Fogo escrita por Evajolie


Capítulo 4
Capítulo 4 – Lágrimas e Rock N Roll




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5 horas depois do incidente com os pneus do carro, Vinni conseguiu ir embora. Mas não sem antes pegar uma chuva fodida, ter que ficar quase duas horas no telefone esperando o cara do reboque e ainda por cima, sem dinheiro para pegar o ônibus.

– Oi filho, você demorou. – Eleanor saia da cozinha no exato momento em que o revoltado adentrou a residência.

– Oi. – disse rispidamente, passando direto pela a mãe e subindo as escadas. Manuela ia se arrepender amargamente de ter nascido. Ah ia!

Fechou a porta abruptamente e tirou a camisa encharcada, jogando-a em um canto qualquer do quarto. Maldita loira!

– Tudo o que vai, volta meu amor. – e mandou-lhe beijos, repletos de falsidade.

A cena daquela cretina dentro do carro, rindo como se dependesse disso... Não ia sair nem tão cedo da cabeça de Vinni.

Sentou-se em sua cama e ficou a pensar. Não podia deixar aquilo barato. Não mesmo. Olhou de soslaio para a janela do quarto dela.

Pensa vinni, pensa... Como diabos eu iria me vingar daquela roqueirazinha nojenta? Mordeu os lábios com força, e dera um pulo da cama. Apesar da distância, ele conseguia enxergar bem um caderno que se encontrava debaixo do colchão da loira. Ele arqueou a sobrancelha e sorriu. Aquilo poderia ser o que ele estava achando que era?

Foi até a própria porta e trancou-a. Para em seguida dirigir-se até a janela. Uma das vantagens de ser vizinho de Manuela Lohmann era que sempre dava para saber quando ela estava ou não dentro de casa e, ao julgar pelo estrondoso silêncio que vinha do quarto da vizinha era mais do que óbvio de que a diaba loira encontrava-se fora.

Ele só precisava de uns vinte minutos para revistar aquilo ali.

–--X---

O marrento franziu o cenho. As paredes da garota estavam repletas de pôster de roqueiros, caras seminus e até mesmo Bob Marley. Mas, o que chamou mesmo a sua atenção foi uma foto autografada que estava em cima da cabeceira da cama. Ele arregalou os olhos, descrente. Era uma foto dela... Com o Chorão!

Então aquela louca é fã de CBR.JR? Interessante...Pensou ele, devolvendo a foto para a cabeceira e olhando ao redor. As paredes eram pintadas de preto, e as portas do guarda roupa estavam abertas e vazias, no chão estavam todas as roupas – ou quase todas – da garota, em um bolo estranho.

Agora faltavam 18 minutos, pensou ele.

Mas não foi necessário mais do que um minuto para que ele achasse o que procurava. Ao levantar o colchão, uma surpresa: um caderno lilás de capa dura, típico de criança da sexta série. Vinicius sorriu largamente.

A diabinha tinha um diário. Que lindo. Olhou para trás, para se certificar de que ninguém estaria observando-o e resolveu passar a tranca na porta. Afinal, antes prevenir do que remediar. Quando enfim considerou-se seguro, ele abriu o caderno e passou a folhear as paginas em busca de algo que nem ele mesmo sabia o que era.

– Primeiro beijo aos nove? Isso é o que eu chamo de precoce. – comentou em voz alta, franzindo o cenho. Envaidecidamente foi virando as folhas e lendo as coisas que julgou curiosas até que por fim... Parou em algo realmente interessante.

Ele arregalou os olhos, incrédulo.

– Mas que... – interrompeu-se ao ouvir batidas na porta.

– Manu? – era a irmã pentelha da Lohmann, Vinni crispou os lábios e rapidamente saiu do quarto, mas não sem antes esconder o diário.

–--X---

A loira balançou os cabelos ao ritmo da musica, gritando o refrão enquanto segurava uma garrafa de vodka. Não era preciso ser um gênio ou uma pessoa mentalmente capaz, para perceber que a herdeira rebelde estava completamente bêbada. Sua saia preta fora brutalmente rasgada e a metade do sutiã roxo estava a amostra. Mas ela não se importava e, naquele momento Alicia não podia fazer muita coisa. Até porque, a patricinha se encontrava tão bêbada quanto à melhor amiga.

As duas resolveram sair para comemorar a pegadinha contra Vinni e, que lugar melhor para fazê-lo do que em um galpão abandonado? O lugar pertencia as amigas desde os dez anos de idade, quando o acharam por acaso. De lá para cá, vieram fazendo inúmeras reformas e transformações...Até deixá-lo agradável ao seu modo. Havia uma mesa de sinuca, um pole dance e alguns puff. Tinha até mesmo uma cama ali, só que se localizava no segundo andar.

