As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 36
Capítulo 36 – Contos Sobre a Árvore. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Desculpe por não ter postado o segundo capítulo ontem como prometido, mas tive um bloqueio de criatividade :X Então sem mais delongas, vou postar hoje kkkkk Ah, lembrem-se, tem que comentar nos dois para eu fazer isso de novo. Obrigada as leitoras Rafaelle Cupolillo, Danisse, Laura e Jady S2 por já terem comentado no outro. xD Obrigada, lindas!!!
Ah, um aviso... ficou meio grande kkkk Desculpe, mas não teve jeito =/



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Sesshoumaru saiu da sala e se deparou com o início da noite. A reunião durou mais do que o esperado, mas no fim, o Dai-youkai ficou satisfeito quando conseguiu chegar onde queria. Poderia sair em uma rápida viagem com a jovem, sem levantar suspeitas e ao mesmo tempo poderia protegê-la do inimigo. Mataria dois coelhos com apenas uma cajadada: ficaria mais um tempo perto dela e impedia o inimigo de conseguir uma poderosa arma.

            Sem perceber, estava caminhando na direção ao quarto de hóspedes em que a jovem fora instalada. Parou imediatamente e deu meia volta para ir em direção a seu quarto. Seria melhor evitar qualquer tipo de suspeitas em relação a ela. Apesar de não gostar, o melhor era restringir seus contatos com ela.

            Assim que virou o corredor para chegar ao quarto, encontrou Hiryu encostado na parede a sua espera. Estava com os braços cruzados em frente ao peito e a expressão séria. Não perdeu tempo, não é?, pensou Sesshoumaru. O Lorde parou um instante e mudou a direção, seguindo para fora da casa.

Assim que se virou. o ruivo começou:

            – Sesshoumaru...

            – Venha. – falou ele sem olhar para o amigo.

            O youkai dragão nada mais disse e se limitou a seguir o amigo. Logo, ambos estavam sentados no banco do jardim. A luz do luar batia nas pétalas de cerejeira e criava um aspecto fantasmagórico e belo para o lugar. As árvores estavam carregadas de pétalas que começaram a se soltar, criando um mar rosado no chão.

            – Tem certeza do que está fazendo? – Hiryu sentou-se ao lado do amigo.

            –Por quê?

            – Ah, pelos deuses, Sesshoumaru! Ela é idêntica a Rin. – apontou. – Como espera que eu acredite que a tenha trago só por questões estratégicas?!

            – Não acha que esse seja o motivo?

            – Acho que não é todo o motivo.

            Sesshoumaru apenas olhou para o amigo, indiferente. Hiryu o encarava com seriedade e preocupação.

Percebendo que o Lorde não responderia, o ruivo suspirou:

            – Como é possível? – perguntou.

            – Ao que parece, ela pode ser a reencarnação da alma de Rin. – explicou Sesshoumaru.

            Hiryu deixou escapar certo espanto, encarando firme Sesshoumaru.

            – E como está lidando com isso? – no olhar de Hiryu só restava preocupação e compaixão.

            – Ela não é Rin.

            – Eu sei, mas você sabe disso?

            Sesshoumaru se levantou de irritação e se aproximou da cerejeira.

            – Inuyasha fez a mesma pergunta. Por que todos acreditam que não sei diferenciar?

            – Por que sabemos o quão difícil deve ser. – falou calmo. – Só não queremos que crie expectativas erradas. São parecidas, mas ela não é Rin. Seria injusto com essa garota você tentar encontrar outra pessoa nela. – o ruivo abaixou o tom. – A Rin... não pode mais voltar.

            Sesshoumaru já havia pensado sobre tudo aquilo, mas pensar e ouvir eram coisas completamente diferentes. As palavras o atingiram com força e trouxeram novamente os pensamentos incertos que ele pensou já ter se livrado.

            – Eu sei. – falou sincero. – Não vou mentir e dizer que sempre foi assim, mas ela não é a Rin.

            Hiryu suspirou. Após alguns segundos, ele se levantou derrotado e aproximou-se. Colocou uma das mãos no ombro do amigo e finalizou:

            – Espero que saiba o que está fazendo, Sesshoumaru. Pelo seu bem e pelo dela.

            Com isso, Hiryu se afastou, deixando Sesshoumaru sozinho com seus pensamentos. Tudo que Hiryu falou ele já sabia, mas seria ele capaz de colocar aquilo em prática?

            Abandonando os pensamentos, Sesshoumaru começou a retornar ao seu quarto. Desta vez não encontrou ninguém pelo caminho, então logo estava em seu espaçoso cômodo. Logo que entrou, despiu-se e seguiu para um banho relaxante na banheira. Afundou na água morna, os músculos tensos da viagem agradeceram e a mente cansada também.

            Quando saiu, colocou um quimono azul marinho com bordas claras, uma faixa amarela à cintura e os pés descalços. Sesshoumaru se aproximou da mesa onde havia alguns documentos para serem avaliados por ele, deixados ali por Suiryu. O Dai-youkai sentou-se e acendeu uma vela para começar a trabalhar. As responsabilidades se acumularam devido a sua viagem, que havia durado bem mais que o esperado.

            Quando se aproximava da metade da pilha, Sesshoumaru escutou duas batidas de leve na sua porta. Soltou um longo suspiro e levantou-se para atender a porta.

            – O que foi? – falou irritado enquanto deslizava a porta.

            Imediatamente a irritação passou. A sua frente estava Tsukiyo, vestindo um robe vermelho que lhe cobria até os tornozelos, estava descalça e parecia apreensiva. Olhando mais atentamente, Sesshoumaru percebeu que o rosto estava marcado e o nariz ligeiramente vermelho. Estava chorando?, pensou.

