A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hello, my beautiful readers!! :3
Eu sei, eu sei... Estou atrasada! Desculpem-me por isso! Essas duas semanas foram bem pesadas na minha faculdade, com direito a prova, a trabalhos, a aulas extra e a todo o resto! Mas eu sobrevivi para contar a história e agora estou de recesso! O que significa mais tempo para escrever... E para postar mais rápido! Para compensar vocês, vou postar este capítulo hoje, e o próximo, semana que vem! Que tal? Pode ser? A sério, desculpem-me mesmo... Não foi de propósito!
Ah, sim! Eu queria agradecer às novas leitoras que começaram a acompanhar e favoritaram a fanfic! Obrigada, vocês não sabem o quanto os comentários de vocês me animaram! Espero que gostem do novo capítulo!
Bom, sem mais delongas, vamos ao que interessa! /o/



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– Você era assim com o papai também? – ele soou como uma criança ao dizer “papai” e percebeu isso, mordendo o lábio inferior numa auto-repreensão. – Quando o estava ensinando?

A mãe não conseguiu evitar sorrir. No final, tudo sempre acabava voltando a Thranduil...

– Ah, não... Não, eu não podia ser tão boazinha com ele. – ela riu com a expressão de espanto dele. – Vem, vamos guardar essa caça toda. Eu vou te contar como seu pai era terrível... Ele bem que merece.

“Eu tive uma semana para sofrer pela morte da Aurial antes que Thranduil me convocasse para o treinamento. Sabendo que não havia alternativa, peguei o meu arco e parti para encontrá-lo no primeiro campo de treinamento, aquele ao norte do palácio, assim que o sol nasceu. Quando cheguei, ele já estava me esperando. Estava de costas para mim, olhando para o céu. Mesmo odiando fazê-lo, eu me curvei.

– Meu senhor...

– Oh. Bom dia, Syndel.

– Bom dia. – eu permaneci de cabeça baixa, tentando conter o ódio que já voltava a queimar dentro de mim.

Ele se abaixou e com a ponta dos dedos levantou o meu rosto para que eu olhasse para ele. Eu me retraí ao seu toque.

– Você já fez o desjejum? Posso lhe oferecer alguma coisa? – sua voz e sua expressão eram suaves. Ele estava tentando ser delicado, ao que parecia.

– Não! – eu me levantei de uma vez e demorei um segundo para perceber como devia ter soado rude. – Eu não comi nada, mas não estou com fome. Obrigada, Alteza. – fiz uma breve mesura, tentando consertar o meu erro.

– Está certo, então. – ele voltou a olhar para o céu. – Um sol branco nasce... Acho que o dia será de tempo bom. Sem nuvens.

– E uma brisa fresca sopra do oeste. – comentei, só para dizer alguma coisa.

– Sim. Perfeito para um dia de treinamento, não acha? – ele voltou a olhar para mim, e alguma coisa dentro de mim se agitou ao encontrar aqueles olhos penetrantes e intensos. Eu jamais me acostumei a eles.

– Perfeito.

– Devemos começar, então? – ele olhou para mim por mais um instante, antes de se voltar na direção de uma grande pedra sobre a qual, agora eu via, ele havia deixado algumas armas. – Espada ou arco?

– Arco. – respondi sem nem pensar. Não estava nem um pouco confortável com a ideia de expor minha maior fraqueza para ele. Ainda mais na luz tênue do amanhecer.

– Certo.

Ele pegou uma aljava cheia de flechas e um arco longo que me fez sentir uma pontada de inveja e se aproximou lentamente de mim. Estendendo o arco sobre as duas mãos, ele sorriu para mim e pela primeira vez não havia vestígios de presunção em seu rosto. Ele abaixou a cabeça numa mesura.

– Ensine-me.

Apesar de suas palavras terem sido uma ordem, apesar de não terem sido acompanhadas por um “por favor”, alguma coisa na maneira quase humilde com que ele estendia aquele arco à minha frente esfriou um pouco da raiva que eu sentia por ele. O suficiente, pelo menos, para que ela não transbordasse na minha voz ao dizer:

– Em primeiro lugar, eu preciso saber o que o senhor já é capaz de fazer. Ali. – apontei. – Atire naquela grande faia ali. Deixe-me observá-lo.

