Em fogo e agonia ardia, o vento da noite que sopara mim uma formaa meus cabelos e os fazia balançarem.

O vermelho alaranjado que se via no reflexo dos meus olhos, ali se via orgulho, se via excitação e se via a dor. Não temia a sensação, mas me aprofundava nela.

Era quase único, me mantinha viva com aquele sorriso que apenas aumentava em meu rosto. Nesse sorriso se via orgulho, se via excitação e se via a dor, ali se iniciava meus devaneios.

Esse foi meu segundo texto escrito, após escreve-lo acendi um cigarro e ne embriaguei em sua fumaça. Engraçado, antes o cigarro era para mim um descanso misturado com o prazer de relaxar. Agora isso era maior e continha além de tudo, a sensação de cumprir algo, era difícil explicar.

Depois do cigarro um banho. Nada melhor que o banho, a água quente que caía no meu corpo era quase fortalecedora. Por pouco me permiti esquecer todos que ainda estavam no meu apartamento, mas não tudo voltava e acabava com meus devaneios.

Chegava na sala e encontrava sempre a mesma coisa, Jul no seu sofá - aquelas horas nem diria mais que era meu - Alana e Jeremy de mãos dadas virados para a TV, só não via ali Estevan.

–Foi bem hoje - me viro e lá está Estevan.

–Acho que sim, não faz diferença.

–Não, não faz, mas é bom parabenizar.

–Qual o próximo passo? - pergunto sem muita emoção.

–Descansar, merecemos isso.

–Não faz diferença - digo e saio para a sala.

A cena chega a me dar repulsa, sempre a mesma monotonia. Façam algo seus imprestáveis, ou eu farei. Não digo nada, o silêncio é o melhor dos ataques.

–Devemos descansar, tenho isso, ajuda bastante - diz Jul tirando um saquinho plástico com balinhas - que obviamente não eram balinhas - rosas dentro.

–Isso não pode dar um ataque cardíaco? - pergunta Alana.

–Não, cala a boca e experimente - responde Jul.

Experimentei e... oh meu deus. Não vi nenhum unicórnio ou dragões voando, muito pelo contrário. Via eu em uma versão menor, via eu pequena, 8 anos talvez. Em um bell pátio florido eu rodava sem parar, em outro instante estava sentada com uma faca em minhas mãos trêmulas. Mas aquela não era eu, nem chegava perto, o mesmo se dizia da situação. Percebi que meus olhos estavam fechados os abri. Tudo estava normal.

–Vocês se lembram das suas infâncias? - perguntei.

"Sim" era a resposta de todos.

–Eu não, acho que a perdi - respondi a minha própria pergunta me deitando no chão e fechando meus olhos.

Em alguns momentos não via nada, depois que a escuridão passou via momentos maravilhosos em dias de verão que logo mudavam para momentos aterrorizantes daquele meu eu.

Não sei ao certo quanto tempo devo ter ficado ali deitada, nem se dormi ou não. Gostava daquilo, dos devaneios, tão lúcidos quanto uma quebra em pedras fazendo assim a água esparramar para todo canto.

Não lembro da infância, acho que realmente a perdi. Me perguntava se ficar ali sob o efeito de drogas iria ajudar. Não, não iria, mas afinal, o que ajudava?

–Você está bem? - era Estevan novamente.

–Por que não estaria?

–Não parecia bem desacordada no chão - ele diz me ajudando a levantar.

–Você tomou? Aquilo da Jul?

–Sim, mas não fez muito efeito.

–Em mim fez, acho que foi o maior.

–Percebi, não tome mais ok. Fiz chá - ele me entrega a xícara e bebo o líquido quente, o calor enche meu corpo, não percebi, mas estava ccom frio.

–Não preciso fazer isso.

–Não tem valor algum Yasmim, chá é sempre bom.

Observo seu cabelo cor de areia, coisa que eu nunca noto. Sua aparência era de cansaço.

–E alguma coisa aqui, dentre todos nós, tem realmente algum valor?