Já era quase hora do baile. Adam, já arrumado – com um belo smoking que havia alugado e gastado muito para isso – aguardava aflito Rachel descer. Ela estava o dia inteiro trancada em seu quarto. Ele andava de um lado para outro, ao pé da escada, esfregando as mãos freneticamente. Estava nervoso como nunca.

David também estava arrumado, mas ele não ia para o mesmo baile. Era outra festa, da sua ex-turma de colegial. David era mais novo que Adam e havia acabado os estudos há apenas um ano, mas, mesmo enquanto trabalhava como estagiário, ele tentava entrar para alguma faculdade. Apesar das distrações com o carro e as festas que ia sempre, David pensava muito no futuro e queria se formar. Ele estava esperando o resultado de uma prova de admissão que havia feito para uma faculdade para se formar no nível superior. Seu sonho era fazer engenharia. Embora fosse um curso difícil e bastante caro, David estava confiante que passaria e depois, ganharia uma bolsa jogando basquete, no qual era muito bom, e assim, poderia pagar o curso. A sua festa era justamente para comemorar sua boa nota na prova de admissão; era praticamente certo, David ia realizar seu sonho.

Enquanto David se preparava para sua festa com uns amigos, Adam continuava esperando. Sentado na escada, ele não via a hora de Rachel descer e, revelar o porquê de tanto mistério. A essa altura, David já tentava acalmá-lo.

– Calma, Adam! Ela vem já! Sabe como as mulheres demoram se arrumando!

– Ela não cara! Rachel é diferente! Ela não precisa de muita coisa pra ficar bonita! ... Será que ela desistiu de ir?!

– Ah Ah! Claro que não! Ela não desistiria de ir com você a lugar nenhum! Eu sei... Bem, espera mais um pouco!

– David, queria te confessar uma coisa: eu gosto dela! Eu estou gostando muito dela!

David riu e falou de modo irônico:

– Nossa! Adam! Nem deu pra perceber!

– O quê?! Estava tão “na cara” assim?!

– Aham! Na cara dos dois! Olha... E daí?! Vocês não me devem satisfações! Não é porque eu morava primeiro com ela que eu senti alguma coisa “real” por ela! Mas você... Ah! Acho que você sente realmente uma coisa bem forte por ela! Não sente, Adam?!

– Você nem imagina, cara!

– Olhe! A porta do quarto dela abriu! Acho que sua ‘dama’ vai sair! Eh Eh!

Adam estava de costas, olhando para David e notou que ele ficou boquiaberto. Então, Adam se virou para olhá-la e ficou do mesmo modo. Ambos ficaram paralisados com o que viram, ou melhor, com quem, ou melhor, como este alguém estava.

David e Adam jamais esqueceriam como ela estava naquela noite. Eles nem podiam imaginar que seus pensamentos se fundiam naquele instante.

“Parece que ela vem em câmera lenta.”

“Ela está simplesmente deslumbrante. É inexplicável tal mudança.”

“O efeito que o vestido vermelho surtiu sobre ela é incrível.”

“O brilho das luzes em seu cabelo... refletindo em seus olhos! É mágico! De onde vem essa mistura de tons e de emoções, e,... de sentimentos?!”

“Meu coração está disparou de um modo que... Ah! O que é que estou sentindo?!”

“Eu nunca a havia visto como hoje!”

“Está de um jeito que jamais imaginei!”

“Parece uma estrela vermelha vindo em minha direção!”

“Parece uma rosa se abrindo bem na minha frente, exalando seu perfume!”

“Jamais esquecerei como ela está esta noite!”

Desceu as escadas. Ambos se apressaram em segurar suas mãos num gesto de cavalheirismo. Ela deu um beijo no rosto de cada um, mas segurou o braço apenas de um deles, dizendo:

– Vamos?!

Mas, Adam não conseguia falar. Ela repetiu. Ele respirou profundamente e sentiu envolver-se por seu perfume. Não conseguiu falar de novo.

David suspirou discretamente e disse:

– Você está linda esta noite!

Adam, finalmente, tomando fôlego, completou:

– Maravilhosa! Magnífica! Esplêndida!

Ela sorriu, envergonhada.

Estava maquiada. Seus lábios pintados com um vermelho carmim. Suas unhas também.

“Era como se uma garota tivesse se transformado em uma joia! Um rubi, para ser mais exato! Ela era a verdadeira dama de vermelho!”

David viu que já estava tarde, quando alguns amigos pararam em frente a casa e começaram a chamá-lo.

– Estou atrasado! Eu tenho que ir... agora! Err... Tchau!

Saiu, desconcertado. Ao vê-la assim, David havia ficado confuso. Seu coração bateu mais forte. Ele perdeu o fôlego. Será que o desejo que já sentiu um dia por ela havia voltado naquela noite? Ele não sabia. Mas, sabia que havia se segurado para não beijá-la.

Já no baile, Adam nunca havia visto tantos rostos olhando para ele como naquela noite. Mas, ele sabia. Olhavam por causa dela. Todos queriam saber quem era a dama de vermelho ao seu lado. Esta seria, realmente, uma noite inesquecível.

Enquanto dançavam, muitos olhavam e comentavam, mas, sua atenção era apenas para sua dama de vermelho. Adam não acreditava na mulher que estava ao seu lado, que dançava de rosto colado com ele. Ele nem a reconhecia. Mas, quando olhava profundamente em seus olhos podia ver que era a mesma Rachel por quem ele estava perdidamente apaixonado. E quando se separaram por um segundo e outros foram chamá-la para dançar, ela apenas olhou para ele e sorriu. Ele sentiu como se perdesse o fôlego novamente. Segurou em sua mão e puxou-a para dançar outra vez sem dar a mínima chance aos demais. Ela permanecia calada e Adam sem ar suficiente para falar qualquer coisa. O silêncio dos dois os fazia imaginar que não havia mais ninguém naquele lugar, somente os dois e algo forte que os atraía um para o outro. Ao final daquela dança, ele suspirou e conseguiu sussurrar em seu ouvido apenas uma frase que a fez perder o fôlego também:

– Eu te amo!

