Os Encantos De Anúbis escrita por Sarah Colins


Capítulo 17
Capítulo 16 – E eles viveram felizes para...


Notas iniciais do capítulo

Oi amigos!! o/
Me esforcei muito pra terminar esse capítulo a tempo de postar hoje. Espero de coração que vocês gostem. Não deixem de comentar dizendo o que acharam do final. E para quem não costuma comentar, me digam o que acharam da fic como um todo, ok? Se quiserem deixar uma recomendação, se acharem que merece, também agradeço ^^
Agora aproveitem o ÚLTIMO CAPÍTULO! ;)



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– Acho que não tem nem o que discutir, certo? - falo para Anúbis assim que entramos no meu quarto – Vou me unir a uma deusa. Só precisamos encontrar alguma que esteja debilitada o bastante para aceitar isso e...

– Espere, como assim não há o que discutir? Há sim! - retrucou ele, num tom de voz calmo – Não acho que essa seja a melhor opção.

– Por que não? - perguntei sem entender. Para mim estava claro que eu me tornar imortal era muito melhor do que ele ter que se desfazer de sua vida eterna.

– Porque isso não é tão simples. Você sabe como é ruim hospedar um deus, não tem privacidade nem nos seus pensamentos. Tenho certeza que não será fácil se adaptar a viver assim para sempre, Sadie.

– E você vai se adaptaria perfeitamente bem sendo um mortal de verdade? - rebati encarando-o com as mãos na cintura – Ok, não vai ser fácil me acostumar a viver compartilhando meu corpo com uma deusa, mas e olha só, terei a eternidade toda para fazer isso – aquele foi com certeza o meu melhor argumento e por um momento pensei ter vencido a discussão, mas depois de uma pausa ele acrescentou.

– Ainda não acho uma boa ideia, amor – ele se aproximou de mim tirando minhas mãos da cintura e as segurando no espaço entre nós – Eu já disse que não tenho nenhum problema em me tornar mortal, acredite em mim. Até gosto da ideia. Se eu for como você tudo será mais fácil – ele procurava meu olhar mas eu não conseguia encará-lo. Fiquei olhando para o lado por que não queria admitir que estávamos em um tremendo impasse.

– Pois eu também não acho que seja assim tão simples você desistir da sua imortalidade – falei como um desabafo, soltando as mãos dele e sentando na beirada da cama. Fiquei mirando meus pés sem saber o que fazer – Você pode não achar algo tão importante, porque pra você sempre foi assim. Sempre soube que viveria para sempre. Mas existem muitos mortais que dariam tudo para viver eternamente. Não é algo que você possa abrir mão assim sem mais nem menos.

– Não estou abrindo mão “assim sem mais nem menos”. Estou abrindo mão por você, por nós. Pela nossa felicidade. Não acha que é o bastante?

– Acho, mas... Seria muito mais justo que eu faça essa mudança.

– Porque você poderia se sacrificar por nós e eu não?

– Mas não seria um sacrifício tão grande assim para mim...

– Pois não seria sacrifício nenhum para mim.

– Claro que seria! - insisti – Não quero que deixe de ser um deus!

– E eu não quero que você tenha que dividir sua vida com deusa nenhuma!

Suspiramos os dois juntos. Ambos frustrados e insatisfeitos com aquela discussão que não havia levado a lugar nenhum. Não concordávamos um com o outro e parecia que nunca concordaríamos. O que íamos fazer então? Ficar como estávamos? Será que daria certo? Eu não sabia o que fazer. Só o que eu sabia é que não queria brigar com ele.

– Acho que não adianta continuarmos falando nesse assunto. Pelo menos não agora.

– Tem razão – disse Anúbis e fiquei feliz de estarmos de acordo ao menos nisso.

– Já está tarde temos que dormir. Amanhã tentamos resolver isso...

– Está bem... - ele esperou um pouco até que pareceu perceber que não havia clima para dormirmos na mesma cama. Então se despediu – Eu já vou, até amanhã.