Eu me afastei alguns passos e fiquei olhando atentamente. Talvez se eu pudesse ensinar-lhe um ou dois tiros especiais, ele se desse por satisfeito e me liberasse. Tudo o que eu queria era poder ir embora e para longe dele o mais rápido possível.

Ele respirou fundo uma vez e estendeu a mão para pegar a flecha. Só a maneira como fez isso, rígida demais, já me trouxe um mau pressentimento sobre aquele tiro. Ele a posicionou no arco, também de uma maneira que eu não recomendaria, e esticou a corda. Parecia nervoso. Eu assisti enquanto ele mirava e soltava a flecha, que saiu voando, passou direto pela faia, e foi atingir outra árvore cinco metros adiante. Um pássaro voou assustado.

Nós dois ficamos sem ação. Ele ficou parado olhando na direção em que a flecha tinha ido. Quanto a mim, também permaneci quieta, mas meus olhos dançavam dele para a flecha, enquanto eu tentava analisar que brincadeira tinha sido aquela. Só podia ter sido brincadeira. Ele não podia ter errado daquele jeito. Conforme os minutos foram se passando, porém, eu percebi que não tinha sido uma piada.

– Ahnm... Então... – eu me aproximei devagar. – Está... Está nervoso, meu senhor?

Ele olhou para mim e eu pude ver a vergonha estampada em seu rosto por um segundo, antes de se transformar em fúria:

– Não, não estou nervoso! – ele praticamente gritou. – É apenas isso, ok? Eu simplesmente não consigo! É sempre a mesma maldita coisa! – ele jogou o arco no chão e fechou os olhos, sua respiração se acelerando.

Eu fiquei quase satisfeita por ter o velho Thranduil mimado e orgulhoso de volta. Era muito mais fácil odiá-lo assim.

– Bom, Alteza... Ter ataques de raivinha não vai ajudá-lo. – eu senti meus lábios se curvarem involuntariamente num sorriso ao ouvir a presunção na minha própria voz.

Ele olhou para mim, lívido de raiva:

– Ataques... Ora, sua... – ele se calou, para minha surpresa, e fechou os olhos, inspirando fundo. – Bom, é para isso que você está aqui, não é?

Eu suspirei, sentindo uma frustração meio infantil pelo fato de ele ter se acalmado tão rápido. Eu queria irritá-lo mais. Balançando a cabeça para espantar esses pensamentos, me abaixei e peguei o arco do chão. Tive que conter um gemido ao sentir o peso dele em minhas mãos. Era uma arma tão boa! Fiquei tentada a atirar com ele, mas me contive. Baixei os olhos para olhá-lo e estendi as pontas dos dedos para acariciar os baixos relevos entalhados na madeira escura. Mogno. Além de tudo, aquele era o arco mais lindo que eu já tinha visto. Thranduil ficou apenas me observando. Eu podia sentir seus olhos em meu rosto, atentos à minha expressão, a qual eu tinha certeza que denunciava o estado de encantamento em que eu me encontrava.

– Certo. Tudo bem. – eu disse, por fim, tirando os olhos da arma com certa dificuldade. – Em primeiro lugar... Vossa Alteza não pode usar este arco. – eu o estendi para ele.

– Perdão? – ele o pegou e segurou com apenas uma mão.

– Eu disse... Vossa Alteza não pode usar esse arco.

– E por que não?

Eu sorri de leve:

– Ele é bom demais para o senhor.

Para a minha surpresa, ele sorriu de volta, seus olhos brilhando desafiadoramente:

– Ah, é?

– É.

– E você acha que você é boa o bastante para ele? – ele estendeu o arco para mim, se curvando e olhando fixamente em meus olhos.

– O quê? – eu fiquei confusa.

– Acha? – ele continuava sorrindo. Parecia estar se divertindo às minhas custas.

– Eu não estou entend...

– Não é, então? – ele me interrompeu. – Eu devia ter imaginado.

Ele estava fazendo pouco de mim. Furiosa, arranquei o arco da mão dele, peguei uma flecha e me posicionei, tudo muito rapidamente. Meio segundo depois, minha flecha tinha acertado exatamente o meio do tronco da faia. Não satisfeita, eu girei o corpo e atirei uma segunda vez, partindo ao meio a flecha que ele tinha fincado na outra árvore.

