POV. AUTORA
O que os quatro semideuses fariam naquele momento? Tudo o que eles queriam eram voltar para o Acampamento Meio-Sangue e ter uma longa noite de sono, sem se perturbar com a víbora, com a missão ou com mais nada disso. Mas eles sabiam que estavam encrencados, e tinham uma ilha para arrumar. Encrencados.
Zeus pareceu realmente irritado com a pequena "demonstração de carinho" em público de Thalia e Nico.
Tanto quanto Poseidon e Atena, os dois nem se entendiam entre si, com seus filhos juntos então...
Atena pigarreou e cerrou os punhos, só achou que não seria uma boa ideia pois poderia acabar espancando o deus dos mares ali mesmo.
Zeus olhava para Hades de forma acusadora, Hades parecia mais tranquilo que o irmão, talvez porque não era o rei dos deuses e dos homens... talvez porque sua personalidade não fosse de bruta arrogância e orgulho como a do irmão, ou talvez por machismo, já que seu filho era um garoto.
Nenhum dos quatro semideuses pareciam ter notado o conflito entre os pais... Nenhum dos três. Annabeth torcia para que Percy aquietasse e parasse de tentar beijá-la. Ela admitia para si mesma, era uma tentação, mas não seria nada legal se sua mãe arrancasse a cabeça de algas do Percy ali mesmo.
Depois de colocarem as árvores e conseguir arrumar o máximo que podiam da ilha, utilizando seus poderes e a magia do Velocino de Ouro. Zeus não esperou por mais nada e anunciou:
— Reunião no Olimpo — ele olhou para a filha, Nico, Percy e Annabeth — Isso inclui a vocês, criaturas, estão muito encrencadas.
Thalia sentiu seu estômago se revirar, ouvir "muito encrencados" sair da boca de Zeus não era nada agradável, pelo contrário. Para piorar, a voz de Zeus era rompante, grave e inquestionável. Era como um trovão, como se um trovão emitisse palavras.
Percy era o mais tranquilo ali, pois, como sempre, não percebia nada do que se passava. Annabeth não sabia o porquê, mas amava isso nele... isso e tantas outras coisas.
Percy olhava tudo com confusão, tudo só piorou quando só precisou piscar, quando abriu os olhos novamente, estava na Sala dos Tronos no Olimpo.
Os deuses se dirigiram, cada um, para seus tronos, apenas Héstia já estava lá antes. Hades dirigiu-se a sua cadeira de "convidado" a qual Percy pedira aos Olimpianos depois da guerra contra os titãs.
Os treze deuses se acomodaram, em sua forma original e gigante, enquanto os semideuses estavam reunidos no centro da sala, temendo por tudo, afinal estavam diante de treze deuses, o Senhor dos Céus e rei do Olimpo estava descontente, e os quatro não passavam de miúdos grãos comparados ao tamanho dos deuses.
Todos permaneceram em silêncio, não um silêncio constrangedor, mas também não confortável, era um silêncio temeroso, mortal, como se esperasse que Zeus começasse a berrar com Hades ali. Ninguém sabia ao certo o que dizer, nem Zeus, talvez Atena, mas não importaria o que ela dissesse. Ao que parecia, eram os semideuses que deviam palavras ali.
— O que você tem a dizer, Percy? — perguntou Poseidon, inspirando calmamente, sabia que deveria começar por ali, porque talvez quando chegassem em Zeus, alguém não sairia vivo.
— E-eu... eu... — gaguejou Percy, respirou fundo e prosseguiu — Olhe, Atena, não importa o que você vai me dizer... eu já ouvi que deveria ficar longe de sua filha, por nossa segurança, mas estou disposto a enfrentar qualquer coisa que seja por ela, tanto como enfrentei, eu sinceramente não vejo um bom motivo que seja sobre nós dois para nos impedir. E, pai, você pode me dizer quantos podres quiser sobre Atena, mas isso não vai me impedir de nada, afinal, somos eu e Annabeth, vocês dois quem tem que se resolver.
Atena e Poseidon pareceram um pouco surpresos com o discurso de Percy. Afrodite saboreava o espetáculo, esperando que Atena e Poseidon, Zeus e Hades fizessem a decisão certa. Annabeth sentia-se maravilhada, apertou a mão de Percy e entendeu que nada, nem Atena ou Poseidon, poderiam separá-los depois de tudo que passaram. Nada.
Zeus e Hades não demonstraram o mínimo de atenção, pois fuzilavam um ao outro com o olhar.
— Eu... — Atena pela primeira vez parecia escolher as palavras com a maior indecisão do mundo — Eu não vejo um bom motivo para impedi-los, no que quer que seja, mas isso não significa que eu e Poseidon estaremos dispostos a nos resolver.
— Afinal... O que ele te fez para que se implicassem tanto? — perguntou Annabeth.
Ela sabia da disputa por Atenas, sabia do "incidente" com a Medusa, mas não entendia o que acontecia com os dois. Não entendia a amargura da mãe sobre Poseidon.
Mil desentendimentos não contariam depois de três milênios.
Atena não sabia o que dizer... não sabia mesmo. Se deuses pudessem corar, ela teria corado. Poseidon olhava em expectativa para ela, em partes ele também queria saber.
