Eu estava sozinho na mesa de Poseidon, mas não me sentia tão sozinho. Annabeth estava na mesa de Atena, mas parecia distante de seus irmãos, ás vezes me olhava, como se quisesse levantar e me dizer algo. Quíron me observava no canto. Grover e Júniper aproximaram-se e sentaram ao meu lado.

– Percy... - sussurrou Grover, como se não quisesse que alguém os escutasse.- O que foi? - perguntei.

– Eu observei algumas coisas estranhas em Argos, esses dias. - disse Juniper. - Que tipo de coisas estranhas? - perguntei, usando o mesmo tom baixo.

– Cara, Argos parece preocupado com alguma coisa... quero dizer, mais preocupado que todo mundo. - disse Grover.

– Ele tem passado noites acordado, fazendo oferendas aos deuses. Toda hora fica olhando em volta, como se esperasse que algo o atacasse. - explicou Juniper.- Achei que se lhe disséssemos... isso pode ajudar em algo na sua missão.

Annabeth nos observava, de sua mesa, franzindo o cenho.

– Annabeth pode saber algo sobre...

– Não conte nada a Annabeth. - disseram os dois em uníssono.- Ah, caras... Se Annabeth for a essa missão comigo, por que esconderia isso dela? Ela...

– Percy. - repreendeu-me Juniper - Só não conte nada a ela, vocês não podem saber das coisas antes da hora...

Bufei, já estava cansado de ouvir aquilo. Grover e Juniper levantaram-se e foram discutir algo com Dionísio.Percebi Nico di Angelo de cabeça baixa na mesa de Hades. Ele segurava as temporas com força, como se estivesse com uma horrível dor de cabeça. Ele se levantou e queimou toda sua comida como oferenda aos deuses. Eu joguei parte de minha comida na fogueira também.

– Reunião no Anfiteatro depois do jantar. - alertou Quíron.
Depois do jantar fomos até o Anfiteatro. Annabeth veio até mim, e caminhamos em silêncio.
Annabeth sentou-se ao meu lado, em uma das partes mais altas do Anfiteatro, Grover e Juniper estavam lá embaixo. Essa seria minha oportunidade de contar o que eles haviam me dito no pavilhão, eu tinha certeza de que era isso que Annabeth esperava para me contar o que havia descoberto, mas se Grover e Juniper queriam esconder aquilo de Annabeth, é que deveria mesmo ser importante.
Quíron e o Sr. D andaram até o centro do Anfiteatro, e examinaram os campistas, um por um.
– Está claro que alguns semideuses deverão partir em uma missão. - disse o sr. D.
Os semideuses remexeram-se e murmuravam, nervosos. Annabeth inquietou-se ao meu lado. Olhou para Rachel, que estava a uns cinco campistas de distancia.
A fogueira crepitava, o fogo brilhava em verde.
Quíron pigarreu três vezes.
– Percy, Annabeth... Podem contar a história por favor?
Eu e Annabeth explicamos o que havia acontecido. Eu contei só algumas partes de minha conversa com Anfitrite. Annabeth estendeu a mão, pedindo silêncio.
– Eu... eu tenho uma coisa para dizer. - ela disse, relutante, e lançou um olhar de desculpas para Rachel, que só assentiu, decepcionada.
Ela recitou a profecia que roubara de Rachel.
O mar e a sabedoria em uma missão partirão
Escuta e serás sábio
Na memória da víbora encontrarão a solução
Um velho conhecido espectral
A ruína os levará
O grande segredo para a plenitude é muito simples
A ternura os resgatará ou esta os destruirá

O mar e a sabedoria em uma missão partirão... Um velho conhecido espectral... Então lembrei-me de Luke, ele poderia ser um fantasma, certo? E nos levaria a ruina?
Ficamos em silêncio por um bom tempo. A fogueira já estava bem baixa.
Podem subir, rapazes. - disse Quíron, colocando as mãos em nossos ombros, sua voz estava tensa.
Enquanto subíamos, sussurrei para Annabeth:
Só eu que achei essa profecia muito esquisita? - perguntei. A profecia era mesmo estranha, indecisa...
Annabeth não respondeu.
Hã... Podem subir para seus chalés. - disse o sr. D, aparentemente nervoso, sua mão que segurava a Diet Coke tremia. Eu nunca o tinha visto assim.
Annabeth foi do meu lado, de novo, então perguntou o que eu já esperava que perguntasse:
– O que Júniper e Grover lhe disseram no jantar?
Eu não sabia como mentir para Annabeth, mas sabia que seria necessário, já estava pensando na resposta desde o jantar.
– Hã... Nico di Angelo teve uma convulsão antes de chegarmos ao acampamento, já faz uns dois dias. - era verdade, Will Solace me contou, ele havia cuidado de Nico no dia.
– Fiquei sabendo...
– Acha que tem algo a ver com o que Anfitrite me disse? "Um monstro que se alimentou no Tártaro e abriu passagem para o mundo vivo com as próprias mãos..."
– Muito provavelmente. - disse ela, tristonha.
Caminhamos em silêncio. Chegamos até o Chalé 03, Annabeth me abraçou, me deu boa noite e depois foi até o Chalé 06. Suspirei. Depois castiguei a mim mesmo por isso.
Entrei em meu chalé, fiz a higiene noturna, deitei em minha beliche e quase imediatamente eu dormi.
Em meu sonho, estava dentro de uma enorme caverna, uma gosma verde e esquisita estava espalhada em vários cantos. Uma luz iluminava mais afundo, caminhei até lá, até ouvir duas criaturas discutindo.
– Crisaor, essa não pode ser uma boa ideia. - disse uma voz feminina, insistente.
– Você tem alguma ideia melhor, Calírroe? - disse uma voz masculina, irritada, provavelmente Crisaor.
– Ah, minha querida, este é só o primeiro desafio que eles receberão, poderão pensar melhor depois.
– Oceano está certo. - disse uma terceira voz, feminina também, mas bem mais feia, parecia gripada.
– Quando começaremos? - perguntou Crisaor, para alguém.
– Os dois jovens partirão em uma missão amanhã, de acordo com Nereu. - disse outra voz, que eu já conhecia, feminina, grave e misturada a sibilos, esta deveria ser a chefe de todos.
– Como conseguiu arrancar isso daquele velho? - perguntou Oceano, jogando todo o nojo na palavra.
Capturei ele. Ah, ele ainda está aprisionado na masmorra, mas apenas eu poderei consultá-lo, ninguém visitará a masmorra sem minha permissão.
Enfim, o surpreenderemos... - disse Oceano.
Um momento. - interrompeu Crisaor.
Uma sombra movimentou-se, na luz, então um homem surgiu. O homem usava uma armadura de bronze, o elmo tinha o formato de cabeça de touro, ele se aproximava e eu recuava.
Jackson! - exclamou ele. Eu paralisei.
Ele se aproximou e preparou a espada. Eu acordei e ainda era de madrugada. Eu me sentei e suspirei, exasperado. Caí na cama de novo e tive um sono sem mais sonhos.