As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 55
Capítulo 55 – Pinheiros e chuva.


Notas iniciais do capítulo

Como prometi, estou me esforçando para postar!
Esse capítulo eu busquei explorar esse novo possível casal que vem se formando kkkk Não sei se ficou bobo ou simples, mas gostei de escrever. Espero que gostem.
PS: sigo revisando a fic para aqueles que querem reler ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499825/chapter/55

Com as árvores passando como um borrão eles alcançaram o final do bosque. Merioku se impressionou com o fato de não acertarem um tronco sequer naquela velocidade. Em seguida, elas cruzaram um belo campo de flores. Ele passou num piscar de olhos, mas o mar de lírios branco e amarelo encantou os olhos da feiticeira. Bastaram algumas horas para que Nimue os levasse até a casa de Merioku. Por fim, eles entraram na floresta que continha a cabana de Merioku numa de suas clareiras. A esverdeada apontava vez ou outra a melhor direção a seguir, mas Suiryu foi capaz de guiar o animal facilmente para chegar ao local, mesmo só tendo observado o mapa uma vez.

Ao avistarem a casa, o estrategista precisou puxar fortemente as rédeas para que o animal conseguisse frear devido à velocidade que estavam. Como consequência, Nimue empinou e Merioku se viu caindo para trás. A feiticeira tentou se segurar, mas suas mãos pegaram apenas o ar. Ela fechou os olhos preparando-se com o impacto do chão, mas ele não veio.

            Merioku sentiu uma mão forte passando por trás de sua cintura e a segurando firmemente. Abrindo os olhos, ela percebeu duas íris verdes a encarando. O youkai a puxou para equilibrá-la nas costas do animal novamente e disse:

            – Peço perdão pela parada brusca. – falou impassível.

            – N-não tem problema. – respondeu levemente desconsertada.

            Sem mais nada a dizer, ele desceu do cavalo e aguardou que ela fizesse o mesmo. Para sua felicidade, Merioku conseguiu saltar sem dar nenhum vexame a mais. Ela sentiu as coxas doloridas e as massageou rapidamente. Mesmo que não tenha sido muito, a cavalgada foi desgastante, pensou.

            – A dor é normal para quem não costuma cavalgar. – falou Suiryu.

            – Sim. Faz anos que não ando num cavalo. – revelou ela. – Mas lhe asseguro que isso não é problema.

            Ele se limitou em concordar com um aceno da cabeça e aguardou. Merioku se espreguiçou uma vez para esticar os músculos e pôs-se a caminhar para a entrada da cabana. Percebeu com o canto do olho, Suiryu se aproximar de Nimue e sussurrar algumas palavras. O animal olhou dele para ela e, sem seguida, deu meia-volta e desapareceu entre as árvores do bosque.

            Ela ficou curiosa, mas não ousou perguntar. Merioku se aproximou da entrada da cabana e estendeu a mão para a porta. De seus lábios saíram versos melódios e um som de trinca se abrindo entoou na mente da feiticeira. Percebendo que o youkai havia se juntado a ela e encarava seu ato com os olhos curiosos e analistas, prontamente esclareceu.

            – Estava apenas destravando a armadilha que coloquei quando saí.

            – Para o caso de grupos exploratórios invadirem o território. – completou ele, dispensando maiores explicações.

            – Cautela nunca é demais. – respondeu Merioku concordando.

            A esverdeada abriu a porta e entrou, seguida de perto pelo homem de robe negro. Se pensou algo sobre a simplicidade da casa ou a leve bagunça, ele não demonstrou. Sem perder tempo, ela abriu seu livro sobre a mesa e buscou a página da poção que procurava.

            – Certo. – falou para si mesma, correndo o dedo sobre as linhas. – Vamos ver o que preciso...

            Seus olhos passaram pela lista de ingredientes e, em seguida, ela já corria para suas prateleiras com os mais diversos frascos. Um a um ela foi colocando os ingredientes na bolsa, os ajeitando de forma a não correrem o risco de se misturarem ou quebrarem ao longo do caminho. Merioku correu para pegar a escada e alcançar as prateleiras mais altas. Ao retornar, observou Suiryu olhar com curiosidade para o livro aberto na mesa.

            – Por que usar armebórias no lugar de catenludas? – questionou ele sem retirar os olhos do livro. – Teriam o mesmo efeito, mas poderiam durar mais.