Quando me virei para olhar, Thranduil estava parado olhando para a minha segunda flecha com os olhos arregalados. Furiosa demais para sorrir, eu enfiei o arco de volta na mão dele:

– Como eu disse, Alteza, esse arco é bom demais para o senhor. – eu frisei bem as palavras. – Um iniciante deve começar com um arco pequeno e leve. Arcos grandes e pesados como esse são mais difíceis de controlar. Apesar de fornecerem mais propulsão e precisão para arqueiros experientes.

Ele olhou para mim e pela expressão em seu rosto quase parecia que ele acabava de perceber que eu estava ali.

– Eu não sou um iniciante.

– Mas tem o nível de um.

Ele não ousou negar. Baixando os olhos, ficou analisando o arco em suas mãos, provavelmente ponderando sobre seu tamanho e seu peso. Quando levantou os olhos para mim, parecia contrariado, mas decidido.

– Que arco seria bom para mim, então? – ele olhou de relance para o arco em minhas costas. – Talvez o seu...?

– Nem pensar! – exclamei, dando um passo para trás por instinto. A ideia de deixá-lo sequer tocar o meu arco era repulsiva.

– E posso saber por que não?

– Em primeiro lugar, Alteza, porque ele é meu. E em segundo lugar, ele é pesado demais, mesmo sendo pequeno. Não iria servir para o senhor.

Ele sorriu presunçosamente mais uma vez. Eu odiava (na verdade ainda odeio) tanto aquela expressão que tive dificuldades em me conter para não socá-lo:

– Bom, em primeiro lugar, todos os arcos deste reino são meus. Tudo neste reino me pertence. Mas em segundo lugar, tudo bem, eu aceito a sua justificativa. Principalmente porque, como eu não tenho outro arco aqui comigo, isso significa que é a minha vez de bancar o professor. – ele desembainhou a longa espada que tinha usado na batalha contra os orcs e a segurou com as duas mãos, largando o arco na grama a seu lado. Ele me encarou, assumindo uma expressão assustadora. Eu sempre havia pensando naqueles olhos azuis como “frios como a água de uma cachoeira”, mas naquele momento um fogo parecia queimar no fundo deles. O simples ato de segurar a espada parecia tê-lo transformado completamente. – Que tipo de espada você usa?

– E-Eu... – gaguejei, meio assustada com a mudança repentina. – Eu não... Eu não uso espadas.

– Mas você deve ao menos carregar uma, não?

Balancei a cabeça em negativa: – Só facas. Duas. O padrão.

Ele abandonou a posição de luta que tinha adotado e balançou a cabeça:

– Tcs, tcs, tcs... Que tipo de elfo vai para uma batalha sem uma espada?

– O tipo que vai para a batalha com um arco e que espera não ser colocado numa posição que o impossibilite de usá-lo, talvez? – eu repliquei, irritada com o que ele estava insinuando. Mas ele não me ouviu. Tinha dado as costas para mim e voltado para a pedra sobre a qual estavam suas armas. Estava analisando-as.

Depois de alguns breves instantes, ele escolheu uma e deu alguns golpes no ar, testando-a. Pela expressão em seu rosto, pareceu satisfeito. Colocou a espada de volta na bainha e veio andando lentamente em minha direção. Parando, estendeu-a para mim. Eu não esbocei reação.

– O nome dela é “Terror dos Orcs”. Eu costumava treinar com ela quando tinha uns dez anos de idade. Deve servir para você. – ele continuava sério, mas parecia com vontade de rir. – Vamos lá, é uma boa espada! De verdade. – eu não me movi, continuei apenas olhando para ele. Ele me encarou, parecendo tentar ler meus olhos. – Não tenha medo. – acrescentou, por fim.

Hesitando um pouco, eu segurei o cabo da espada. Cabia perfeitamente na minha mão, o que me fez me sentir um pouco mais segura. Nunca nenhuma espada tinha se ajustado ao tamanho da minha mão daquele jeito. Tomando coragem, eu a puxei, tirando-a da bainha. Fiquei impressionada com o quanto era leve. Comecei a analisar a arma, traçando com os dedos o intricado padrão em baixo relevo que decorava o cabo. Eu já ia subindo a mão para passar os dedos pela lâmina, quando Thranduil me impediu, um tanto bruscamente:

– Cuidado! – eu me retraí, surpresa com o choque que o seu toque enviou pela minha espinha. – Desculpe, não quis assustá-la. É que a lâmina é muito afiada. – ele apontou. – Eu meio que tenho a mania de amolar as minhas espadas, mesmo as que eu nem uso mais. Não tente entender, ninguém entende. – ele deu de ombros.