E depois de me dar um beijo rápido, o deus da morte saiu usando a porta lateral que liga os dois cômodos para ir ao seu quarto. Eu troquei de roupa e coloquei um pijama bem folgado e macio. Não achei realmente que aquilo fosse me fazer ter uma noite de sono melhor, mas pelo menos eu estaria confortável. Me deitei e só o que consegui fazer por algumas horas foi pensar no que tinha acontecido aquela noite. Minha cabeça parecia um turbilhão. Por mais que eu tentasse afastar o assunto da minha mente, ele insistia em voltar. Não conseguia parar de pensar em como resolveríamos a questão.

Ao mesmo tempo ainda estava chateada com Anúbis. Se eu tivesse chegado alguns minutos depois talvez não tivesse conseguido impedi-lo de terminar o ritual. Ele teria se tornado mortal sem me consultar e tenho certeza que aquilo não daria certo. Mas na verdade não fui eu que consegui detê-lo, foi Osíris. Graças aos deuses ele chegou bem na hora e conseguiu colocar um pouco de juízo na cabeça do deus dos funerais. Meu pai tinha razão, tínhamos que decidir aquilo juntos. Era da vida dos dois que estávamos falando. A coisa afetada aos dois. Mas como iríamos chegar a um consenso se os dois tinham opiniões diferentes e estavam tão certos delas? Não adiantava ficar quebrando a cabeça afinal. Eu não ia chegar a lugar nenhum assim. Precisávamos pensar e refletir muito antes de decidir o que era melhor a fazer.

Rolei ainda algumas vezes na cama até pegar no sono. Acordei no dia seguinte e, pela primeira vez em semanas, não fui diretor procurar Anúbis. Não é que eu não queria vê-lo. Mas sabia que se o visse acabaríamos falando sobre a discussão do dia anterior e eu realmente não estava afim. Queria esquecer aquilo pelo menos por enquanto. Andei pela Casa do Brooklyn procurando coisas para fazer. Pela primeira vez fiquei feliz com o fato de que sempre havia algo para fazer por ali. Me mantive ocupada e distraída por bastante tempo, mas sabia que não ia conseguir evitar me encontrar com ele para sempre. Anúbis estava na cozinha lendo um livro. Achei que devia ser um daqueles que ele tinha consultado na biblioteca, mas era um de literatura americana. Enruguei a testa estranhando. Ele então começou a me explicar, sem que eu tivesse que perguntar, de onde havia surgido aquele gosto pela leitura.

Me contou que depois de toda aquela pesquisa que fizemos nos últimos dias, desde que estávamos tentando achar uma forma de ele viver entre os mortais sendo um deus, ele havia achado muito interessante poder saber de tantas coisas apenas lendo todas aquelas coisas. E continuou falando sobre aquilo e sobre todos os livros que já tinha lido desde então, sem jamais tocar no assunto que eu estava tentando evitar. Percebi então que ele também não queria falar sobre aquilo. Deve ter chegado a mesma conclusão que eu. Que não adiantava insistirmos naquilo, pelo menos não por enquanto. Era melhor deixar para mais tarde, dar tempo aos dois para pensar a respeito. E, enquanto isso, não tinha porque ficarmos em um clima ruim entre nós. Tentei me concentrar no que ele falava, mas era difícil fazer isso enquanto olhava para o seu belo rosto e pensava no quanto ele estava sendo sensato. Não tinha como não amá-lo.

***

Quase um mês se passou e eu já tinha quase esquecido de toda aquela confusão. Mais uma vez, mesmo sabendo que nem tudo estava bem, foi fácil me deixar distrair pela companhia de Anúbis. Viver através de uma deusa com certeza seria um preço muito baixo a pagar por passar a eternidade com ele. Mas não toquei mais no assunto e ele também não. Por mais que, de vez em quando, ainda pensasse nele. Ainda não queria voltar a levantar a questão. Não sabia se tinha passado tempo suficiente para pensarmos e chegarmos a uma conclusão. Não sabia se ele poderia ter mudado de ideia. Só sabia que eu continuava com a mesma opinião de antes. Talvez por isso não quisesse ser a primeira a falar. Nada havia mudado no meu pensamento, mas eu não tinha argumentos novos. Só achava que podia conviver com aquela mudança enquanto a renúncia dele seria grande demais.

