Dividida escrita por Amy


Capítulo 4
Blackout


Notas iniciais do capítulo

Ahh, como é bom ver essas leitoras lindas me dando animo pra continuar. Quero agradecer do fundo do meu coração a Hella, nayane bathory, LittleRedCherry e a GabiLuz (acho que ainda não mencionei que ela me ajudou muito a me inspirar para a parte do Loki). Vocês são demais meninas!
E agora sobre o capitulo, as coisas começaram a esquentar, mas não vão esquentar demais, pelo menos não por enquanto. Percebi que to postando aos domingos, então provavelmente vou atualizar todo domingo (que eu puder, porque to tendo que fazer um TCC enorme, mas eu dou conta).
Dois capitulos até o Loki, preparem os corações



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Entre uma enlouquecida e outra, a garota se encontrou deitada em sua cama na fortaleza do rei élfico novamente, olhando para o teto e tremendo levemente por lembrar tudo o que passara. Sentiu o sangue quente e escuro escorrer por suas mãos novamente e teve que se revirar na cama para tentar esquecer. Havia tirado uma vida e sabia que aquilo jamais seria apagado de sua mente. Havia tomado um banho demorado, esfregado sua pele até doer e trocado de roupa, mas ainda se sentia suja.

Lembrou-se então de Legolas, de seu rosto demonstrando uma preocupação tão genuína que nem parecia mais o mesmo Legolas que conhecia antes. Mas foi como pegar areia com a mão, escorregou pelos dedos e quando percebeu, ele já havia reerguido a barreira entre os dois e voltado a ser o Legolas de antes. Suspirou pesado. Gostava do novo Legolas, mesmo a fazendo se sentir ingênua, mesmo que por pouco tempo, ela se sentiu tão protegida naquele abraço, e sentia uma falta incessante de ter aqueles braços ao seu redor novamente.

Alguém bateu na porta, tão repentinamente que a garota se encolheu de susto, e levou mais tempo do que pretendia pra responder. Mas era apenas Legolas, com seu olhar vago e suas vestes imponentes.

– Meu pai me mandou verificar se você esta bem – disse ele. Ela desviou o olhar, percebendo que ele não se importava realmente com a resposta. Apenas deu de ombros. – Ele quer falar com você, assim que se sentir disposta. Quer saber tudo o que descobriu na caverna dos orcs; quer saber se teremos uma guerra em breve.

– Tudo bem, eu posso ir agora – ela se levantou da cama, se sentindo tonta, mas não deixaria que Legolas percebesse.

Os dois caminharam em silencio pelos corredores de pedra, até chegaram ao amplo salão e encontraram o rei sentado em seu trono. Uma visão magnifica. Mandou o guarda com quem conversava sair assim que viu Delilah entrando. Ela fez uma tímida reverencia e sentiu seu ossos doerem e rangerem como se ela fosse uma idosa.

– Fiquei sabendo que lutou bravamente, mesmo sem saber lutar de fato. Soube até que matou um orc. É uma guerreira, sem duvida. – seus olhos eram complacentes e quase orgulhosos - Mas me diga, querida, como está se sentindo? Quão mal eles fizeram a você? - perguntou ele lentamente, sem se levantar de seu trono.

– Nada grave, felizmente. Já me sinto recuperada, o chá de ervas que estou tomando tem um poder de cura muito grande. Mas isso não tem importância agora, o que eu ouvi dos orcs sim.

– E o que você ouviu?

– Eles estão preparando um ataque, mas ainda tem poucos deles. Eles sabem que se atacarem agora estarão em desvantagem, por isso estão esperando mais orcs chegarem. Se escondem em uma montanha na floresta, tenho certeza de que Legolas sabe onde fica. – disse sem respirar direito entre as palavras. Sua cabeça girou.

– Quantos são?

– Pelo menos 200 deles, pelo que eu pude contar – estremeceu ao lembrar da imagem de tantas daquelas criaturas juntas.

– Legolas, convoque uma reunião urgente com todos os guerreiros, guardas, e envie um mensageiro a Valfenda os deixando a par da nossa situação. Diga a todos que se preparem, pois iremos a batalha! – ele disse tão empolgado, com um brilho estranho nos olhos, que por um momento a garota pensou que talvez ele gostasse daquilo tudo. – Quanto a você minha querida – desviou os olhos de volta para Delilah – Descanse essa noite, amanha pedirei para que meu filho lhe ensine um pouco da forma com que nós, elfos, lutamos, para que saiba se defender melhor da próxima vez. – Ela estremeceu ao pensar que haveria uma próxima vez – Assim que estiver totalmente recuperada e os orcs derrotados, poderá acompanhar Elladan e Elrohir até Valfenda, encontrará as respostas para suas duvidas lá.

Mais tarde, sozinha em seu quarto, fantasiou como seria Valfenda. Após tudo o que Elladan havia dito sobre o lugar, não esperava nada menos do que algo dez vezes mais bonito do que os domínios do Rei Thranduil. Dormiu pensando nisso, e em seu sonho ela corria por um caminho de pedras brancas, logo a frente era possível ver toda a extensão do que ela sabia ser Valfenda. Cores vivas e brilhantes em todo lugar, mas ela não podia se focar em nada ou as coisas simplesmente viravam areia. Tentou olhar os bosques, as construções monumentais, a cachoeira, até tudo o que ver ser um monte de areia escura. Seus pés começaram a se prender na areia, começaram a afundar aos poucos e a cada passo que dava, seu corpo era puxado pra baixo. Quando a areia já estava em sua cintura ela parou de correr, ao longe podia ver uma manada de orcs correndo em sua direção, sedentos por vingança por ela ter matado um dos seus. Suas mãos se tingiram do sangue pegajoso do orc que havia matado, pingando na areia que subia mais a cada segundo. Acordou no exato momento em que os orcs a alcançaram, quase totalmente enterrada na areia.

