Just For You escrita por liddybouvier


Capítulo 2
Parte 2.


Notas iniciais do capítulo

Aí está, como o prometido. Obrigada e deixem reviews. ♥



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Parte 2. 

 

Encarava o teto, tentando ignorar o tiquetaquear irritante do relógio ao meu lado. 23:42. 23:43. 23:44... o tempo não passava, e eu tinha certeza de que havia um complô contra mim, já que o telefone também não tinha tocado. Eu tive que ligar pra Chuck pra ver se ele funcionava.

 

Meu pensamento foi cortado pelo barulho do telefone tocando. Aquele som irritante nunca me pareceu tão bom de ouvir. Me sentei no sofá, agarrando o telefone entre os dedos e respirando fundo. Na verdade eu estava com um pouco de medo. Era a primeira vez que eu iria conversar com David pelo telefone, mesmo depois de um ano que nos conhecemos - apenas pela internet. - Sim, um ano... todos meus amigos falavam que era bobagem ‘namorar’ com um cara assim pela internet, mas era difícil explicar.

 

Eu e David tínhamos tido algum tipo de... amor á primeira conversa, se é que isso existe. Era como se, mesmo pela internet e há milhares de quilômetros, nós dois nos amassemos. Eu me sentia completamente feliz quando conversava com ele, e sabia que ele também se sentia assim - como ele próprio tinha falado algumas vezes. Eu já era um pouco mais... reservado quanto á isso, e preferia guardar meus sentimentos pra mim-.

 

Todos meus amigos - todos = três - tinham me dito que aquilo era pura perda de tempo, idiotice. David podia tanto ser o cara que ele mostrava que era, tanto um cara totalmente diferente. Eu sabia que, se algum dia nós nos encontrássemos, e eu realmente rezava para que isso acontecesse, eu podia ser a próxima manchete do jornal local: ‘Gay é morto pelo suposto namorado, que na verdade era um serial killer.’ Ou eu podia viver feliz pra sempre com ele.

 

Eram dois caminhos. 50% de chance. E por David, valia arriscar.

 

Finalmente, atendi ao telefone.

 

- Oi... - Ele murmurou, e uma onde de alívio passou pelo meu corpo. A voz dele era meio hesitante, meio embolada, mas ainda sim linda, fofa e exatamente do jeito que eu tinha imaginado. - Pie?

 

A verbalização do apelido que ele tinha me dado há um ano fez meu estômago se revirar e a sensação de borboletas agitadas aparecer... Era normal me sentir assim, depois que conheci David.

 

- O-oi, Dave... - Falei, meio rouco, meio nervoso. Falar começou a ser uma coisa muito difícil de fazer.

 

- Eu gostei da sua voz. - Ele soltou uma risada e meu estômago se revirou de novo. A risada dele era tão boa... Eu corei pro nada, me deitando no sofá. - Não acredito que estou finalmente conversando com você, Pie.

 

- Nem eu, pequeno. - Antes que eu pudesse me frear, eu o chamei pelo apelido que tinha o dado há algum tempo atrás, mas que ele não conhecia ainda. Dei um tapa de leve na minha testa, me chutando mentalmente.

 

- Pequeno? Own, Pie, que fofo... - Eu corei muito depois disso, mas ignorei o fato, mudando de assunto.

 

- Hm... aí ta muito frio? - Eu sabia que David odiava o frio de Montreal, e que assim que fizesse 18 anos viria pra NY. Eu não podia esperar pelo próximo ano, não mesmo.

 

- Ah, amor, você não sabe o quanto! - Ele gemeu em desapontamento, e eu ignorei o ‘amor’ ali no meio, por mais que nós nos chamássemos de ‘amor’ pelo internet, pelo telefone era um pouco diferente. - A lareira e o aquecedor estão ligados e eu ainda estou com frio...

 

Eu pensei em falar alguma coisa, mas achei meio ousado; não tínhamos feito aquilo nem pela internet. Mas dane-se, eu não queria que fosse muito longe, só queria que David se sentisse bem.

 

- Como você está?

 

- Hã? - Ele pareceu confuso. - Como eu estou vestido ou como eu estou sentado? - Ele soltou uma meia risada e eu não consegui não fazer o mesmo.

 

- Os dois.

 

- Hm, eu estou com umas milhares blusas, calça jeans, pantufas e luvas... Sentado no meio do tapete, olhando pra lareira enquanto fala com o cara mais lindo do mundo. - Eu soltei uma risada pela ultima parte, balançando a cabeça. Eu podia imaginá-lo exatamente como ele estava e senti muita vontade de estar lá com ele. - E você?

 

- Hm, uma blusa preta e boxer preta. - Falei, corando pelas minhas próprias roupas. - New York está muito quente hoje... - Me justifiquei. - Hm, deitado no sofá olhando pro nada e conversando com a coisinha mais fofa do mundo...

 

- Awn, obrigado... - Eu quase pude vê-lo corando do outro lado da linha. - Porque perguntou?

