Enquanto tia Nancy avança para dentro da cidade, eu noto todos os detalhes que consigo ver e principalmente a arquitetura daqui. É simplesmente perfeita. Os prédios, as casas, os parques, as ruas... parece que tudo foi feito pelos deuses!

Tia Nancy parece estar com um pouco de pressa pois já é um pouco tarde, e como ela é terapeuta, tem que sempre chegar no horário e descansar para suas consultas. Deve ser difícil ter que ouvir os mesmos pacientes e as mesmas histórias todos os dias.

Enfim, não consigo ver muita coisa mas quando passamos por Liberty Island logo vejo de longe a Estátua da Liberdade. É um monumento realmente incrível e que eu gostaria muito de visitar. Quando passamos por lá, mesmo que longe, sinto-me segura e também livre.

Enquanto tia Nancy explica e conta algumas coisas dos pontos turísticos daqui, vou prestando atenção nas luzes dos prédios que brilham no vidro do carro. Uma brilha mais que a outra, mas no final das contas todas têm o mesmo efeito: iluminar. Sabe, isso me faz pensar. Eu quero ser diferente aqui, mas não quero ser melhor do que ninguém, porque, no final das contas, cada um é importante no que faz.

***

Quando tia Nancy para o carro para esperar o portão ser aberto, coloco a cabeça para fora da janela e reparo no prédio que vai ser minha nova casa. Ele é beeeeeeeeeem alto e bonito. É todo envidraçado e tem sacadas largas e elegantes em todos os andares. As cores das paredes que consigo ver são brancas e azuis, com certeza o prédio é bonito.

Logo tia Nancy entra no estacionamento de lá e tiramos minhas malas do carro. Elas estão um pouco pesadas mas tia Nancy me ajuda a carregá-las então beleza. No elevador, tia Nancy finalmente quebra o silêncio e pergunta o que achei de NY, qual foi minha primeira impressão da cidade. Eu respondo que achei tudo muito lindo e perfeito e, claro, não pude deixar de reparar nas construções, que aliás eram fantásticas.

Tia Nancy não me dá uma resposta, mas posso ver um sorriso brotando em seus lábios. Me sinto um pouco culpada pois ela parece estar cansada e eu, por mais que as olheiras sejam visíveis sob minha pele branca, não estou com nem um pingo de sono.

O elevador para no 14° andar e tia Nancy sai e segura a porta para mim, seguindo na direção de uma porta muito bonita de madeira branca. Ela procura as chaves por um instante e logo diz:

— Querida esta é sua nova casa, fique a vontade.

Fico perplexa ao entrar. O apartamento, como eu já disse era enooooooooooooorme e estava um pouco diferente das fotos em que tia Nancy havia me mandado duas semanas atrás! Me lembrava que a sala era meio antiga e rústica e agora está toda decorada num estilo clássico, que é bem mais a cara da tia Nancy. Ah, deuses, ela não é tão velha assim e não vou negar que o apartamento dela antes parecia uma casa de vovó, e claro que eu não disse isso a ela, apenas sorri e agradeci.

— Tia Nancy isso aqui tá fantástico eu adorei! Está bem melhor do que antes e... esses sofás que coisa mais linda — dei um pulo no sofá largando minhas malas paradas em frente a porta — não me importaria de passar o resto da vida aqui!

— Que bom que gostou, querida. Mas agora é muito tarde e os vizinhos podem reclamar então tome um banho e vá se deitar. Você teve um dia cheio hoje e merece um descanso para amanhã quando eu voltar do trabalho conhecermos alguns lugares aqui.

— Obrigada tia, de verdade.

—Não foi nada e, cá entre nós, ela estava meio velha para uma mulher como eu, não acha? — ela me pergunta dando uma piscada e não consigo segurar o riso.

— Claro que sim, desse jeito tá ótima, eu amei tia Nancy, a senhora não precisava ter se preocupado comigo, sério.

— Annabeth, mas que negócio é esse? Já disse que não foi nada. Venha, tem mais uma surpresa para você, espero que goste. — tia Nancy me puxou pelo braço e me levou para um corredor onde haviam três portas e pediu para que eu abrisse a última delas.

— Tia, eu...

— Apenas abra.

E eu não poderia ter tido uma surpresa melhor: era o meu quarto! Me segurei para não gritar e agarrei o pescoço da tia Nancy e dei um abração nela. Aquilo tudo era perfeito demais, lindo demais. Eu nunca conseguiria agradecer o que ela fez por mim.

Ele era lindo: era todo branco e a parede ao fundo da minha cama tinha um papel de parede em um tom leve de creme com desenho de flores bem fofas. Minha cama era de casal e bem grande, também tinha uma bancada de madeira clara, onde poderia estudar e uma poltrona muito, muito confortável onde eu poderia ler meus livros. Em uma das paredes também tinha uma Tv grandona que me deixou superanimada para assistir filmes e meus programas de arquitetura favoritos. Uma das paredes era cheia de prateleiras com alguns livros, mas logo eu as lotaria com coisas e mais coisas. O armário era espaçoso e eu poderia guardar minhas roupas todas lá e ainda sobraria espaço. Só sei que tudo aquilo parecia um sonho e, talvez até fosse.

