A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo...
Sim, eu sei, prometi 4 ou 5, mas o tempo certamente não é meu amigo, e reduzi o final a míseros 2 capítulos. Espero que vocês gostem deste. E especulem nos comentários como acham que vai acabar a fic.



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Nuvens escuras encobriam a lua, na noite úmida e fria. O vento soprava forte. O rumor das ondas do mar foi ficando para trás à medida que aproximávamos de Forks. Finalmente, a hospedaria surgiu diante de nós.

Tarde demais. A carruagem de Edward estava no pátio, com pelo menos mais doze cavalos. Eram Billy e seus homens. Teriam encontrado os barris e prendido meu pai?

O coche parou, dei um profundo suspiro e desci. Senti náuseas e tontura, tomada pelo desespero.

Cuide de seu pai. Entende, Bellinha?

Eu prometi para mamãe. E falhei.

O que tinha imaginado fazer ali? Tinha suposto que poderia fazer o tempo retroceder e tornar as coisas certas? E, mesmo que pudesse, o que era o certo? Tudo que Edward me dissera era verdade, mas meu pai...

O silêncio foi quebrado pelo estrondo de um tiro. Depois, mais outro, e então o mesmo silêncio cruel e pesado, que encobriu os sussurros da noite e acalmou até o vento, frio e implacável.

Dois tiros. Eu tinha ouvido dois tiros.

Dei um passo à frente, afastando-me de Jasper e do coche, e aterrorizada, caminhei na direção da porta aberta do bar e da multidão de homens que bloqueavam o caminho.

Edward. Edward. Por favor, por favor...

Com o coração disparado, tentei passar pelo grupo de pessoas, mas não consegui chegar à porta. Acima de minha cabeça, a placa da hospedaria balançava para a frente e para trás, e o alarido provocado pela conversa dos homens deixou-me ainda mais ansiosa.

Senti um leve odor de pólvora e o picante cheiro de um lugar onde se misturavam cerveja, fumaça e suor.

Tentei novamente me aproximar da porta, mas havia muita gente bloqueando o caminho, muitas pessoas vestidas com pesados casacos e curiosos para saber o que tinha ocorrido.

Virei para a esquerda, para a direita, me ergui nas pontas dos pés, até que a perna doente protestou.

Oh, Deus. Não via Edward. Ele não estava ali.

Os trechos de conversa que eu conseguia ouvir apenas serviam para atemorizar-me ainda mais.

— ...tiro... morreu...

— Bem perto do coração...

— Foi melhor para ele.

— Quem? — perguntei ao homem mais próximo de mim. Edward? Meu pai? — Quem está morto?

O homem olhou para mim.

— Quem morreu? — tornei a perguntar, desesperada, o coração disparado.

— Vá embora, moça, não há cerveja para servir hoje. — Ele me confundiu com a garçonete. — Mas haverá muita fofoca logo mais.

Olhei ao redor, procurando por Jasper, mas não o avistei.

— Fora! Fora! — Ouviu-se uma voz de comando, vinda de algum lugar de dentro do prédio. — Esperem no pátio enquanto verificamos o que aconteceu.

Era o xerife Billy Black.

As pessoas se moveram, levando-me com elas para longe da porta aberta. Ainda tentei me aproximar mais uma vez, mas fui impedida por alguém que segurou meu braço.

— Não, senhorita — disse um homem que eu não conhecia, provavelmente um dos homens do xerife. — É melhor que não veja o que aconteceu.

Tentei escapar, mas ele me segurou.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Um assassinato.

Edward. Gelei, o coração apertado. Cambaleei e teria caído se a multidão não estivesse ao meu redor. Ouvia o burburinho, as perguntas e conjeturas.

— O que vocês encontraram? Mercadorias contrabandeadas? — um homem perguntou.

Engoli em seco. O que o xerife e seus homens haviam encontrado?

— Diga-nos o que encontrou — pediu outro homem.

— O senhor perguntou o que nós encontramos? — um dos homens do xerife perguntou com grosseria. — Não encontramos nada. Absolutamente nada.

