Fevereiro de 2013.

Reencontrei alguns amigos que não via desde o ano passado e outros que havia visto semana passada. Todos alegres e de alguma forma, eu também. A manha passou rápida e quando vi, já era tempo de ir embora. Eu nunca tinha visto Eddy Vizentin, e de repente ele estava em todos os cantos da minha mente. Não o vi nas trocas de aula, intervalo ou depois. Fui para casa sozinha.
Morava apenas com a minha mãe, já que meu pai era um tipo-canalha. Mas vinha me visitar nos finais de semana, muitas vezes com mulheres diferentes. Minha mãe não se importava, sempre que ele e sua mulher nova iam embora, ela me dizia que nunca o amou, mas chorava no banheiro escondida antes de dormir. Talvez fosse por ele, ou por mim, ou por todos nós. Eu nunca perguntei.
No outro dia fui até o Café. Eddy já estava lá.
– Olha quem está aqui. - Ele disse enquanto eu sentava do seu lado.
– Bom dia, Eddy Vizentin. - Sorri para ele e depois para a garçonete. - Bom dia, um café, por favor. -
– Eddy, só Eddy. -
A garçonete que era a mesma do dia anterior, me serviu o café. Logo depois ligou o rádio.
– Ontem não te vi no intervalo. Nem nas trocas de aula. Nem depois na saída. - Eu disse.
– Hum, ficou me procurando? - Ele riu. - Eu fiquei em sala, desenhando. -
– Ah, é mesmo, você desenha. -
– Eu te falei né. - Ele mexeu nos cabelos e sorriu, eu quase caí para trás.
– 7h00 - A garçonete disse - Não vão se atrasar, pombinhos. -
Saímos da cafeteria e caminhamos até o colégio, novamente. Mas dessa vez Eddy não parou para contar suas histórias, ele queria saber de mim. E aí que ele me pegou; O que eu tinha para contar? Que eu tenho pais separados e que minha mãe é meio depressiva por conta disso e meu pai nem sabe a idade que tenho? Devo contar também que nunca tive um namorado porque a única coisa que consigo conquistar ainda não existe? Acho que eu deveria lhe contar sobre minhas pilhas de livros, meus vinis, e todas as coisas que me acalmam. Lhe contar sobre a mania de café de manha, ou o costume de dormir apenas de meias e calcinha, ou de deitar na banheira para ouvir a chuva. Deveria lhe contar que eu amo as estrelas, e que o que eu mais queria era ver as que abitavam o céu de sua boca. Mas eu não contei. Eddy apenas soube de mim o que todo mundo sabia. E que ninguém gostava. Mas ele gostou. Ele gostou de uma metade minha, e eu gostei da ideia que fiz dele.
Chegamos no horario, mas ele queria ficar mais comigo. Pela primeira vez segurou minha mão e disse para irmos para um lugar de paz. Eu questionei onde e ele disse que qualquer lugar comigo era o suficiente. Sorri.
Ele me puxou até o parque ao lado do colégio, onde a maioria dos alunos matavam aula. Encontrei alguns amigos por lá, que no olhar já perguntaram que caralhos eu, Mabelle, estaria fazendo ali com um cara que conheci no dia anterior e que a maioria não fazia ideia de quem era, mas todos queriam saber. Acenei de longe, e Eddy estendeu seu casaco no gramado para que eu pudesse sentar. Ficamos a manha debaixo de uma árvore que Eddy colocou o nome de Belle, pois segundo ele, era linda, como eu. Discordei, mas não queria discutir. Ele acariciou minha bochecha.
Fomos embora do parque antes do sinal do colégio tocar. Eddy me levou até a metade do caminho, me deu um beijo na testa e seguiu seu caminho. Eu fiquei o vendo ir embora, eu queria gritar; volta, volta, fica, fica. Mas apenas dei meia volta e fui para casa. Me senti completa naquele dia.