Nesse instante, Rachel sentiu suas pernas ficarem trêmulas, sua pele arrepiar, seu coração disparar de um modo como ela jamais sentiu. Nunca ninguém a disse que a ama. Ela segurou forte no pescoço de Adam, abraçando-o, mas não conseguiu dizer nada. Estava emocionada demais e sentindo-se gelada e com a garganta seca.

A música acabou e ela estava pálida. Ele a segurou e perguntou:

– Sente-se bem?

– S-sim! Só quero me sentar um pouco!

– Venha! Vamos sentar! Suas mãos estão frias! Está mesmo bem?!

– Hã, sim! Mas, pode pegar alguma coisa para eu beber? Estou com a garganta seca!

– Claro! Vou pegar um ponche para você!

Enquanto Adam buscava um copo de ponche, ela pensava:

“Estou tão emocionada que parece vou desmaiar! É tanta felicidade que não consigo ficar de pé! Meu Deus! Ele disse que me ama! Ele me ama! Ele me ama!”

Adam veio e sentou ao seu lado. Ela estava tão feliz que o beijou na mesma hora na frente de todos. Adam gostou muito daquilo.

– Está começando outra ótima música! Quer dançar comigo de novo!

– Claro que sim! Este ponche está meio enjoativo mesmo!

Foram dançar outra vez. Dançaram a noite inteira, e voltaram para casa quando o baile estava perto de acabar.

A casa estava vazia. David ainda não tinha voltado.

– Estamos a sós!

– Eu sei! Quais seus planos?

– Eh Eh! Aproveitar cada segundo ao seu lado!

Adam começou a beijá-la, passando a mão por seu corpo, envolvendo-a. Passou a mão pelo zíper do vestido dela e começou a abri-lo vagarosamente. Mas, Rachel segurou e sentou-se no sofá.

– O que foi? Você não estava gostando?

– Não é isso Adam! Eu só me senti um pouco tonta! Eu sabia que não devia ter tomado de novo daquele ponche, muito menos, antes de dançar!

– Ah Ah! Nessas festas sempre alguém acaba “batizando” o ponche! Depois do terceiro copo eu senti um gostinho estranho! Acho que jogaram uísque ou qualquer coisa assim! Para falar a verdade também me sinto um pouco... hã...bêbado!

– Então, somos dois!

Ambos riram.

– E aí?! Sente-se melhor agora?

– Sim!

– Quer ir para seu quarto ou para o meu?!

– Que tal, ficarmos aqui mesmo?!

– Por mim tanto faz o lugar se eu estiver com você!

– Você sabe como me conquistar!

Eles passaram a noite na sala. David só voltou pela madrugada. Eles nem viram a que horas, pois dormiam no sofá. Quando acordaram, ainda bem cedo logo após amanhecer, notaram que ele já havia voltado, pois havia deixado a camisa que usava sobre uma cadeira na cozinha.

– Oh! Adam! David já chegou!

– Ah! Tudo bem! Ele deve ter chegado bêbado também, talvez nem tenha notado a gente no sofá!

– Pode ser... A camisa dele cheira a álcool!

– É, viu! Não se preocupa!

Eles subiram as escadas e foi cada um para o seu quarto. Antes, Rachel olhou pelo canto da porta do quarto de David, que estava um pouco aberta. Ele dormia, sem camisa, sem sapatos, mas ainda com a calça e as meias com as quais havia saído. Rachel pensou:

– Se ele não tirou a roupa que ele estava antes de dormir, então o Adam deve ter razão! David pode ter bebido muito e nem notou a gente!

Ela fechou a porta do quarto dele e foi para o seu.

No dia seguinte, um dos amigos de David foi procurá-lo.

– E aí, David?! Que cara é essa?! Parece que ainda tá dormindo!

– Eu não dormi bem! Aliás, a gente já saiu da festa quase 4 da manhã. São 10 horas agora, o que você queria?!

– Ah, mano! Tudo bem outros de nós estarmos de ressaca! Mas, você não bebeu de jeito nenhum!

– É! Mas que isso fique só entre nós, ok?!

– Tá bem, David! Mas diz aí... Cadê aquela gata que você falou pra gente lá na festa?

– Shhh... Acho que ela ainda tá dormindo!

– Aaah! Que coisa! Vim só para conhecer sua gata!

– Não é minha, cara!... É de outro!

– Puxa, David! Depois do jeito que você falava dela lá, eu pensei que...

– Pensou errado! Ok?!

Porém, Adam ouvia toda a conversa. Quando percebeu que Rachel descia as escadas, ele se escondeu. A porta estava aberta, pois David estava lá conversando com seu amigo. Rachel se aproximou para ver quem era.

– Ah! É você, David?! Bom dia?!

– Oi, Rachel! Bom dia! Vem cá para eu te apresentar um amigo!

– Oi!

– Esse é o Charles! A gente estudou na mesma turma desde pequenos!

– Ah! Muito prazer!

– O prazer é todo meu!

– Bem, vou entrar! Estou morrendo de fome! Foi um prazer te conhecer Charles! Já tomou café David?

– Não, vou daqui a pouco!

– Tá! Convida seu amigo!

Rachel entrou. O amigo de David, vendo como ele olhava para ela, disse:

– David... Ela pode não ser sua... Mas, você é doido pra que seja, não é?!

– Ah! Se você tivesse visto como ela estava ontem, me entenderia!

Adam, escondido, ainda ouvia tudo.

...