Desastre. escrita por Siandra


Capítulo 1
One-Shot




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Tudo o que eu quero é que tudo seja simples. Sabe? Um único desejo?

Tão simples como se não houvesse tanta opinião no mundo.

Não deixo de me sentir culpada por estar delirando aqui enquanto alguns quilômetros mais a frente tem alguém chorando, gritando, berrando por comida. Por direitos. Por dor.

A dor de verdade, digo.

Não essa ilusão que não dói de verdade. Só entorpece. Certeza que passa com um analgésico ou duas consultas com Doctor.Wherever. Não vou minimizar sua dor. Lógico que pode continuar chamando namoradas autossuficientes, filhos rebeldes, e braços quebrados que são concertados na mesma hora com passeios no helicóptero do convenio ou algo assim de dor. Mas culpa passa, né amigo?

Enfim, não que estejamos falando de mim ou de você ou de qualquer dor. Agente estava falando das opiniões. Fazer o que se o mundo precisa de opinião. Talvez se houvesse respeito as opiniões seriam uma coisa boa... mudanças seriam aceitas e não morreriam milhares de pessoas por isso. Mas é um sonho. Sei lá. Parece um sonho perfeito demais para humanos tornarem realidade.

Tantos pequenos universos convivendo em um planeta tão pequeno não daria certo de qualquer forma. O suposto onipresente/onisciente Deus deveria saber disso. Deveria também saber que parte das mortes foi culpa dele. Eu sempre fico sentimental quando imagino quantos sonhos e projetos, quantas mentes brilhantes ou não, quantos futuros e passados foram simplesmente destruídos com guerras. Mas não se trata de como eu me sinto. Isso está acontecendo agora mesmo, provavelmente, e eu só escrevo. E nem ao menos escrevo sobre uma solução. Escrevo só o fato. Mas não se trata de mim. São só pelo menos dois milhões de crianças mortas. Dois milhões de futuros. Alguns outros 20 milhões de futuros ameaçados, esquartejados, torturados e recrutados. Isso sem contar algumas outras consequências... 22000000. 6 zeros. Não são zeros, só são mais sonhos destruídos porém disfarçados. 22000000. Lide com isso. Seis zeros. Não se trata de mim. Só de uma quantidade inquietante de zeros.

Isso é só a guerra. Só um censo que pode não estar certo. E nem esclareço de que guerra estou falando. Lide com isso e finja estar agradecido com seus filhos comendo cereais coloridos no café da manhã. Não se trata de você. Continue ignorando que ainda é uma realidade. Que coisas piores que isso são realidade. Você não tem que lidar com isso. São só seis zeros. Até contas bancárias de jogadores esportivos são mais altas que isso. Seis zeros e um 22 na frente. Que se dane a guerra. Que se dane sonhos. Que se dane sorrisos. Que se dane qualquer coisa que poderia ter acontecido. Boa ou ruim. Você até pode se sentir melhor se pensar que um futuro Hitler poderia estar entre a pilha de mortos queimada sem cerimônia ou despedida. Pilha essa que provavelmente foi cuspida e pisoteada antes de terminar de queimar. Aposto que esses caras e os caras do banho já tinham desistido da chance de viver. O último pingo de esperança evaporou com a primeira gota de ácido ou o primeiro fósforo riscado. Aposta? Se não foi assim pode ter sido até no primeiro tiro. Com o primeiro cara da fila caindo direto na cova rasa.

Mas vamos lá, amigo! Esqueça isso. É só a guerra. E você pode usar fósforos para acender a churrasqueira próximo domingo. A não. Somo mais tecnológicos que isso. Você vai usar um acendedor incrível que comprou para usar uma dúzia de vezes antes de desistir das festas na churrasqueira. Afinal, para que churrasco de você pode encomendar pizza? Os amigos que não te conhecem podem se virar com pizza. E seu chefe que se contente com macarrão italiano de sua linda esposa. Que se dane o plástico e o dinheiro. Dinheiro é fácil. É só se vender mais um pouco em um escritório, edifício ou barco qualquer. E o plastico que não vai ser reciclado? Que seja.Vamos sorrir e brincar de drama.


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Notas finais do capítulo

Não é uma ficção.



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