            – Ahn, v-você se importaria se eu entrasse um instante? – perguntou ela, baixo e hesitante.

            O youkai chegou para o lado, dando passagem para a entrada dela. Ela entrou e Sesshoumaru fechou a porta. Ele sentou-se novamente em frente à mesa e encarou Tsukiyo, que permanecia de pé.

            – Não consegue dormir? – perguntou-lhe, sabendo que já era tarde da noite.

            – Parece que não sou a única. – falou ela sentando-se na ponta do largo futon do youkai.

            Sesshoumaru olhou para seus documentos e depois novamente para ela. Sem devaneio, ele foi direto à questão.

            – Pesadelos?

            Ela não pereceu surpresa com a dedução dele. Tsukiyo acenou com a cabeça e inconscientemente se abraçou.

            – Eu os vi novamente, Sesshoumaru. – falou baixo, o olhar vidrado e distante. – Eles gritavam em agonia, seus rostos estavam distorcidos, quase irreconhecíveis. Eu estava presa e eles me escalavam, me afundando com eles.

            Sua voz começara a tremer e ela olhou para Sesshoumaru. O youkai percebeu seus olhos marejados e o brilho do desespero voltando.

            – Ela estava lá, Sesshoumaru... A criança. Ela gritava para eu devolver sua mãe. – algumas lágrimas escorreram. – Mas... isso eu não posso fazer!

            Ela desabou completamente, as lágrimas escorriam e a jovem tentava, em vão, segurar os soluços mordendo o lábio inferior. Sesshoumaru se inclinou com a intensão de se aproximar, mas Tsukiyo negou com a cabeça. Ele entendia, ela não se achava no direito de ser consolada e ele respeitou sua escolha, apesar de discordar.

            O Lorde esperou pacientemente ela respirar fundo e limpar com força as lágrimas do rosto. Então, colocando uma máscara alegre para afastar os próprios pensamentos, ela sorriu-lhe fraco.

            – Então, como foi a reunião?

            Compreendendo que ela queria mudar o assunto, não se opôs. Ele apoiou o cotovelo na mesa e o rosto na mão. Sesshoumaru parecia demonstrar tédio quando na verdade estava atento à jovem e suas reações. Não poderia revelar que ela estava sendo perseguida por seu inimigo, então teria que relatar meias verdades.

            – Normal. Foram basicamente relatórios sobre as situações das tropas. – falou neutro. Ele levantou os olhos para ela. – Tive que explicar sua condição aos demais.

            Sesshoumaru percebeu que a postura dela ficou mais tensa. Tsukiyo o encarou, curiosa e ligeiramente preocupada.

            – O quanto você contou?

            – Apenas sobre seu sangue raro. Nada mais. Não cabe a mim decidir contar o restante ou não. É assunto seu. – o tom aparentava certo desdém, mas seus olhos não condiziam com essa emoção.

            Ela concordou com a cabeça e agradeceu:

            – Obrigada por isso. – falou ela. – Seus generais... são bem legais.

            – Eu não diria isso. – retrucou, recordando-se dos sermões de Hiryu e das imensas diferenças entre seus generais, que geralmente resultavam em confusões e dores de cabeça. – Mas são confiáveis.

            – Como os conheceu? – perguntou curiosa.

            Sesshoumaru ponderou um instante antes de responder.

            – Pergunte a eles, será bom conhecê-los melhor. – o tom era seco. – Agora, se me der licença, tenho mais o que fazer.

            Sesshoumaru esperava que com isso, Tsukiyo se aproximasse dos generais por conta própria. Tudo seria mais fácil se ela passasse a confiar neles logo, e vice-versa. Isso o pouparia de muitas explicações e justificativas futuras. E, principalmente, o livrava de fazer o meio termo entre eles.

            – Claro, desculpe-me. – falou ela.

            A jovem levantou-se e caminhou até a porta. Sesshoumaru percebeu hesitação no processo. O youkai se virou para os documentos em cima da mesa e sem se voltar para ela, falou, mantendo o tom o mais imparcial possível.

            – Pode ficar, contanto que não me atrapalhe.

            Sesshoumaru escutou uma exclamação de surpresa, mas não se virou para olhar. Continuou trabalhando nos papeis a sua frente. Ele a ouviu agradecer baixinho e seus passos no chão, ao voltar para o centro do quarto. O youkai, surpreso, se viu contente com a decisão dela de ficar.

            Com mais algumas horas de trabalho, a pilha começou a diminuir drasticamente. Não havia terminado, mas o cansaço começou a pesar. Sesshoumaru, tal como a jovem, não havia dormido noite passada, preocupado com os danos que o massacre da vila pudesse causar a ela.

            Ele largou a pena e, pela primeira vez desde que recomeçou seu trabalho, olhou para jovem. Ela havia adormecido em cima de seu futon. Sesshoumaru apagou a vela, agora o quarto era iluminado apenas pela luz da lua que entrava pela janela. Ele se aproximou e cobriu o corpo da jovem que, ainda dormindo, agarrou a ponta do cobertor e trouxe para perto de si, como faz uma criança.

O youkai achou graça.

Ele deitou-se no tatame ao lado do futon, de frente para a Tsukiyo e, apoiando o cotovelo no chão, deitou a cabeça na mão. Ficou observando a jovem alguns instantes. De alguma forma, vê-la calma e dormindo tranquilamente depois de tudo, trouxe uma espécie de alívio para ele.