Estiquei a cabeça para tentar ver alguma coisa. Edward tivera tempo de colocar os barris para incriminar meu pai. O que teria acontecido?

— Nada? — perguntei, os dedos segurando a manga do homem. — Tem certeza?

— Não encontramos nada, nenhum sinal do que foi denunciado. Procuramos em cada cômodo, até no sótão. Dois homens desceram o recife até as cavernas. Nada aqui e nada lá. — Ele deu de ombros. — Ou nada havia para ser encontrado ou o proprietário da Hospedaria Swan é uma raposa astuta.

Mal podia respirar de tão aterrorizada. Estaria Edward morto? Assassinado antes de poder colocar os barris no lugar?

— E agora? — Outra voz se fez ouvir.

Tentei ver quem estava falando e, por um instante, consegui avistar Ephraim Black o dono da Hospedaria Ephraim. Ergui-me na ponta dos pés novamente, mas depois de meros segundos fui forçada a desistir, as pernas não suportando meu peso. Desapontada, tentava avistar um rosto conhecido e qualquer ajuda que pudesse receber. Naquele momento, me arrependi de não ter ficado perto de Jasper. Talvez tivesse tido mais chances.

Mais uma vez tentei atravessar a multidão. Sem conseguir, mudei de tática, recuando para tentar me deslocar. Ao meu redor, as vozes ecoavam.

— ...ouvi uma discussão...

— ...uma briga na cozinha...

— ...o som de um tiro de pistola... Um tiro na cozinha.

Tremi e dei vários passos para trás até, finalmente, ficar livre da multidão.

Apoiando-me nas sombras das paredes, fui dominada por um medo que jamais senti. Ninguém prestava atenção em mim, o que era bom. Depressa, virei a esquina a caminho do jardim do qual cuidei durante anos e, em um instante, cheguei à porta da cozinha da hospedaria, tensa e tremendo.

Naquele momento, fui acometida por uma grande necessidade de correr para longe da tragédia que me aguardava. Não havia possibilidade de aquilo terminar bem. Porém, respirando profundamente, decidi não me acovardar. Pus a mão na maçaneta da porta, girei-a devagar e fui abrindo a porta, pouco a pouco.

Havia apenas um fogo fraco na lareira e uma única vela chamejando na escuridão. Primeiro, vi a mesa e as cadeiras, uma delas virada de lado. Olhei para a louça de barro espalhada no chão e um rastro de guisado que tinha caído das panelas.

Por um instante, senti como se não estivesse ali, mas em outro lugar. Como se estivesse longe, bem longe, vendo a cena através de um vidro manchado. E então, o horror tomou conta dos meus sentidos quando vi a mão, depois o braço, e o grande corpo caído no chão, o rosto para cima, os olhos sem vida mirando o teto. Vi a grande mancha no peito do homem e sangue no piso de pedra.

Esforcei-me para respirar e, segurando-me à cadeira mais próxima, olhei para o ferimento ensanguentado. Um tiro no coração, dissera um homem quando eu me aproximara da hospedaria. Tomada por uma coragem inexistente, olhei para o corpo.

Era Emmett McCarty. Morto.

O que ele estaria fazendo ali, na cozinha do meu pai?

Um murmúrio me tornou ciente de que não estava sozinha. Erguendo a cabeça, vi dois homens discutindo no corredor que levava ao bar. Eles estavam virados para o outro lado, e não perceberam quando eu dei a volta na mesa, tomando o cuidado de não passar perto de Emmett. Os meus ouvidos zuniam. Não queria continuar, mas forcei-me a ir até a lareira, onde se encontrava o corpo de um segundo homem. Demorei alguns instantes para entender o que via.

—Não... — murmurei, antes de me ajoelhar, horrorizada. Naquele momento, percebi que havia alguém ao meu lado, segurando um pano úmido e manchado de sangue. Ergui a cabeça e vi Jessica, a funcionária da hospedaria e o mais próximo que eu já tive de ter uma amiga.

— Ele está morto? — perguntei, tentando manter-se calma, a voz rouca e fraca.

— Sim.

— Oh, Deus... — murmurei. Morto. Meu pai estava morto. Levara um tiro.

