Parte 5.

Eu estava passando mal de nervoso, literalmente.

Eu tentava ignorar a enorme faixa que estava presa acima da minha cabeça, entre duas árvores. Enorme mesmo, quase seis metros de comprimento, o que tornava minha tentativa de ignorá-la quase impossível.

Desisti de ficar parado ali, sem fazer nada e caminhei até o carro, encostando-me a ele. Cruzei os braços e olhei no relógio, constatando que faltavam dez minutos pra David sair da faculdade.

Nós tínhamos estabelecido uma rotina sem nem nos darmos conta disso. Todos os dias, eu saía do trabalho no horário do almoço, passava na faculdade para pegá-lo e nós almoçávamos juntos - às vezes em casa, às vezes em algum restaurante -, e depois eu o deixava no trabalho de meio expediente (Por mais que eu tenha insistido pra ele não trabalhar, já que quem pagava a faculdade dele era eu.) e ia pro meu trabalho. No fim, eu tinha escolhido continuar trabalhando na empresa do meu pai mesmo, depois de decidir que era um futuro certo pra mim, ainda mais depois de ter uma ‘família’ pra cuidar; David e Delilah, nossa cachorra.

Os dez minutos restantes se arrastaram, e eu suspirei de alívio quando vários alunos começaram a transitar por ali, o que indicava o fim das aulas. Algumas pessoas paravam pra olhar a faixa, algumas sorriam e faziam um ‘own’, outras nem percebiam. Eu rezava pra que David aparecesse logo, eu queria muito ver sua reação. Por mais óbvio que fosse sua resposta, eu estava meio - totalmente - nervoso.

Logo ele apareceu. Vinha lado a lado com Seb e Annie, seus dois amigos da faculdade. Eles conversavam animadamente e ainda não tinham notado a faixa. Eu me desencostei do carro e caminhei até uma das arvores que a facha estava amarrada, parando.

O primeiro a notar foi Seb. Ele encarou a faixa, depois seus olhos correram pra mim, depois pra David, com as sobrancelhas erguidas. Eu sabia que ele estava se perguntando se aquela faixa era pra David mesmo ou não. Não era segredo pra ninguém que David esperava um pedido da minha parte.

Sorri pra Sebastien, encorajando-o a mostrar pra David. O rosto do pequeno Seb se iluminou e ele parou de andar, segurando o braço de David.

Senti meu coração parar enquanto Seb falava com meu ele. Meu pequeno se virou rapidamente, encarando a faixa com os olhos grandes e brilhantes. Seus olhos correram pra mim, em uma pergunta muda se aquilo era uma brincadeira. Eu alarguei mais o sorriso e David arfou.

Na grande faixa estava escrito, em letras brancas, ‘Casa comigo, D.?’, no fundo preto. Em letras menores, estava escrito ‘Seu Bo.’. Eu sabia que ele ia lembrar dos nossos apelidos, quando nós nos conhecemos pela internet.

Então ele esticou os lábios em um sorriso deslumbrante. Se virou pra Annie e praticamente jogou os dois livros que estavam em suas mãos pra ela, antes de começar a andar em minha direção. Ele só andava rápido no começo, mas sua ansiedade venceu e ele correu os últimos metros que nos separavam.

Eu me desencostei do carro, abrindo os braços e me preparando para o pulo que eu sabia que ele ia dar.

Assim que ele estava perto o bastante, ele pulou em mim, rodeando minha cintura com as pernas e meu pescoço com os braços. Eu apoiei as duas mãos em suas coxas, dando-o sustentação pra não cair. Mesmo com 20 anos, David continuava tão magro - gostoso - e pequeno quanto antes, então era realmente fácil pra mim carregá-lo.

- Eu não acredito! - Ele murmurou, a voz meio abafada. Antes que eu pudesse responder, uma salva de palmas foi ouvida, alguns gritos e assovios. - Ah, meu Deus, Pierre! Você é muito lindo!

- Você ainda não respondeu... - Cantarolei em seu ouvido, sentindo toda minha ansiedade e meu nervosismo ir embora.

- Me pede... - Ele falou simplesmente e eu sorri, soltando suas coxas e deslizando as mãos para suas costas. Ele soltou as pernas da minha cintura e desceu do meu colo. Eu dei um passo pra trás e me ajoelhei no chão, segurando somente a mão de David.

Era como se só estivesse nós dois ali, mais ninguém. Ele estava corado e com os olhos brilhantes pelas lágrimas que ele prendia. - David, quer casar comigo? - Perguntei calmamente, apertando a mão dele carinhosamente. - Eu prometo ser o melhor marido do mundo, que é o que você merece.

- Aceito, aceito! - Ele me puxou pra cima e eu fiquei em pé de novo. Passou os braços pelo meu pescoço, colando nossos lábios demoradamente, antes de falar. - Você já é o melhor namorado do mundo.

- Eu sempre posso melhorar.

- Ai, eu te amo tanto, Pierre! - Ele deu um meio gritinho, voltando a me beijar. Outros gritos e assovios foram ouvidos e ele se afastou. Pela primeira vez eu olhei em volta, vendo várias pessoas nos olhando. Ignorei os olhares de nojo de alguns, e sorri para os outros; reconhecidos alguns amigos de David.

David estava totalmente corado, mas sua expressão de felicidade era visível, o que me deixava mais feliz ainda. Seb e Annie se aproximaram de nós dois, os dois sorrindo. Annie parecia admirada. - David, esse foi o pedido mais lindo que eu já vi. - Sebastien disse. Annie concordou e passou os dois livros pra David.

- Parabéns. Vocês são o casal mais lindo que eu conheço. - A menina falou. Aos poucos, as pessoas se dispersaram. - Bom, eu e Seb vamos pra casa. - Ela segurou um dos braços de Seb, que concordou rapidamente. Os dois moravam na mesma rua, então iam embora juntos. - Até amanhã, David, Pierre.

Eu agarrei a mão de David, puxando-o para o carro. Antes de entrar no carro, ele parou de andar, chamando minha atenção pra si. - Obrigado, Pierre. - Ele disse simplesmente, sorrindo. Eu senti tudo que ele queria passar com aquelas palavras simples. - Eu queria poder te dar o mundo, se isso te fizesse feliz. Eu te daria qualquer coisa só pra ver um sorriso seu.

- Eu só quero você, pequeno. Então eu vou ser feliz.

Fim da parte 5.