Ao perceber que todos, inclusive os semideuses, estavam voltados em expectativa para ela, pigarreou.
— Não é este o assunto agora, sim? — olhou sugestivamente para Zeus.
— Na verdade, vocês tem muitos assuntos a tratar, não? — sugeriu Annabeth, olhando de relance para Ártemis e Apolo, depois para Zeus e Hades. — Acho que estão misturando demais seus dilemas internos com o restante.
Zeus pigarreou. Olhando sugestivamente de Nico e Thalia a Hades, depois de tudo o que ouvira, sentira-se mais enfurecido por receber conselhos de meras crianças.
— Creio que temos assuntos a tratar — trovejou ele, quase ignorando completamente a sugestão de Annabeth.
Nico olhava desafiadoramente para o rei dos deuses e da humanidade.
Zeus e Hades, eles sim tinham assuntos mais importantes para discutir.
Tanto quanto a morte de Maria di Angelo, sobre a tentativa de Zeus sobre matar as crianças de Hades.
E mesmo sendo Ares, o culpado pelo roubo do raio mestre de Zeus, todos sabiam que Hades o queria.
Também havia a história do sequestro de Perséfone.
Era outra coisa em que, provavelmente, os semideuses nunca entenderiam os deuses.
Zeus e Hades haviam lutado lado a lado, contra Cronos, dividiram a terra, o céu e o mar. Entre eles e Poseidon. Hades nunca quis dominar a terra, tanto que só saía de seu reino quando a coisa ficava bem feia, ou da vez em que raptou Perséfone e de quando saíra para se curar de uma ferida causada por Herácles.
Hades não era maligno, só não era gostado por ser o deus do submundo.
Zeus não era maligno, mas tinha responsabilidades a cumprir. Já chegara a ponto de falhar, e isso, bem, não fora nada que estivesse disposto a "arriscar" novamente.
Mas o que aqueles dois tinham um contra o outro? Depois de todos aqueles anos?
As causas mais recentes eram bem mais fáceis de entender, porém não eram justificativa.
Aquela era uma reunião completamente diferente da última que tiveram, a atmosfera pesava, qualquer palavra escolhida de forma errada poderia provocar uma guerra. Nem o próprio Ares arriscou se aventurar ali.
Nico queria entender, ele conhecia o pai, na verdade não via nada que pudesse usar para acusá-lo de algo.
Hades era hospitaleiro, tanto que sempre cabia a alma de mais um em seu reino, e era sempre justo com os mortos em seu julgamento. Para comprovar, por que arriscariam uma função destas para alguém que não desse conta? Por sorte, Hades não tinha esse problema.
Talvez só fosse visto como o mau da história, porque ninguém queria morrer, e porque se você fizesse uma promessa para Hades, ele a cobrava com sua vida.

Os próprios olimpianos tinham uma visão totalmente errada sobre Hades. Era o deus do inferno, mas também do paraíso, afinal haviam três destinos para os mortos, o Elísio, o Asfodélos e o Tártaro, que por incrível que pareça, era o predominante.
— Eu... estou disposto a fazer uma promessa. — murmurou Nico, mas olhava para Hades, que sobressaltou-se ao entender o que o filho queria dizer. Thalia apertou a mão de Nico.
— E você promete... — Zeus já estava impaciente.
— Eu prometo, não importa o quanto vocês dois se odeiem, eu sempre vou amar a Thalia, e vou protegê-la. Afinal, o que vocês dois tem, não tem nada com o que eu e a Thalia temos. E eu prometo isso aos dois. — completou Nico.
Zeus e Hades se encararam. Por fim, Hades deu de ombros, e Zeus voltou-se novamente para Nico e Thalia.
— Eu juro pelo Estige — anunciou o filho de Hades. Um trovão reverberou pelo céu.
— Feito. — disse Zeus, satisfeito pela coragem do filho do deus dos mortos.
— Hã... Tem outra coisa que precisam discutir... — murmurou Thalia — Luke. — completou, num tom quase inaudível.
Zeus encarou Hermes, que permaneceu de queixo erguido.
— Certamente você falhou no julgamento, não é? Sabe-se de que o destino do garoto é o Asfodélos.
— Asfodélos? — questionou Percy.
— Asfodélos é como um purgatório. — murmurou Nico.
— Ah — murmurou Percy.
— Devemos uma espécie de punimento a você Hermes, sabe-se que sua escolha foi gratificante e de tal efeito ultimamente, mas mesmo assim foi um risco e um erro. — disse Zeus, Hermes apenas assentiu em concordância.
— Acho que levando o garoto de volta para o submundo está de bom tamanho, não está? — sugeriu Hades.
— Hades tem razão — trovejou Zeus — Afinal, não é sempre que Hermes falha conosco, não é?
Todos concordaram. Thalia sentiu um leve aperto, mas desta vez poderia talvez despedir-se de Luke.
— Podem ir. — Zeus liberou os semideuses.
Os três conversaram um pouco com Hermes, depois começaram a andar em direção ao elevador do Empire Building State até que depararam com algo que não esperavam ver. Poseidon e Atena se beijavam no jardim.
Annabeth ofegou, Percy os encarou confusos.
Nico e Thalia abafaram o riso.
— Ah, vocês estão muito encrencados! — exclamou Annabeth, roxa de indignação.