Também havia um barzinho. E um frigobar, onde elas estocavam as bebidas. Manuela sorriu maliciosamente, dançando sensualmente. Passou as mãos no próprio corpo e voltou a beber um gole da vodka. O liquido desceu pela sua garganta rapidamente, queimando-a em segundos.

Elas nunca souberam por que aquele lugar havia sido abandonado, mas graças a Deus e a gorda conta bancaria delas , ninguém nunca ousou derrubá-lo para construir outro imóvel.

O complexo era mal-iluminado, o que só fazia Manuela adorá-lo ainda mais. Era uma espécie de baladinha particular. Onde ela e a melhor amiga podiam fazer exatamente o que desse na telha. Alicia ascendeu um cigarro, sentindo-se no ápice de toda a loucura.

Seus celulares tocavam incessantamente, e apesar de estarem perto de seus respectivos aparelhos telefônicos, as duas encontravam-se a quilômetros de distância dali. Estavam viajando legal.

Manuela lançou um sorriso malicioso para o nada, deixando-se levar pelo som da guitarra. Caixas de som estavam próximas ao pole dance, e estavam no ultimo volume tocando uma das musicas preferidas da loira: I Love Rock N roll – Joan Jett.

– Mannu. Mannu! – Alicia estava chorosa, como sempre ficava depois de umas doses de tequila com vinho.

– Que é? – perguntou a outra, remexendo os quadris de maneira provocante.

Alicia não conseguiu se segurar. Ela sabia que aquilo não era certo, sabia que seria crucificada por aquilo. Talvez a Lohmann nunca fosse perdoá-la. Mas era inevitável. Foi inevitável.

– Eu estou apaixonada pelo Vinni. – por fim, confessou. E logo desatou a chorar largamente.

O momento de brisa se dissipou da cabeça de Manuela.

– O que? – perguntou, perplexa e bastante tonta por causa da bebida.

A amiga assentiu com a cabeça, sentindo-se a pior de todo o planeta. Ela acompanhou desde criança as desavenças entre os dois. Sabia o quanto a melhor amiga de cabelos dourados odiava o marrento. Sentia-se péssima por não compartilhar do mesmo ódio e da mesma repulsa doentia.

– Eu...Fiquei com ele uns meses atrás. – as faces dela coraram ardentemente. Um pouco por causa da quantidade de bebida ingerida e, em partes pela vergonha que sentia. – Eu perdi minha virgindade com ele. Você pode me odiar mas...mas... – e desatou a chorar como um bebê depois de uma bela surra.

Manuela tinha os belos olhos esverdeados arregalados. Suas pupilas dilataram-se, querendo saltar para fora. Cambaleando, foi até o frigobar e tirou de dentro outra garrafa, dessa vez de tequila. Atirou a de vodka para longe, fazendo com que o vidro se estilhaçasse no chão e um baque absurdamente alto ecoasse pelo ambiente. Agora a voz de Joan Jett era um sussurro em sua cabeça e as palavras retorciam-se, impossíveis de distinguir. Ela só conseguia ouvir gritos, gritos e os soluços da melhor amiga.

– Ai meu deus. – disse por fim, o desabafo da melhor amiga rondava sua cabeça de maneira sublime e incompreensível. – Aquele imbecil abusou de você. – dissera amargurada.

– Não! Não! – Alicia soluçava muito. – Eu quis. Eu quis e...Me desculpa! Eu sei que você odeia ele. Mas eu gosto dele. Eu gosto de verdade do Vinni. – dizia entre lágrimas.

Manuela não tinha uma resposta para aquilo, portanto limitou-se a abraçar a melhor amiga e deixar que esta chorasse em seu ombro. Queria dizer que ia ficar tudo bem, mas sabia que não ficaria. Porque Vinicius Albers era o ser mais repulsivo da face da terra e se soubesse da paixonite de Alicia, iria usá-la para atingir a loira. Ela entristeceu-se, verdadeiramente pela a amiga.

A vida era realmente irônica, pensou com desgosto. Há tantos caras no mundo e a patricinha foi se apaixonar justo por aquele que nunca poderia ter. Porque ele não era e nem nunca seria o tipo de cara que se limita a ficar com uma garota, podendo ter várias ao seu encalço.

– Você não tem que se desculpar comigo, patricinha. Eu odeio ele e você sabe disso. – disse, fitando-a diretamente nos olhos. Tarefa um pouco difícil, já que ela estava vendo umas cinco Alices ali. – Mas você tem que tomar cuidado. O Vinni não é flor que se cheire e você sabe. Aquele idiota ainda vai tentar te usar, amiga. Se é que já não usou. – suspirou fundo.

Alicia limitava-se a assentir, entregando-se plenamente aquele abraço. Nunca estivera tão assustada e envergonhada antes. Apesar de saber que não existia nada entre os dois, não gostava de pensar que estava no meio de algo ou roubando algo da melhor amiga. Ela não queria ser a outra. Não queria ser apenas um peão naquela historia.


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