Pelo escuro escrita por Olavih


Capítulo 20
O que eu quero


Notas iniciais do capítulo

Oiiie, acho que não é tão surpresa assim eu aparecer mais cedo certo? Ainda mais depois da MARAVILHOSA recomendação da Lyn Rock. Lyn, aqui estão meus sinceros agradecimentos:
Muito muito muito obrigada pelas palavras incrivelmente lindas que você me escreveu. Tenho que dizer que foram extremamente inspiradoras e até agora ainda estou no torpor que elas me deram. Esse capítulo é para você lynda *-*.
Bem, notícia importante e triste: só temos mais 3 capítulos. Exato pessoas, apenas três. Eu não sei se vou escrever outra fic, mas aguardem eu sempre tenho novos projetos na cabeça, vai que eu continuo a escrever? Obrigada a todos que acompanharam, eu mal posso acreditar nisso sabe? Terminar outra fanfic anda sendo um sonho para mim. Enfim, vou deixar os agradecimentos para depois, aproveitem o capítulo.



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POV Ethan

Eva deixou o celular cair. Logo após ela mesma caiu sentada no sofá, paralisada. Não fazia nenhuma expressão, como se estivesse dormindo, apesar de seus olhos bem abertos. Corri e peguei o celular, atendendo-o.

—Alô?

—Quem fala? — a voz era feminina.

—Aqui é um amigo da Eva, o que aconteceu?

—Ah sim amigo da Eva, o pai dela enfartou, tem como você trazê-la para o hospital Saint Mathews? Acho que eu não deveria ter contado tão diretamente para ela. — a mulher falou a última frase mais para si mesma que para mim. Meu queixo caiu. O pai de Eva enfartou? Era por isso que sua reação fora tão desconcertante. Até eu teria ficado assim. Paralisado, mas por dentro apavorado.

—Sim, nós já vamos. — falei e desliguei. Agachei-me a frente da minha amiga, encarando seus olhos perdidos.

—Evangeline — chamei. Ela demorou um pouco para me encarar, mas não me via. Sua mente parecia longe. Seu rosto sereno. Seus olhos apavorados. — precisa se trocar. Vamos ver o seu pai. — ela assentiu. Peguei sua mão, conduzindo-a para seu quarto. Assim que fechei a porta distribuí ligações.

Liguei para um amigo que havia deixado à moto comigo, pedindo-a emprestada. Liguei para Kyra que pareceu tão chocada quanto à amiga. Ela prometera que daria um jeito de ir. Eu estava alerta. Precisava levar Eva e a preparar para o pior. Estava aflito, não só pelo velho amigo da família, mas também por Eva. Ela já havia perdido a mãe. Não iria querer perder o pai também. Liguei para meus pais, comunicando-os. Ambos prometeram passar lá assim que amanhecesse. Depois subi e me arrumei. Então passei no quarto de Eva. Ela estava na frente do espelho se olhando como se não se reconhecesse.

—Evangeline? Precisamos ir. — falei. Ela assentiu e se aproximou. Ficou meio receosa, mas por fim entrelaçou sua mão na minha. E a forma com que ela apertou minha mão foi que eu vi que seu desespero era gigante.

***

A viagem foi tranquila. Eva estava tão calada que diversas vezes verifiquei se ela ainda estava na moto comigo. Apesar de ser impossível ignorar seus braços envolvendo minha cintura e provocando um rastro de calor ali. Não havia só chamas, mas também energia, como se de algum modo seu toque me deixasse... Elétrico.

Quando chegamos, desliguei a moto e desci. Tirei o capacete rapidamente, mas quando fui tirar o de Eva, tomei mais cuidado. Ela não protestou pelo fato de seu cabelo estar todo bagunçado e sua roupa um pouco amassada. Na verdade ela nem parecia estar ali. Arrumei seus cabelos e puxei sua roupa de modo que ficasse esticada. Então peguei a mão de Eva para leva-la para dentro, mas ela não saía da moto. Puxei com delicadeza, mas ela não se movia. Parecia uma estátua.

—Evangeline, precisamos ir. — eu disse com certa urgência na voz.

—Eu não... Eu não vou... Não posso. — ela gaguejou fraca. Sensível. Vê-la assim fez uma parte de eu ruir ainda mais. Fora ali que sua mãe morrera. Em uma tarde de domingo, após um telefonema. Tudo aquilo deveria ser um flashback e tanto para minha loira.