Anúbis, como sempre dificílimo de decifrar, não deixava transparecer se estava preocupado. Eu não conseguia identificar se tinha andando pensando a respeito da decisão que devíamos tomar ou se tinha deixado o assunto totalmente de lado. Ficava olhando para ele as vezes tentando pegar alguma mudança de comportamento. Mas não tinha tido sucesso. Eu, ao contrário, não conseguia evitar que meus sentimentos estivessem sempre a flor da pele. Então, se ele quisesse, saberia que andei pensando a respeito. Sendo assim, é claro que quando ele trouxe o problema a tona de novo, me pegou completamente de surpresa. Estávamos fazendo um piquenique na imensa varanda da Casa, ao lado da piscina onde Filipe da Macedônia nadava tranquilamente.

– Sadie, precisamos conversar – começou ele.

– Sobre? - perguntei distraída enquanto tentava espantar uma mosca da minha limonada, sem perceber que tratava-se de algo sério.

– Sobre nosso futuro...

– Ok – falei olhando para ele e franzindo a testa, pois por um momento não entendi a que ele se referia. Quando me dei conta do que era, a ruga em minha testa sumiu e eu desviei o olhar – Ahhh isso... Tem certeza que é um bom momento?

– Sim, eu tenho – respondeu Anúbis – Andei pensando muito a respeito e percebi algumas coisas que preciso te falar. Coisas que podem mudar tudo.

– Não acho que tenha algo que possa me fazer mudar de opinião, mas está bem... Pode falar.

– Sei que nós estamos muito convictos das nossas opiniões sobre isso. E é porque nenhum dos dois quer ver o outro tendo que fazer algo que o prejudique. Tanto eu quanto você estamos dispostos a tomar esse fardo para si a fim de que o outro não precise passar por isso. É muito nobre da nossa parte e tudo mais, apesar de não resolver o problema. Mas andei pensando no assunto, tentando vê-lo de forma mais neutra, e percebi que você tem muito mais a perder com a mudança do que eu...

– Como assim? - o interrompi, aquilo não fazia sentido para mim.

– Pense comigo, de nós dois, quem é que está melhor em sua forma atual?

– Acho que sou eu... Mas isso não tem nada a ver...

– E quem é que já estava passando por várias mudanças só para que a gente possa ficar juntos e viver aqui no mundo dos mortais? - perguntou ele me interrompendo.

– Bem, você... Mas Anúbis, uma coisa é você querer se passar por um mortal e outra é ser um mortal de verdade...

– E não é só isso – continuou ele me interrompendo de novo, como se não tivesse escutado o que eu disse – Eu fiquei pensando no que teríamos que deixar para trás, caso tivéssemos que passar por essa “mudança”. Do que teríamos que abrir mão. Bom, no meu caso eu só consegui pensar na minha imortalidade. Todo o resto já deixei e não me arrependi. E você tem que acreditar em mim quando eu digo que a eternidade não me interessa se você não estiver comigo. Eu com certeza ganharia muito mais do que perderia sendo um humano.

– Você falando assim até parece que nunca gostou de ser um deus – resmunguei.

– Não vou te dizer que não gosto. Mas também não adoro.

– Ok, mas ainda não me convenceu de que está certo e eu errada.

– É porque você ainda não ouviu tudo o que tenho a dizer – acrescentou o deus da morte – Apenas escute ok? - ele esperou eu concordar com a cabeça para prosseguir – Bom, depois, da mesma forma, eu pensei no que você teria a perder se unisse sua vida a de uma deusa. E foi ai que balança se tornou totalmente favorável a mim, quer dizer, à minha opinião – ele falava com a prioridade de alguém que já assistiu uma infinidade de almas terem suas ações medidas e julgadas da mesma forma – Sadie, você terá que deixar tudo isso para trás se fizer o que Osíris sugeriu. E com “tudo isso” me refiro a Carter, Amós, Zia, todos os magos e magas da Casa do Brooklyn, além de Khufu e tantos outros que vivem aqui. Você tem uma vida aqui, amor, uma vida boa e pessoas que precisam de você. Não pode deixá-los, seria injusto com você e com eles – senti um aperto no peio ao ouvir aquilo e constatar que ele estava absolutamente certo.

