Let it be escrita por Algodão doce


Capítulo 18
Discuto sobre política e outras coisas esquisitas.


Notas iniciais do capítulo

Eu TENTEI fazer esse capítulo ficar fofo, mas sei não... Bem, tirem suas conclusões. Boa leitura!



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Passei o fim de semana dando gelo na Melissa, que me fez ficar horas presa em um mini-ambiente com o Jake e ainda falou para o meu pai que eu estava namorando. Mas domingo fui convidada para o aniversário do Pedro, meu quase-vizinho, e a Mel estaria lá, obvio. A festa seria terça-feira à tarde, e eu poderia levar companhia se quisesse (foi o que o próprio Pedro idiota disse. Aposto que a Mel que mandou ele falar isso, humf). Eu não ia levar ninguém, mas sabia que minha mãe me obrigaria a ir. Então segunda depois da aula fui encarregada de comprar um presente. Chamei o Bruno e o Marcos (vulgo Zac Efron) para me ajudarem a escolher alguma coisa.

– Eu pensei em aqueles gibizinhos ao contrário, que os chineses fazem. – falei.

– Mangás. – o Marcos disse.

– E são japoneses. – o Bruno completou.

– É, da na mesma. Vamos à livraria?

– É claro, amoreco. – o Marcos falou - E esse lance de você ser modelo?

– Farei uma sessão de fotos sábado!

– Ahazza, amiga! – o Marcos exclamou. Ele é bem animado.

– Pode crer que eu vou, baby!

– Ai, vocês dois. – o Bruno resmungou.

– Esquenta não, ele é ciumento. – o Marcos disse – Awn, vem cá docinho.

Certo, sair com o Bruno e o Marcos é sinônimo de segurar vela. E é meio difícil agir normalmente com dois caras lindos ao seu lado, mas, bem, eles são companhias agradáveis. Optei por comprar um livro em quadrinhos para o Pedro, e em seguida fui para casa. Tinha umas centenas de mensagens da Melissa no whats app, que eu ignorei lindamente. Havia também umas mensagens de texto do Augusto, admirador secreto.

“Olá, Alice. Estive pensando em você o dia todo.”, ele havia escrito, e isso era realmente meio assustador. Tipo, literalmente o dia todo? O dia todo?! Mas eu respondi:

“Humm. Então, como vai?”

“Bem.”

As nossas conversas se resumiam a isso, e estava ficando bem chato. Então, decidi por um ponto final.

“Ei. Eu queria muito te conhecer pessoalmente, e já que estudamos na mesma escola... Que tal amanhã na hora do intervalo nos encontramos na biblioteca?” eu escrevi, e ele topou. Talvez o Augusto fosse mais legal pessoalmente. Ou bonito. A segunda opção já servia bastante, na verdade. Resolvi estudar para os testes que estavam para acontecer, e realmente me dediquei a isso o dia todo. Mas minha mente insistia em sobrevoar para longe. Fiquei imaginando como ser o Augusto. Nos meus pensamentos ele era meio nerd, com óculos de lentes quadradas e cabelo penteado para trás.

* * *

A aula passou devagar, muito mais do que o normal. Quando tocou para o intervalo quase que eu gritava um “aleluia!”. O Jake estava super animado conversando com a Valentina, e eu passei pelos dois como quem não quer nada, mas pude ouvir uma parte da conversa. Eles estão se dando bem agora. Não que eu esteja com ciúmes ou algo assim, mas eu ainda acho que eles não combinam tipo, nada. Então, subi animada para a biblioteca, sem nem mesmo lanchar. Estava vazia. Esperei um tempinho, folheando uma revista super chata sobre política. Entrou na biblioteca um grupo de garotas mais velhas, e só. Ai, faltando dois minutos para tocar, um garoto ruivo e sardento apareceu. Mas é claro que ele não era o Augusto, porque ele era o Luis. Tipo, o namorado da Athena de cabelo azul. Porém, mesmo assim, ele veio em minha direção e disse:

– Oi.

– Oi? – perguntei, literalmente muito confusa.

– Tenho um recado para você.

– Ah. – eu disse - Diz aí.