—Evangeline, está tudo bem. Eu vou estar aqui contigo, não importa o que acontecer. — encarei seu rosto. Ela ainda não reagiu. Nem sequer olhava em meus olhos. Apenas para frente, quase chorando. Perdida. Desorientada. E aquilo só me causava mais aflição. O que eu poderia fazer por ela? Abraçá-la? Fazer promessas? Salvar seu pai com as próprias mãos ou pedir ajuda a Deus? No meio do desespero, peguei seu rosto e o levantei. Ela encarou meus olhos e eu notei a opacidade no cinza que geralmente era vivo. Outra parte de mim se quebrou.

—Não Ethan. Eu não posso. Não sou forte o bastante. — ela começou a chorar, silenciosa. As lágrimas desciam como se não quisessem ser notadas. Aquilo pareceu escurecer seu rosto. Pela primeira vez identifiquei o verdadeiro sentimento em Evangeline: pânico. — eu não vou aguentar. Não posso entrar aí.

—Eva, é seu pai. — protestei.

—Eu sei. E eu o amo. Mas não consigo andar. Estou com medo. — ela sussurrou. Então me abraçou desesperada. — com muito medo.

—Não precisa. Eu vou estar aqui. Nada vai lhe acontecer sem o meu amparo. — levantei seu rosto novamente e ela encarou os castanhos de meus olhos. — você confia em mim?

—Sim. — seu “sim” saiu baixo, porém audível e forte.

—Então você sabe que não vou permitir que nada te machuque sem eu estar lá para curar certo?

—Sim. — ela falou menos apavorada.

—Então vamos. — ela continuou segurando minha mão quando entramos. Observei o ambiente que não mudara muito desde que eu saí da cidade. O mesmo balcão branco e azul com a mesma atendente desinteressada. Até sua lixa de unha parecia à mesma. Pedimos informação sobre o pai de Eva e ela recitou despreocupada. Subimos as escadas e chegamos ao corredor.

Não damos nem três passos quando Eva começou a cair. Ela parou de andar, soltou minha mão e desesperada escorregou acompanhando a parede: usando-a de apoio. Não a deixei cair, segurando seus braços e a levantando. Ela tremia agora, muito e não escondia seu pânico. Eu nunca senti a sensação de perder alguém próximo, mas imaginava o quão horrível deveria ser. Eva era forte e mesmo assim pereceu com essa dor. Ela agarrou minhas costas colocando o ouvido em meu peito, se acalmando com as batidas do meu coração.

—Foi aqui... — ela estava soluçando. Apertei-a firme contra mim, querendo protege-la dessas memórias apavorantes que a deixavam naquele estado. Queria poder leva-la para qualquer lugar longe dali, qualquer lugar onde tudo estivesse bem. Mas a única coisa que eu podia fazer era acariciar seus cabelos e escutar suas palavras cortadas por soluços. Eu me sentia inútil. E eu me odiei por isso. — foi aqui... Que ele me contou... Que ela havia partido. — com dificuldade ela completou a fala.

—Está tudo bem Evangeline, já passou. Seu pai deve estar bem, não vai ser como com a sua mãe.

—Como sabe?

—Eu não sei. — respondi sinceramente. — mas acredito que Deus sabe a hora certa de leva-lo e rezaremos para não ser essa.

—Não vou conseguir.

—Vai sim loira. Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Não vai cair agora. Eu não vou deixar. — falei sentindo a confiança bater em meu peito. Eu precisava estar forte para que ela se sentisse forte. Para que os soluços dela não me destruíssem. Para que sua dor pudesse ser amenizada por meu toque. Para que eu não deixe que ela perceba que o choro dela é o meu maior desespero.

—Fica comigo Ethan? Não me deixe.

—Nunca Evangeline. Como eu poderia deixar alguém que é meu tudo?

***

Achamos a tia de Eva com a loira ainda apoiando seu corpo no meu. Ela não tremia mais, mas chorava silenciosa. Eu só sabia por que escutava quando ela fungava e pelo fato de suas mãos limparem o rosto o tempo todo. Ela se soltou de mim apenas para cumprimentar a parente, que se levantara assim que a reconhecera. Depois, me encarou como se nunca tivesse me visto, embora eu lembrasse o seu rosto de algumas festas de aniversário da Eva.