– Ao contrário de mim – continuou Anúbis - você não será uma deusa comum. Não poderá deixar o Duat sempre que quiser, viverá confinada em seus domínios tanto quanto seu pai está hoje. Claro que para ele, um mortal que quase perdeu a vida, essa era a melhor opção que ele tinha. Mas para você não. Você tem uma missão aqui, Sadie. Essa casa, esses magos, eles precisam de você e Carter. E sei que por mais que vocês briguem, você ama demais o seu irmão para se afastar dele. Então não importa o quanto esteja disposta a fazer qualquer coisa por nós. Não valerá a pena com tudo o que vai perder.

– Você tem razão – admiti e foi mais fácil do que pensei, o difícil foi aceitar que eu não havia pensado naquilo antes – Não posso sair daqui, não posso deixar essa Casa, não posso deixar meu irmão – eu abraçava a mim mesma enquanto fechava os olhos tentando afastar as lágrimas – Foi muito egoísmo da minha parte ter considerado isso, eu estava pensando apenas na minha felicidade...

– Ei, não fique assim. Eu estou aqui para isso também, te impedir de cometer erros – tentou me reconfortar ele, mas sua bondade só me deixou pior – Ainda podemos ter um final feliz, vou me tornar mortal.

– Ainda não gosto dessa ideia – me apressei em dizer – Tudo bem, você me convenceu de que eu não posso “virar” uma imortal, mas isso não muda o fato de que não quero que você tenha que se desfazer da sua imortalidade. Quer dizer, não quero que faça esse sacrifício!

– Sadie, olhe pra mim – disse Anúbis segurando meu rosto. Meus olhos estavam longe dos dele porque me sentia envergonhada e meio impotente, mas me forcei a encará-lo – Eu te amo. Juro que nunca mais vou mentir para você. Confia em mim? - concordei com a cabeça – Então acredite quando eu digo que não é nenhum sacrifício. Ser como você, poder viver cem por cento do tempo no mundo humano, envelhecermos juntos... é o maior presente que eu poderia receber. E se preciso deixar de ser um deus para ter isso... Bom, eu digo adeus a vida eterna com todo o prazer.

– Eu também te amo! - afirmo com os lábios trêmulos, sentindo que meu coração estava a ponto de se romper com o tamanho do amor que havia dentro dele.

Anúbis sorriu e nos beijamos até começarmos a rolar pelo chão de pedra.

***

Fiquei bastante agitada durante aquela noite. Anúbis decidiu voltar sozinho ao Central Park para realizar o tal ritual que o tornaria mortal. Eu havia dito que queria ir junto, que queria estar lá com ele. Mas ele dissera que minha presença iria atrapalhar em sua concentração e que era mais seguro se estivesse sozinho. Ele disse também que a transição era demorada e que poderia durar a noite toda. Pediu que eu não o esperasse acordada, mas teria dado no mesmo se me pedisse para passar a noite em claro. Roí as unhas, estralei os dedos quantas vezes pude, deitei e levantei da cama umas mil vezes, andei pra lá e pra cá pelos corredores. Fiz de tudo, menos dormir. Vi o sol nascer e ele ainda não tinha voltado. Quando voltou, eu estava exausta, mas a alegria de vê-lo era maior do que tudo.

Meu coração acelerou, mas ao mesmo tempo me senti mais calma, aliviada. Não sei porque, mas só naquele momento me dei conta do quanto estava apreensiva com a transformação dele em um mortal. Eu estava preocupada com o que veria. Tinha receio de que ele mudasse completamente, de que não fosse mais o meu Anúbis quando voltasse. Mas lá estava ele atravessando a porta, com seu andar seguro e cauteloso ao mesmo tempo. Ele parecia o mesmo, exceto por uma coisa que eu não conseguia identificar exatamente o que era. Parecia uma leveza, uma aura nova, talvez fosse sua presença de espírito mais calorosa ou simplesmente o fato de ele parecer menos imponente e inalcançável. Não soube definir bem o que era, só sabia que eu tinha gostado e muito. Ele sorriu e parou de andar ainda a alguns metros de mim. Me permiti admirá-lo por alguns segundos de longe, afinal ele continuava deslumbrante como sempre. Depois fui até ele.