            Enquanto respirava profundamente, uma mecha de cabelo negro escorregou para a face da jovem. Antes que percebesse, Sesshoumaru estava passando os dedos delicadamente pelo seu rosto, afastando a mecha. Imediatamente as palavras de Hiryu voltaram a sua mente. “Espero que saiba o que está fazendo, Sesshoumaru. Pelo seu bem e pelo dela.” Confuso e surpreso consigo mesmo, Sesshoumaru afastou sua mão, agradecendo pela jovem não ter acordado. O que estou fazendo...?

Permaneceu naquela posição até que o sono o alcançou. Foi a respiração lenta e profunda da jovem, que o permitiu descansar naquela noite. Inconscientemente ele sabia: enquanto a respiração continuasse, ela estava ali e estava bem.

...

            Despertou cedo. Ao abrir os olhos percebeu que a jovem continuava a dormir em seu futon. Ela estava cansada fisicamente e mentalmente. Não era nenhuma surpresa estar dormindo tanto. Silenciosamente, Sesshoumaru levantou-se e saiu do quarto. Do lado de fora, Jaken já estava a sua espera.

             – Bom dia, Lorde Sesshoumaru. – falou o pequeno, com sua típica mesura exagerada. – O café será servido, num instante, no salão.

            O Dai-youkai pôs-se a dirigir ao salão onde as refeições costumam ser servidas. O pequeno sapo fez menção de segui-lo, mas Sesshoumaru mandou-lhe que esperasse ali até que a jovem acordasse. Frustrado, Jaken concordou e permaneceu no local. Se o pequeno sapo pareceu surpreso ao vê-la ali, em seu quarto, não demonstrou.

            Adentrando no salão, Sesshoumaru encontrou a mesa posta com alimentos diversos. O ambiente era grande e a mesa comportava cerca de dez pessoas com sobra. Nove das cadeiras estavam vazias e ocupando um dos lugares próximos a ponta estava Suiryu sorvendo um longo gole de chá. Sesshoumaru se aproximou do estrategista e sentou na ponta, próximo a ele. Tinham alguns assuntos a tratar e seria bom aproveitar esse tempo as sós.

            – Deveria provar o chá. – falou o youkai da água. – As folhas foram colhidas esta manhã, está fresco como nunca.

            Pelo seu tom, Suiryu já esperava essa conversa com Sesshoumaru e o estrategista sabia o que ele lhe perguntaria. O youkai cão não prolongou o assunto desnecessariamente, foi direto ao ponto.

            – Por que não contou sobre Shiro quando saí?

            Sesshoumaru serviu-se um pouco do que estava na mesa e viu Suiryu respirar fundo antes de responder.

            – Quanto menos pessoas souberem melhor. – falou. – Mencionar algo assim para ambos os clãs não só dificultaria qualquer trégua que tentássemos fazer, como também retiraria a credibilidade dos líderes. Tanto a minha quanto a de Shiro. Não podemos ter conflitos internos nesse momento.

            – Compreendo esse lado, mas não achou que eu merecia saber?

            – Não queria criar nenhum pré-julgamento, de sua parte. Podemos ser primos, mas não a conheço profundamente. Se não fosse vantajoso promover o acordo, não queria que meu parentesco com ela o influenciasse a tomar a decisão contrária. – percebendo a contra resposta se formar nos lábios de Sesshoumaru, ele completou: – Pode até dizer que não se deixaria influenciar, mas isso poderia acontece inconscientemente. Não quis arriscar.

            – Então tudo foi um plano seu para tentar reaproximar os clãs?

            – Não necessariamente. Meus interesses são, em primeiro lugar, os que nos farão vencer a guerra, ou seja, os seus. – ele deu de ombros. – Se por ventura isso contribuir com uma aproximação dos clãs do gelo e da água seria um acréscimo favorável.

            – Bem, ela parece mais esperançosa na união do que você. – falou Sesshoumaru.

            – Shiro sempre foi sonhadora. – sua expressão era neutra, mas Sesshoumaru identificou um traço de tristeza em seu tom. – O sonho de nossos pais era ver esses clãs transformados em apenas um. Acredito que ela herdou essa ideia...

            Sesshoumaru pousou a xícara na mesa e olhou para seu general. Suiryu mantinha a mesma máscara de indiferença que ele próprio mantinha, mas os dedos tamborilavam ansiosos na mesa.

            – E você? Não acredita na união?

            – Não é isso. Apenas sei que não será algo fácil, muito menos rápido. Criar grandes expectativas com algo tão incerto é pedir para se decepcionar.

            – Ao menos essa guerra trouxe alguma desculpa para se encontrarem. – falou Sesshoumaru aparentando desinteresse. – Conseguir essa união de clãs pode ser vantajoso para mim, então aproveite quando os youkais do gelo chegarem e tente cultivar bons contatos.

            Suiryu olhou para Sesshoumaru, ligeiramente surpreso com sua atitude, que continuou sua refeição como se nada tivesse dito. Por fim, o Lorde mandou um olhar intenso para o estrategista e disse com o tom autoritário:

            – Como punição por não ter me contado sobre seus planos com Shiro, terá que me repassar todo o andamento e acordos dessa união e ela apenas será realizada com a minha permissão. Quero ter algo a ganhar com ela, então, sem negociações às escondidas. E nunca ouse me manipular novamente. Fui claro?

            – Como cristal. – falou o youkai fazendo uma leve mesura com a cabeça.

            A porta abriu-se e Hiryu entrou. Estava com o quimono desajeitado e não tentava esconder o olhar de sono. Ele bocejou e sentou-se de frente para Suiryu.

            – Aparência impecável como sempre. – falou Sesshoumaru sarcástico.

            – Ahh, você sabe que o período da manhã não é o melhor para mim. – retrucou o youkai com a voz arrastada e sonolenta.

            – Onde estão Arashi e Tsubasa? – perguntou. – Ela se atrasar é normal, mas ele costuma ser o primeiro a chegar.