— Não consegui estancar o sangue — declarou ela.

Fechei os olhos. Os abri depois de alguns instantes. Meu pai ainda estava ali, caído no chão frio de pedra. Olhei para ele, sem saber o que fazer e o que pensar. E então orei, agradecendo por ele não ter sofrido e pedindo que fosse perdoado de seus pecados. Talvez agora, ele estivesse em paz. Tinha esperanças de que minha mãe estaria esperando por ele. Certamente, devia haver alguma bondade em papai. Minha mãe o havia amado. Ou não?

Atraído pelo som, um dos homens olhou para mim. Seus olhos eram negros, ele tinha um rosto severo, com marcantes traços indígenas, sobrancelhas grossas também negras, mas o grisalho do anos já vividos estava presente até mesmo nelas. Ele não me conhecia, mas eu o reconheci. Era o xerife Billy Black.

— Pensei que só houvesse uma de vocês... — Franziu o cenho e meneou a cabeça, confuso. — Bem, peço que ambas esperem aqui. Vocês foram as últimas a ver esses homens vivos, a ouvir a conversa entre eles. Tenho perguntas a fazer — dizendo isso, ele se afastou.

Respirei profundamente e olhei para papai. Seus olhos estavam fechados, sua tez acinzentada e cerácea. Trêmula, pensei em acariciar lhe o rosto, mas não o fiz. Com tudo que eu sabia agora sobre ele, sobre as coisas que ele havia feito e as marcas que carregava na alma, o que deveria sentir? O que deveria pensar? Havia apenas uma vasta e estéril infelicidade no meu coração.

Não, não podia pensar assim, pois estava aliviada que Edward não tivesse morrido.

— Que coisa terrível! — Jessica exclamou.

Fitei-a. Jessica olhava para as mãos, ainda segurando o pano sobre o ferimento de meu pai, sem compreender totalmente a inutilidade de seus esforços.

— Aquele homem. — Jessica apontou Emmett com um gesto de cabeça. — Veio à procura de dinheiro. E olhava ao redor como se esperasse alguém. Os dois discutiram e ele ameaçou seu pai, dizendo que ia contar a verdade a todos. Mas não disse o que era.

Senti medo. Ele certamente ameaçara contar sobre os destruidores de navio e contrabandistas, a identidade do líder. O monstro seria Emmett McCarty, ou meu próprio pai?

Temi perder o controle diante de tudo o que soubera, e do que certamente estaria por vir. Todo o tempo, Edward tinha planejado colocar evidências falsas para ver meu pai condenado. Que trágica e horrível ironia. Papai provavelmente tinha sido condenado pelas próprias ações.

— Eles atiraram um no outro?

— Não, não. — Jessica meneou a cabeça. — Isso é que é estranho. Aquele ali, seu pai o chamava de Emmett, atirou no seu pai e então o amigo do seu pai atirou nele.

Olhei para Jessica durante um momento, incapaz de ligar aqueles fatos incoerentes. Senti o corpo entorpecido e pesado, como se estivesse nadando na lama. E uma terrível letargia tomou conta de mim. Meu pai estava morto. Fora morto pelo...

— Amigo do meu pai?

— Você o conhece. Ele já esteve aqui antes.

Pisquei e de repente juntei os fatos e as evidências. O amigo do meu pai era Ephraim Blanck. Ele liderava os destruidores de navios. A conclusão era tão simples que eu nem fiquei surpresa. Tinha acabado de vê-lo do lado de fora.

— Um homem esquisito e cruel — Jessica continuou. — Disse alguma coisa sobre bodes expiatórios e, então, riu e atirou em Emmett.

— Você contou ao xerife? — perguntei.

— Ainda não. — Jessica deu uma estranha risada. — Ele não parece inclinado a escutar até que esteja pronto. Passou os últimos minutos discutindo sobre as pistolas enquanto seu pai continuou caído no chão.

Olhei para Billy. Abri a boca para dizer que Ephraim Blanck havia escapado misturando-se à multidão. Naquele instante houve uma comoção no bar e o xerife se dirigiu para lá.