Nos abraçamos e depois nos beijamos. Não dissemos nada e não fazia falta que disséssemos. Quando enfim nos soltamos um do outro, perguntei como ele se sentia. Ele foi sincero e admitiu que era um pouco estranho não ser mais um deus. Se sentia fraco e bem mais vulnerável. Mas ao mesmo tempo se sentia vivo como nunca havia se sentido. Podia sentir o coração batendo dentro do peito, o sangue correndo nas veias, e seus sentimentos e vontades eram muito mais claros e fáceis de decifrar. Eu ri quando ele disse que estava morrendo de fome e que nunca havia pensado que a perspectiva de tomar um café da manhã fosse tão boa. O levei para a cozinha e preparamos um verdadeiro banquete.

Passamos aquele dia apenas desfrutando da companhia um do outro, sem falar ou pensar em nenhum problema. De vez em quando eu ficava olhando fixamente para ele, sem acreditar que não era mais o deus da morte. Que agora era simplesmente um garoto comum, o meu namorado. Por muito tempo senti que havia um espaço vazio dentro de mim que jamais seria preenchido. Por causa da morte da minha mãe e da ausência do meu pai e do meu irmão. Mesmo depois de nos reencontrarmos e vivermos todas aquelas aventuras juntos, esse “buraco” ainda existia. Agora, porém, depois que Anúbis passou a ser uma presença permanente na minha vida, eu sentia que já não faltava nada em mim. Ele me completava. Completava as lacunas que haviam ficado esquecidas dentro de mim.

***

Como membro da Casa do Brooklyn e meu namorado, Anúbis teve que assumir algumas responsabilidades. Uma delas, realizada pela maioria dos veteranos, era ir atrás de magos perdidos e trazê-los em segurança para cá. Ok, ele não era um veterano, mas também não podia ser considerado um novato no “ramo”. Claro que no começo ele não podia ir sozinho, então eu ou Carter o acompanhávamos. Uma vez, por um motivo que não me lembro bem, fomos eu Carter e Zia com ele. Acho que era porque meu irmão e minha cunhada precisavam passar no supermercado no caminho. O chamado dos magos tinha chegado até nós na noite anterior, vindo do norte de Ohio. Pegamos um ônibus para chegar até o local e resgatar aqueles três magos em apuros Era a quarta ou quinta vez que o ex-deus saia numa missão como aquela. Mas mesmo inexperiente ele me surpreendeu com seu desempenho.

Além de encontrar rapidamente o esconderijo das crianças, ele se portou muito bem ao abordá-las. Foi cuidadoso e muito compreensivo. Tinha levado uns lanches para elas e também algumas roupas novas. Eu tinha achado exagero da parte dele, mas quando as encontramos percebi que não tinha sido exagero nenhum. Elas estavam há muito tempo sozinhas e desamparadas. As levamos para um hotel simples, só para que pudessem se limpar e se alimentar. Depois as deixamos descansar para daí então voltar para Nova York. Era raro termos que ir atrás de crianças tão novas, normalmente elas nos procuravam já mais crescidas. Aquelas experiências me abalavam, mas Anúbis me fez encarar aquilo de uma forma mais positiva. Estávamos ajudando aqueles magos, dando a eles uma chance de pertencerem a algum lugar, de ser quem são sem medo. E isso era o mais importante.

