Uma menina andava sozinha nas ruas, olhando para tudo e para todos e sem olhar para nada diretamente. Ainda era uma menina, apesar do rosto sério de mulher. Andava com uma roupa desleixada. Era simples e humilde o bastante para passar despercebida por todos que andavam na mesma calçada. O ano ou o lugar não importam. O que importa é o que uma adolescente fazia vagando sozinha pelas ruas, como quem não deve satisfações a ninguém... Como quem não tem quem peça satisfações. E, realmente. Não tinha ninguém. Era mais uma menor abandonada pelas ruas, ou simplesmente uma órfã esquecida... nem ela mesma sabia quem era. Quem havia cuidado dela quando era só uma criancinha pequena e não sabia se cuidar sozinha? Ela não lembrava. Quem lhe trouxe ao mundo? Ela não fazia ideia. Tudo que ela sabia ou lembrava era que a chamavam de Rachel. Quem ou por que, era um mistério. Mas, ela sabia que, se estava no mundo, era para lutar com as armas que o tempo lhe desse. Quanto mais ela crescia, mais aprendia a viver a vida. Tornava-se mais responsável por ela mesma a cada dia, afinal, ninguém nunca foi responsável por ela. Pelo menos, era o que ela dizia: que era “grande desde pequena”.

Mas, aquela garota tinha feito amigos. Eram os únicos que ela tinha, por isso, confiava neles. Precisava confiar em alguém e, naquele momento, aqueles dois amigos, eram as únicas pessoas que lhe inspiravam confiança. Ela sabia muito bem como era a vida nas ruas e sabia o quanto era difícil confiar em alguém. Mas, ela era uma mulher, apesar de tudo, com sentimentos, com sonhos e com paixão pela vida. Quando ela sentia que podia confiar em alguém, era para valer. Além de que, confiar nas poucas pessoas de que gostava, era tudo que ela podia sentir... Até então. Rachel já tinha muitos sonhos naquela época, mas nenhum deles era um sonho de amor. Ela não conhecia o amor, não sabia que podia amar alguém... Mas, ela estava crescendo, se tornando mulher e seria inevitável amar, um dia.

Ela era diferente da maioria das meninas de sua idade, ela tinha um talento especial: o dom de cantar. Não sabia o porquê desse dom – podia ser hereditário – mas, como ela podia saber? O que ela sabia era cantava bem e tinha o sonho de conquistar o mundo com sua voz. E, igual à maioria das meninas, no fundo do coração, tinha também o sonho de conquistar, do mesmo modo, o seu príncipe encantado, um grande amor. Ela não acreditava nos contos de fadas, mas, o que ela mais desejava era encontrar quem a fizesse feliz para sempre.