Emma ficou parada na varanda, encarando a porta fechada por alguns segundos, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Por que Regina a expulsou de casa no meio da madrugada... com um beijo; era uma pergunta que ficaria para outra hora. Estava morrendo de sono e agora seria melhor voltar pra casa e dormir mais um pouco antes de começar o dia.

Se virou para pegar o cavalo, o pobre animal ficara a noite toda no frio... ou não. Tornado não estava lá. E agora? Voltar pra casa a pé não era uma ideia atraente no momento. A outra opção seria... Voltou até a porta e bateu de leve. Ela imediatamente se abriu numa fresta, parte do rosto da prefeita ficou visível do outro lado.

–Sim? - ela perguntou timidamente.

–Meu cavalo fugiu... - Emma tentou falar baixo.

Regina fechou os olhos lentamente, resmungando algo ininteligível, e fechou a porta. Obviamente a prefeita a achava uma idiota por ter perdido o cavalo e ia deixa-la para morrer de frio do lado de fora. Emma sentou-se no chão da varanda e abraçou os joelhos para se aquecer. Dormiria ali mesmo, e se estivesse viva dali algumas horas, iria para casa a pé mesmo. Estava quase adormecendo de novo quando a porta se abriu e Regina saiu, com as botas de couro, um longo casaco preto por cima do vestido, e um chapéu de pele cinza com um rabo anelado.

–Vamos, eu te levo. - ela estendeu a mão para Emma e a ajudou a levantar.

Com um assovio, Regina chamou o cavalo, e deixou Emma com um zumbido no ouvido. O animal veio marchando preguiçosamente. Parou em frente a dona e fez um barulho infeliz. Ela tirou um cubo de açúcar do bolso e o alimentou. Relâmpago parecia menos contrariado agora.

–Vem. - Regina montou e puxou Emma pra cima.

A cavalgada até a fazenda foi lenta mesmo com a prefeita tentando forçar o animal. Relâmpago estava de mau-humor e não estava preocupado em esconder o sentimento. Emma estava dormindo nas costas da morena. Em poucos minutos, o sol já esquentava o corpo da prefeita e a fazenda se aproximava. Cruzando a pequena ponte e atravessando o campo, o cavalo parou em frente a casa.

–Chegamos. - Regina mexeu o ombro tentando despertar a moça.

–Hm... - Emma acordou apenas o suficiente para descer do cavalo com alguma segurança.

Regina também desceu para se despedir. Segurou as mãos de Emma. Ela sentiu um choque com o calor das mãos da prefeita nas suas. Regina entrelaçou seus dedos e a puxou mais perto. O corpo da prefeita era macio contra o seu. O perfume dela... seus lábios... tinham um gosto tão bom...

Emma se afastou sentindo um peso sobre a cabeça. Notou que a prefeita não estava mais usando chapéu.

–Ué, pra onde foi...? - Emma levou as mãos a cabeça e seus dedos afundaram num cabelo que não era o seu. - O que é isso?

–Procyon cancryvorus. - a prefeita explicou observando.

–Hã?

–É uma guaxinim. - ela retirou o animal da cabeça da loira e segurou no colo.

–Você veio com isso até aqui?

–É quentinho. - a morena explicou.

–Até que é bonitinho... - Emma alisou o bicho. - Tem nome?

–Branca de Neve.

–Que gracinha, oi Branca de Neve... - Emma foi brincar com o guaxinim.

O animal grunhiu irritado e pulou sobre a loira. Escalou até sua cabeça, se enroscou ali e dormiu.

–Desculpe. - Regina removeu novamente o guaxinim da cabeça de Emma. - Você usa xampu de quê?

–Sei lá, um verde... Tá frio aqui, cê quer entrar? - o sono estava batendo de novo.

–Não, obrigada, eu tenho que voltar senão Zelina e mamãe vão ficar... preocupadas. - A prefeita acomodou Branca de Neve em sua cabeça novamente.

–Ah, claro. Obrigada pela carona.

Regina subiu no cavalo, acenou, e seguiu de volta para casa calmamente. Emma se virou para abrir a porta. Um vulto refletiu na janela ao lado e desapareceu. Ela olhou para trás mas nada lhe chamou atenção. Entrou.

***

Na manhã seguinte, Emma acordou um pouco mais tarde, com preguiça de sair da cama. Rolou pro lado e tentou lembrar da noite anterior. Lasanha, filme, beijo, cavalo, beijo, guaxinim... Bem diferente das noites de Boston. Beijo... Uma música familiar a forçou a se levantar da cama, o celular estava tocando.

"I pick. All my skirts. To be a little too. Sexy..." Era Erica ligando.

–Bom dia, agente Erica.

–Bom dia, civil Emma. Onde a senhorita se meteu?

–Longa história...

–Resuma-a para mim.

–Herdei uma fazenda de aniversário. E uma moça com um guaxinim me beijou ontem a noite.

Após um breve silencio, Erica continuou a conversa.

–E a fazenda é legal?

–Sim.

–E a moça do guaxinim é legal?

–Sim.

–E você vai abrir a porta para mim?

–Oi?

Emma ouviu batidas na porta foi atender. Uma mulher ruiva, usando um terno preto a estava esperando.

–Como me achou? - Emma deligou o celular e deu um abraço na amiga.

–Eu trabalho no FBI, você não me respondeu, eu rastreei seu celular. - Erica respondeu sorrindo. - Agora cubra-se, eu trouxe Ellie, e Ellie trouxe uma amiga.

Emma percebeu que não estava usando calças, apenas a camiseta branca e as roupas de baixo.

–Não precisa se incomodar, eu tenho um short do Darth Vader igual a esse. - Uma menina também ruiva entrou carregando uma caixa, seguida por outra menina, de pele morena, um pouco mais alta.

Emma saiu correndo para se vestir adequadamente.

–Por favor fiquem a vontade! - Ela gritou lá do quarto.

Quando voltou, agora usando suas roupas de trabalho normais, as três visitantes estavam no sofá e Erica estava acendendo velas sobre um bolo.

–Parabéns pra você... - Ellie começou.

Emma se sentou, com um largo sorriso no rosto e esperou que terminassem de cantar.

–Você nos desculpa ter perdido seu aniversário? - Erica fez uma cara triste.

–Não, jamais! Foi horrível e deprimente... - Emma dramatizou.

–Você ter sumido no dia seguinte sem dar notícia também não ajudou! - Erica deu-lhe um cascudo.

–Não me trate assim na frente das crianças, mulher!

–Elas precisam aprender o que é amizade verdadeira. Agora onde tem uma faca?

–Que amizade é essa com facas!?

–Para cortar o bolo! - A ruiva explicou.

–Na cozinha, vou buscar.

–Nada disso. Ellie, Riley, - as duas meninas se levantaram - vão buscar talheres.

–No armário de cima tem pratos e na gaveta de baixo... - Emma instruiu enquanto as duas seguiam para o outro comodo.

–Agora me conte o que você está fazendo nesta fazenda no meio de lugar nenhum. - Erica se inclinou impaciente.

–Então...