Regina surgiu de trás da estatua de dragão.

–Oi. - Emma respondeu, tomando uma distancia segura. - Não te vi...

–Nem eu, estava dormindo... - Regina disse calmamente, e voltou a se recostar, fechando os olhos.

–Quer... que eu saia?

–Não, pode ficar a vontade...

Emma não conseguia ficar tão confortável com a situação como a prefeita. A fina nuvem de vapor que embaçava sua vista não era suficiente para esconder seu constrangimento.

–Eu conheci seu filho hoje... - ela tentou se distrair puxando conversa. - Bom, na verdade eu já o tinha visto antes...

–É mesmo? E o que achou? - Regina nem abriu os olhos.

–Ele é um menino muito gentil...

–Obrigado. - a voz do garoto pode ser ouvida de trás do biombo.

A prefeita riu. Definitivamente Emma não iria encontrar ali a privacidade com a qual estava acostumada.

–Mãe, estou com fome, podemos ir pra casa? - ele continuou.

–Só mais alguns minutos, tem mais um pouco de roupa pra lavar lá fora.

–Okay. - o garoto respondeu e voltou a ficar em silencio.

Regina deixou seu estado de relaxamento e se virou para Emma.

–Bom, senhorita Swan, se me der licença... - ela passou por trás da estátua de dragão e quando saiu do outro lado já estava de toalha. - Eu já vou andando.

Regina sorriu e caminhou pelo chão de pedra. Emma a acompanhou com os olhos.

–Eu também já estou de saída... - a loira disse olhando em volta, localizando seus pertences.

Emma esperou até Regina cruzar a porta para se levantar e pegar sua toalha antes que mais alguém aparecesse. Tentou se secar rapidamente, mas a umidade do local não ajudava. Se cobriu, e voltou ao vestiário.

Regina estava ainda de toalha colocando uma última porção de roupas na máquina de lavar. Emma foi até seu armário e pegou a roupa limpa dentro da mochila.

–Tem alguma coisa pra lavar?

–Oi? - Emma se virou.

–Tem espaço na máquina, quer lavar alguma coisa? - a prefeita ofereceu.

–Hm... - Emma olhou para as roupas que usara o dia todo na fazenda. Não era muita coisa, seria rude aceitar? Estaria economizando uma moeda... - Se importa?

Regina não fez cerimonia, pegou as roupas emboladas das mãos da loira e colocou junto com as suas na máquina. Logo o aparelho estava funcionando.

–Verificou se tinha alguma coisa nos bolsos? - a prefeita se virou para Emma mais uma vez.

Emma arregalou os olho e contraiu os lábios, pensando no seu bolo de dinheiro. Não... Estava na sua carteira, dentro da mochila.

–Acho que não tinha nada... - ela finalmente respondeu.

–Se tinha, já era... - Regina deu de ombros e pôs-se a dobrar suas roupas limpas.

Emma observou a prefeita pegar uma cueca com estampa do Darth Vader entre seus pertences.

–Star Wars! - ela observou. - É do seu filho?

A prefeita se virou para Emma novamente. E de volta para a peça em suas mãos.

–Não. - ela respondeu. E vestiu.

Emma revirou sua mochila e puxou uma cueca semelhante, também de Star Wars.

–Ei! - Ela chamou a atenção da prefeita. E vestiu.

Regina riu. Emma sorriu de volta. Virou-se e vestiu o resto das roupas, arrumou a mochila e seguiu para a porta.

–Miss Swan? - a prefeita chamou.

Emma se virou. Regina estava igualmente vestida, organizando as roupas limpas.

–Suas roupas. - ela entregou as peças cuidadosamente dobradas.

–Ah! Obrigada. - Emma guardou-as na mochila. - Até mais, então...

–Até mais. - a prefeita sorriu.

Emma colocou a mochila nas costas e saiu. Se despediu de Ariel e seguiu pela estrada.

***

Chegando na fazenda, Pongo veio recebe-la. Estava escurecendo, melhor guardar os animais. Puxou o cavalo pelo cabresto até o celeiro, onde ele ficou pacificamente. Agora as galinhas. Depois de alguns minutos correndo inutilmente atrás das aves, resolveu mudar de estratégia. Entrou no galinheiro, localizou o milho da ração, pegou um punhado e jogou no chão da forma mais barulhenta que pode. As galinhas vieram correndo. Emma saiu e fechou a porta antes que acabassem de comer. Hora de comemorar seu dia bem sucedido.