Chegamos a Casa do Brooklyn na manhã do dia seguinte. Mesmo esta não sendo sua tarefa, Anúbis levou os garotos até os quartos para que guardassem suas coisas e depois apresentou a casa a eles e fez toda a “iniciação” necessária. Eu achava muito fofo o jeito que ele levava com os pequenos, tanto os novatos quanto os mais antigos. Mas o melhor de tudo era ver como ele estava se adaptando bem àquela vida. Ao contrário do que e pensava antes, quando era contra ele se tornar um mortal, Anúbis estava tirando de letra todas aquelas mudanças. As vezes demorava para pegar o jeito de uma coisa ou outra, as vezes esquecia que não tinha mais poderes. Mas fora isso, tudo estava saindo muito bem.

Outro dia, Anúbis deu de cara com Augustus em um dos corredores e ficou um clima muito estranho entre eles. Eu não estava presente na hora, mas ele me contou depois e confesso que tive que fazer força para não rir. Pelo que meu namorado me disse, Gus ficou sem graça e parecia estar com muito medo dele. O mago havia passado um tempo no Egito. Tinha ido com um grupo buscar alguns materiais que estávamos precisando. Como ele tinha voltado há pouco tempo não sabia que Anúbis agora era mortal. Mas apesar de tudo isso o ex-imortal tratou Augustus bem e sugeriu que fizessem as pazes. O mago aceitou e se desculpou por ter dado em cima de mim. Eles não viraram os melhores amigos do mundo, mas pelo menos concordaram em viver em paz. O que foi um alívio para mim.

Acho que a parte mais difícil dessa nova fase na minha vida e principalmente na vida de Anúbis era controlar meu ciúme. Percebi que podia ser tão possessiva quanto, ou até mais do que ele. É que a Casa estava cheia de magas jovens e bonitas, de todas as partes do mundo. Muitas delas sabiam quem era Anúbis, outras apenas achavam que era mais um entre os magos que viviam ali. Mas todas elas pareciam encantadas com a beleza do meu namorado. Seria hipocrisia minha culpá-las por aquilo, afinal eu mesma babava por ele. Mas aquilo me incomodava. Ainda mais porque ele não podia evitar ser gentil e atencioso com todo mundo. E claro que com as garotas não era diferente. Sentia vontade de transformar meia dúzia de magas em pedra de vez em quando. Mas Anúbis fazia questão de me dizer constantemente que eu era a única garota que lhe interessava no mundo e essas coisas qualquer pessoa em sã consciência gostaria de ouvir.

***

– Venha comigo, tenho uma surpresa pra você – disse Anúbis em um fim de tarde, depois de ter me ajudado em uma aula de autodefesa.

Eu não hesitei em segurar a mão dele e acompanhá-lo. Percorremos os corredores da Casa até pararmos na frente do seu quarto.

– Agora eu vou ter que vendar você, se não se importa... - disse ele segurando um lenço entre os dedos.

– De jeito nenhum. Isso está ficando cada vez mais interessante – levantei uma das sobrancelhas, dando um olhar malicioso para ele. O garoto riu da minha gracinha, assim como sempre fazia não importava o quão sem graça fosse.

Ele então se posicionou atrás de mim e vendou meus olhos. Depois foi abrir a porta. Voltou para trás de mim, segurou meus ombros e me conduziu para dentro. Não senti nenhum cheiro e não ouvi nenhum som que denunciasse o que era a tal surpresa. Então fiquei esperando até que ele disse:

– Pode tirar a venda...

Levei as mãos a parte de trás da cabela para desfazer o laço. Abri os olhos quando o lenço caiu e assim que vi quem estava ali, levei a mão a boca para abafar um grito de surpresa e entusiasmo. Bastet não havia mudado nada. Estava exatamente igual à primeira vez que eu a vira. Fora ali mesmo na casa do Brooklyn quando ela deixou a forma de gata que assumira por boa parte da minha infância e se levantou para nos defender do perigo. Nem sabia quanto tempo fazia que não a via, mas era o suficiente para eu ter sentido muito a sua falta. Ela era como uma mãe para mim e Carter. Não hesitei em correr e abraçá-la.

– Como estava com saudade dos meus filhotes – disse ela ainda me apertando em seus braços. Adorava aquele gesto tão maternal dela, mas fiquei com receio de ela querer me dar uma lambida ou algo do tipo, então me afastei.

– Também senti sua falta. Por onde andou?

