Apaixonados por maçãs escrita por Caramelkitty


Capítulo 4
Chantagem, traição e uma maçã podre


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas voltei!
Aqui, mais um capítulo fresquinho com muitos mistérios a serem levantados:



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Ryuuku caminhava lentamente pela rua deserta.

Ainda não se acostumara ao corpo do Raito por isso o seu andar era bamboleante e já tinha caído duas vezes ao tentar elevar-se no céu sem nuvens e sentir com toda a força a falta das asas. Com o passar dos minutos a ato de caminhar deixou de ser um problema, Raito tinha de fato um corpo forte, além das boas notas ele também era bom no desporto.

Relembrou aquela manhã. Custara muito a acordar, gostara da sensação de dormir, mas acordar era terrível. Raito (no corpo de Ryuuku) teve de lhe despejar um balde de água gelada em cima. Depois de muitas ameaças e recomendações, lançou-se pela janela e desapareceu no horizonte, batendo as asas pretas. Ele encaixara-se de imediato no perfil de um shinigami. Não tivera de se habituar a voar, ganhara-o como dom natural. Claro, Raito era perfeito em tudo o que fazia. Nem deixava qualquer emoção atrapalhar a sua missão do mundo de esplendor. Qualquer ser humano devia sentir, pelo menos, qualquer ponta de remorso. Mas remorso era um sentimento que Ryuuku nunca tinha visto no semblante de Raito.

Estava perdido em pensamentos mas logo voltou à realidade quando um perfume familiar lhe fez sentir o estômago dar uma volta. Agora se era fome ou outra coisa ele já não sabia dizer ao certo. A única coisa que podia constatar era que a doce Kaori acabara de se sentar ao seu lado na carteira. Claro, aula de biologia ao primeiro tempo todas as quartas-feiras.

Ryuuku pensou em mil maneiras de a cumprimentar, mas depois decidiu-se pelo mais simples:

– Olá Kaori!

Prendeu inconscientemente a respiração quando ela se voltou com os olhos verdes repletos de surpresa. Trazia hoje uma vestido de alças vermelho que não era curto nem comprido. Ryuuku procurou e logo achou a analogia de hoje: o gancho, que tentava inutilmente alisar os cabelos loiros revoltos, tinha a forma de uma maçã e delineações douradas.

– R-raito?! Estás a cumprimentar-me?

– Bem, sim, és a única Kaori na turma!

Ela acenou em concordância, levemente corada.

– O que aconteceu com a tua voz? Está... diferente!

Ryuuku engoliu em seco tentando arranjar uma desculpa que parecesse sincera. Se ao menos fosse tão rápido a pôr o cérebro a trabalhar como Raito. É que apesar dos corpos trocados, as vozes continuavam as mesmas. A do original shinigami era muito diferente da voz de Raito. Era muito mais grave e rouca enquanto que a voz de Yagami Light era clara e suave.

– É que eu estou meio constipado! – Tentou explicar o shinigami.

Ryuuku pensava que iria ser muito difícil conversar com Kaori, que teria de medir cada palavra. Tinha planeado inúmeras falas mas só chegou a utilizar a primeira porque a conversa fluía naturalmente. Quem diria que Ryuuku se identificaria tanto com a humana. Partilhando interesses semelhantes e opiniões que pouco divergiam. O assunto Kira não foi abordado, embora não se falasse de outra coisa naquela e nas outras escolas. E não só nos estabelecimentos de ensino, nas ruas, nas estações de comboio, na televisão...

«Raito queria ser um Deus, pelo menos está a tornar-se tão falado quanto um!» Pensava o shinigami.

– Ei, Kaori, queres sair depois das aulas? – Perguntou Ryuuku subitamente o que deixou Kaori ainda mais surpresa. – Sabes, há uma novidade no cinema... pipocas com sabor maçã. Deve ser interessante...

«Ela vai recusar! Depois de tantas vezes que o Raito a destratou ela vai recusar de certeza!»

Mas Kaori não era o tipo de rapariga que guardava rancores.

– Acho uma ideia fantástica, mas depois é a minha vez de sugerir o local.

«Yes! Está tudo a correr bem! Raito vai matar-me mais tarde por eu ter saído com a Kaori, mas depois eu resolvo.»

