Solidão. escrita por Aline


Capítulo 1
Solidão.




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Solidão. Um sentimento que me atinge nos momentos mais inoportunos. Sempre fui uma pessoa carente, e ultimamente isso vem se manifestando cada vez mais e de formas que não estão me agradando nenhum pouco. Tudo bem, quando se manifesta em carinho excessivo para as minhas amigas eu sei que é irritante, mas pelo menos não é nocivo para ninguém além da paciência delas.

Mas aí entra o desespero. Ah, o desespero é o que fode com tudo. Parece que ele entra em suas entranhas e te tortura lentamente. Se antes eu já tava carente, foi tudo elevado a centésima potência. Parece que tudo que eu quero no momento é carinho, é colo.

Vieram me reclamar que estou calma demais. Que deveria estar reagindo de uma forma diferente. Que a minha atitude estava suspeita. Acho que ninguém anda percebendo. Infelizmente eu finjo bem sobre isso, sempre foi assim. Em alguns momentos consigo até me enganar e chego a acreditar que estou bem, que estou feliz. É tão difícil perceberem que se eu começar a chorar, não vou parar mais?

Deixo as coisas se acumularem por tempo demais. Vou relevando por tempo demais. O que eu posso fazer? Sempre fui assim. Às vezes chega ao ponto de eu surtar. De eu assustar a mim mesma. A eu ficar no limite entre a sanidade e a loucura de tal modo que chego a me assustar demais. Aprendo a real definição de perder o controle.

Sei lá, já devia estar acostumada a ver as coisas desmoronando ao meu redor. Sempre foi assim. Decepções. Faltas de controle. Eu percebendo que tudo está fadado a acabar de um jeito desastroso. Tendo provas que o ser humano não é exatamente aquilo que pensa ser. Tendo provas que, sim, a vida nesse planeta estúpido é uma merda, apesar dos momentos alegres.

Alegres. Não felizes. A felicidade é uma ilusão. Essa foi uma das primeiras coisas que eu aprendi, e acho que nunca vou esquecer. Ninguém é feliz. A pessoa pode estar alegre. Mas ela não é feliz.

Acabei de me tocar que chorei na sua frente. Eu tentei evitar. Juro que tentei. Era para você estar bravo comigo, não era? Pelo menos é o que parecia. Juro que não planejava fazer isso. Mas as lágrimas desceram e você pediu desculpas por ter brincado, disse que pensou que eu estava rindo e me abraçou.

E eu juro que eu tentei sentir o seu calor. Juro que tentei me sentir confortada. Juro que tentei sentir que era esse o colo que eu procurava. Eu juro. Não consegui. Senti sua frieza. Você não é de um, é de todas. Sei disso, sempre soube, e de certo modo gosto disso. Eu também não sou sua, eu também sou de todos, mas não quero ser de todos. Também não quero ser sua.

Talvez o melhor a fazer nessa situação seja cortar laços. Não faz sentido. Às vezes me sinto bem ao seu lado, mas isso nunca será eterno. Nunca será quente. Seremos sempre a ligação de dois corpos, e não a ligação de duas almas. Por mais que estivermos unidos, as almas estarão separadas.

Uma ateia falando de alma. Espera, nada desse texto faz sentido. Não é para fazer. Dane-se.

Respiro fundo. Ele estava online. Não você, ele. Eu olhei para o ícone verde ao lado do nome dele e por um momento – um misero segundo – pensei em clicar. Em começar uma conversa. Em desabafar. Então eu lembrei que com ele, não é nem dois corpos. Ele não é de uma, é de todas. Eu sou de todos também, mas quero ser dele. Querer não é poder.


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