Between Light and Dark - Pride escrita por LaraEHTeodoro


Capítulo 22
Sophie Highwind




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Sophie estava tomada por medo e agonia. Talvez estivesse beirando a histeria. Eles correram por horas; sabiam que a criatura já tinha parado de segui-los, e tentavam adiar o aparecimento da próxima.

– Como você sabe que vai aparecer mais um monstro? - questionou Sophie.

– Depois que combater monstros vira sua rotina, você simplemente sabe - respondeu o garoto ao seu lado.

Sophie já estava péssima - suas pernas doíam, estava com fome, sede, além de ter um terrível gosto na boca e necessitar urgentemente de um banho -, mas Nero estava visivelmente em pior estado. Parecia extremamente menos cansado, embora já aparentasse sinais de fome. Virava a cada esquina e seguia a cada caminho retilíneo investigando cada centímetro e tocando cada rachadura. Pela primeira vez, Nero parecia um tanto quanto desnorteado, o que deixou Sophie bastante surpresa.

– Certo, pelo bem de nós dois, acho que devemos parar um pouco e comer - disse Sophie rompendo um longo momento de silêncio.

– Não podemos parar - Nero retrucou imediatamente - É perigoso.

Sophie ponderou por um momento sobre a resposta dele até que se lembrou de uma coisa.

– Sua espada é uma lanterna, não é?

– Sim, por quê? - Nero parou e fixou seu olhar, um tanto duro demais, em Sophie.

– Você tem água em spray para limpar a espada, se parássemos poderíamos mandar uma mensagem de Iris para os outros.

Nero se calou por um momento, como se estivesse pensando no assunto, embora seu olhar não amolecesse.

– Talvez, mas e se eles estiverem em batalha, ou sem luz suficiente para receber?

– Bem, então… - Sophie começou a pensar em John e nos outros. Tinha de saber se estavam bem. Fizera uma promessa para si mesma de se encarregar da segurança de seus amigos, mas nem isso estava cumprindo direito - Não. Nós temos que tentar.

– Tentar, claro - Nero disse olhando incrédulo, com uma voz inflexível diferente do usual tom de brincadeira e ironia - Se seu namoradinho morrer por isso, não me culpe.

Nero estava sendo idiota, mas Sophie percebeu que em um ponto ele tinha razão: ela não podia deixar ninguém morrer ou ferir-se por conta de seus temores pessoais.

– Bem, aposto que lutaríamos melhor com o estômago cheio - disse Sophie, ainda tentando convencê-lo - Ou você prefere correr o risco de não conseguir lutar por conta de desnutrição?

– Certo - o romano disse a contragosto - Mas nada muito barulhento. Já tem barulho demais nesses túneis, não consigo me concentrar.

Sophie apurou os ouvidos, e mesmo assim continuou não ouvindo nada além da respiração pesada deles.

– Sem paranóia, ok? - disse Sophie para o garoto desesperado. - Vamos comer. O que você trouxe ai?

– Alguns sanduíches, um pacote de bolacha, e algumas garrafas de água - disse Nero abrindo a mochila e dando uma olhada em seu conteúdo - E você?

– Coisas um tanto quanto lights. Não sei escolher comida pra missão - disse Sophie mostrando um bolso da mochila cheio de barrinhas de cereal e alguns sucos diet.

– É, isso não faz barulho. - Nero sorriu tentando, sem sucesso, parecer confiante.

Eles comeram em silêncio. Nero ficou praticamente o tempo todo de olhos fechados, enquanto Sophie ainda tentava, sem sucesso, ouvir os ruídos que Nero havia comentado. Talvez seja um dos poderes de filhos de Mercúrio, se bem que não faz sentido eles terem ouvidos aguçados. A menos que se considere que Mercúrio e Hermes são deuses dos ladrões e ladrões precisam estar sempre atentos aos barulhos que...

