Brennan mexeu seu café com leite. Já não estava acostumada ao silêncio. Na noite anterior demorou a pegar no sono, e por um motivo que lhe pareceu ilógico. O apartamento estava muito silencioso. Silencioso e vazio.

–Mamãe! – ela levantou os olhos, em um reflexo. Era uma garotinha na mesa ao lado, tentando chamar a atenção da mulher que conversava distraída.

Era cedo e o Royal Diner estava quase vazio. Mas ela não aguentou mais ficar em casa sozinha. Então, enquanto observava a garotinha bater com a colher na mesa, ela viu. Pelas portas de vidro do restaurante, ela viu duas das pessoas mais importantes no mundo para ela.

–Ma ma ma ma. – ela viu Nicholas repetir, a mãozinha abrindo e fechando como se isso a trouxesse para mais perto dele.

–Olá, meninos. – disse ela, pegando Nicholas no colo e dando um beijo na bochecha de Parker.

–Ele ta ficando pesado, Bones.

–E ele vai crescer ainda mais. Logo vai correr atrás de você.

Parker sorriu e Brennan encheu Nicholas de beijos, fazendo o menino gargalhar.

–Onde está seu pai?

–Ele deve...

–Parker! Por que saiu correndo na frente?

Brennan finalmente pôs os olhos na pessoa que completava sua cota de pessoas mais importantes. Booth estava usando uma camiseta azul-clara e um boné, a bolsa de fraldas de Nicholas no ombro.

Parker se aproximou de Brennan com seu olhar de cachorrinho perdido, a abraçando pelo pescoço.

–Estava com saudade da Bones!

Booth pousou a bolsa na cadeira vaga, dando um sorriso imenso para ela.

–Não tanto como eu estava, mas parece que não sobrou muito para mim. – disse, vendo cada um dos garotos sentado em uma das pernas dela.

Ele se abaixou para dar-lhe um beijo rápido nos lábios.

–Não tanto como eu senti falta de vocês. – disse Brennan – Tem ideia de como aquela casa fica sem vocês três?

–Bem mais organizada, com certeza. – disse Booth, rindo e se sentando à frente dela.

–Como foi a viagem?

–Sem incidentes. Jared mandou lembranças, disse que se ofendeu com o fato de você não ter ido vê-lo por causa de trabalho.

–Mas Booth, eu tinha que terminar de catalogar uma série de...

–Eu sei, Bones. Ele estava brincando.

–Estou com fome, pai. Posso pedir um hambúrguer?

–Claro, Parks! Com batata?

–Com montes de batatas!

–Tata! – exclamou Nicholas, proclamando sua concordância.

Booth fez o pedido, e Parker se virou para o irmão, fazendo a velha brincadeira do 'Cadê o Nicky? Achou!'

Brennan observou os dois meninos. Parker era extremamente carinhoso e protetor com o menor, sendo interessante ver a interação entre os dois. Parker era o herói de Nicky, que sempre que o via estendia as mãos, sorrindo, repetindo Ake-Ake-Ake. A forma como ele começara a chamá-lo e que já havia virado um apelido na família para Parker.

–Você está distraída, hoje, Bones. – disse Booth, baixinho, depois que os dois garotos já estavam entretidos com a comida.

–Faz um ano hoje.

Ela não precisou elaborar mais para que ele entendesse sobre o que ela falava.

–Um ano que nos reencontramos. – disse Booth, um sorriso tranquilo.

–Dois anos que nos separamos.

–Você se imaginava aqui dois anos atrás?

–Como assim aqui? Sempre vínhamos aqui no Diner.

Ele sorriu mais.

–Quero dizer onde estamos, como estamos hoje.

–Não, Booth. Nunca imaginei isso.

–Que bom que evolução existe, não é?

–Que bom que eu te ensinei sobre evolução, não é?

Ele riu por algum tempo, mas percebeu quando a expressão dela mudou, para séria e pensativa.

–Eu quase estraguei tudo, não foi? – disse Brennan, sem olhá-lo. – Se eu não tivesse engravidado do Nicky... quero dizer, teria eu a coragem? Se eu soubesse antes, Booth...

–Temperance... – disse ele, baixinho, e Brennan finalmente o mirou nos olhos. – Nosso passado é isso, passado. Deixe ele para trás, não vamos conseguir mudá-lo. Vamos pensar no futuro, está bem?

Ela sorriu para ele. Ainda se surpreendia com o poder de Booth de falar a coisa certa no momento certo.

–Alange!

Booth olhou para Nicky, e então para Brennan e riu. O garoto erguia uma das mãos, mostrando os dedos, em referência à brincadeira que a mãe sempre fazia.

Brennan pegou a mão do filho na sua, mostrando para ele as cinco falanges. Booth observou a cena, sorrindo. Haviam tido um começo inusitado, e nem de longe eram uma família normal. Mas eram uma família, e isso era tudo que importava.

FIM