            – Hm, acho que ficou preso com ela. – falou o ruivo puxando um prato qualquer para perto. Então olhou maliciosa para os presentes. – Eles foram dormir tarde ontem, se é que me entendem.

— Pelo visto ele só conseguirá chegar quando ela acordar. – concluiu Sesshoumaru.

            – Eles deveriam ficar sério logo, já faz quantos meses que estão assim?

            – Presumo que seja Arashi a responsável pela demora. – falou Suiryu.

            – Acho que isso faz sentido. Ela nunca foi de compromissos sérios. – falava Hiryu distraído. – Melhor para ele, quem iria querer casar com ela?

            – Hiryu... – começou Sesshoumaru, buscando avisar o amigo.

            – Não, não, estou falando sério! – interrompeu o ruivo, alterado pelo sono. – Pode ser até bonita, mas com um gênio daqueles é...

            – É o que, Hiryu?! – falou uma voz atrás dele.

            O ruivo virou-se lentamente e finalmente notou Arashi que havia entrado alguns segundos antes, parando atrás da cadeira dele. Sesshoumaru e Suiryu apenas observaram sua entrada, intrigados com o que aconteceria. Tsubasa, que chegou acompanhado da guerreira mantinha a expressão serena e alegre.

            – Arashi! Eu... er... só estava...

            – O que falava sobre mim?! – perguntou estalando as juntas dos dedos com a outra mão.

Antes que pudesse inventar qualquer desculpa, ela o puxou pelo quimono.

No instante seguinte, Hiryu segurava um pouco de gelo contra a cabeça e ganhara um olho roxo. Sesshoumaru e Suiryu comiam seu café da manhã, inalterados pelo acontecido e Tsubasa acalmava Arashi.

            – Não devia levar Hiryu tão a sério, Arashi. – falou Tsubasa. – São apenas brincadeiras.

            – Não o levo a sério. – ela respondeu. – Se o fizesse, ele não estaria vivo para continuar com essas piadas de mau gosto.

            O ruivo se encolheu involuntariamente e, camarada como sempre, Tsubasa buscou mudar o assunto.

            – Sesshoumaru, onde está a jovem?

            – Dormindo. – falou impassível. – Ao que parece, ainda está se recuperando dos danos que sofreu contra Shinigami.

            – Falando nele, – começou Hiryu. – não acham que é possível ele ainda estar nessas terras?

            – Pouco provável. – argumentou Suiryu. – Ele perdeu a arma e sabe que seu inimigo é Sesshoumaru. O melhor a se fazer na situação era retornar ao seu território e ir direto a Nisshoku.

            Nenhum deles discordou.

Acabando a refeição, todos foram para a sala de reuniões, discutir questões básicas como suprimentos, armas e outras estratégias. Particularmente, Sesshoumaru achou bem entediante e demorado, mas não havia nada que pudesse fazer. Pelo menos Tsukiyo e sua história foram assuntos longe de serem abordados naquela reunião, assim não teve que se preocupar com o que falar.

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            A escada parecia interminável. Já perdera a conta de quantos andares teve que subir e já começara a ficar impaciente. Para piorar, ainda sentia dores nos locais feridos na batalha. Maldita batalha, em que aquela mestiça tivera a audácia de destruir sua lâmina.

Sua preciosa lâmina.

            Ignorando a presença do servo lagarto e seu pedido de esperar no saguão enquanto ele avisava o mestre de sua chegada, Shinigami escancarou a porta e entrou sem cerimônia no salão.

            O local permanecia escuro, mesmo de dia, e lá estava Nisshoku, sentado em seu trono de pedra, com a postura relaxada. Ao se aproximar, Shinigami fez uma rápida mesura, sem significado, então olhou para seu superior.

            – Nisshoku, eu...

            – Onde ela está? – cortou seco.

            Nisshoku abriu os olhos e dois pontos vermelhos penetrantes se destacaram na escuridão. Shinigami sentiu a raiva subir novamente, odiava pensar naquela mestiça. Por que isso o fazia lembrar que falhou em seu trabalho pela primeira vez.

            – Não pude trazê-la. – respondeu cerrando os dentes.

            Inesperadamente, o sombrio começou a gargalhar.

Mesmo não querendo admitir, o cinzento sentiu um arrepio percorrer a espinha. Ele olhou de relance para o servo lagarto, encolhido perto da porta, e percebeu a criatura tremendo e suando frio dos pés à cabeça.

Desta vez, não o culpou pela reação.

            – Huhuhu. Quer dizer que nem mesmo o grande Shinigami conseguiu dar cabo na tarefa de trazer uma mulher a mim? – zombou. – Já que ia falhar podia ao menos ter morrido lá mesmo como os outros. Não tenho interesse em vira-latas covardes.

            – Ela não estava sozinha. – defendeu-se Shinigami.

            – Óh, significa que, ao menos, descobriu quem é nosso querido amigo que a está ajudando. – ele se inclinou levemente para frente. – E quem seria esse?

            Pela primeira vez desde que entrara, Shinigami voltou a portar o sorriso sádico que sempre sustentara.

            – Sesshoumaru.

            O silêncio que se seguiu indicava surpresa por parte do sombrio de olhos vermelhos. Ele voltou a encostar as costas no trono e levou o punho à boca, pensativo.

            – Hm, isso é conveniente... – sua atenção se voltou ao youkai cinzento. – Como é realmente sua força?

            – Ele é tão forte como dizem, mas não parecia muito compenetrado na luta. – falou Shinigami recuperando seu humor. – Se a garota não tivesse destruído minha lâmina ele já não seria um problema.

            – Ela destruiu?! – perguntou duvidoso.