– Imagino que você estivesse esperando o Augusto.

– Sim. Por muito tempo. Com fome. Cansada. E, bem, na verdade eu descobri um pouco mais sobre política, o que não é totalmente ruim. Tipo, concordo que os jovens devem usar o seu direito de voto, procurando votar naqueles candidatos que parecem mais justos, mas mesmo assim, é uma enganação total. Os políticos chegam lá com suas propostas e prometem melhorar, aí você confia, é claro, porque ai ele parecia ser tão sério e comprometido e blá blá, mas no fim você descobre que aquele candidato, agora eleito, é um completo idiota. Ok, os jovens devem saber votar, mas o governo também deve saber governar, entende?

– É. É, eu entendo. A situação política no nosso país é alarmante. – ele disse, e eu assenti com a cabeça. – Mas estou aqui para te pedir oficialmente desculpas.

– Pelo que?

– O Augusto não era real, Alice. Foi uma invenção da Athena e da Priscila. Elas fizeram isso para tirar onda com a sua cara, e foi completamente errado, eu sei. Mas elas não estiveram dispostas a vim aqui e assumir o seu erro. Então eu vim. E sinto muito.

– Ah. – falei. – Bem, obrigada. Você pode ir. Eu quero ficar sozinha por uns minutos, tudo bem?

– Sim. Mas a aula já deve ter começado...

– Tudo bem, é só matemática agora. – eu disse, e revirei os olhos. – Um tédio.

– Você está bem?

– Não exatamente, mas vou ficar.

Ok, o Augusto não existia. Ok, eu meio que imaginava isso, mas tipo... A realidade é tão mais cruel. Depois de meio segundo a mulherzinha da biblioteca literalmente me expulsou de lá (“querida, sua aula começou” aí eu disse “é, eu sei” e aí ela disse “então eu acho que você deveria estar lá” aí eu disse “mas eu não quero” e aí ela disse “eu também não queria ser um solteirona que mora com os pais e seis gatos, mas querer não é poder. Vá agora!”) e eu me estabeleci no corredor da biblioteca, abraçando meus joelhos. O dragão ocidental apareceu tipo uns cinco minutos depois, e nessa hora eu já estava meio que chorando.

– Ei. – ele falou, se sentando ao meu lado. – O que houve?

– Você sabe o que houve. – retruquei. – Senão, porque estaria aqui? O ruivo sardento fofoqueiro te contou.

– É.

– E o que você acha?

– Acho que foi muito chato da parte da Athena e da Priscila.

– É.

– Mas você não deveria estar triste. Você não gostava daquele “cara” – ele disse, fazendo aspas com os dedos quando disse o nome cara – mesmo, gostava?

– Não. - eu disse, choramingando. – Mas eu gostava de ser gostada.

– Mas você ainda é gostada. – ele contestou, sorrindo. – Seus pais gostam de você...

– Na verdade, não tenho muita certeza disso.

– Ah, por favor. Se eles não gostassem de você teriam a jogado no lixo. A deixariam em um orfanato. Largariam você em canto.

– É, talvez. Eu trago muitas despesas. – falei, dando um breve sorriso.

– Exatamente. E os seus amigos gostam de você. A Melissa...

– Está vendo só? Sua lista acaba aí. Até porque a Melissa é minha única amiga. Quer dizer, tem o Bruno e o Marcos também, mas às vezes tenho a impressão que eles gostam mais do meu cabelo do que de mim. O Marcos queria que eu o cortasse e doasse para ele fazer um mega hair.

– O que? Ah, esquece. Chega, ta legal? Sem auto depreciação pro meu lado.

– Eu quero ficar sozinha. – resmunguei. Mas antes que ele pudesse falar qualquer coisa, eu exclamei: - E nem vem dizer que querer não é poder.

– Ta. Então tchau. – o Jake falou, se levantando. E, certo, eu sei que eu disse que queria ficar sozinha, mas pensei que no mínimo ele iria dizer “ah, nem pensar, não vou deixar uma jovenzinha em prantos sozinha no corredor de uma biblioteca”. Não se fazem mais cavalheiros como antigamente.

