Prólogo

Mundo dos Mortos

Sem conotação no Tempo.

Eles não tinham certeza do que estava acontecendo. Sabiam apenas que estavam mortos, ou que deveriam estar. Sabiam que alguns entre si haviam sido esquecidos, e que outros ainda estavam frescos na memória dos vivos. Mas não tinham sequer uma pista do porquê de começarem a sentir algumas sensações, como por exemplo, a de não pertencer mais àquele lugar.

Havia uma agitação dentro deles. De repente, uma vontade de deixar o mundo feito para eles, de se juntarem novamente à Realidade Mundana, ter seus corpos e andar juntos com os seus. Não tinham esse direito, mas o desejavam incontrolavelmente.

Algo deveria estar mudando, ou até já ter mudado, para terem pensamentos como aqueles. Algo que deveria ser muito ruim para ter conseguido acordar uma legião de mortos, bons e maus. Os que viviam levitando no ar e os que queimavam continuamente no fogo.

Um par de olhos azuis ainda joviais, ainda não encobertos por uma camada de poeira como os dos demais, sentia aquelas mesmas coisas ainda mais intensamente. Estava ali por um erro. Morto por um erro. E, como aquele novo conjunto de percepções, poderia ter uma chance.

Porém, para isso, para que ele se livrasse daquele Mundo Sombrio, para que todos os mortos saíssem, teriam que chegar a um certo lugar, a uma certa garota. E isso daria um fim na vida dela, enfim. Não existia nenhum jeito de salvá-la dessa vez. Não havia, porque todos desejavam seguir os instintos que os acordaram.

O desejo era a maior arma que alguém poderia disparar para ferir alguém.