            – Normalmente sim, mas no caso dessa poção, as armebórias funcionam mais como estabilizador do que catalizador, como normalmente ocorre. Além disso, catenludas tem alguns efeitos colaterais quando usados junto a rinoxes.

            Por um segundo, Suiryu a olhou com um brilho de dúvida, que logo foi extinto pelo olhar duro e indiferente. Ele voltou a olhar desinteressado para o livro.

            – Nunca ouvi ou li a respeito dos efeitos dessa combinação.

            – Para falar a verdade, eu também não. – Merioku riu, sem graça. – Foi algo aprendido na prática. Após alguns anos observei que os efeitos colaterais do uso concomitante dessas plantas era muito maior que elas separadas, bastava substituir por ingredientes diferente que tivessem o mesmo efeito e os problemas desapareciam.

            Ele parou um instante, refletindo e absorvendo suas palavras.

            – Compreendo.

            Ela sorriu de leve e voltou a sua tarefa. Subiu degrau por degrau até alcançar a prateleira mais alta onde, por acaso, estavam as armebórias. Criando coragem, ela perguntou:

            – Você aparenta saber algo sobre poções. Isso também e essencial a um estrategista?

            – Eu apenas tenho curiosidade sobre. Antigamente era comum o conhecimento básico sobre poções no clã das águas, mas hoje não é muito difundido. – após uma pausa, ele continuou: – E você? O que a levou a estudar poções? É de algum clã de feiticeiros?

            – Nada tão complexo. – falou meio sem graça. – A verdade é que não sou de nenhum clã exatamente, ou ao menos não se fui. Minha mãe morreu quando me deu a luz e meu pai faleceu de uma doença quando eu era muito pequena. E ele nunca falou nada sobre pertencermos a algum clã. – ela fez uma pausa, se resgatando na memória os escassos traços que lembrava do pai. A sua mente só vinha o cabelo curto verde desgrenhado e o sorriso largo. Sem perceber, ela deu um leve sorriso.

            – Após isso, – ela continuou – eu cresci e decidi estudar poções para ajudar aqueles que precisassem. Fui mais buscando cura para os males do que propriamente para praticar a feitiçaria. Aliás, demorei para descobrir que tinha dom para isso. Descobri sem querer após alguns anos.

            – Entendo. – a resposta do youkai era desprovida de julgamento ou pena e isso fez com que Merioku apreciasse.

            Suiryu largou o livro em cima da mesa e se recostou no portal de saída da cabana. Merioku sentiu o olhar do youkai sobre si, conforme terminava de reunir s ingredientes. Surpreendentemente ela não se sentiu incomodada com isso. Ela passou a próxima meia-hora picando e rasgando os ingredientes que exigiam o ato e os colocando em frascos, deixando-os prontos para o uso imediato quando começasse a poção.

            – Pronto, tenho tudo o que preciso. – afirmou fechando a mochila.

            Percebeu Suiryu piscar lentamente e oscilar levemente ao voltar para si. Merioku sentiu uma pontada de preocupação. As olheiras ainda estavam lá e a pele do Lorde estava pálida como a neve. Seu espírito curandeiro falou mais alto e ela arriscou uma proposta.

            – Suiryu-san, eu estava pensado... Talvez fosse melhor eu preparar a poção aqui. – percebendo o olhar interrogativo e confuso dela, ela explicou. – Não é algo fácil de se preparar, então temo que a frente de batalha não seja um local propício para tal. Além disso, a poção tem que ficar em descanso após preparo cerca de 4 horas antes de colocar o ingrediente final e ser concluída. Talvez fosse melhor fazê-la aqui, colocá-la em frascos para depois irmos.

            O estrategista ponderou um longo tempo, mas acabou cedendo. Merioku controlou para não soltar um suspiro de alívio.

            – Por favor, pode ficar à vontade. A preparação deve demorar três quartos de hora. – sem esperar por uma resposta ou negação, ela indicou uma cadeira no canto da sala e pôs-se a trabalhar.

            Enquanto acendia o fogo de seu caldeirão, Merioku agradeceu aos deuses por Suiryu ter aceitado sua sugestão e sentado na cadeira. A verdade era que Merioku poderia fazer a poção em qualquer lugar contanto que tivesse os ingredientes e estivesse descansada para embutir sua magia na poção. Mas a feiticeira não conseguiu deixar de preocupar-se com o estrategista. Mesmo tomando o revigorante que ela lhe dera, o cansaço dele era evidente e, como toda médica, ela não poderia deixar de prover ajuda.