Estava Ryuuku numa dancinha interior de vitória quando o professor se vira para ele e pede numa voz autoritária e impiedosa que só os professores conseguem ter.

– Senhor Yagami, como é constituído o cloroplasto?

A expressão de Ryuuku, ou melhor, de Raito, encheu-se de dúvida. Alguém podia desenhar na sua cabeça um grande ponto de interrogação que não ficaria deslocado. Cloro... o quê?

Kaori sabia responder, mas não tinha coragem de pedir licença para responder e já vários outros braços se erguiam.

– Eu não sei, professor. – O queixo do homem pendeu. Pendeu mesmo, quase chegava ao chão. O perfeito Yagami Light não sabia responder a uma pergunta tão básica? Kaori, motivada por um qualquer pretexto acabou por também elevar o braço e o professor, que ainda estava demasiado abalado deu palavra à Kaori e sentou-se numa cadeira a arfar como se todo o oxigênio do mundo tivesse desaparecido.

– O cloroplasto é um organelo exclusivo das plantas que serve para realizar a fotossíntese. Tem DNA próprio, dupla camada e ribossomas. No seu interior existe a grana, que é o conjunto dos granum. Cada granum é constituído por tilacóides. O citoplasma do cloroplasto é chamado estroma e contem clorofila.

O professor atribuiu uma nota na sua caderneta de registros e dispensou a turma mais cedo.

Todos correram para a saída menos Ryuuku e Kaori que apenas caminharam calmamente em direção ao portão de saída da escola.

– Raito, espera um pouco! Tenho de ir à casa de banho!

Ryuuku tomou a iniciativa de lhe segurar a mala e lá foi ela correndo naquela sua maneira típica que mais parecia saltitar a cada dois passos. A magnificência do vestido só se notava de longe, porque esvoaçava como uma cauda colorida tornando Kaori reconhecível a qualquer distância.

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Kaori entrou na casa de banho das raparigas e encostou-se na parede de azulejos com as mãos a apertarem o peito onde o coração batia a galope.

Raito tinha-a convidado para sair! Kaori esperava por este momento há três anos. Sempre tivera, como muitas das suas amigas, uma quedinha pelo perfeito Yagami Light, com os seus cabelos alourados quase a caírem para o ruivo, os seus olhos alaranjados, a sua inteligência sem par, a forma como se arranjava. Parecia para muitas o príncipe encantado.

«Mas ele está diferente!» Kaori, mesmo no meio do delírio em que estava mergulhada,tinha percebido. E a diferença estava muito para além da mudança da voz. A personalidade de Raito estava diferente. O antigo Raito nunca a convidaria para sair, nunca riria com ela, nunca demonstraria interesse nela e nunca compreendera a sua paixão pelo fruto vermelho e doce.

«É de fato muito intrigante...»

O pai sempre lhe dissera que as pessoas não mudavam de um dia para o outro. Quando o faziam era porque tinham um objetivo além.

«Papai, o que me dirias se soubesses que vou sair com o Raito? Tu nunca gostaste dele!»

Nesse momento a porta da casa de banho abriu-se e fechou-se com estrondo.

Podia ter sido simplesmente o vento, mas as vozes que se seguiram, eliminaram a possibilidade.

– Olha, olha, a maçã podre! Caíste de alguma macieira, nanica?!

Kaori arrepiou-se ao reconhecer a voz. Era uma das líderes de torcida. Tinha um longo cabelo negro que ia até à cintura, olhos cinzentos e corpo escultural. Ela e o seu grupo de amigas nunca tinham gostado de Kaori mas sempre a tinham ignorado... até agora.

– Olha aqui, miúda... – Continuou a rapariga, quase espetando as suas enormes unhas de gel na cara de Kaori. – Não sei como o fizeste, já que és tão chata e feia que dás dó, mas se te aproximas do Raito, eu juro que te irás arrepender. Fica longe do meu caminho! O Raito é meu! Aquele gatinho é meu e não vou perdê-lo para uma pirralha sem graça que nem tu!

Muitos sabiam que Suzuna só tinha olhos para Yagami Light, mas poucos sabiam que ele já tinha dado um fora nela. Exatamente, Suzuna, a rapariga mais linda, cobiçada e venenosa da escola tinha sido dispensada como uma bola de farrapos velha. Ver o seu adorado com alguém tão simples como Kaori, espicaçara-lhe o orgulho. De longe, com o seu grupo de amigas viu os dois a conversarem à porta da escola e o ciúme e a humilhação queimaram-na como ferro em brasa.