– Não, eu... – eu estava me sentindo estranha por ele estar me contando aquilo, uma coisa pessoal. – Eu entendo. Eu também sou assim. Com os meus arcos. Simplesmente preciso cuidar deles.

– Não é? Acho que acabamos nos apegando às armas que nos ensinam lições. Gosta dela?

– Sim... Acho que sim. Nunca antes tinha sentido que uma espada se adaptava tanto a mim. – respondi com sinceridade, girando a espada nas mãos.

– Eu sei... Ela foi forjada pela minha mãe. É o grande talento dela. – ele acrescentou, ao ver o espanto em meus olhos. – Poucas pessoas sabem, ela esconde isso. Ela não acha uma atividade muito... Feminina. Mas eu não sei por que esconder. Ela é a melhor nisso! Esta aqui... – ele deu um golpe no ar com sua longa espada depois olhou para ela com um carinho quase exagerado. – Foi a última obra de arte que ela produziu até agora. Ela fez para mim no meu aniversário de quinze anos.

– Como essa espada se chama? – ele disse o nome em élfico, uma palavra longa e melodiosa. – “Fúria do herdeiro”. – traduzi.

– Isso. Foi o meu pai quem escolheu o nome. Eu meio que não tive como recusar... Mas até que soa legal, não é?

– É, soa.

– Bom, se você gostou da “Terror”... Então ela é sua.

– O quê? – eu lancei um olhar rápido à espada em minhas mãos. – Não, Alteza, eu não posso...!

– Eu insisto.

– Mas, senhor... A rainha...

– Não se preocupe com isso, não vai ferir os sentimentos de minha mãe, nem nada do tipo. Na verdade, ela fica meio irritada por eu guardar todas aquelas espadas que ela fez para mim. – ele apontou para as armas sobre a pedra. – Ela diz que uma boa lâmina não deveria nunca ficar sem uso. Só que eu não troco a “Fúria” por nenhuma outra. – ele acariciou a espada, girando a lâmina para evitar se cortar.

– Mesmo assim, ela deve ter algum valor sentimental para o senhor... – eu não queria aceitar nada dele, ainda mais algo daquele tipo!

– Chega de discussão. – ele fez um gesto com a mão rejeitando minha objeção. – Eu vou considerar uma ofensa pessoal se você recusar o meu presente. Agora, basta dessa conversa. Vamos começar. Em guarda! – as últimas palavras dele foram um comando. Percebi, em pânico, quando ele reassumiu a posição de ataque de antes, aquele fogo assustador voltando a seus olhos.

Eu me atrapalhei tentando assumir uma posição de defesa. Fui lenta demais. Thranduil se movia mais rápido que qualquer outro elfo que eu já tinha visto. Eu nem consegui enxergar sua espada, só senti o vento causado pelo deslocamento de ar quando ele ensaiava um golpe primeiro no lado direito do meu pescoço, depois no lado esquerdo e depois na minha barriga, na altura do meu umbigo.

– Francamente, você chama isso de defesa? Se fosse um inimigo, eu já teria te matado três vezes. – a expressão presunçosa que eu odiava já estava de volta ao seu rosto.

– O senhor me pegou de surpresa! – cerrei os dentes, não querendo admitir que eu não fazia ideia do que fazer.

– É? Tenho más notícias. O inimigo sempre vai te pegar de surpresa. Ou você acha que ele vai te avisar antes de atacar? – ele estava zombando de mim. – Mas eu vou te dar uma segunda chance. Em guarda!

Dessa vez ele esperou que eu assumisse o que eu julgava ser uma boa posição de defesa. Eu só tive tempo de ver um sorriso de escárnio brotar em seus lábios enquanto ele punha a mão esquerda atrás das costas. Só com a mão direita, começou a desferir uma série de golpes que teriam me matado, se ele não tivesse se contido um segundo antes de me atingir. Eu tentei o melhor que pude me defender com a espada que ele tinha me dado, mas a minha lâmina sequer chegou a tocar a dele. Parecia que, quando eu tentava defender de um lado, ele já estava atacando do outro. Eu simplesmente não conseguia acompanhar. Quando se cansou de quase me matar, ele apoiou a ponta da espada no chão e começou a rir.