 

- David... - Falei baixinho, suspirando. - Meu imagina do teu lado, te abraçando... - Eu fechei os olhos e pude sentir o corpinho dele junto ao meu, meus braços envolvendo seus ombros magros e os seus em volta da minha cintura, com o rosto apoiado no meu peito.

 

A sensação era muito, muito boa, mesmo que ele não estivesse de fato ali.

 

Nós ficamos em silêncio por alguns minutos, só ouvindo a respiração um do outro. Não era um silêncio constrangedor, era quase familiar.

 

- Pierre... - Ele chamou de repente, falando baixo. Eu grunhi, indicando que estava ouvindo. - Você acha que vamos nos encontrar algum dia?

 

- Claro que vamos. - Falei, tentando passar uma convicção que nem eu mesmo tinha. - Ano que vem você vai vir pra cá, e nós vamos morar juntos.

 

- É que... meus amigos dizem que isso é loucura, sabe? - Ele estava hesitante e com a voz chorosa. - Que eu e você nunca vamos ficar juntos, que não vamos dar certo.

 

- Você acredita em mim ou nos seus amigos?

 

- Em você. - Ele respondeu rápido, o que me fez sorrir. - Mas eu ainda tenho medo de nada dar certo pra nós dois... Dos meus pais desistirem de me deixar ir pra NY fazer faculdade, e vai ser isso que eles vão fazer se descobrirem que você mora aí...

 

- Shiu, vai ficar tudo bem. Se eles não deixarem, eu vou aí te buscar, hm? - Eu tinha que parecer bem pra ele. Tinha de ficar forte, por mais que minhas dúvidas fossem iguais as dele. - Nós vamos ficar juntos, nós vamos.

 

Ele fungou, e eu suspeitei que ele estivesse chorando. Meu estômago afundou e eu senti meu coração apertar. - Eu te amo. - Ele falou tão baixo que me perguntei se tinha mesmo ouvido aquilo. Pisquei algumas vezes, então a confirmação veio. - Eu te amo, Pie.

 

Meu coração começou a bombear sangue dobrado pra todo meu corpo, as milhares de borboletas no meu estômago agora eram milhões, eu tinha certeza, tamanha alvoroço que faziam. Eu corei, sentindo minhas bochechas queimarem. A resposta foi involuntária.

 

- Também te amo, pequeno. Te amo muito. - Meu cérebro só registrou as palavras quando elas terminaram de sair da minha boca. David prendeu a respiração, e eu sabia que ele não esperava ser respondido. - Mesmo que você esteja tão longe, eu te amo.

 

- Eu queria poder te dar um beijo agora. - Ele falou, segundos depois, soltando uma risadinha.

 

- Sinta-se beijado.

 

- Falta só um ano para eu te beijar, de verdade. - Ele fez a observação. Como se eu não estivesse contando! - Te abraçar... - Nós voltamos a ficar calados por alguns segundos, até que ele falou. - Meu pai já deve estar chegando, Pie... Ele e minha mãe saíram pra jantar fora. - Eu sabia o que aquilo significava. Ele precisava desligar.

 

- Seu pai não gosta de mim, né?

 

- Ele acha que você mora no Brasil, e que é um aproveitador. - Ele riu, me fazendo fazer o mesmo. - Não que eu me importe com a opinião dele...

 

- Meu pai acha que você quer me dar o golpe. - Eu me lembrei de quando tinha contado para meu pai sobre David, há uns três meses atrás. Ele demorou quase uma semana pra aceitar, mas no fim disse que até pagaria minha conta de telefone, já que as ligações pra Montreal não eram baratas. Por isso eu amava tanto meu pai; mesmo sendo ‘durão’, sempre aceitava as opções dos filhos. Sabia que, quando terminasse a faculdade de música - daqui a dois anos -, e contasse a ele que pretendia seguir carreira, ele ia xingar até minha 10º geração, mas depois de um tempo, aceitar minha opinião.

 

- Ah, você não sabia? - David soltou uma gargalhada. - Eu estou mesmo dando o golpe. - Eu bufei, de brincadeira, fazendo David rir de novo. - Epa, meus pais chegaram. Hora de desligar, Pie.

 

- Fica com esse celular por perto. - Eu senti meu coração apertar. - Vou te ligar todos os dias... - Eu não queria me despedir de David.

 

- Tudo bem... te amo, Pie.

 

- Também te amo, anjinho. - Ele fez um barulhinho do outro lado e desligou o celular. Eu fiquei parado por vários minutos, esperando meu corpo voltar ao seu funcionamento normal; meu coração voltar a bater normalmente e as borboletas no meu estômago sumirem.

 

Me levantei, colocando o telefone na base e seguindo pro quarto. Não estava com sono, mas não queria assistir televisão nem ligar o notebook... Eu queria dormir com a voz de David na cabeça.

 

Eu queria poder ouvi-la todos os dias, todos os segundos. Eu queria poder estar com ele, e sabia que isso iria acontecer, um dia.

 

Fim da parte 2.

 

 


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