Deitada em sua cama, ela ainda podia sentir os grãos de areia quentes contra sua pele, mas não havia nada lá. Tomou um banho demorado, esfregando seus braços com força novamente, até estar completamente vermelha. A sensação ainda estava lá. Quando saiu de seu quarto, ao olhar pela primeira janela, descobriu ainda ser cedo demais para o sol ter nascido, e se perguntou se os elfos dormiam. Descobriu a resposta para essa pergunta ao encontrar Legolas, junto com Elladan e mais um grupo de elfos animados, cantando e dançando animadamente perto da cachoeira, esperando que o sol nascesse.

Sentou-se em uma pedra e ficou observando de longe. Ela não era um elfo, logo não seria bem recebida em uma comemoração como aquela. O que comemoravam afinal? Estavam prestes a entrar em batalha, porque cantavam e tomavam vinho como se a batalha ja estivesse vencida?

– Curiosa? – Elrohir sentou ao seu lado silenciosamente, como os elfos sempre eram.

– Depende. Só gostaria de saber se não seria mais prudente vocês estarem se preparando para a batalha, treinando ou algo assim? Porque comemoram?

– Porque deveríamos treinar para uma algo que já sabemos muito bem como fazer? E porque não comemorar uma batalha já ganha? – seu sorriso transmitia confiança, mas Delilah custou a acreditar no que escutava.

– Como pode ter tanta certeza de que vão ganhar?

– Eles são poucos, despreparados, nós já enfrentamos inúmeras batalhas por séculos. E, sinceramente, se você conseguiu matar um, nós não teremos problema algum pra acabar com eles.

Delilah se calou depois disso. Se lembrar de ter tirado uma vida, fazia com que a sua fosse reduzida dentro de si. Ainda podia sentir o sangue quente e viscoso em suas mãos, ainda podia ver, bem ali, na frente de seus olhos, o corpo morto do orc. Uma vida que havia acabado pelas suas mãos.

– Venha dançar – ele a chamou, estendendo a mão e sorrindo. Ela hesitou antes de lhe dar a mão, e, segurando a barra de seu vestido, caminhar até onde os elfos dançavam e cantavam animadamente. Logo havia um copo de vinho em sua mão, e ela já não podia mais comandar suas próprias pernas como antes. Elas dançavam para lá e pra cá, seu quadril se movia no ritmo das harpas e seus cabelos soltos balançavam nas suas costas, como chamas, contrastando com seu vestido verde escuro.

Um elfo desconhecido segurou suas mãos e a girou, ela rodopiou na grama até outro elfo a pegar pela mão. A musica ficava cada vez mais animada, o sorrido no rosto da garota crescia mais e mais. Eles tinham razão em festejar, seja lá o que comemorassem. Dançar espantava os medos, os problemas, os pensamentos ruins. E o vinho era ótimo.

Ela foi girada novamente, dessa vez por Elladan. Seu vestido inflou, e as fitas em suas costas flutuaram ao seu redor. Ela gargalhou alto e mesmo assim a musica dos elfos era mais alta e mais majestosa que qualquer coisa que já tivesse ouvido. Seu corpo colidiu com outro corpo, forte, de movimentos precisos. Não precisou olhar o rosto pra saber que era Legolas, mas fez mesmo assim, porque queria saber qual seria a reação dele ao tê-la em seus braços novamente. Seu sorriso cessou ao encontrar o rosto de Legolas, que pouco antes era possuído por um sorriso divertido, sério. Suas sobrancelhas estavam juntas e sua boca numa linha reta. Apesar de tudo havia algo em seus olhos, algo que dizia que aquilo não era completamente verdade. Ela não acreditava mais naquele rosto sério, não depois de ver como era natural seu sorriso enquanto ele dançava e cantava.

– Você devia sorrir mais – ela disse, alto o suficiente pra que ele ouvisse. O rosto de Legolas passou de confusão pra surpresa, então ele se afastou, pegou outro copo de vinho e virou de uma vez. Delilah se afastou, com seu próprio copo de vinho, se perguntando se ele entenderia o que ela quis dizer realmente.

A festa durou até o sol ter nascido completamente no horizonte longínquo. Aos poucos os elfos foram saindo, dançando e cantando, até tudo cessar. A garota se encontrava sentada sobre a mesma pedra, com um sorriso bobo. Nunca havia conhecido pessoas tão animadas como os elfos do norte.

Ao longe, pode ver Legolas deitado na grama, sorrindo para as nuvens. Seu sorriso se alargou e ela caminhou em direção a ele, deitou-se ao seu lado silenciosamente e ficou observando as mesmas nuvens. Elas estavam mescladas de laranja e azul, por causa do nascer do sol, e a lua ainda podia ser vista, quase desaparecendo do lado aposto.

– Até o céu por aqui é mais bonito – ela comentou suspirando. O céu era realmente bonito, mas seus olhos queriam olhar em outra direção.

– O que há de diferente no céu daqui com o de onde você vem? – ele tentou parecer desinteressado.

– Não sei, onde eu estava eu quase nunca via o céu. Pelo que eu me lembro, lá ele é cinza e preto quase sempre.