Poderia ter ficado admirando a beleza dele para sempre, mas tia Nancy atrapalhou meu pequeno devaneio para me mandar entrar.

Eu estava admirada com aquele lugar, eu não conseguia acreditar que aquilo era meu.

— Annabeth, espero que goste. Uma amiga me ajudou a decorar e achei que você iria gostar dessas cores, ainda tem o banheiro, abra a porta ao lado da bancada.

— Tia Nancy!!!!!!!!!! Aqui é perfeito eu adorei tudo, não sei nem como agradecer as coisas que a senhora está fazendo por mim obrigadaaaaaaaa! — dei um beijo estalado em sua bochecha e tia Nancy ficou até um pouco assustada com a minha felicidade.

O banheiro era lindo: não era muito grande, mas era do tamanho ideal para uma adolescente, tinha pisos e pia de mármore e o box era todo de vidro. As cores das paredes eram de um tom pastel com pastilhas da mesma cor. Eu havia adorado e mal podia esperar para usar aquela ducha.

Tia Nancy disse para eu descansar e arrumar algumas das minhas roupas e malas enquanto ela esquenta sopa que May, sua cozinheira que eu conheceria no dia seguinte, havia preparado especialmente para mim.

Eu ainda estava agitada por conta das surpresas que minha tia havia preparado e nem conheci o resto do apartamento. A cozinha era impecável e muito limpa. Talvez fosse a cozinha mais limpa que já vi em toda minha vida, isso porque tia Nancy é muito exigente e sistemática.

O quarto de tia Nancy também era muito bonito, clássico e muito mas muito organizado mesmo.

A vista da sacada da sala de jantar era linda, conseguia ver Manhattan inteirinha dela.

Eu queria tomar um banho logo e deitar naquela cama grande e cheia de almofadas, mas é claro que nem tudo são rosas, então minhas malas ainda estavam lá lotadas de coisas para eu organizar.

Eu estava feliz de ter começado uma nova vida, mas parece que tudo foi retomado quando comecei a desfazer as malas e organizar as roupas no armário. Ao tirar minhas coisas de lá começo a lembrar dos meus momentos em San Francisco. Lembro de Luke, do meu pai, das pessoas que conhecia e até alguns dos meus poucos amigos de quem sentiria falta e de Cristine, a namorada do meu pai e um dos motivos para eu me mudar para cá também. Cristine é um amor de pessoa e graças a deus ela não é essas madrastas más. Ela é legal comigo e eu gosto dela pois ela faz meu pai muito feliz, mas eu sei que deveria dar privacidade aos dois e liberdade para que possam seguir suas vidas juntos, viajar, sair e tudo o mais e, com uma filha adolescente no pé, eles não podiam fazer essas coisas. O melhor que pude fazer para mim e para eles foi isso. E aqui estou eu.

Deixo esse sentimento ir embora e me concentro em arrumar pelo menos algumas gavetas de roupas.

Depois de mais ou menos quinze minutos, tia Nancy chega e me traz em uma bandeja uma tigela de sopa. Paro imediatamente o que estava fazendo pois o aroma daquela sopa já tava até me possuindo de tão bom.

— Hmmmm, que delicia que isso aqui tá, obrigada tia.

— De nada, querida. Olhe, estou com um pouco de sono e vou me deitar, mas se você precisar de algo me chame, Annabeth.

— Tudo bem, boa noite, sei que a senhora está cansada.

— Não durma tarde, você tem que descansar pois seu dia foi muito agitado hoje, deixe essas malas para lá e vá tomar um banho, termine de arrumá-las amanhã. Ah, e provavelmente, na hora que você acordar eu já estarei no trabalho mas não se preocupe, May vai ficar cuidando de você. Boa noite e sonhe com os anjos.

Logo que ela disse isso, pensei automaticamente no garoto do aeroporto que acha meu nome legal. Sem querer, deixo um sorriso nascer em meus lábios.

— Certo. Também vou dormir daqui a pouco. Boa noite e obrigada por tudo.

Tia Nancy sai levando a tigela e fecha a porta do meu quarto. Logo, volto a arrumar minha malas.

Já era bem tarde quando terminei de fazer minha tarefa e ainda faltava uma mala. Fui tomar um banho quente e fiquei lá por mais uns quinze minutos e, como sempre, pensando na vida.

Saí de lá relaxada e com sono. Escovei meus dentes e penteei meu cabelo. Quando olhei a hora no celular já era bem tarde, quase uma e meia da manhã! Coloquei meu celular pra carregar e logo me deitei. Demorou um tempinho até que eu dormisse, mas quando o sonho finalmente chegou,sonhei pela primeira vez em semanas.

Foi um sonho bom. Eu havia sonhado com ele, mas não com aquele ele antigo, e sim com o novo ele.