Entrou em casa, acendeu as luzes e foi para a cozinha. Seu primeiro jantar nesta casa seria algo muito especial. Verificou nos armários se tinha todos os ingredientes e começou. Batata frita! Pôs o óleo para esquentar e foi preparar as batatas. Mal se lembrava da ultima vez que tinha cozinhado em casa. Que tivera tempo e ânimo para cozinhar. Jogou as batatas no óleo, e logo a cozinha cheirava como seu primeiro emprego, numa lanchonete perto de casa. Seus pais não gostavam que...

Emma olhou em volta. A casa que agora lhe pertencia não lhe despertava nenhuma familiaridade. As pessoas que moraram ali eram diferentes, desconhecidas. Não sentiu nenhum apego pelos objetos pessoais que encontrara, mal olhara as fotos que decoravam a casa, nem teve interesse em descobrir nada sobre seus antigos donos.

Oh! A batata estava pronta! Forrou uma bandeja com papel toalha e serviu. Foi pra sala ver tv. Não havia muitas opções de canal, não demorou a perder o interesse e desligar o aparelho. Terminou de comer e foi ler algum dos livros emprestados da biblioteca.

***

Emma acordou com frio. Ainda estava no sofá, livro aberto sobre o corpo. Fechou-o e levantou. O relógio marcava seis da manhã e a chuva escondia o sol. Foi para o quarto e rolou na cama por alguns minutos mas não conseguiu dormir de novo. Decidiu escovar os dentes e começar o dia.

De volta a cozinha, serviu um copo de leite gelado; desejou ter comprado pão no dia anterior. Talvez as galinhas tivessem botado ovos... A fome foi mais forte que a preguiça e Emma procurou no armário do quarto, achou uma capa de chuva e foi buscar seu café da manhã. Assim que abriu a porta de casa, Pongo entrou sem cerimonia e foi se deitar no tapete da sala, onde era mais quente e confortável que sua casinha. Emma deixou.

Do lado de fora, a chuva não muito forte eliminou a tarefa de regar as plantas; hoje o dia seria mais tranquilo. Emma foi até o galinheiro, as galinhas estavam encolhidas em seus ninhos. Se tentasse pegar os ovos, provavelmente levaria umas bicadas. Torceu para que as galinhas estivessem com fome. Pegou um punhado de milho na caixa de ração e jogou no chão. As galinhas foram comer e Emma aproveitou para recolher os ovos. Saiu do galinheiro feliz.

Com seu café da manhã garantido, decidiu alimentar os outros animais. Se dirigiu ao celeiro. As vacas estavam deitadas, perto do cavalo. Emma serviu a ração. Já que as vacas se deram ao trabalho de levanta para comer, Emma decidiu ordenha-las de uma vez.

Tarefas concluídas, era hora de preparar seu merecido café. Deixou uma porção dos produtos na caixa de coleta e voltou para casa. Sentiu a diferença de temperatura ao entrar na sala, pendurou a capa num cabide. Suas botas estavam molhadas e frias, deixou-as de lado para não sujar o chão (mais ainda) e foi até o quarto procurar outro calçado. Uma forma felpuda em baixo da cama lhe chamou atenção. Abaixou-se pare investigar, encontrou um par de pantufas de urso. Que coisa ridícula! Calçou-as imediatamente. Eram a coisa mais quentinha e confortável que já tivera nos pés. Deslisou pelo piso de madeira até a cozinha.

***

Um delicioso omelete depois, Emma abriu algumas janelas que a chuva não estava molhando e começou a limpar a casa. Desempoeirou os móveis, varreu o chão, limpou as janelas, procurou não pensar na frequência com que teria que refazer essas atividades... Algo bateu em seu joelho. Era Pongo. Assim que se virou, o cachorro se jogou no chão e ficou imóvel. O que ele estava tentando fazer? Ah! Emma correu até a cozinha. Estava num dos armários de baixo...

–É isso que você quer? - ela puxou um saco de ração.

O cachorro veio andando com uma tigela na boca. Era o ultimo animal da fazenda que faltava alimentar. Ele deixou a tigela no chão e Emma serviu-o. Mais cedo ou mais tarde teria que ir ao mercado. Olhou as botas sujas perto da porta; não queria tirar as pantufas. Se fosse sair, aproveitaria para almoçar no restaurante da Vovó. Mentalizou a pizza. Trocou as pantufas pelas botas, pegou as chaves do carro e saiu.