– Ahhh minha querida Sadie, é uma longa história... - começou ela. Depois contou sobre sua jornada nos últimos meses pelo Duat. Ela disse que ainda havia muita coisa a ser arrumada por lá. Que apenas a morte de Apófis não havia acabado com todo o caos. Ela comentou sobre a escapada de Set e que ficou sabendo que Carter e eu havíamos ido atrás dele. Ela disse que teria tentado nos ajudar se tivesse sabido a tempo, mas que ficou aliviada por Bes estar lá. Bastet falou também como estava sua jornada ao lado de Rá, e outras novidades do mundo dos deuses. Anúbis pareceu mais interessado nessa parte do que eu.

– Bom, agora vou dar uma olhada em Carter e em sua namoradinha – falou Bastet indo em direção a porta – Mas nos vemos mais tarde lá na cozinha, vou preparar o jantar pra vocês – olhei para Anúbis e nós dois rimos depois que ela saiu.

– Fui só eu que não achei essa uma boa ideia? - brincou ele.

– Acho que ninguém acharia uma boa ideia – acrescentei – A não ser que você goste muito de ter leite e peixe fresco no jantar.

Rimos ainda mais e depois nos jogamos na cama e ele ficou lendo um livro para mim. Estava virando um de nossos passatempos preferidos. Ele adorava ler e eu adorava ouvir sua voz até pegar no sono. Mais tarde acordei e ele ainda estava lendo. Fiquei observando-o por vários minutos. Esse também era um dos meus passatempos preferidos.

– O que foi? - perguntou ele sem tirar os olhos do seu livro.

– Nada... - respondi.

– Você está me encarando.

– Estou te admirando.

– É estranho...

– É romântico! - exclamei e tirei o livro de suas mãos, fazendo uma expressão incrédula e linda tomar conta de seu rosto. Subi em cima dele me sentando sobre sua barriga – Já chega de ler por hoje né? Daqui a pouco é hora do jantar.

– Quem vê pensa que você está muito animada para esse jantar – debochou ele.

– Não exatamente para o jantar em si, mas pode-se dizer que sim. Estou animada para ver Bastet entre os magos outra vez, dando uma de “mãe”. Vai ser divertido.

– Tem razão... - concordou ele com um leve sorriso e um olhar nostálgico.

– Você sente falta disso? - perguntei

– Do que? - perguntou ele de volta sem entender.

– De estar entre os deuses, do mundo dos deuses, enfim... de ser um deus,

– Sinceramente? - perguntou ele e eu mordi o lábio enquanto concordava com a cabeça, sem saber se ia gostar mesmo de ouvir a verdade – Nenhum pouco! - completou ele para meu alívio – Sou feliz aqui como jamais imaginei que pudesse ser. E tudo isso é graças a você...

– É, eu sou mesmo demais, não sou? - falei me gabando de brincadeira.

– Para que precisa que eu diga que sim, se o seu ego já é o suficiente par te fazer a maga mais presunçosa de toda a América? - disse ele sorrindo enquanto eu tentava fingir que estava brava.

Essas brincadeiras e provocações também eram algo frequente entre nós. Principalmente quando estávamos sozinhos. E Anúbis ficava cada vez melhor em suas piadinhas. Mas eu amava até mesmo a forma como ele me tirava do sério algumas vezes. Amava seu excesso de confiança em me criticar e me elogiar ao mesmo tempo. De lutar comigo e me acariciar, de prender meus braços enquanto tirava minha roupa. Ele sabia o jeito certo de me fazer perder completamente o juízo e depois me fazer recuperá-lo. De fazer eu me perder em meio as sensações físicas e emocionais e depois me trazer de volta a terra. Ele podia ser mortal agora, mas eu podia jurar que continuava possuindo dons divinos. Encantos que jamais o deixariam e me manteriam atrelada a ele para sempre.

FIM


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam!??? COMENTEM MUITO!!! :D
Logo eu volto com mais fanfic's pra vocês, e não se esqueçam que estou postando outra aqui nesse blog: http://aquatromaaos.blogspot.com.br/
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