— Espere — o chamei, mas ele não se importou e meus esforços para me levantar foram impedidos pela perna doente.

— Eles estão loucos, não estão? — Jessica perguntou. — Deixando-nos aqui com dois homens mortos esperando o momento de nos fazer perguntas. — Suspirou, pôs o pano ensanguentado no chão e se levantou. Pegou um balde de água e se pôs a esfregar as mãos. — Nem tente falar com ele — disse, olhando para Billy. — Eu já tentei duas vezes. Ele só escutará quando estiver pronto.

Apoiando a mão na parede, consegui me levantar com esforço e me postei ao lado de Jessica.

— Como conseguiu se salvar, Jess? Estou contente e agradecida por você ter testemunhando tudo e vivido para contar. Mas como?

— Tive sorte. — Ela deu outra risada estranha, histérica. — Eu estava atrasada e vinha apressadamente pela rua a tempo de ver o sr. Cullen indo embora. Homem assustador, aquele. Bonito, mas sem coração, eu aposto.

— Indo embora? — perguntei. — O sr. Cullen foi embora?

Fiquei aliviada. Então, Edward saíra da hospedaria antes dos tiros. Era a prova de que estava vivo. Mas era também estranho. Tinha deixado a hospedaria sem testemunhar sua vingança. Teria chegado tarde demais para esconder os barris? Fazia sentido, pois nada havia sido encontrado. Meneei a cabeça, confusa.

— Cheguei à porta da cozinha pensando em como ia escapar do mau humor do seu pai. Mas eles estavam discutindo, seu pai e aquele que atirou nele, e eu esperei ao lado da porta aberta. Ouvi tudo. E vi também.

— Por onde Ephraim saiu? — perguntei.

— Pela frente, pouco antes do sr. Cullen entrar pelos fundos.

Franzi as sobrancelhas.

— Pensei que você tivesse dito que o sr. Cullen tinha ido embora.

— Tinha, mas voltou e se ajoelhou ao lado do seu pai para ouvir as últimas palavras. Como eu.

— Oh... — eu tremia e as lágrimas corriam pelas faces. O peso do que estava acontecendo era terrível, deixando-me com falta de ar e uma grande dor no coração.

Jessica suspirou.

— Seu pai olhou diretamente para o sr. Cullen e falou algo estranho. Disse que tinham acertado as contas, olho por olho. Disse também que um homem da tripulação do sr. Cullen tinha sido o responsável por criar os demônios da filha. — Inclinando a cabeça para o lado, Jessica perguntou: — O que ele quis dizer? Que demônios, Bella?

Um homem da tripulação de Edward! Fiquei aterrorizada. Não, não podia ser. Que cruel destino seria aquele? Afastei-me dali com náuseas, uma nova aflição tomando conta de mim.

O contrabandista da praia, que roubara minha juventude, deixando-me uma perna arruinada... Aquele cujas ações tinham levado à morte de minha mãe. O homem que criara meus demônios era alguém da tripulação de Edward. Fiquei arrasada com a possibilidade de que aquilo fizesse parte da vingança de Edward. Minha perna arruinada. A morte de mamãe.

Não... Não.

Papai estava morto no chão da cozinha, e suas últimas palavras condenavam o homem que eu amava como sendo o arquiteto de todas as tragédias que haviam permeado minha vida.

Olhei para Charlie morto e senti o coração esmigalhado. Sem uma palavra, virei-me e, em silêncio, atravessei a porta da cozinha para desaparecer no meio da noite.


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Notas finais do capítulo

Será que Bella e Edward vão ficar juntos? Será que até mesmo os sentimentos de Edward para com Bella foram engenhados para alcançar seus objetivos de vingança? Bella o perdoará? Charlie, mesmo morto, será uma sombra na felicidade do casal... Ou tudo não passou de um mal entendido? Nosso "Monstro" será capaz de encontrar o amor nos braços da "Bella"? Esse amor será reciproco?
Tudo isso é muito mais no ultimo capítulo de " A Bella e o Mostro".
Você não vai perder, vai?
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Ps.: Se tudo der errado eu viro locutora de trailer kkk
Beijão ;*