– Qual é a graça? – perguntei, irritada e ofegante.

– A graça é que você é péssima. – ele nem ao menos estava tentando se conter e continuava rindo de mim abertamente.

– Quase tanto quanto o senhor com o arco.

– Ah não... – ele continuava rindo. – Você é muito pior.

– Ah, sou? Pois quero continuar sendo! – sem pensar, joguei a espada nele. Ele a desviou com sua própria espada com facilidade. – Eu não quero saber das suas estúpidas aulinhas! E já que o senhor não tem nada que me ensinar... Estou indo embora! – dei as costas para ele e segui em direção à floresta. Parei apenas por um breve instante para falar por sobre os ombros: – E arrume outro instrutor para o arco, sim? O senhor bem que precisa.

Syndel. – ele usou o mesmo tom de voz que tinha usado para me parar quando me chamou depois da batalha na floresta, mas dessa vez eu não parei. – Pare onde está! – eu pude ouvir que ele estava cerrando os dentes. – Isso é uma ordem! – acrescentou, quando eu não parei. Frustrada, obedeci, soltando os braços ao lado do corpo. – Muito bem. Agora, volte aqui. Isso também é uma ordem.

Irritada, eu me virei e voltei dando passos duros, parando à frente dele.

– Boa menina. – ele deu um sorriso torto, tentando segurar o riso. – Agora, pegue a espada. Isso é...

– Uma ordem. Já entendi. – furiosa, xingando-o mentalmente de todos os nomes feios que eu conhecia, abaixei e peguei a espada.

– Que bom. Posso parar de repetir, então? Ótimo. Seja boazinha, sim? – ele se abaixou e pegou a bainha da minha espada. Lentamente, como se tentasse não me assustar, ele se aproximou de mim e a prendeu no meu cinto. A proximidade dele me incomodou quando ele ergueu a cabeça e me olhou nos olhos, mas ele logo deu um passo atrás, parecendo tão desconfortável quanto eu. Ele pigarreou baixinho, constrangido: – Ponha a espada de volta na bainha.

Eu obedeci sem dizer nada. Ele também embainhou sua espada.

– Agora, desembainhe a espada.

Franzindo a testa, eu obedeci.

– Certo. Vamos começar com o básico. Observe. – ele deu dois passos para trás e virou de costas para mim. Lentamente, ele desembainhou a espada e a posicionou na frente do corpo. Não pude deixar de notar o quanto ele era elegante ao fazer isso. – Eu gosto de carregar a espada no lado direito do corpo, porque assim posso carregar outra... – ele desembainhou outra espada, mais curta, que eu não havia notado antes. – ... do lado esquerdo. – dizendo isso, ele cruzou as duas espadas à sua frente e girou sobre os calcanhares, virando-se para mim. – Porque assim eu posso lutar com duas espadas, se quiser. – ele deu um golpe com as duas espadas no ar, parecendo extremamente mortal. Instintivamente, eu dei um passo para trás. Ele sorriu, achando graça do meu medo. – Mas você, como carrega apenas uma espada, talvez ache mais fácil prendê-la no lado esquerdo do corpo.

Ele se aproximou e soltou a bainha do meu cinto, prendendo-a novamente logo em seguida, desta vez no meu lado esquerdo. Eu virei o rosto para o lado, evitando o contato visual. As palmas das minhas mãos estavam suando frio, e eu não conseguia entender por quê. Aquilo me deixava nervosa.

– Certo. Ponha a espada na bainha de novo. – eu obedeci, bufando, sem entender o propósito daquilo. – Agora, desembainhe. Não, não! Com a mão direita. Não... – ele riu de leve. – Está errado. Pelas estrelas, como eles deixaram você passar nos testes do esquadrão? Preciso conversar com o meu pai sobre esses instrutores de vocês... – Aqui...

Apavorada, sentindo o cabo da espada começando a escorregar da minha mão por causa do suor, eu permaneci parada e observei enquanto ele dava a volta em mim e parava próximo às minhas costas. Depois, senti um choque percorrer todo o meu corpo quando ele segurou a minha mão que ainda segurava a arma. Chegando ainda mais perto, ele começou a guiar a minha mão de volta para a bainha da espada, seu braço passando por cima do meu ombro. Ele estava tão perto que eu pude sentir seu hálito em meu pescoço quando ele falou num tom baixo:

– Tente... Deste jeito. – ele guiou minha mão novamente, mostrando como eu devia desembainhar a espada, mas eu estava tão nervosa com a repentina proximidade dele que não consegui prestar muita atenção. – Entendeu? – eu assenti com a cabeça, desesperada para que ele se afastasse de mim.