– Ei! Não vá embora, seu retardado!

– O que você disse? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha. Imbecil.

– Eu disse, oh, querido, preciso de você. Não se vá, por favor. Você é o leite condensado da minha salada, a granola do meu açaí, e eu preciso de você. Preciso de você como meus pulmões necessitam de oxigênio, e como as baleias necessitam de ser salvas. Preciso de você porque...

– Ei.- ele interrompeu. – Ok, já entendi. Você precisa de mim.

– Não exatamente. Mas, de qualquer forma, não quero ficar aqui sozinha.

– Já pensou em ser atriz?

– Penso nisso todos os dias. Acho que vou começar a fazer teatro, na verdade.

– Boa sorte.

– Obrigada. – eu disse, e aí o maluco do dragão ocidental começou a rir. Depois de tipo uns três minutos, em que eu fiquei séria e cutucando o Jake, ele parou de dar risada. – Qual o seu problema, mané?

– Nada. É que eu nunca imaginei que te veria assim.

– Assim como?

– Humm.

– Humm o que? – eu perguntei, um pouco alto demais. Então a moçinha da biblioteca saiu de lá e nos encarou como se fossemos dois alienígenas. Estávamos fritos. Ela veio andando até nós, cada passo mais assustador que o outro. Eu estava pronta para virar espetinho de Alice, mas o Jake parecia... Relaxado.

– Ei! O que os dois estão fazendo aí?! – ela perguntou, com sua voz esganiçada de gente velha. Então o Jake disse “deixa que eu resolvo isso” e simplesmente foi lá falar com a cara de coruja. O que ele estava fazendo, planejando uma maneira menos dolorosa de morrer? A mulher, que tinha muitas rugas – cá entre nós, ela estava precisando de uns cremizinhos – parecia contente e estava toda abobalhada, enrolando o cabelo nos dedos e dando sorrisinhos. Eu hein. Quando o dragão ocidental voltou, a mulher tinha retornado ao seu trabalho, exclamei:

– Meus duendes! O que acabou de acontecer?

– Acho que ela foi com a minha cara.

– Ah, sério? – provoquei, e ele simplesmente deu de ombros. – Agora fale. Porque você estava rindo, hein?

– É só que eu nunca te imaginei chorando por causa de um cara.

– Eu não estava... Não vou discutir com você. Mesmo. Na verdade, vou só ouvir música.

– Ta. Mas eu escolho a música.

– Que seja. – respondi, e ele pegou o seu celular. O Jake colocou uma música do Pink floid, wish you were here, que era até fofinha. – Observação: Matar aula na própria escola às vezes até que da certo. Mas, tipo, o que vamos dizer quando voltarmos para a sala?

– Você pode dizer que não estava se sentindo bem, o que é verdade, não é? E eu digo que não queria te deixar sozinha.

– Ei. – falei – Você e a Valentina...

– Ela é legal. Bem legal.

– Mas você não gosta dela, não é?

– Por quê?

– Porque sim.

– Eu não sei. Ela é simpática, se preocupa com causas ambientalistas e tudo mais, do tipo, ei, preservem as florestas! E também é vegetariana, sabe? Gosta de animais e tal. Seus pais, bem, faleceram, e ela mora com os tios que são meio hippies, mas mesmo assim mantém um estilo meio de... Rockeira rebelde? E ela curte as bandas que eu gosto, de iron maiden até os Beatles. Mas não sei se gosto dela como achei que ia gostar. É confuso?

– Um pouco.

– É. Talvez eu tenha uma sina de gostar só de pessoas irritantes.

– O que? – perguntei, e minha voz meio que saiu fraca. Se, tipo, o dragão ocidental não gosta da Valentina, de quem ele gosta? Eu já estava para questionar isso, quando reparei que estávamos, tipo, perto demais. A música chegou ao seu refrão. – Hã, Jake...

Então o dragão ocidental segurou meu rosto com delicadeza, como seu eu fosse feita de porcelana, e aproximou seus lábios dos meus. Foi um beijo rápido, doce e... Ual. E o mais estranho? Eu queria que ele continuasse. Para sempre.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? :O