– O céu deve sempre ser mais bonito que a terra, afinal é lá que habitam os deuses – ele levantou as mãos, como se tocasse o céu. Seus movimentos sempre leves como o vento.

– Deuses – a garota riu baixinho, negando com a cabeça.

– Você não acredita nos deuses?

– Depois de passar por tudo o que eu passei, eu acho que não. Se existisse mesmo um Deus, ou até mais que um, o que teria eu feito de tão ruim para que eles me castigassem assim? – ela virou a cabeça para ele, esperando por uma resposta que a ajudasse a entender tudo aquilo. Mas a resposta não veio. Legolas virou sua cabeça também, seus olhos claros encontraram os dela, serenos e ele suspirou.

– Acha que estar aqui é um castigo dos deuses?

– Nesse exato momento eu já não tenho mais certeza. Esse lugar tem tanta coisa bonita, tantas pessoas que... Eu já não sei mais de nada. – ela balançou a cabeça e sentou-se. Ele acompanhou o movimento dos cabelos da garota, que se moviam com o vento morno da manha e sorriu.

– Os deuses nunca fazem nada em vão. Você estar aqui tem um motivo, assim como tem um motivo para eu ter nascido filho de meu pai. Mas só o futuro poderá dizer que motivo é esse. Você só tem que ter paciência.

– Paciência é tudo o que eu tenho tido ultimamente.

– Você quer... voltar pra casa? – ele desviou os olhos quando ela se virou, não podia deixar que ela percebesse que por algum motivo ele se sentia triste por esperar que a resposta daquilo fosse sim.

– Eu não sei, mesmo que eu voltasse pra onde eu estava, eu... eu não tenho uma casa para voltar.

– O que aconteceu com sua casa? E sua família? – ele sentou-se também, mas ela não parecia ter notado. A pergunta havia desencadeado uma onda de pensamentos que haviam sido reprimidos. Seus olhos perderam foco, e ela podia ver ali na frente dela, seus pais, sorridentes, acenando da porta da frente de uma grande mansão amarela, enquanto ela e a irmã mais nova caminhavam pra longe, vestindo o uniforme azul e branco da escola que frequentavam, antes de tudo. Então tudo ficou vermelho, e viu seus pais novamente, jaziam na porta, ensangüentados, enquanto toda a mansão pegava fogo, numa explosão magnífica de fagulhas. “É como fogos de artifício” ouviu a voz pequena a inocente soar longe e feliz. Fechou os olhos com força.

– Não quero falar disso – ela respondeu ainda de olhos fechados – acho que você deveria começar a me treinar. Pelo que entendi temos pouco tempo.

– É, temos. Assim que acabarmos com os orcs, partiremos pra Valfenda. Precisa estar preparada até lá. Vamos começar com o que você sabe sobre se defender. – ele se pôs em pé em um pulo, e estendeu as mãos para ajudá-la a se levantar. - Preste atenção, e faça o que puder para se defender. - ele disse, então desferiu um soco no ar, na direção do rosto da garota, mas ela se desviou com facilidade. Ele bufou, tentou alguns golpes básicos, e viu que ela sabia mais do que demonstrava. – Finja que eu sou um orc, um bem nojento e feio, e esteja te prendendo assim – ele se moveu para trás dela, segurou seus dois braços levemente torcidos nas suas costas, envolveu o pescoço da garota com seu outro braço. Ele nem parecia fazer a menor força, e mesmo assim a garota não conseguia se mexer. – O que você faz?

A garota levou alguns segundos para reagir. A voz de Legolas estava perigosamente perto de seu ouvido, o cheiro de vinho e flores silvestres era tão evidente quando o cheiro da manha que pairava ao redor. Ela tentou inutilmente se soltar, mas acabou confessando não saber o que fazer. Legolas explicou, com um leve sorriso satisfeito, que a única parte do corpo que ela tinha livre eram as pernas, e devia usar isso a seu favor. Na situação ela devia acertar a canela de quem a segurava, ele se distrairia e soltaria o aperto em seu pescoço o suficiente para que ela acertasse o nariz do agressor com a cabeça, o mais forte que conseguisse.

– E se ele for muito mais alto que eu? – ela questionou.

– Acerte para cima, direto no queixo, e torça para ele morder a língua. – Legolas disse, sorridente. – Agora, tente! – e ele facilmente a imobilizou novamente. Dessa vez seus braços doeram, e ela sabia que era pra valer. Tentou acertar a canela de Legolas, mas após errar, decidiu pensar rápido e pisou em seu pé com toda a força que podia, Legolas praguejou surpreso e soltou o aperto do pescoço. A garota inclinou a cabeça pra frente e então com um movimento rápido o acertou diretamente no nariz. Ele a soltou e praguejou ainda mais.

– Oh, me desculpe! – ela se virou e tentou ajuda-lo, já que ele se inclinava para frente e segurava o nariz com as duas mãos. – Eu sinto muito, devia ter pegado mais leve.

– Não, você fez muito bem. Quando o inimigo for real, não poderá pegar leve. – ele ajeitou a postura. – Gostei do elemento surpresa, pisar no pé foi realmente uma boa ideia. Quando quiser sair de uma situação complicada, nunca faça o que é esperado. Vamos tentar de novo, agora tente sair dessa.

Ele a derrubou rapidamente, a imobilizando no chão. A garota se debateu e novamente não soube o que fazer com o corpo de Legolas tão colado ao seu. O rosto dele estava a centímetros do dela, e ambos estavam corados pela movimentação anterior e pela aproximação. Os cabelos loiros dele tocaram a pele do rosto dela, fazendo cócegas e ela se viu perdida na imensidão que eram os olhos dele. Tentou se debater, se soltar, mas tudo o que fazia era em vão. Voltou a ficar parada, apenas encarando ele. Ele logo quebrou o contato e se levantou.