            – Ela nem estava na luta. Apareceu quando estava prestes a matá-lo. – falou pesaroso de forma teatral. – Acontece que graças a sua ideia de trazê-la viva, tive que desviar o ataque no último segundo. Isso custou minha lâmina, mas pelo menos a deixou viva... eu acho.

            – Humpf, é bem típico dela fazer algo assim. – inesperadamente, ele se levantou que começou a andar até a saída, ignorando a presença de Shinigami.

            – Mestre, o que...? – começou o servo lagarto surpreso.

            – Cansei de mandar emprestáveis para o serviço. – falou ele passando pela porta e descendo as escadas. – E agora que Sesshoumaru a tem, preciso acelerar o processo. Não vou deixa-lo usar o meu prêmio.

            Curioso, Shinigami o acompanhou e Tokage também, apesar do pequeno andar receoso e hesitante. Chegando às portas do castelo, Nisshoku escancarou-as com ambas as mãos e saiu.

Shinigami não resistiu a um último comentário.

            – O desejo foi tanto que decidiu fazer o pedido de casamento pessoalmente? – falou sarcástico.

            – Pouco provável. Dizem que casamento é para sempre não é? Acho que não aceitaria um casamento curto, afinal, ela não vai durar muito depois que eu achá-la. – falou cínico.

            – Realmente... Mas eu me referia à Sesshoumaru. – um sorriso irônico inundava o rosto pálido de cicatrizes do assassino. – Vocês estão nessa dança há muito tempo, mas achei que devia saber: a dança só devia começar quando o padre termina de falar.  – Shinigami sorriu como nunca.

Nisshoku soltou uma risada seca e começou a liberar mais yoki maligno.

            – Acho que já está na hora de agradecer Sesshoumaru por ser uma pedra no meu sapato por tanto tempo. – ele desceu o capuz para cobrir-lhe  a cabeça e o yoki negro tornou-se visível. Mesmo Shinigami sentiu-se incomodado. – É realmente digno de comemoração. Uma pena que não tive tempo de comprar um anel de compromisso para ele, não acha? – apesar das palavras, sua voz saia sem humor.

            Um par de olhos vermelho encararam Shinigami com tal intensidade que ele, involuntariamente, deu um passo para trás. Seu sinistro sorriso quase desapareceu. Quase.

            – Mande meus queridos cumprimentos a ele. – falou.

            O sombrio conjurou sua grande espada negra: uma espada de duas mãos, longa e largar. Tinha uma pedra roxa brilhando no punhal com detalhes trabalhado no aço negro. A lâmina afiada brilhou contra a luz do sol.

Fechando os dedos ao redor da empunhadura, Nisshoku apoiou a longa espada no ombro e olhou de soslaio para Shinigami.

            – Pode dizer você mesmo. Vou dar a cabeça dele de presente para você. – ele sorriu tão sombrio quanto Shinigami sorria sádico.

            Em seguida, ele pôs-se a andar para longe.

Em poucos segundos estava fora de vista.

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            Tsukiyo despertou lentamente. Olhou ao redor sem entender onde estava. Quando as memórias a atingiram num turbilhão, sentiu o rosto esquentar e corar. Estava no quarto de Sesshoumaru. Não acredito que caí no sono! Num impulso, ela jogou as cobertas para o lado, parando um instante para pensar que elas não estavam ali antes. O pensamento a fez corar ainda mais. Tentando não pensar mais no assunto, foi em direção à porta.

            Ao abri-la, deparou-se com Jaken cochilando apoiado em seu próprio cajado.

            – Jaken?!

            – AHN?! O que?! Tsukiyo?! – o pequeno sapo acordou num salto, olhando para os lados imperativamente. – O que... Porque está sorrindo?!

            Ela não conseguiu esconder seu sincero sorriso.

            – Finalmente você me chamou apenas pelo nome!

            O pequeno youkai ficou um instante hipnotizado com a expressão da garota. Ele corou o máximo que sua pele esverdeada permitiu, levou uma mão à boca e pigarreou.

            – Eu apenas fui pego desprevenido! – falou se recompondo. Tsukiyo achou graça e manteve o sorriso. – Permita-me acompanhá-la até o salão de refeições, a janta será servida apenas daqui a algumas horas, mas creio que podemos abrir uma exceção e servir-lhe mais cedo.

            – Janta?! – a jovem não escondeu sua surpresa. – Que horas são?!

            – Estamos no fim da tarde, La...er, Tsukiyo. – corrigiu-se.

            – Eu dormi tanto assim?

            – Presumo que estivesse cansada da viagem.

            Tsukiyo encostou-se na parede e involuntariamente levou a mão na testa. Ela inspirou profunda e lentamente. Rapidamente se recompôs e olhou para o servo.

            – Onde está Sesshoumaru?

            – Sesshoumaru-sama está em reunião. Meu Senhor é um Lorde muito ocupado. Não tenha tempo para você. – falou conciso. – Agora, se me permite acompanhá-la...

            – Obrigada, Jaken, mas acho que tudo o que preciso agora é respirar um pouco. Tudo bem? – pediu.

            – Faça como quiser. – falou o youkai sapo, começando a se afastar. – Apenas não faça nada estúpido enquanto estiver por aí. Não cause problemas ao Sesshoumaru-sama!

            Ás vezes o youkai parecia rabugento e grosso, mas Tsukiyo percebia claramente que era uma boa pessoa e, sem nenhuma dúvida, uma pessoa muito devota a Sesshoumaru.

            Tsukiyo estava preste a caminhar quando travou. Sem graça, ela chamou o servo.

            – Ah, Jaken? – o pequeno parou por um instante. – Eu não... conheço nada aqui. Importa-se de me mostrar o lugar?