– Achei! - Nero gritou tão alto que Sophie, distraída em emaranhados de pensamento, quase caiu para trás.

– Cade aquele sem-coisas-barulhentas-que-podem-chamar-monstros, seu sem noção? - Sophie quase gritava com ele.

–Tão longe quanto os monstros que andam por aqui. - Nero parecia encantado. - Isso não é um túnel qualquer.

– O que isso significa? - Sophie não estava entendendo. Já não era óbvio que aquele não era um túnel qualquer?

– Eu sei a direção para sair daqui, e achei dois semideuses no caminho.

– Amigos ou inimigos? - disse Sophie preocupada com a identidade dos estranhos. Será que eram seus amigos? Provavelmente não. Aliás, os romanos poderiam muito bem ter descoberto o túnel.

– Não sei, mas estão enfrentando um bicho realmente grande - Nero parecia ter renovado toda a energia, e estava sorrindo novamente, porém agora um sorriso verdadeiro - Vamos andando?

Eles juntaram as coisas e saíram correndo. Viraram em alguns corredores até que deram de cara com uma parede lisa, diferente do resto do corredor, que era feito com rochas com musgos.

– E agora, GPS ambulante, o que nós fazemos? - Disse Sophie se fingindo irritada - Você nos trouxe de cara à uma parede.

Nero tocou a parede, fechou os olhos por um momento e sorriu.

– Isso não é uma parede. - Ele abriu os olhos e ativou a espada - É uma armadilha.

Nesse momento uma risada estrondosa saiu de dentro da parede, seguida de uma enorme fera, obrigando os semideuses a recuarem alguns passos. Tinha o corpo de um grande leão e uma cabeça de mulher, seria bonita, é claro, se não fosse um monstro imenso. Possuía enormes asas que iam de uma parede à outra do túnel.

– Muito sagaz, semideus. - disse a criatura com uma voz quase angelical.

Sophie estava espantada. Nunca imaginara que uma esfinge pudesse ser tão fascinante. Dispunha de penas e pelos dourados, além de olhos que possuíam profundos tons de verde. Para uma criatura que devorava a qualquer um, parecia até simpática.

– Chamo-me Esfinge. - disse ela - Mas creio que já discerniram.

Sophie lançou seu olhar à Nero, como se pudesse encontrar no próprio garoto uma explicação para aquela circunstância.

– Vejo que estão perdidos. Há tempos não encontro um mártir para entreter-me.

– Não estamos perdidos. - disse Nero sabiamente. A última frase da Esfinge podia ter assustado Sophie, já Nero, aparentemente, estava apenas mais atiçado.

– Excelente - anuiu o monstro - Sem preocupações vocês poderão se concentrar no jogo.

– Jogo? - questionou Sophie erguendo as sobrancelhas - Achei que fosse apenas uma charada.

– Digamos que alteramos os padrões - respondeu a Esfinge impaciente - Atualmente são dez enigmas e a cada resposta correta, os participantes terão a permissão de retrucar uma pergunta.

– Não iremos jogar jogo nenhum. - Nero parecia tão impaciente quanto a Esfinge - Não temos perguntas a fazer. Então, se puder nos dar licença…

Os olhos verdes e profundos da fera faiscaram.

– E vocês têm certeza disso? - Nero e Sophie se entreolharam de repente em dúvida - Sendo assim, se realmente não têm nenhuma pergunta a fazer, podem jogar ganhando, em troca, apenas o direito de viver. Creio que já ouviram falar em minha lenda: Decifra-me ou devoro-te; esses padrões felizmente não foram alterados .

O coração de Sophie se acelerou, batia quase tão rápido quanto as asas de um beija-flor.

– Nero, - o nome escapou antes mesmo que Sophie tivesse a oportunidade de pensá-lo - Talvez valha mais a pena tentar descobrir sobre como vão nossos amigos e descobrir também detalhes que precisamos em nossa missão.