Tia Magda não parecia nem de longe parente de Eva. Ela era negra, os cabelos crespos e pretos. Era muito gorda e sua expressão parecia chamar para briga qualquer um que apenas sorrisse para ela. Apesar disso sua voz era aguda e baixa, totalmente o contrário do que eu esperava de uma mulher grande e carrancuda. Pelo menos a altura era uma característica comum dela com Eva. Ambas tinham 1,77 como eu.

—Então tia, alguma notícia? — Eva perguntou com a voz baixa.

—Não querida. Estou esperando o médico já tem uma hora.

—Entendo tia.

—Esse é a bola da vez? — perguntou a mulher sem rodeios. Fiquei um pouco envergonhado.

—Não tia, esse é o Ethan, meu melhor amigo. Deve se lembrar dele, é irmão da Kyra. — Magda assentiu.

—Sim, agora me lembro. Menino você está bem hein? Quando era novo parecia um calango, mas agora cresceu e ficou muito... Lindo. — eu não preciso nem dizer que meu rosto estava muito vermelho. Eva riu, quebrando um pouco sua expressão de velório.

—Você já deve ter visto que falar as coisas sem pensar é de família não é Ethan? — eu ri também. Assenti.

—Mas velhos hábitos não mudam não é? Você quando pequeno era tão tímido que se escondia de nós. Lembra-se disso gato? — perguntou a tia novamente, causando-me vergonha. Eu quis mesmo sair dali e me esconder. Mas firmei onde estava.

—Sim, me lembro. — respondi.

—Uh e tem a voz grossa também. Eva, porque você não pegou esse gato para você? — com essa eu escondi meu rosto no pescoço de Eva, pedindo aos céus para ficar invisível.

—Até tentei tia. — ela falou me deixando cada vez pior. Então baixou o tom de sua voz, como se contasse um segredo. Ela se aproximou, levando-me junto. — mas ele é muito difícil.

—Garota, se eu tivesse a sua idade... — Magda começou e então pude sentir seu olhar me analisando. — ele não me escapava mesmo. — elas riram.

—Ethan — Eva chamou, percebendo minha vergonha. — querido? Não precisa ter vergonha. Tia Magda e eu somos assim mesmo. — ela riu um pouco.

—Está bem. — eu falei. Mas não tirei meu rosto de seu pescoço. Então escutei passos e levantei a cabeça. Dr. Nunes se aproximava, com sua baixa estatura e seus cabelos rasos. Suspirei em alívio. Soube que era ele porque eu o reconheci das vezes que trouxe Eva ou Kyra bêbada para cá. Ele sorriu para nós, apesar do clima fúnebre.

—Eu trago boas notícias. Apesar de o infarto ter sido forte, ele está bem. Suas sequelas serão poucas e logo após fazer alguns procedimentos e talvez cirurgias ele estará em casa. Ele teve sorte sabia? Se não tivesse sido trago para cá com tanta rapidez tenho certeza que não estaria bem assim. — suas palavras foram um alívio para Eva, que se agarrou a tia Magda, levando-me junto para o abraço grupal.

—E nós podemos vê-lo? — perguntou Eva.

—Ainda não. Ele está descansando. Sugiro que façam o mesmo. Vão para casa e voltem amanhã no horário de visita. — o médico falou. Eva sorriu meio tristonha e eu apertei o meu abraço.

—Ele está bem, isso não é ótimo? — perguntei sorrindo e torcendo para ela espelhar minha ação. E ela espelhou. Não foi forçado e sim espontâneo aquele fecho de luz que saiu em seu sorriso.

—Tem razão. Amanhã voltamos.

***

Liguei para Kyra contando as últimas notícias. Ela respondeu que ficaria em casa mesmo e que no outro dia ela e Caio dariam um jeito de vir. Meus pais também prometeram visitar o velho amigo, mesmo que seja quando ele tiver recebido alta. Não sei quantos dias ficaria ali, mas não importava. Depois eu conversava com os professores da faculdade. Eu não voltaria enquanto não tivesse certeza que Eva estaria melhor.

Fomos para casa da Tia Magda que, por coincidência era a casa onde eu morava quando vivia na cidade. Meus pais alugaram a casa e eu nem sabia. Depois que eles decidiram se mudar, eu nem sequer pensei no que fariam com a casa. Achei que a deixariam intacta. Mas não, eles resolveram ganhar dinheiro com ela. Até que não tinha muito problema. Eu gostava da casa, mas nunca me senti realmente em casa lá.