Ele deu dois passos e parou ao meu lado.

– Assim. – ele desembainhou a espada menor com a mão direita como tinha dito para eu fazer. – Tente.

Eu tentei, mas na mesma hora percebi que tinha feito algo errado. Muito errado. Como sempre.

Ele suspirou.

– Como alguém tão incompetente pode ser filha de dois guardas tão esplêndidos? Você é lerda assim mesmo, ou se esforça para isso?

Eu cerrei os dentes para não dizer nada de que me arrependeria mais tarde.

– E nem pense em dar um “ataque de raivinha” de novo, ouviu? – ele fez questão de deixar as aspas bem evidentes. – Eu não tenho culpa se me ensinaram a ser honesto e dizer sempre a verdade, tenho?

E assim passamos o resto daquele dia. Thranduil não se cansava de me humilhar e ofender a cada oportunidade, embora de vez em quando parecesse decidir subitamente ser delicado, mas esses momentos afáveis duravam pouco. De modo geral, ele parecia estar se divertindo às minhas custas, rindo dos meus erros e me fazendo me sentir mal por puro prazer.

As estrelas já tinham aparecido no céu havia horas quando ele finalmente me mandou parar e embainhou a própria espada:

– Nunca antes na minha vida eu tive um treinamento tão longo, e tão improdutivo. Estamos aqui desde que o sol nasceu, e parece que você não fez progresso nenhum. – ele fez uma pausa. – Você embainhou a espada do jeito errado. De novo.

– Ah, me poupe! – eu estava suada e ofegante e tinha um corte no meu ombro esquerdo. Além disso, se ele me ofendesse mais uma vez, eu era bem capaz de estrangulá-lo, àquela altura. Já tinha passado muito do meu limite.

– Tcs, tcs, tcs... – ele, por outro lado, parecia nem ter se cansado. – Que bela decepção você me saiu... Eu não imaginava que alguém pudesse ser tão ruim assim, e ainda ter passado nos testes do esquadrão. Quem você disse mesmo que foi seu instrutor?

– Eu não disse. – eu o encarei. – E não vou dizer.

– Se eu mandar, você vai, sim.

– Não, não vou. O senhor pode me exilar ou me matar se quiser. – eu jamais entregaria meu instrutor, especialmente porque eu me lembrava muito bem das circunstâncias em que ele tinha me aprovado. – Essa informação o senhor não vai conseguir de mim.

– Garota leal... – ele me lançou aquele sorriso torto irritante de novo. – Eu gosto disso. Tudo bem, não vou te forçar a nada. Nem te matar. Por hoje, vou ficar só no quase. Esse treinamento de hoje parece ter acabado com você, hein?

– Não chegou nem perto. – eu tinha plena consciência de como o meu estado ofegante, meu cabelo despenteado, meu ombro machucado e minhas roupas sujas denunciavam minha mentira, mas não me importei.

– Certo. – ele riu de leve. – Só acho uma pena, Syndel, que você tenha se cansado tanto por nada.

Eu me recusei a responder.

– Agora você pode ir. Está dispensada. Encontre-me aqui amanhã no mesmo horário.

– O quê? Mas você não disse que hoje foi um grande desperdício?

– Disse.

– Então... Eu pensei... Quero dizer... – eu me atrapalhei um pouco, aturdida. – Por que continuar com isso? – eu atirei os braços para o alto, finalmente dando vazão à toda a minha frustração.

– Porque eu quero. Simples.

Eu fechei os olhos e respirei fundo, esforçando-me para conter a raiva que começava a borbulhar novamente em meu peito. Não sei de quanto tempo precisei para me controlar o bastante, mas quando abri os olhos Thranduil ainda estava parado na mesma posição, me olhando atentamente.

– Eu só tenho uma pergunta, Alteza... – desarmando todas as barreiras que eu tinha erguido, deixei que ele visse o quanto eu estava cansada e o quanto desejava estar em qualquer outro lugar, que não ali. – Por que eu?


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