– Porém, semideuses, só poderei responder as perguntas que meus superiores permitirem - detalhou a fera.

– Certo - disse Nero embainhando a espada a contragosto - Vamos lá, então.

– Pode fazer a charada - Disse Sophie, fazendo a Esfinge sorrir de uma maneira maléfica.

– O que é que quanto mais corre, mas facilmente se apanha. É muito bonita, mas não tem cor. É saborosa, mas não tem sabor. Toma sol e nunca fica bronzeada?

Sophie não chegou a saborear o silêncio. Ao seu lado Nero logo disparou.

– A água? - questionou - Quer dizer, a água. - afirmou por fim.

– Muito bem, semideus. Resposta correta.

Nero soltou um breve riso.

– Está subestimando a minha inteligência?

A esfinge arqueou as sobrancelhas.

– Essa é a sua pergunta?

– Não! - interviu Sophie o mais rápido possível. Depois, virou-se para Nero - Ok, deixe-me ver… Nossos amigos estão bem?

A esfinge não hesitou ao responder.

– Dois deles sim, dois deles não.

– O que quer dizer com isso? - perguntou Sophie, intrigada e ao mesmo tempo exasperada com a resposta um tanto quanto vaga da fera.

– Sinto muito, porém agora a vez é minha - Nero bufou enquanto a fera prosseguia - O que é que tem rabo de gato, olhos de gato, orelhas de gato, mia como um gato, mas não é gato?

Sophie ficou confusa. Toda a descrição só encaixava ao animal que era negado. Ela recuou tentando se lembrar de todas as charadas que já ouvira, e tentando descobrir alguma pegadinha. Sua mente trabalhava a todo o vapor. Quanto mais pensava a respeito, menos respostas plausíveis vinham em sua cabeça, apenas uma, um tanto quanto besta, que não poderia ser a resposta por conta de sua facilidade. O que poderia ter todas as características de um gato e não ser um gato? A não ser...

– Uma gata? - arriscou Sophie.

– Precisamente - respondeu a esfinge.

Nero reagiu em sobressalto, sua palma direita encobrindo sua testa enquanto liberava um suspiro de profunda frustração e resmungava algumas ofensas que Sophie realmente esperava que a esfinge não ouvisse.

– Quais dos nossos amigos não estão bem?

– Dois deles que preferem garotos.

– Ué - disse Nero confuso. Ele obviamente ainda não sabia do segredo de Henry - Mas só a Lauren…

– Próxima charada, por favor - esquivou-se Sophie.

– Como queira - disse a esfinge - O que é que anda durante o dia na casa toda e, à noite, se esconde atrás da porta?

– Uma vassoura - Nero respondeu após cerca de meio segundo.

– Exatamente - respondeu a mulher-leão aparentando sinais de irritação.

– Qual o caminho para encontrar os que estão em perigo? - Sophie logo perguntou.

– Para encontrá-los, basta seguir a próxima entrada à esquerda - respondeu a esfinge, e sorrindo de esguelha; acrescentou: - Digo, se vocês passarem os meus desafios, é claro.

Sophie e Nero se entreolharam transmitindo expressões de esperança, coragem e até mesmo medo.

– O que é que entra duro e seco e sai mole, pingando?

Nero fez uma careta estranha e até corou, o que Sophie não soube interpretar, já que a resposta era tão óbvia.

– Macarrão!

– Justamente - respondeu a esfinge, e Nero corou ainda mais.

– O que foi? - perguntou Sophie.

– Hã? Ah, nada! Deixa pra lá - respondeu Nero - É… Esfinge, onde estão os deuses que não nos ajudam na guerra?

Sophie se sobressaltou. Não havia pensado nisso, embora fosse esperado que os olimpianos ajudassem e tivessem lados na guerra. Como Sophie nunca se perguntou sobre isso? A esfinge deu um um sorriso dissimulado.

