Passaram-se vários minutos até que eu conseguisse tirar todo vestígio de sangue da minha pele. A água da banheira já estava gelada e a sua cor se parecia muito com a do meu cabelo . Passo meus dedos levemente desde a raiz do meu coro cabeludo até as pontas, que graças ao falecido Lockart, não passavam do meu pescoço.
Sinto um arrepio na espinha quando lembro do irmão de Jhon. Fecho os olhos com força tentando conter as lágrimas.
Ele mereceu.
Fiquei repetindo isso na minha cabeça até sair do banheiro enrolada em uma das toalhas felpudas que encontrara por ali.
Estávamos na casa do amigo de Louisa , ele não se mostrara nada chocado quando atendeu a porta e deu de cara com uma ruiva maltrapilha, coberta de sangue e com um novo título nada encorajador como "assassina" que transpassava pelo seu rosto.
Louisa estava exausta, por isso Heath, seu amigo, não fez muitas perguntas.
Bill estava na sala de reuniões discutindo com Jhon sobre o que faríamos e como eu estava curiosa como nunca pra saber como os dois estavam, me direcionei para lá.
Depois de Lockart cair no chão inerte, Jhon se arrastou no chão e abraçou o irmão. Só depois do que pareceu uma eternidade, ele pediu para que Louisa me levasse pra casa dr Heath.
Ele não me olhou em nenhum momento.
–...mas você sabe que isso seria incabível-ouvi Jhon sussurrar-nunca que eu...
–È o que tem que ser feito!- Bill o cortou. Me encostei do lado da porta e agucei os ouvidos.
–Qualquer um no meu lugar que tivesse um pingo de caráter faria isso. Eu já exigi demais de você.... E ainda tem a Ana. -meu coração bateu mais forte e eu me esgueirei sorrateiramente pra poder ver os dois caras.
Jhon estava com os cabelos compridos amarrados em um coque desajeitado, seus olhos pareciam injetados e sua roupa ainda estava suja de sangue do irmão. Mordi o lábio e senti o peso me atingir. Eu o matara.
Matara um homem.
Funguei e encostei a testa na porta.
Ouvi passos do outro lado, e se uma mão não tivesse me segurado, eu teria desabado.
Olhei para Jhon, que ainda segurava meu braço. Pulei em cima dele e passei meus braços em volta de seu pescoço. Não disse nada por um tempo, só fiquei chorando e deixando um rastro de ranho na sua camiseta.
–E-eu...- gaguejei.
–Ana, tudo bem-ele sussurrou no meu ouvido.- Não estou querendo sua morte, se è o que acha.
Me afastei um pouco.
–Eu estava com tanta raiva e medo...eu...-Jhon me deteve, segurou meus ombros e me forçou a olhá-lo.
–Você fez o certo. Ele não era mais o meu irmão. Só foi difícil processar no começo.
Pisquei e limpei o nariz com o dorço da mão.
–Tudo bem-disse com a voz baixa. Levantei os olhos e vi Bill, ele estava com as mãos no bolso e um sorriso no rosto. Mas seus olhos não sorriam.
–Bom, vou deixar vocês conversarem... Vou ver como Louisa está e depois agradecer ao seu amigo.-disse Jhon, antes de se afastar.
Entrei na sala e fechei a porta atrás de mim.
–Fico me perguntando como essa toalha não caiu ainda.
Fico vermelha.
–Eu...hm... Acho que não tenho uma resposta formada pra isso.
Ele riu e abriu os braços pra mim, e sem hesitar, fui até ele e deixei ser envolvida por ele.
–O que vamos fazer agora? -pergunto suspirando.
–Eu tenho um plano.
Me afasto um pouco pra ver seu rosto.
–Que consiste em que?-Indago preocupada.
–Vou me entregar pra polícia. Jhon mantém o emprego e eu paro de arruinar a sua vida.- diz.
Sem pensar duas vezes, enfio um soco na cara dele.
–Você è um babaca, e nem pense em me deixar. Entendeu?