto e ir até ao Inquisidor alegando estar grávida. Não foi difícil enganá-los, eles confiam muito no nome Sweet – aliás, confiavam. Chegando na sala foram necessárias apenas uma flecha para o Inquisidor e mais nove para os outros líderes caçadores ali presentes.

Até agora tudo ainda parece surreal para ela. Ele chamando seu nome, lhe dando um sorriso que chegava a algo próximo de honra e orgulho em tê-la em seu tribunal, então ela sendo levada até o centro da capela e todos prendendo a respiração enquanto ela abria lentamente o capuz. Ao invés de uma enorme barriga ela tinha sua roupa de batalha e com um único movimento o arco e flecha em suas mãos. Claro que muitos se propuseram a lutar contra a... a traidora; ouviu a garota de cabelos negros algum caçador dizer enquanto marchavam em sua direção. Foi fácil matá-los ela tinha que admitir. Muitas mortes teriam sido poupadas, e assim ela tinha planejado, porém ela também esperava que ao matar o Inquisidor todos os caçadores a vissem a partir daquele momento como maluca, como traidora, como uma garota jovem e irresponsável que será expulsa de Idris.

E agora, aqui estava ela rumando sem direção com o coração alto em seus ouvidos e olhos marejados. Assassina. Suas roupas encobriam o sangue, mas não a dor e confusão que tudo aquilo estava lhe causando. Mas foi o Anjo querida, o anjo que lhe disse tudo isso. Não existia nenhuma confusão nisso.

Com sua estela fez um portal para Idris e se dirigiu a casa dos Green. Os Green’s eram uma família tradicional de pastores de Idris. Gabriel Grenn era o pai de três filhos que cuidavam de animais que possuíam em suas vastas terras. Lucas, segundo o próprio anjo estaria lá. Alaíde ainda tinha suas dúvidas, ela tinha visto três corpos sendo cremados. Seu pai, sua mãe e seu irmão que era apenas um ano mais velho. Lucas. O caçador que vivia cheio de sonhos bobos e no mundo das fantasias. Aquele que brincava que estelas eram brinquedos, e que chorou ao descobrir que algumas de suas runas nunca mais sumiriam de sua pele. O garoto com os cabelos chocolate e os olhos cinzas que lembravam muito a soma dos seus pais. Alaíde era diferente, sempre fora a cópia da mãe, não havia dúvidas. E ali estava o irmão bonito que as vezes lhe causava inveja por ser tão “equilibrado”.

Nunca ela tinha olhado para ele com esses olhos. Olhos de paixão. Mas agora teria que se casar com ele e como disse mesmo o anjo, ela tentava lembrar enquanto aterrissava nos campos verdes de Idris e sentia aquela sensação maravilhosa. O sol, a brisa terrestre jogando seus cabelos para trás.

Ah sim, ela lembrou-se “... você caçadora terá de casar-se com ele e começar uma linhagem pura dos caçadores das sombras...” Começar com uma linhagem. Aquilo soava com outras palavras em sua mente. Caminhava quando reparou um ferimento em sua perna direita que começava a mostrar sinais da batalha.

Ela escolheu uma arvore para se sentar e fazer uma iratze, uma bem ao lado do coração, para que talvez curasse também todas as outras dores. A caçadora esperou fechando os olhos e se deitando lentamente no chão úmido e gramado. A dor não passou e ela entendeu. Existem feridas que não podem ser curadas, feridas que mesmo depois de cicatrizadas continuam a doer. Seus pais, seu irmão, sua antiga vida, seu cão albino, sua missão e... e o anjo Raziel.

Por que, pelo anjo, ela estava pensando no anjo? Ok, isso saiu errado. Por que a imagem do anjo no lago, seus olhos miseráveis e sem nenhum resquício de humanidade, as asas esplendorosas e a voz sem emoção. Anjos deveriam ser loirinhos, com bochechas rosadas, bonitos – não que o anjo não fosse, ele era bem gatinho Alaíde assentia – bondosos e que ajudavam as pessoas. Alaíde parou e se sentou. Será que anjos conheciam pensamentos? Cacete. E eu estava pensando que ele era uma gracinha, ótimo.

Foco garota. Disse a si mesma. Mas continuou deitada até pegar no sono. Acordou com a sensação de alguém a embalando nos braços, primeiro ela pensou ser mais um sonho com seus pais mortos, todavia ao abrir os olhos lentamente viu que estava nos braços de um garoto. Com um giro de 45° de seu corpo ela saltou de seus braços e lhe deu um chute forte com a perna o fazendo cair no chão. Se recompondo em pé procurou pela estela em sua mão e por sua pedra de bruxa, já estava escuro reparou, sentindo o sangue de caçadora vibrando em suas veias e assumindo o controle.

Ela se colocou em posição de ataque e esperou o garoto se levantar do chão. Ele estava rindo ela constatou aproximando a luz à sua frente.


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Notas finais do capítulo

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