            Ela lhe enviou seu sorriso mais carismático. O youkai pareceu incerto um momento, mas logo voltou a se aproximar.

            – O que se pode fazer? Deixá-la sozinha por aí seria péssimo para a imagem de Sesshoumaru-sama.

            – Obrigada. – falou sincera.

            – Apenas me acompanhe e trate de não ficar para trás. Tenho muitos compromissos a fazer, então não me atrase ainda mais. – retrucou o pequeno com seu jeito rude/fofo que ela começara a gostar.

Tsukiyo começava a suspeitar que o pequeno ficou desse jeito depois de muita convivência com certo youkai cão.

            – Sim, senhor! – confirmou ela, seguindo o pequeno.

...

            Tsukiyo ficou impressionada com a quantidade de cômodos do lugar. Cozinhas, salões, quartos, banheiros, tinha até mesmo uma área de treinamento. O shiro de Sesshoumaru era enorme! Jaken se provou um ótimo guia, apesar de comentários de exaltação ao “grande” Sesshoumaru que ela já se cansara de ouvir. Acho que agora sei porquê ele é tão irritantemente arrogante. Com um servo desses eu também seria.

            – E aqui é o jardim particular e área de descanso de Sesshoumaru. É um excelente lugar para relaxar e...

            O pequeno continuou falando, mas Tsukiyo deixou de prestar atenção no momento em que seus olhos avistaram o local. É lindo! Havia duas árvores enormes de cerejeiras, carregadas com milhares de pétalas cor de rosa. A grama era baixa e de um verde vivo, para completar havia um pequeno laguinho com uma ponte simples para atravessá-lo. O vento atingiu as árvores e algumas pétalas se soltaram, acompanhando a corrente, era o perfeito contraste com o céu alaranjado do final da tarde.

            – Ei! Tsukiyo!

            A jovem fechou a boca logo que percebeu que estava de queixo caído. O chamado vinha de Hiryu sentado em um banco de pedra em frente as cerejeiras. O ruivo acenava e sorria para ela, mais adiante, sentados na grama encostados numa das árvores, estavam Tsubasa e Arashi lado a lado.

            – Venha, junte-se a nós! – chamou o youkai dragão.

            Esquecendo-se completamente de Jaken, Tsukiyo avançou com receio. Gostava dos generais, mas se preocupava com o que pensariam dela. Fez um reverencia respeitosa aos presentes e, timidamente, ela se aproximou.

Hiryu indicou o lugar ao lado dele para que sentasse.

            – Vamos, vamos. Não precisa dessa formalidade. – falou ele dispensando sua mesura. – Aqui, tome. Beba um pouco de saquê conosco.

            Ele lhe ofereceu um copo próprio para ela beber e colocou a bebida. Ela aceitou educadamente e tomou um leve gole.

            – Viu?! Eu disse que ela beberia. – vangloriou-se o ruivo para os outros.

            – Você a pressionou para isso. – retrucou Arashi. Com um suspiro, a loira se virou para ela. – Não precisa beber se não quiser.

            – N-não tem problema. O-o que estão fazendo aqui?  – perguntou acanhada. – Pensei que estivessem em reunião.

            – Hunpf. – exclamou Hiryu enchendo mais um copo para si e jogando a garra para Arashi que pegou com maestria – Sesshoumaru e Suiryu estão cuidando de tudo. Aparentemente não temos paciência para a parte econômica.

            – Bem, desde o início eu só me comprometi com a parte da guerra. – esclareceu Arashi, dando mais um gole na garrafa.

            – Eu não me importo muito, mas já estava entediado naquela sala. – falou Hiryu.

            Todos riram do comentário e Tsukiyo começou a sentir-se mais relaxada. O clima descontraído ajudava a se sentir mais à vontade.

            – E você Tsubasa-san? – perguntou.

            – Hm, apenas Tsubasa está bom, não precisa de toda essa formalidade. – ele sorriu e Tsukiyo acatou seu pedido, concordando com a cabeça. A cada momento gostava mais desses generais. – Ah, geralmente eu ajudo nessa parte, mas acharam que eu seria mais útil cuidando para que esses dois aqui não entrassem em mais nenhuma briga. – sorriu sem graça.

            Ambos gargalharam. Tsukiyo lembrava-se do ocorrido no dia anterior e concluiu que ele realmente ajudaria mais impedindo que esses dois se matassem. Hiryu e Arashi trocaram olhares faiscantes. Percebendo isso, Tsubasa passou seu braço pelo ombro da guerreira, o que pareceu diminuir consideravelmente sua raiva.

            – Mas diga: como está se sentindo, Tsukiyo?  – perguntou Tsubasa, abafando a possível briga dos outros dois. – Ficamos sabendo dos seus ferimentos.

            – Ah. – exclamou ligeiramente surpresa, levando a mão involuntariamente ao local onde, agora, só jazia a cicatriz. – Muito bem, obrigada.

            O youkai águia sorriu e ela não resistiu a acompanhá-lo. Ele era bem carismático e educado.

Arashi a olhou e sorriu, dizendo:

            – Dá para ver só de olhar para você que é uma guerreira nata. – falou orgulhosa. – Encarar um youkai como Shinigami não é algo que qualquer um faria. Tem meu respeito por não fraquejar durante a batalha.

            – Ahn... – ela corou levemente com o elogio. – Bem, não sei se diria nata, mas, até hoje, me virei bem com uma espada. – admitiu humilde.

            – Hm, então você é de espadas, hein? – comentou Tsubasa. – Já eu prefiro a lança.