– Não da pra ficar se defendendo pra sempre né, é melhor eu te ensinar como atacar. Venha. – ela levantou ainda corada, e o seguiu até onde parecia ser o local de treinamento dos elfos. Um pátio redondo e vasto, do lado aposto, a pelo menos 30 metros ela via alguns alvos pintados em vermelho desgastados com o tempo. Do lado esquerdo havia algumas dúzias de elfos sem camisa, travando um combate corpo a corpo pesado e ao mesmo tempo rápido demais para seus olhos acompanharem. Seus peitorais suados brilhavam no sol e seus cabelos pareciam ter vida própria enquanto balançavam em suas costas a cada movimento perfeitamente executado.

– Não se preocupe, não terá que lutar com ninguém por enquanto – Legolas chamou sua atenção – Vamos nos concentrar no arco e flecha. É a forma mais rápida para se ganhar uma batalha, pois assim pode vencer antes mesmo dela começar. – ele a entregou uma aljava cheia de flechas e um arco menor do que o que ele carregava. – Alguma vez já usou um arco como esse?

– Há alguns anos eu tive aula de arco e flecha na escola. O arco era bem parecido, mas as flechas...

– Essas são feitas apenas pelos elfos do norte, não encontrará igual em nenhuma outra parte da Terra Média. São as flechas mais precisas que usará na sua vida. – ele tirou uma do coldre em suas costas e com um único movimento atirou-a certeira no centro do alvo que estava do outro lado do pátio. – mas é claro que quando quem a utiliza sabe o que está fazendo ajuda bastante.

Delilah fez o mesmo, tirou uma flecha do coldre, segurou o arco na altura de seu ombro e mandou a flecha diretamente por cima do alvo. Legolas prendeu o riso.

– Está segurando a flecha muito baixa. Assim, deixei seu cotovelo alinhado com seu ombro, talvez ajude – ele mostrou.

– Eu sei – ela o cortou irritada.

– Tudo bem se não acertar, é só um treino. É sua primeira vez com esse arco e...

– Eu disse que eu sei – ela rosnou, pegando outra flecha. Dessa vez respirou fundo antes de mirar. Posicionou o arco e nele a flecha, lembrando das aulas de muitos anos atrás. Puxou a flecha até encostar os dedos em sua bochecha e a corda na ponta de seu nariz, soltou o ar e com ele a flecha. Ela cortou o ar através de todo o pátio e acertou exatamente do lado da de Legolas. Tudo em menos de 5 segundos.

– Como você...?

– Eu disse que sabia – ela sorriu, toda orgulhosa.

– Mas saber não será suficiente. Seu alvo provavelmente estará em movimento, então agora que já sei que você é boa nisso, vamos dificultar um pouco as coisas. – Legolas atravessou o pátio, retirou um dos alvos do lugar, amarrou em uma corda e pendurou em uma arvore, ainda mais longe. Balançou o alvo, e gritou para a garota tentar.

Ela pegou outra flecha, respirou fundo, e a lançou. Acertou a ponta direita do alvo. Não era suficiente. Tentou novamente, e novamente, até acertar exatamente onde queria, após utilizar pelo menos 5 flechas. Continuou tentando, até acertar seguidamente todas no centro do alvo em movimento. Legolas logo colocou 3 alvos em movimento, para serem acertados em sequencia. Já era quase meio-dia quando eles pararam o treinamento com arco e flecha. Delilah sentia seus braços pesarem, doerem e implorarem para que ela parasse de se mover.

Almoçaram junto com Elladan e Elrohir, ao som de harpas e flautas. A garota passou mais tempo ouvindo a música que jurava já ter ouvido antes, do que de fato comendo.

– Ela deve ser popular por aqui – Elladan comentou, quando ela disse que já tinha escutado a melodia antes.

– Não. Não foi aqui que eu escutei. – ela tentou argumentar, mas era inútil. Os elfos na hora do almoço não sabiam levar nada a sério, para eles a única coisa que importava é se eles conseguiam comer um pouco mais. E sempre conseguiam.

A melodia era composta por notas baixas, quase macabras quando se parava pra prestar atenção. Mas ninguém parava, era só mais uma musica que tocavam durante as refeições. Por algum motivo Delilah pensou em sua irmã, mas o pensamento durou menos de um segundo, e ela preferiu não pensar naquilo de novo.

Passaram a tarde treinando a pontaria da garota. Aumentaram a distancia entre ela e o alvo, colocaram obstáculos no caminho entre a flecha e o centro vermelho a quase 50 metros. Em seguida Legolas buscou um cavalo, e a fez atirar flechas enquanto o cavalo trotava de um lado para o outro. Depois tentou em cima do cavalo com os alvos em movimento, dificultando cada vez mais. Treinou e treinou, e só parou quando o sol já havia se posto no horizonte coberto de arvores.

Quando chegou em seu quarto naquela noite, após um banho demorado, descobriu-se verdadeiramente cansada. Após deitar em sua cama, não conseguia mover suas pernas, nem braços, nem mesmo seus pensamentos. Estava cansada demais pra pensar. Cansada demais pra sonhar, e agradeceu por isso quando acordou pela manha no dia seguinte ser ter tido nenhum pesadelo.