            Espero que ele descanse um pouco, pensou. E que não me mate depois!, rezou. A feiticeira estava enganando o youkai. A cadeira que lhe apontou era o único móvel especial da casa. Ela a havia feito e encantado para fazer com que quem quer que a sentasse dormisse sem preocupações. Merioku a fizera para si mesma, pois sempre que estava com um paciente ou imersa no trabalho, passava noites em claro. Quando se sentia esgotada ou tinha insônia, recorria à cadeira e adormecia pouco tempo depois de sentar-se. Ela ajudava Merioku a recuperar as forças mais rápido e era incrivelmente confortável.

            Com ternura, ela parou seu trabalho um instante e olhou para o estrategista que tinha os olhos fechados e a cabeça acolhida numa das mãos, com o cotovelo apoiado na mesa. Parecia finalmente em paz. A seriedade dos olhos se escondia sob pálpebras pálidas pesadas e os ombros subiam e desciam em movimentos regulares. Dele irradiava a mesma áurea que ela sentiu na floresta quando o viu montado contra a luz do sol que despontada entre as árvores. Mesmo dormindo, Suiryu tinha algo de majestoso e fluído como a própria água de um rio.

Um sorriso singelo desbotou nos lábios de Merioku e a esverdeada se pegou distraída, contemplando com aquela figura quase etérea, em paz.

...

            Pelo canto do olho, Merioku sentiu uma movimentação. Sorriu de canto e logo falou:

            — Fico feliz que tenha conseguida descansar um pouco.

            Suiryu abriu os olhos lentamente e a encarou com seu par de íris verde. Merioku agradeceu internamente por não ver raiva neles. Apenas, confusão. Felizmente, ele parecia menos cansado, tinha os olhos mais alertas e a pele perdera um pouco da palidez doentia. Ele endireitou o tronco e se recostou na cadeira, esfregando os olhos com os dedos indicador e dedão da mão direita.

            – Eu... – começou ele – Quanto tempo?

            – Uma meia hora. Estou quase terminando a poção, logo poderemos partir.

            Franzindo a testa, ele se deu um longo suspiro e se levantou caminhando para mais perto do cadeirão da poção quase completa. Ele olhou curioso para Merioku e depois para a poção. O estrategista inspirou o vapor que dali saía, pensou por um segundo e sugeriu:

            – Almisco?

            Merioku sorriu e concordou om a cabeça.

            – É quase um toque pessoal. Evita o gosto muito ruim na poção sem interferir nas suas propriedades mágicas. – ela sorriu sem graça – Basicamente evita que a pessoa vomite tudo depois de beber.

            – Compreendo. – limitou-se a falar.

            Com esse breve diálogo, Suiryu voltou a analisar o aposento minuciosamente e Merioku retornou sua atenção para a poção. Ela começava a ganhar um leve tom lilás e todos os ingredientes haviam dissolvido propriamente. Bom, quase todos. Os outros ela conseguiria no acampamento. Com mais algumas mexidas, ela estendeu a mão direita sobre a poção e num cântico baixo permitiu à magia fluir por entre os dedos até o líquido viscoso, que pouco a pouco tornou-se roxo escuro. A feiticeira, então, retirou a colher do caldeirão e secou o suor da testa com as costas da mão.

            – Pronto. – olhou com admiração para sua conquista – Suiryu-san, agora podemos...

            Merioku olhou para Suiryu e percebeu que ele tinha as mãos em um retrato pintado. Imediatamente o sorriso sumiu do rosto da esverdeada e ela devagar se aproximou. Quatro sorrisos despontavam no retrato, cada qual carregando alegria genuína, daquela que só se vê nos jovens impudentes que acham que o mundo não passa de uma possibilidade alcançável. Ali estavam quatro pares de olhos diversos repletos de esperança e certeza que o sol sempre viria.

            Um semblante saudosista e melancólico tomou conta da feiticeira. Gentilmente, ela se aproximou e estendeu a mão para que Suiryu lhe passasse o retrato. Ele lhe entregou sem questionar. Ela demorou-se com o retrato na mão, temendo que se o soltasse, as lembranças lhe escapariam junto. Com um sorriso triste, ela apoiou a moldura de madeira que sustentava a ilustração de volta na prateleira. Roçou levemente o dedo na lateral e se afastou.