            – Me viro com qualquer arma. – falou Arashi passando a vez para Hiryu, que disse:

            – Também uso espadas, mas posso me virar com outras armas. – era evidente que não queria ser deixado para trás por Arashi.

            – Imagino... – falou Tsukiyo, mas logo se corrigiu pensando ter soado petulante. – Quer dizer, vocês são lendas! Só posso imaginar o quão fortes são...

            – Se algum dia quiser dicas de combate, sabe onde nos achar. – falou Hiryu amigável.

            – É muito educado de sua parte, mas somos guerreiros. Apenas isso. – corrigiu Tsubasa com modéstia.

            – Mas são os generais de Sesshoumaru. – falou ela. – Acho que isso vale alguma coisa. Mas confesso que as lendas não falam muito de seus nomes. Eu só conhecia o seu Arashi-dono. – a imagem de Wendy segurando um par de adagas pela primeira vez passou por sua mente. – E isso porque uma amiga se inspirava em você e quis saber mais sobre a general das Terras do Oeste. Ela dizia que queria ser forte como você quando crescesse.

            – Tsc. Infelizmente sua amiga tem mau-gosto. – reclamou Hiryu.

            Antes que pudesse se dar conta do que falara, uma garrafa vazia atingiu sua cabeça. Arashi, quem jogara o objeto, voltou a ignorar Hiryu e sorriu para Tsukiyo.

            – Fico lisonjeada. – falou a loira. – Espero estar à altura das expectativas.

            – Disso eu não tenho dúvida. – respondeu Tsukiyo, feliz por nenhum ter se aprofundado no assunto e perguntado da amiga.

            – Sabe, Tsukiyo? Sabemos que muitos têm essa ilusão de nós, e os rumores não ajudam, mas também é difícil para nós. Podemos ser fortes, mas não somos invencíveis. – revelou Tsubasa. –  Não chegamos onde estamos sem muito treino e dedicação.

            – Fale por você, eu sou incrível. – retrucou, Hiryu, já alterado pelo saquê.

            Tsukiyo voltou a rir quando Tsubasa segurou Arashi pelos braços para impedi-la de avançar no ruivo que encarava o copo, despreocupado. Tentando ajudar o youkai águia, a jovem tentou mudar o assunto.

            – Só posso imaginar as técnicas que sabem... Nunca tive um instrutor, então, me virei observando combatentes e tentando reproduzir uma ou outra técnica que se encaixava no meu perfil. Mas ainda falta muito para eu poder dizer que sei manejar corretamente uma espada.

            Sua confissão atraiu a atenção da youkai loira.

            – Hm... Venha treinar um dia comigo. – sugeriu Arashi. – Parece ter potencial e eu apreciaria muito ganhar mais uma guerreira entre minhas tropas.

            – Eu agradeço muito o convite. – respondeu educadamente.

            Arashi lhe sorriu e terminou num só gole meia garrafa de saquê, fazendo sinal par que lhe trouxessem outra. Percebendo os três ali, a sua frente, uma curiosidade invadiu a cabeça de Tsukiyo. Tsubasa, perspicaz como era, percebeu a dúvida pairando seus olhos.

            – O que foi?

            – N-não é nada! – balançou as mãos freneticamente. – É apenas bobagem minha.

            – Vamos, Tsukiyo-chan! – falou Hiryu dando tapinhas de leve no seu ombro. – Pode nos perguntar o que quiser!

Tsukiyo se ajeitou no banco e encarou os generais.

            – Ah, eu... C-como vocês conheceram Sesshoumaru? – perguntou curiosa.

            Eles se entreolharam por um instante e riram como numa piada interna. Tsukiyo esperou pacientemente a resposta. Os viu trocarem olhares e logo, Tsubasa se manifestou:

            – Certo, eu começo. Bem... – ele parou um segundo para colocar os pensamentos em ordem. – Tudo começou quando o clã das serpentes invadiu o território do meu clã. Isso era bem antes de Sesshoumaru ser o Senhor das Terras do Oeste. Na época, ele era apenas o herdeiro de seu clã. Então, durante a invasão, Sesshoumaru...

            Assim, os três generais contaram suas histórias. Tsukiyo ouviu com grande atenção e curiosidade. Juntos, os quatro riam, discutiam e acabaram com mais uma garrafa de saquê. Foi um momento verdadeiramente agradável e Tsukiyo ficou feliz por participar dele. Começou a compreender mais dos generais e se aproximou um pouco mais deles.

            – Lembra-se daquele cara? – perguntava, Hiryu, eufórico para os demais. – Apenas com metade de uma espada e um sapato na mão eu derrotei o maldito e seu exército.

            – Não confie nele, Tsukiyo. – avisou Arashi. – Não foi bem assim que aconteceu. Na verdade...

            Ela nunca chegou a contar, pois foi logo interrompido.

            – Vejo que estão se dando bem.

            Os quatro se viraram para encarar Sesshoumaru e Suiryu que acabaram de chegar. Era estranho ver que ambos mantinham a mesma expressão indiferente no olhar e, ao mesmo tempo, tinham nos olhos um brilho divertido. O contraste chegava a ser cômico, mesmo com as expressões idênticas, um era revestido completamente de preto enquanto o outro reluzia em branco e prata.

            – Finalmente acabaram, hein? – começou Hiryu. – Fiquei imaginando quando se juntariam a nós. Vamos, se acomodem aí. Jaken! Traga mais uma garrafa!

            – Humpf. Espalhafatoso como sempre, Hiryu. – repreendeu-o Sesshoumaru.

Suiryu sentou-se na grama, próximo do pequeno lago, na diagonal de Tsubasa e Arashi. Já Sesshoumaru, sentou-se entre Hiryu e Tsukiyo, aproveitando para confiscar a garrafa do ruivo.