Rina, a melhor amiga de Suzuna, guardava a porta impedindo a saída de Kaori. Rina era uma rapariga gorda e muito forte, podia assemelhar-se a um trator. Dentes aguçados, corpo de barril, cabelos curtos e enrolados da cor de ameixas secas. Mascava calmamente uma pastilha elástica com os olhos postos em Kaori, prevendo uma possível fuga.

– Então como vai ser, querrida? – Perguntou Suzuna imitando um horrível sotaque francês. A avó de Suzuna era Francesa e a jovem orgulhava-se disso. – O que iremos fazer contigo? Pensei em várias hipóteses... prender-te num caixote de lixo, chamar o meu mais recente namorado para te bater. Sabes, estou a namorar o capitão do time de basquete. Podia mesmo enfiar-te na sanita agora mesmo, mas... ganhei uma aliada com informações preciosas.

Ela levou as mãos ao rosto fingindo ter nesse momento uma brilhante ideia.

– Oh, já sei! E que tal divulgarmos o nome do teu pai na internet? Sabes, naqueles sites que apoiam Kira?

Kaori sentiu a garganta secar.

– Vocês não podem fazer isso! Estás a blefar! Vocês não sabem...

– Não sabíamos, querrida. – Replicou Suzuna com um sorriso cínico.

Mai entrou a passos calmos pela divisão. Não foi barrada pela Rina. Kaori não podia acreditar, Mai, a sua melhor amiga, a loira de olhos azuis que sempre conseguia animá-la mesmo quando a próprio também estava triste.

– Mas porquê?

Suzuna não deixou Mai expressar-se.

– Parece que não cuidaste dos sentimentos da tua amiga, Kaori! Sabias que ela gostava do Raito e mesmo assim foste esfregar-te nele.

– Eu e o Raito somos...

«O quê? Amigos? Nem sequer isso somos!»

– Mai também sabia que eu gostava do Raito. Ela também não está a ser justa com os meus sentimentos. E eu não tenho culpa se ele me preferiu em vez de vocês as duas! E eu sei que a Suzuna já foi dispensada uma vez e desistiu logo. Mas eu não desisti, é a diferença entre nós duas.

Suzuna avançou e agarrou Kaori pelo colarinho do vestido tornando-o ainda mais curto.

– Que disseste?! Eu não fui dispensada, sua maçã podre!

Nesse momento uma nova voz juntou-se à discussão. Uma voz masculina que ninguém esperava ouvir ali, na casa de banho feminina. Não era familiar a nenhuma das presentes excetuando Kaori, mas o tom incisivo e irado da voz fez com que, imediatamente todos lhe obedecessem.

– Põe imediatamente a Kaori no chão!

Suzuna largou Kaori, voltou-se e tomou um susto quando se viu frente a frente com Raito. E se antes o olhar dele era puro desprezo em relação à sua pessoa, agora emanavam tanto ódio que de laranjas passavam a vermelhos.

Mai recuara até chocar com as costas num dos lavabos. Rina estava caída no chão perto da porta de entrada. Um leve fio de sangue escorria-lhe pela boca devido ao impacto da porta, mas tirando isso não parecia abalada fisicamente. Mesmo psicologicamente já estava a recuperar-se, porque das quatro ali presentes, era a única que não gostava de Raito. E então preparava-se para fazer a única coisa que sabia fazer: seguir as ordens de Suzuna.

Kaori não conseguia desviar os olhos de Raito embora o perigo eminente fosse Suzuna.

«Pensava que isto... só acontecia nas histórias!»


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Notas finais do capítulo

Então que acharam? Confuso por eu estar sempre a alternar entre os nomes Raito e Ryuuku?
Bem, então devo explicar:
Desde o início do capítulo eles já estão de corpos trocados e o verdadeiro Raito não aparece no capítulo. Ele saiu a voar de casa e nunca mais foi referido.
O Raito a que me refiro no restante capítulo é o Ryuuku disfarçado.
O Ryuuku a que me refiro no restante capítulo é mesmo o Ryuuku disfarçado.

Quem acha que esta explicação ficou mais confusa que o próprio capítulo? o/

Até ao próximo cap.!