            – Onde estão os outros? – perguntou o estrategista.

            Surpresa com sua curiosidade, Merioku voltou seu olhar para ele. Na íris brilhante azul-esverdeada, viu apenas a indagação inocente, como se uma criança que busca compreender o mundo. Ela buscou manter as mãos ocupadas, colocando o líquido do caldeirão

            – Se foram a muito tempo. – respondeu sem encará-lo. – Apenas eu e Tsukiyo restamos.

            Infelizmente, ao contrário da amiga, Merioku acreditava que Akarin já não existia mais, apenas o monstro que o possuiu. Mas como poderia eu desencorajá-la? Pensou. O que mantinha a amiga em frente era essa busca pela cura. Se tirasse isso dela, o que restaria. Ao menos, era isso que Merioku pensava. Depois de ver Tsukiyo no shiro e com o Lorde Sesshoumaru, a feiticeira imaginou que talvez ela conseguisse seguir em frente. Isso até ver nos olhos da amiga o brilho ao mostrar-lhe Tamashi no Kakera. Naquele momento, Merioku a viu transbordar de esperança e souber. Você ainda não desistiu, não é Tsuki?

            – Eles... Eram minha família, sabe? Depois que perdi meus pais eu não tinha ninguém até encontrá-los. – prosseguiu, sem entender realmente porque as palavras continuam saindo de sua boca – Mas, eles se foram em batalha, numa guerra que travamos.

            Sentiu as últimas palavras amargas na boca e, incontrolavelmente, cerrou as mãos.

            – A guerra lhe tirou muito. – constatou ele. –Se tanto odeia tanto a guerra, por que corre direto para uma? – Suiryu, perspicaz, havia compreendido para onde sua raiva se direcionava. – Isso é ilógico.

            Ela parou um instante e sorriu docemente para ele, repetindo as palavras que uma vez havia lhe dito:

— Nem tudo deve ser baseado em lógica. Algo além da racionalidade nos move.  – permitiu seu olhar encontrar intensamente o dele. – Existe algo que faz a vida e a morte valer a pena.

Nem mesmo Suiryu conseguiu esconder sua surpresa diante das palavras que Merioku proferira. Merioku achou graça da expressão e achou que essa naturalidade lhe caía bem.

— Agora já podemos ir. – mostrou os frascos roxos na mão, lacrados com uma rolha. –  Nosso trabalho acabou aqui.

Merioku guardou-os na mochila e foi em direção à saída, passando por um Suiryu ainda reflexivo. Levou dois segundos para ele se recompor à postura indiferente e segui-la. Merioku olhou para dentro uma última vez, mais especificamente, para o retrato na estante. Ela suspirou e fez uma oração na mente, fechando a porta atrás de si.

Suiryu assobiou e em menos de um minuto, Nimue estava parado em frente à cabana. Merioku cumprimentou o animal com leve afagar no pescoço do cavalo e, com ajuda de Suiryu, montou. Antes de montar, o estrategista pareceu hesitar com um segundo. Ele olhou para a feiticeira como se prestes a falar algo, mas o leve brilho em seus olhos desapareceu tão logo surgiu. E subiu no cavalo e o impeliu para frente.

— Segure-se. – falou.

Nimue disparou e Merioku já tinha as mãos envolvidas ao redor do troco de Suiryu. Ela corou levemente e desculpou-se.

— Sinto muito.

— Não há problema. – respondeu ele.

Ali, galopando contra o vento, Merioku sentiu o cansaço abater um pouco sobre. Ela sentiu os olhos pesarem e os fechou um pouco, mantendo a consciência. Sem perceber, ela deitou a cabeça das costas do youkai, procurando conforto e quase se espantou quando ele permitiu. Um sorriso leve despontou. Para não pensar em todas as preocupações que rondavam sua cabeça, ela concentrou-se na respiração pesada do estrategista. No calor que emanava de sua pele, mesmo contra o gélido vento da tarde.

Galopando em direção ao sol que se escondia, Merioku se deixou envolver pelo silêncio agradável e o cheiro de pinheiro e chuva que de Suiryu emanava.

Era um cheiro acolhedor e gentil...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Três Lágrimas do Youkai." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.