— Quantas garrafas já foram?

            – Ei, o que posso fazer? Arashi bebe metade sozinha. – argumentou.

            – Não jogue a culpa em mim. – falou ela. – Você nos chamou para beber. Mas, pelo visto, não aguenta beber nada na verdade.

— Estávamos contando a Tsukiyo como conhecemos você, Sesshoumaru. – Tsubasa habilmente desviou o assunto.

— Hm. – Sesshoumaru olhou para Tsukiyo. – Espero que não estejam se exibindo demais.

— O que pensa que nós somos? – perguntou o ruivo levando teatralmente a mão aberta ao peito. – Contamos apenas a verdade.

— Com algumas modificações suas, não é, Hiryu?

— Ei, toda história precisa de alguns efeitos para se tornar mais interessante. – destituiu-se de culpa.

— Suiryu, por que não conta para ela? – instigou Tsubasa.

— Como conheci Sesshoumaru? – o youkai soturno colocou um punhado modesto de saquê no copo. – Hm, vejamos...

Assim seguiu-se a conversa. Suiryu contou formalmente sua história, sendo constantemente interrompido por Hiryu que acrescentava um detalhe qualquer apenas para irritar Sesshoumaru. O Lorde pouco pareceu dar importância, mas Tsukiyo percebia que ficava mais irritado a cada comentário.

Tudo corria bem, até a conversa tomar um rumo não muito desejado.

— Então, Tsukiyo, como conheceu Sesshoumaru? Foi durante sua viagem, não foi?

Ela foi pega de surpresa pela pergunta de Hiryu. Ele lançou um olhar a Sesshoumaru que ela não soube interpretar. Não que ela pudesse dizer com certeza, pois o youkai dragão já estava completamente bêbado pelo saquê que não parava de tomar.

— Eu... ahn... – ela olhou confusa para o youkai cão numa pergunta silenciosa sobre o quanto ela poderia revelar daquilo tudo.

Em resposta, ele se levantou e disse:

— Acho que chega por hoje. Se beberem mais um pouco, não conseguirão comparecer à reunião final amanhã bem cedo.

Tsubasa logo se levantou e puxou Arashi consigo, entrando logo no jogo de Sesshoumaru para evitar confusões. Era óbvio que os generais desconfiavam de algo, mas dois deles estavam muito alterados para afirmar qualquer coisa.

Se Sesshoumaru havia definido um limite, eles respeitariam sem questionar.

— Realmente já está tarde. – falou o youkai águia. – Bem, desejo-lhes uma boa noite.

Com isso, ele foi levando Arashi pela cintura em direção ao interior do shiro. A guerreira estava, muito mais do que andando, sendo carregado pelo youkai. Suiryu, sem nenhuma cerimônia, se levantou e puxou um Hiryu embriagado consigo.

— Vou trancá-lo no quarto. – falou Suiryu para Sesshoumaru. – Não seria bom se ele fugisse bêbado novamente.

— Concordo. Da última vez nos rendeu um mês e meio de dores de cabeça. – falou Sesshoumaru. – Não quero mais nenhum documento para lidar.

Suiryu começou a caminhar para o shiro arrastando Hiryu pela gola de trás do quimono. O youkai dragão estava abraçado com a garrafa de saquê e com as bochechas avermelhadas que só realçavam seus cabelos vermelhos.

— Aaahhh, isso não é justo... – reclamou, emburrado como criança. – Eu queria ouvir a história...

Tsukiyo riu do youkai até que eles sumissem de vista. Agora, só restavam ela e Sesshoumaru.

— Parece que se aproximou deles. – falou indiferente.

— É, acho que sim. – ela sorriu. – Eles são divertidos, bem diferentes de você.

Sesshoumaru a olhou por um instante e logo se virou para sair.

— É melhor dormir. Amanhã, sairemos para concertar sua espada logo depois da reunião.

Tsukiyo se espantou com a informação.

— Eles concordaram em deixar você ir? Sério, Sesshoumaru, você não tem que...

— Já disse que o farei. – cortou conciso. – Eles sabem que sairei em viagem por um curto período de tempo. Não demorará muito.

Tsukiyo concordou com a cabeça, desistindo de convencê-lo que era desnecessário. Quando o youkai começou a ser afastar, Tsukiyo se deu conta de algo. Depois de ouvir sobre como todos conheceram o youkai, ela ficou curiosa sobre algo mais. A conversa da noite passada com Jaken lhe voltou à mente, mas ela ainda não possuía a coragem de pedir o que realmente queria, porque sabia que poderia machucar o Lorde. Contudo, Tsukiyo sentia que precisava saber. Mas será que eu realmente posso exigir algo assim?

Havia algo que gostaria de pedia a Sesshoumaru, mas não sabia se ele consentiria.

— Certo. Se quer fazê-lo, não vou impedi-lo, mas... m-mas eu tenho um pedido para fazer. – falou ainda meio incerta. – E depois dele, estaremos completamente quites, então não me deverá mais nada.

O youkai se virou para olhá-la. Sesshoumaru tinha surpresa em seus olhos quando viu a hesitação da jovem.

— Que pedido? – perguntou devagar.

Tsukiyo inspirou fundo. Era algo que se achava no direito de pedir em vista a tudo o que aconteceu, mas receava trazer dor a Sesshoumaru. Na verdade, ela não pediria exatamente o que gostaria, mas encontrou algo que talvez fosse possível. Ela parou um instante para pensar, o que deixou o youkai mais preocupado.

Tomando coragem, Tsukiyo soltou seu pedido num só fôlego.

— Eu quero visitar o túmulo de Rin.

Nisshoku.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor, deixem suas opiniões xD