Emma entrou com o carro na fazenda e estacionou perto da casa para descarregar suas compras. Notou um homem com um guarda-chuva e um longo casaco verde escuro parado perto do laguinho. Ele observou com estranheza a mulher descer do carro carregando a cesta e entrar na casa. Emma deixou as compras na sala e foi ver o que o homem estava fazendo ali.

Ao se aproximar, notou um menininho abaixado perto do lago jogando migalhas aos peixes.

–Com licença... - o homem começou. - Você mora aqui?

–Depende, veio cobrar alguma coisa? - Emma respondeu.

–Desculpe, nós pensamos que a fazenda estivesse abandonada... Vamos, Roland... - ele tentou puxar o garotinho.

–Tudo bem, se você está disposto a ficar na chuva, pode deixa-lo brincar com os peixes...

–Não, não queremos incomodar... - ele tentou pegar o menino no colo.

O garoto tanto se revirou que acabou caindo no lago.

–Roland! - ele largou o guarda-chuva para recolher o menino.

O lago não era fundo, o garoto apenas ficou todo molhado. Emma catou o guarda-chuva do homem antes que o vento levasse.

–Entre, eu empresto uma toalha. Antes que seu menino fique resfriado. - Emma não entendia por que o homem estava tão nervoso.

O estranho acabou cedendo, pegou seu guarda-chuva de volta e os três entraram na casa. Pongo se levantou e veio recebe-los. O garotinho mais uma vez se revirou e conseguiu descer do colo homem para brincar com o cão.

–Pelo jeito já se conhecem... - Emma observou.

–Sim, Roland gosta de vir aqui alimentar os peixes; fazia um tempo que não víamos esse cachorro...

Emma foi até banheiro e pegou uma das toalhas que estavam lá.

–Aqui está. - ela entregou ao homem. - Eu ofereceria um banho mas não tem água quente.

O homem se lembrou de que estava nervoso e desconfortável. Pegou a toalha e tentou secar o menino que se distraíra com Pongo.

–Sobre isso... - ele começou.

Emma estranhou que o desconhecido tivesse qualquer relação com o aquecimento de água da casa.

–Eu roubei seu painel solar. - ele disse finalmente.

–Como é? - Emma ressentiu ter ter trazido esse maluco para dentro de casa.

–Um tempo depois que os donos morreram eu pensei que ninguém viria cuidar da fazenda, estavam levando os animais e tudo... e roubei o painel solar do telhado. Mas não precisa chamar o xerife, eu vou devolver, deixe-me só...

Ele tateou os bolsos do casaco e puxou um celular. Emma ficou feliz em saber que teria água quente mas não queria que o ladrão a sua frente ficasse muito a vontade com o ocorrido, era bom que devolvesse mesmo. Por que diabos ele estava confessando?

–Bom dia, raio de sol! - ele conversava com a pessoa do outro lado da linha. -Sabe o painel solar... É, cê pode pôr na caminhonete e trazer aqui na fazenda Encantada? ... Quando eu peguei ele não tinha dono, agora tem e... Argh! - ele afastou o celular da orelha e desligou. - Já vai chegar, só um minutinho.

–O...kay.

–Então, se o xerife aparecer... Está tudo bem, né? Sem necessidade para queixas...

–Só... Coloque de volta onde estava. E você pegou mais alguma coisa? - ela tentou parecer brava. Esse maluco provavelmente tinha um histórico.

–Erm... - ele tirou um peixe de dentro do casaco, visivelmente sem graça. - Ainda está fresco, se quiser cozinhar...

Emma não sabia se ria ou se pedia socorro. Essas coisas não aconteciam em Boston.

–Eu não sei preparar peixe. - ela respondeu.

–Quer que eu prepare para você? Eu faço um delicioso...

–KILLIAN! - uma voz enfurecida veio lá de fora.

Pongo correu para a porta, latindo. Emma foi ver quem era. Ao abrir a porta viu um homem de barba curta descer de uma camionete. Ele parou quando a viu.

–Desculpe, senhorita, não quis assusta-la. Sou Robin. - ele estendeu a mão.

–Emma Swan. - ela o cumprimentou.

–Estou procurando... Killian! - ele viu o homem na porta da casa, aparentemente seu nome era Killian. Passou direto por Emma e foi até ele. - Você disse que estava abandonado, que tinham levado os animais! E se o xerife te pega!?

–Estava abandonado! Mas agora não está mais, então estamos devolvendo!

Emma não tinha certeza do que estava acontecendo, talvez fosse melhor não se envolver.

–Senhorita, - Robin lembrou que ela estava lá. - por favor, desculpe meu marido pouco civilizado que sai saqueando fazendas alheias. Eu prometo cuidar melhor dele, para que isso não aconteça novamente.

–Eu ia fazer um peixe pra ela... - Killian tentava se desculpar.

A fúria de Robin se esvaiu.

–A senhorita permitiria que Killian compensasse essa inconveniência com dotes culinários? Ele é muito bom em preparar peixe.

Que maluco gentil, porque não deixa-lo operar as facas de cozinha?

–Okay... - Emma concordou.

–Ótimo! Tem alergia a alguma coisa? - Killian estava animado.

–Não... - Ela respondeu.

Killian sorriu e correu para a cozinha.

–O senhor gostaria de entrar também? Tem uma criança sem supervisão lá dentro. A menos que o cachorro conte... - Emma ofereceu.

–Sim, obrigado.

Todos dentro da casa, Robin e Emma na sala, Killian preparando o peixe, Pongo cuidando do pequeno Roland.

–Então, senhorita Swan, assim que a chuva parar nós vamos instalar o seu painel solar de volta, e porque meu filho está nu em cima do seu dálmata? - ele observou.

–Oi? - Emma se virou e lá estava o pequeno Roland. E sua toalha no chão. - Senhor. Não fui eu.

–Ele caiu no lago. - Killian informou lá da cozinha. - Mas eu sequei ele, deve estar apenas se aquecendo...

–Com sua licença, vou descarregar o painel solar e recolher minha família. Posso deixar na varanda? - Nem passara da hora do almoço e Robin já parecia cansado.

–Sim, obrigada, quer ajuda?

–Por favor...

Os dois saíram e Emma ajudou Robin a descarregar o painel solar da caminhonete.

–Pronto! KILLIAN! Mais uma vez nos desculpe o inconveniente, senhorita Swan. Aqui, - ele tirou um cartão do bolso e entregou à Emma. - trabalhamos com madeira e fazemos reparos em construções, se precisar de alguma coisa...

–Seu peixe está no forno, pode comer daqui uns trinta minutos. - Killian saiu com Roland enrolado na toalha. - Muito obrigado e desculpe qualquer coisa. - ele seguiu para a caminhonete.

–Vamos deixá-la almoçar em paz, tenha um bom dia. - Robin se despediu.

A caminhonete arrancou e seguiu a estrada de terra floresta adentro. Emma precisaria de tempo para processar o que tinha acabado acontecer. Fora uma manhã muito agitada. Pelo menos logo teria um delicioso peixe para saborear. Entrou em casa e fechou a porta.