Treinou o dia inteiro novamente, quando não era Legolas, algum dos gêmeos a ajudava. Com eles era mais fácil treinar como se defender, eles não tinham o cheiro de Legolas para distraí-la. No almoço, novamente a musica estava lá, dessa vez lembrou de um nome, mas sufocou o pensamento com todas as forças e se empenhou em treinar pesado para não pensar naquilo. Chegou a seu quarto com vários hematomas pelo corpo, com a dor pior do que no dia anterior, e sorriu enquanto tomava banho. As dores tomavam conta de seus pensamentos, não havia tempo para lembrar-se do que não devia ser lembrado. Dormiu como um bebê.

A rotina seguiu pelos vários dias seguintes. Delilah se dedicava intensamente aos treinos, ganhando cada dia mais hematomas e dormindo cada dia mais pesado. Legolas e os gêmeos treinavam juntos agora. Ela se sentia envergonhada em ver como seu treino era fácil comparado com o deles. Eles usavam armas de verdade, treinavam com golpes mortais de verdade, enquanto ela apenas tentava prestar atenção em todas as explicações, tentava não cair do cavalo enquanto disparava flechas até seu braços implorarem por uma pausa e tentava não fazer nada que a envergonharia diante daqueles elfos e seus movimentos perfeitamente mortais. Comia pouco, pois o almoço normalmente era o momento em que aquela melodia era tocada. Um dia, após não aguentar mais, perguntou a Elfa que tocava a harpa se ela não conhecia outra musica pra tocar, porque não aguentava mais aquela todo almoço. Ela franziu a testa e respondeu:

– Mas eu nunca toco a mesma música duas vezes, senhorita.

Delilah voltou para a mesa atordoada. Não podia estar escutando coisas, aquela elfa devia estar brincando com ela. Treinou mais pesado, não deixando nada tirar seu foco. Nos dias que se passaram, acabou pegando gosto pela arte da luta, pelos movimentos intensos que aprendera com Elrohir, pelos golpes letais que aprendeu com Elladan, e pelo arco, que já não saia mais de suas mãos. Agora conseguia acertar um alvo a 50 metros, de cima de um cavalo em movimento. Legolas as vezes parecia orgulhoso do progresso que estava fazendo com a garota, e ao mesmo tempo, as vezes parecia nem se importar com a estranha facilidade que a garota tinha em aprender.

Até o dia em que ela quase o derrotou numa luta.

Fazia duas semanas que ela treinava continuamente, Legolas agora parecia distante, só aparecia as vezes para observar, e logo ia embora. Resolver coisas da guerra, era o que ele dizia. Mas havia algo a mais ali, algo que a garota queria saber, mas não podia perguntar e arriscar ver ele se afastando novamente. Era final de tarde do décimo quinto dia de treinamento, eles sairiam para lutar contra os orcs no dia seguinte, e aparentemente estava tudo pronto. Menos Legolas, esse parecia cada dia menos preparado. Andava inquieto pelo pátio, até mesmo, uma vez, errou um alvo a 50metros, parado.

– O que há de errado? – Delilah perguntou a ele, enquanto todos já estavam indo embora.

– Nada – respondeu secamente, de costas para a garota.

– Sabe que pode me contar se estiver acontecendo alguma coisa, não sabe? – ignorou o tom do elfo, e continuou – A batalha começa amanha e você não parece nada prepar...

– E você acha que eu não sei? – ele falou um pouco mais alto do que precisava, se virando bruscamente e transbordando fúria e frustração em seus olhos. – Já não basta meu pai, você também precisa jogar isso na minha cara? Eu tenho treinado por quase uma centena de anos, já estive em outras guerras antes, isso não vai ser nada comparado ao que eu já lutei, e vocês não me acham preparado? – gritou. - Não me acham preparado para minhas responsabilidades como rei se eu assumir o trono? Não me acham preparado para governar também?

– Eu não quis...

– Você nunca quer, não é? Esse é o problema, vocês falam como se me conhecessem, como se soubessem como é ter que estar sempre preparado pra tudo. Pra lutar, pra me defender, pra defender o reino do meu pai, para ser filho dele. Eu estou preparado, o mundo é que não esta preparado pra acreditar nisso.

– Se quer que acreditem em algo, prove – ela recuperou a postura, seus olhos brilharam em uma cor desconhecida. Algo ferveu dentro dela, e ela sabia o que viria a seguir se não se controlasse.

– Como?

– Lute comigo.

– Lutar com você? – ele riu debochado – como isso vai provar algo?

– Provará. Pelo menos pra mim. Quero saber o quanto melhorei.

– Isso só provará como sou rápido em te derrotar. Não vou perder meu tempo. – ele se virou pra sair, mas ela já estava com duas espadas nas mãos.

– Esta com medo de perder? – ela desafiou.

– Você esta? – ele rebateu, chegando perto e tirando uma das espadas da mão dela.

Ele deu três passos pra longe dela, segurando a espada do lado de seu corpo. A garota não pensou duas vezes antes de fazer o que sempre lhe foi ensinado; atacar quando o inimigo esta desprevenido. Avançou em sua direção e desferiu um golpe rápido com a espada, mas não rápido o suficiente. Legolas se esquivou e colocou sua espada no caminho.

– Muito bem, atacando quando estou de costas. Parece que aprendeu alguma coisa nesses últimos dias – ele riu, enquanto andavam em círculos simultaneamente, sem quebrar o contato visual.