– Boa pergunta. Ótima, aliás. Me parece plausível que vocês, semideuses, não haviam parado até então para pensar nessa questão - admitiu a fera alada, ainda que um pouco receosa - Como na última guerra que aconteceu entre os acampamentos há 16 anos, os deuses se fecharam para resolver seus conflitos internos. Novamente estão perdidos e conflituosos com suas identidades.

– Eu bem que imaginava - falou Nero - Isso responde muita coisa…

– Vamos em frente - interrompeu a esfinge - Quinta charada: Que criatura anda pela manhã com quatro pés, ao meio-dia com dois, e à noite com três? É minha clássica, porém continuo me orgulhando pelo tanto de “heróis” que devorei por sua causa. Agora respondam, por favor, e apresentem uma justificativa.

– O homem - disseram Sophie e Nero em uníssono.

– Que engatinha como bebê no início da vida, ou seja, de manhã, anda sobre dois pés na idade adulta, ou seja, ao meio-dia, e usa uma bengala quando é ancião quando sua vida está a acabar, ou seja, à noite - completou Nero tediosamente, como se tivesse sido obrigado a repetir aquilo diversas vezes.

A esfinge bateu suas asas em um prelúdio de fúria.

– Certo, certo - disse a fera, com um tom forçado de calma - Façam logo a próxima pergunta.

Sophie teve uma grande ideia de pergunta e colocou a mão por cima da boca de Nero antes que ele ousasse fazer uma pergunta menos importante da que iria elaborar.

– Quem iniciou a guerra? Os gregos ou romanos?

A esfinge de repente parou todo o mínimo movimento que estava realizando, até sua respiração, e começou a olhar fixamente para os semideuses em sua frente. Seus olhos verdes alternavam rapidamente entre Sophie e Nero.

– Chegou a hora de minha partida - anunciou ela finalmente.

– O quê? - disse Sophie semicerrando os olhos incrédula.

– Mas pelas minhas contas ainda faltam cinco perguntas - argumentou Nero.

– E você ainda nos deve uma resposta - disse Sophie.

– Não se lembram de que posso responder apenas perguntas permitidas? - Sophie e Nero arregalaram os olhos e escancararam as bocas - Mas não se preocupem, semideuses, sua resposta não tardará a chegar. Adeus!

A esfinge levantou vôo e desapareceu pelo teto do túnel. Quando abaixaram os olhares, os semideuses notaram que a parede já não estava mais ali.

– O que faremos agora? - perguntou Sophie após se recompor.

– Bem, a primeira à esquerda, certo?

E os dois seguiram por um longo trajeto do mesmo: pedras musgosas, terra batida e tochas de fogo grego. Terra batida, pedras musgosas e tochas de fogo grego. Por todo o caminho era tudo o que havia, até que enfim encontraram a comunicação à esquerda. Não houve nem discussão, apenas seguiram por mais um longo período de mais fogo grego, terra batida e pedras musgosas.

– Tem como você verificar se eles estão mais próximos? - perguntou Sophie ansiosa para ver seus amigos novamente.

– Claro. E estão - respondeu Nero, que continuou com as mãos grudadas nas paredes.

– Será que a esfinge realmente só fez isso por diversão?

– Deve ser. Embora ela seja a única que realmente se diverte. Tanto gregos quanto romanos aprendem a resolver charadas desse tipo nos acampamentos, então acabou ficando mais fácil para mim. Por isso ela estava tão irritada quando saiu.

– Mas o quê…

Sophie não chegou a completar sua pergunta. De súbito foi cegada por um ofuscante clarão que vinha de sua frente. Apressadamente fechou os olhos e cobriu-os o melhor que pôde.

– O que foi isso? - perguntou ela assim que a luz diminuiu, porém ainda cega.

– Isso? - Nero repetiu conforme a visão de Sophie retornava o suficiente para enxergá-lo sorrindo - Henry.


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