—Ethan, seu quarto será esse e o de Eva será o da frente está bem?

—Sem problema Senhora...

—Oh não precisa de formalidade comigo, menino. — ela sorriu pela primeira vez para mim. — amigo de Eva é meu amigo também. — sorri de volta, ainda tímido. Eva tinha ido ao banheiro para tomar banho e nós estávamos a sós. Magda subiu as escadas, acenando para que eu a seguisse e assim eu o fiz. Chegamos ao que parecia o quarto de hóspedes, por ser todo bege e o papel de parede era neutro. Havia uma televisão e uma estante preenchida de livros e filmes. Sentei na cama e senti que o colchão era de mola, macio e confortável. Diferente do meu, mas eu não ia reclamar. Estava tão cansado que dormiria em uma cama de pregos.

—Obrigado. — agradeci deixando o cansaço tomar conta dos meus músculos.

—Quer uma toalha e roupas? Você parece estar precisando de um banho.

—Sim, se puder. — ela acenou e sumiu. Voltou dois minutos depois, com roupas e uma toalha.

—Espero que sirvam. Era do meu filho; vocês tinham o mesmo físico sabe? Pode ficar meio largo porque ele parecia ser mais forte que você. — ela tinha um brilho cansado ao falar dele. Seus olhos se encheram de lágrimas e eu evitei seu olhar ao pegar as roupas. Não me lembrava do filho de Magda, mas não parecia delicado perguntar. Já vi mulheres chorando de mais por um dia.

Eva apareceu atrás da tia e sorriu para mim. Depois deu um beijo na bochecha de Magda.

—Pode ir tomar seu banho rato de biblioteca. — ordenou Eva, inventando um apelido. Eu ri e tia Magda também.

—Então você é um estudioso acirrado?

—Exatamente. — confirmei. Depois acenando segui para o banheiro.

***

Ainda era madrugada quando ouvi batidas fracas na minha porta. Levantei espantado e procurando os óculos. Não que eu estivesse dormindo, mas não achava que ninguém mais estivesse acordado também. Bati com a mão na cômoda em uma ânsia desnecessária até que ouvi meus óculos caindo no chão.

—Merda! — praguejei. Agachei no chão; de modo desesperado minhas mãos procuravam os óculos. Estava tudo escuro e mesmo qualquer borrão de luz ficava embaçado. Ouvi a porta sendo aberta e de repente uma mão surgiu no meu ombro. Eu sabia que era Eva assim que senti seu toque. Elétrico e seguro. Só ela fazia isso comigo.

—Estão aqui. — Eva me levantou e colocou os óculos em meus olhos. Suspirei aliviado.

—Obrigado. — ela sorriu meio triste meio feliz. — porque veio?

—Não consigo dormir.

—Nem eu. — ficamos em silêncio. — Quer que eu leia para você? — Eva assentiu sorrindo.

Nós escolhemos O herói perdido como livro e nos sentamos na cama. Eva apoiou sua cabeça em meu peito enquanto eu a abraçava com um braço só. Travesseiros às nossas costas, pernas entrelaçadas, sem coberta e uma brisa leve saindo da janela aberta. Naquele momento eu vi o que eu realmente queria da minha vida. Muitas pessoas querem riqueza, outras querem liberdade. Algumas buscam respostas outras se limitam as perguntas. Muitos preferem a solidão, alguns procuram o sol. Mas eu, o que eu quero? Bem, eu quero momentos como esse.

Momentos em que não há nada a não ser Evangeline e eu. Momentos em que as palavras narradas em um livro se tornem nossas vidas. Momentos com mais abraços, beijos e carícias. Momentos em que eu sinto que eu sou alguém porque eu tenho alguém. Uma vida feita desses momentos. Momentos em que eu sinto que posso ser a casa de Eva e sua felicidade. Porque se eu conseguir fazer Eva sorrir só uma vez, eu sei que eu terei um sorriso por uma vida toda.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Muito meloso? Desculpa, não queria que ficasse assim, mas quis por mais romance pra vocês não acharem que eu não tenho amor no s2 kkkkkk. Enfim, escrevam o que acharam e quinta feira que vem tem mais ;D