Ela sorriu e avançou novamente. A reação dele foi apenas se desviar, dando a volta no corpo da garota. Ela aproveitou o movimento pra girar a espada e tentar acertar o ombro dele. Ele por sua vez, girou a espada para o lado, se defendo no ultimo segundo. O som das laminas se chocando ecoaram por todo o pátio. Alguns elfos que estavam indo embora voltaram, sentaram no chão e começaram a assistir o que parecia ser uma batalha divertida. Alguns começaram a apostar moedas de prata em quem achavam que iria ganhar.

– Pare de se defender. Lute de verdade! – ela gritou com raiva, querendo ser levada a sério, mas ele não tirava o sorriso debochado do rosto.

Atacou mais uma vez. Mais uma investida, e outra, e outra. Tudo o que Legolas fazia era se defender, se desviar. Delilah começou a se irritar, as bordas de sua visão começaram a embaçar em um tom vermelho vivo, aos poucos a raiva começou a aflorar e ela não podia mais controlar. Sentiu o sangue ferver, correr por suas veias como lava e ouviu seu coração pulsando em suas têmporas, afastando qualquer outro som. O ultimo raio do sol que estava se pondo refletiu no aço de sua espada, seus olhos piscaram por um milésimo e quando abriram já não eram mais os mesmos.

– Lute! – gritou mais alto e se jogou com toda a força que tinha pra cima dele, suas espadas se chocaram com tanta força que houve um coro de exclamações vindo de quem assistia. Agora ela atacava rápida, mortal, como Elladan havia lhe ensinado. Golpe atrás de golpe, Legolas dava passos pra trás, finalmente percebendo o fogo que crepitava no olhar acinzentado da garota. Percebera que ela falava sério e realmente estava levando aquela luta a sério.

Ele começou a revidar os golpes, com cuidado. Não sabia até onde ia o conhecimento dela em batalhas. O aço brilhou ao se chocar de novo e de novo, rapidamente. Eram investidas élficas, tão rápidas que qualquer outro homem não teria tempo de se defender. Delilah havia aprendido bem. Ela tentou um golpe na altura do pescoço dele, mas ele se abaixou um segundo antes, e a espada dela passou pela ponta dos cabelos loiros dele. Ele atacou com o corpo ainda agachado, ela pulou por cima do golpe e ele apenas cortou o ar embaixo de seus pés. Girou a espada no ar, desferindo um golpe forte que desceu reto em direção a cabeça dele. Ele levantou a espada e empurrou ela pra longe com força. Ela escorregou para trás, sua perna direita esticada para trás e a outra dobrada um pouco mais pra frente, seus braços segurando a espada em guarda. Nunca quebrando o contato visual.

Pegou impulso e atacou novamente, girando seu corpo no ar. Tudo aconteceu em câmera lenta. Sua espada tocou a de Legolas, por duas vezes, primeiro de um lado, então ela girou e atacou do outro, ficando de costas para ele, aproveitou a posição e acertou o rosto dele com o cotovelo, que ao mesmo tempo pareceu ser deslocado, mas ela não se importava com a dor dele. Ele começara a ter problemas para se defender e ela, percebendo isso, usou a seu favor. Ela atacou novamente, ele então girou sua lamina, grudada na da garota e o aço voou pra longe da mão dela, caindo alguns metros para o lado. Ele estava com raiva por estar perdendo para uma garota, humana, que havia aprendido a lutar a apenas duas semanas. Ela olhou para sua espada por meio segundo, e quando voltou aos olhos azuis de Legolas, ele a derrubou no chão, de costas. O impacto fez com que o ar de seus pulmões saísse de uma vez. Ficou em pé, no meio das pernas entreabertas da garota, apontando sua espada para a garganta dela, com o sorriso debochado novamente. Suor escorria por seu rosto, corado e sujo de terra. Sua respiração falhava, mas ele sentia o gosto da vitoria, extasiado.

– Disse que seria fácil ganhar de você – ele gargalhou, fechando seus olhos por um momento mínimo. Era a deixa que ela precisava. Com suas pernas na posição perfeita, girou-as, derrubando Legolas no chão de lado. Pulou para cima dele tão rápido que ele não achava ser possível, e nem teve tempo de revidar, ela aplicou-lhe o golpe que ele mesmo havia ensinado a ela na primeira aula, o paralisando, torcendo seus braços com força em suas costas, o fazendo soltar a espada ao lado de seu corpo. Apertou o joelho contra a coluna dele, até ter certeza de que estava machucando, torceu mais o braço, o que provavelmente quebraria o braço de alguém normal, e então sussurrou em seu ouvido:

– Não tão fácil assim.

Com os elfos que assistiam tudo ovacionando a cena, ela apertou o rosto dele contra e terra, e então se levantou, chutou a espada dele para longe, e caminhou ainda o olhando, enquanto ele tinha problemas pra levantar. Sorriu maliciosamente para os elfos que a aplaudiam, o fogo em seus olhos queimando cada vez mais forte. Então ela sentiu uma tontura, uma forte vertigem, como se olhasse de cima de um prédio de cem andares. Sua cabeça queimou e então girou forte. O chão foi ficando cada vez mais longe. Ela estava dentro de uma roda gigante, que girava muito, muito rápido. As coisas em sua visão começaram a oscilar, num flash ela via os elfos e Legolas, no outro ela só via escuridão, e então os via de novo, e então novamente a escuridão. Mas dessa vez ela não voltou, não viu novamente o olhar de Legolas em sua direção. Sentiu o chão de terra contra seu rosto e então o nada.

Quando abriu os olhos assustada, estava em um salão enorme, deitada sobre uma das muitas camas espalhadas simetricamente por todo o cômodo. Sua cabeça doía, seus olhos ardiam como se estivessem jogando pimenta sobre eles. Mas o que mais a incomodava era um aperto no peito, uma sensação de blackout, de ter esquecido algo muito importante.

Ao seu lado estava uma elfa alta e esguia, com olhos pequenos e claros como o dia, mexendo algo em uma taça de vidro.

– Achei que não fosse acordar hoje – ela disse suavemente – tome! – entregou a taça a Delilah, que se sentou na cama para beber.

– O que é isso?

– Vai fazer a dor passar, são apenas ervas. – ela sorriu. – você dormiu um bom tempo.

– O que? Quanto tempo dessa vez? – perguntou alarmada.

– Quase 24 horas. Isso acontece com freqüência? – Ela pareceu realmente preocupada.

– Não – mentiu. – Legolas, onde ele está? Eu tenho que me desculpar por... por... – mas ela não sabia o porquê precisava pedir desculpa a ele, mesmo que sua mente insistisse que sim, ela precisava urgente se desculpar. Parecia que não o via há dias.

– Eles já saíram resolver o problema dos Orcs na montanha. Saíram com o raiar do sol essa manha.

– Não... – a palavra escapou baixinho por seus lábios e se perdeu no ar. Ele havia ido enquanto ela dormia, e ela sentia como se nunca mais fosse vê-lo novamente.

– Creio que estarão de volta amanha, até lá, não acho que seja uma boa idéia a senhorita sair da cama. Vou lhe trazer o jantar em breve, e preparar esse lugar. Amanha você provavelmente verá muitos por aqui. – e então ela saiu. A garota levou um tempo para associar o que havia escutado. Só então percebeu onde estava. Era uma enfermaria, e todas aquelas camas no dia seguinte estariam ocupadas por corpos machucados, membros quebrados, elfos agonizando e morrendo após a batalha. Um deles provavelmente seria Legolas. O horror tomou conta de seu corpo e ela queria levantar da cama e ir ao encontro de Legolas. Queria ajudá-lo na batalha, mesmo que isso causasse mais dano a ela do que a ele. E não sabia porque queria isso. Não sabia porque seu peito apertava cada vez que pensava em Legolas caído no chão, ferido, quem sabe até...

Não, ele não morreria. Estava confiante demais, eles estavam em maior número, eram elfos experientes em batalha, não tinha como eles perderem. Mas mesmo assim, por dentro ela estava devastada, aquela sensação de que ele nunca mais voltaria nunca a deixava. Nem mesmo quando ela dormiu aquela noite, após perder o apetite no jantar. Sonhou com Legolas sendo atacado, morto por uma espada de fogo, que dilacerava e queimava todas as partes do corpo dele por onde tocava. Ele gritou, implorou para que parasse, ou para que morresse logo, mas quem segurava a espada não se importou, apenas sorriu diabolicamente, mostrando que não queria que ele morresse rápido, queria uma morte lenta e torturante. Quem segurava a espada era Delilah.

Acordou gritando para o vazio. Já era manha, provavelmente já havia passado o horário do desjejum pois o sol que entrava pela grande janela a sua frente estava alto e brilhante. Ao longe ouviu vozes agitadas, e uma trombeta soando. De alguma forma ela sabia que estava acabado, eles haviam voltado da batalha.

Esperou impaciente até que os primeiros feridos atravessaram a porta de madeira talhada, sendo carregados por seus companheiros. Foram se deitando nas camas, mas não havia tristeza em seus rostos sujos. Eles riam e cantarolavam musicas sobre batalhas. O numero de feridos era bem menor do que Delilah esperava.

– A batalha mais fácil da minha vida – ela ouviu um elfo comentar ao lado de seu parceiro machucado.

– Eu senti até vergonha por eles – o outro disse sorridente. E voltaram a cantar.

Elladan entrou trazendo Elrohir nos ombros, ambos sérios. Caminharam até a cama de Delilah e ela se sentou.

– Como foi? – perguntou ansiosa.

– Como esperávamos, acabamos com eles rapidamente. – Elrohir disse, sentando-se aos pés da cama dela. Haviam algumas marcas em seus rostos, machucados e marcas de batalha. Lama nos cabelos e grama e terra em suas botas.

– Foi até meio sem graça – Elladan completou o irmão. – A única parte legal foi quando aqueles 8 orcs cercaram a gente, ai sim foi emocionante.

– Vocês venceram, certo? – perguntou, só pra ter certeza. Algo ainda não estava certo.

– É claro – disseram em coro.

– E Legolas? – ela perguntou. Eles se entreolharam com a pergunta, como se decidissem quem devia contar.

– Ele não foi ele mesmo nessa batalha.

– Nem parecia o Legolas que lutou comigo contra os anões há alguns anos.

– Sim, estava completamente distraído. Quase foi... – ele parou.

– O que? O que aconteceu? Ele esta bem?

– Ele está... ferido. Mas acho que, em sua maioria, a ferida é em seu ego. – Elladan respondeu, pensativo.

– Ele levou uma surra dos orcs. Pior do que a que você deu dele.

– Eu o que? Quando?

– No dia anterior a batalha. – Elrohir disse como se fosse obvio.

– Acho que foi pro isso que ele apanhou tanto dos orcs, ainda estava tentando processar que havia levado uma surra de você – Elladan riu e seu irmão o acompanhou.

A garota levou alguns segundos para respirar depois de ouvir aquilo. Ela havia dado uma surra em Legolas? Porque ela não se lembrava? Se havia acontecido no dia anterior a batalha, fazia apenas dois dias. Ela devia se lembrar.

Ah, aquilo não podia estar acontecendo novamente. Ela não podia mais esquecer.

– Acho que você devia ir vê-lo. Ele esta em seus aposentos. Vem, a gente te leva lá – e arrastaram ela pra fora da enfermaria agitada. Caminharam pelos corredores de pedra, subiram algumas escadas, mas mesmo que tivessem pegado um elevador ela não notaria. Estava submersa em seus pensamentos, amaldiçoando a si mesma por ter se deixado levar, por não ter controlado sua raiva.

– Legolas – Elladan atravessou a grande porta que dava para o quarto de Legolas, levando a garota com ele – Olha só quem veio te dizer parabéns por ter vencido a batalha – ele riu, empurrando a garota um pouco a frente. Ela então acordou, e olhou o rapaz deitado em sua cama, seu peito nu subia e descia com dificuldade, cheio de marcas e cortes. Seu rosto demonstrava dor, mas seus olhos caídos demonstravam a decepção que sentia de si mesmo.

Os irmãos saíram e fecharam a porta atrás da garota. Ela ficou parada, observando o grande cômodo verde e branco. Caminhou até a cama de Legolas e se assustou ao ver os machucados de perto.

– Eles falaram muito sobre como eu lutei? – perguntou baixinho, deitado, olhando para o teto alto e esculpido.

– Só que não lutou muito bem. – ele soltou um riso sem humor pelo nariz. – Porque?

– E você ainda pergunta?

– Olha, eu sinto muito pelo que fiz a você. Eu sei que eu devia ter pedido desculpas antes, mas eu estava...

– Desacordada, eu sei. Não foi sua culpa. Eles ganharam a batalha, mas eu não – ele tentou se mexer, mas seu corpo o impediu. Soltou um barulho baixo de dor.

– Não se mexa – ela caminhou até o lado da cama, pegou uma toalha e uma bacia com água. Voltou para a cama, molhou a toalha na água e colocou sobre um dos cortes no peito dele. Ele chiou baixinho de dor, mas resistiu. – Eu sinto muito mesmo, Elladan disse que você não lutou bem porque estava bravo por eu ter te derrotado. Mas eu nem sequer...

– Tudo bem, eu mereci aquilo por te subestimar. E eu estava distraído, é verdade, mas não foi por você ter me derrotado. Aquilo nem parecia você lutando. Eu fiquei distraído porque estava preocupado com você.

– Comigo? – perguntou confusa.

– Sim, quando eu sai de manha você ainda não tinha acordado. Eu temi que a nossa luta tivesse sido demais pra você – ele dizia, enquanto ela limpava seus machucados.

– É claro que não, foi só uma luta – ela falou incerta das palavras que saiam de sua boca – eu só estava meio fraca porque não comi direito. Mas eu estou bem agora, você é que não esta – ela passou do peito para o rosto de Legolas, agora se aproximando e limpando um pequeno corte acima da sobrancelha. Ele se encolheu de dor.

– Você que fez esse ai – disse, meio brincalhão.

– Eu? – ela instintivamente saiu de perto dele.

– No fim da nossa luta, lembra?

– Na verdade não, eu não lembro de nada daquela luta – ela respondeu, deixando as mãos caírem em suas pernas.

– Como não lembra? Não lembra de termos lutado?

– As vezes isso acontece comigo. Eu faço coisas... normalmente não são coisas boas. E então eu desmaio. Quando eu acordo, eu não lembro mais do que eu fiz. Eu sinto muito. – ela se levantou da cama, sentindo os olhos se encherem de lagrimas. Era a primeira vez que contava aquilo pra alguém, que sequer falava em voz alta sobre o assunto. Ela ponderou por um momento, vendo o quanto a garota estava assustada.

– Isso acontece muito?

– Mais do que eu possa admitir – ela abaixou a cabeça. Ele levantou-se da cama e caminhou até ela, mancando.

– Você realmente não era você mesma quando lutamos, seus olhos eles... Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Você vai encontrar as respostas pra tudo isso quando chegarmos a Valfenda – ele disse, a segurando pelos ombros.

– Vou? – ela piscou os olhos para afastar as lagrimas.

– Galadriel é uma elfa... especial. Ela vai te ajudar, eu tenho certeza. – e então ela a abraçou, prendendo os braços ao redor de sua cintura e apertando seu corpo contra o dele. Ele, mesmo sentindo cada parte dolorida em seu corpo pedir para que ele se afastasse, a abraçou de volta, envolveu seus ombros com os braços descobertos, colocou seu queixo no topo da cabeça dela e suspirou.

– Estou feliz que esteja bem - ela disse baixinho, conta o peito dele.

– Eu... estou feliz por ter voltado - ele respondeu, com os pensamentos longe.

Ia ficar tudo bem quando chegassem a Valfenda, repetiram os dois mentalmente.


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Notas finais do capítulo

Entãaaaaaao, finalmente uma pequena amostra do que realmente é essa Delilah. O blackout é só o começo, ainda tem muita loucura pela frente.
Espero que tenham gostado, que eu não esteja apressando muito as coisas, e se tiverem alguma duvida é só perguntarem.
Quero ver vocês nos reviews, hein! Adoro aqueles bem grandes, que me fazem rir bastante e tal, só pra vocês saberem... HAHAHAHA agora sério, realmente quero saber o que estão achando, que rumo acham que a historia vai tomar e tudo mais.
Beijos e até o próximo capitulo! :3



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