Os Encantos De Anúbis escrita por Sarah Colins


Capítulo 16
Capítulo 15 – Mentiras e decisões precipitadas


Notas iniciais do capítulo

Oi amigos, tudo bem?! ^^
Desculpem pelo atraso em postar. Lembrando que esse é o penúltimo capítulo da fic.
Aproveitem ;)



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Abri os olhos e a primeira coisa que eu vi foi minha mão sobre o peito de Anúbis. Ele ainda dormia profundamente. Ter ele ao meu lado ao acordar era uma daquelas coisas que você sabe que não tem preço e que você não trocaria por nada no mundo. Tentei não me mover e fazer o mínimo de ruido possível ao respirar para poder ficar admirando-o enquanto dormia. Quem mais poderia dizer que teve o privilégio de assistir a tal paisagem? Ninguém! E ele era todo meu. Quase não dava para acreditar. Não fosse meu coração batendo forte e o calor do meu corpo junto ao dele eu acho que não acreditaria que aquilo era real. Porque parecia ser mesmo bom demais para ser verdade. Senti vontade de bater em alguma madeira ao pensar isso, mas me contive. Era só uma superstição boba. E para uma relação amorosa com um deus era normal estar sempre acima das expectativas.

Anúbis emitiu um som gutural e se remexeu na cama antes de acordar. Até aquilo ficava atraente nele. Seus olhos encontraram os meus e ele franziu o cenho. Provavelmente percebeu que eu já estava acordada há um tempo e que o estava encarando. Não deve ter achado aquilo muito normal.

– Por que tá olhando para mim?

– Por que você é lindo – respondi com um suspiro e um sorriso bobo.

– Desse jeito vou achar que ficou comigo só por causa da minha aparência – resmungou ele dando risada.

– Mas é isso mesmo – menti só para me divertir com a reação dele.

– Ahhh é? - respondeu ele sem se alterar. Provavelmente percebeu que eu não falava sério.

– Ok, não foi SÓ por causa da aparência... - continuei provocando-o. Ele então rolou o corpo no colchão ficando deitado por cima de mim.

–Posso não ser um expert em humanidade, Sadie Kane, mas sei reconhecer quando estão zombando de mim – afirmou Anúbis com um olhar travesso e malicioso. Perdi o fôlego, porque apesar de ser um pouco descarado, aquilo era muito excitante – Tem certeza que liga tanto assim para minha beleza?

– Não, amor, era brincadeira – arfei enquanto falava, tentando me concentrar – Claro que você é lindo, mas gosto de você pelo que é por dentro...

– É mesmo? - me interrompeu ele parecendo estar gostando muito da brincadeira – Ah então quer dizer que se eu fosse feio, ainda iria querer ser minha namorada?

– Claro que sim – respondi tentando parecer segura.

– Certo. Sabe que eu posso assumir a forma que quiser como mortal, né? Acha que um cara baixinho, ruivo, com espinhas e uns quilinhos a mais combinaria comigo?

– Também não precisa exagerar – falo mais alarmada do que gostaria – Quer dizer, não precisa mudar nada, eu já me acostumei com você assim – tentei disfarçar.

– Está vendo, então a aparência importa pra você, afinal.

– Não é isso! É só que... eu, bem... ai você está me deixando confusa.

– Você fica linda confusa – disse ele sorrindo – E não se preocupe, bobinha, não posso mudar minha aparência, estava só brincando. E mesmo que pudesse não mudaria. Eu gosto do jeito que olha pra mim. Do jeito como parece gostar do que vê. É ótimo ser desejado pela garota que eu amo, então é claro que jamais iria querer mudar isso.

– Desde quando aprendeu a dar uma de engraçadinho? - perguntei fingindo estar brava.

– Não sei quando, mas sei exatamente com quem – falou ele levantando as sobrancelhas. Claro que estava se referindo a mim.

Não consegui mais manter a cara de brava e dei um sorriso, que se transformou numa risada, que se transformou em um beijo quando ele aproximou a boca da minha. Ficamos ali, entre beijos e carícias até que eu decidi que estava ficando tarde e era hora de levantar. Consegui convencê-lo a deixarmos a cama quando disse que podia tomar banho comigo se quisesse. Aquilo era intimidade demais para um casal que havia acabado de começar sua vida sexual. Mas, como já disse, estávamos longe de ser um casal comum. Eu me sentia bem mais confiante e segura do meu corpo e das minhas vontades depois da minha primeira vez. Não ia me privar de fazer o que me desse vontade por culpa da inibição que ainda podia existir. Depois de nos lavarmos e nos arrumarmos, fomos até o cozinha. Eu estava faminta, e sabia muito bem porque.

Quando comecei e pegar as coisas no armário para preparar o café da manhã, Anúbis veio atrás de mim. Ele perguntou se podia ajudar com alguma coisa. Achei estranho, mas aceitei. Acho que ele estava mesmo levando a sério a história de se acostumar com a vida de mortal. Cozinhar não é exatamente algo que os deuses fazem com frequência. Até porque comer é algo que eles não fazem com frequência alguma. Mas ao que parecia eles podiam comer se quisessem, sem problema algum, porque Anúbis sempre comia comigo. E agora estava me ajudando na cozinha. Ajudou não só a preparar o café, como também ajudou a tirar a mesa e lavar a louça. Eu estava impressionada. Ele nunca tinha se preocupado com esse tipo de coisa. Eu não sabia o que estava havendo com ele, mas não ousaria perguntar nada. Estava gostando muito daquela atenção e daquele cuidado todo.

Lembrei que tinha que dar uma aula a alguns magos novatos sobre feitiços e encantamentos e disse a Anúbis que poderíamos nos encontrar mais tarde ali mesmo na Casa ou em algum outro lugar se ele quisesse. Mas em vez disso ele perguntou se podia ficar comigo e assistir a aula. Hesitei um pouco pensando se aquilo era uma boa ideia. Não deu para dar muita atenção a razão naquele momento. Eu já tinha me derretido como sorvete ao sol porque ele preferia ficar comigo do que fazer qualquer outra coisa. Então é obvio que o deixei ficar na classe enquanto eu dava a minha aula. Não demorou para eu perceber que talvez não tivesse sido uma boa ideia. A presença de Anúbis me distraia demais. Eu não conseguia parar de olhar para ele e me lembrar do que tínhamos feito naquele último final de semana. A forma como ele me olhava não ajudava em nada. Acabei dispensando a turma mais cedo. Em parte porque percebi que aquela aula não iria render. Em parte porque queria voltar logo para os braços de Anúbis.

***

As semanas seguintes poderiam ser descritas basicamente pelas palavras: paz e amor. Eu não poderia estar me sentindo melhor. Não havia nenhum perigo ameaçando a Casa do Brooklyn e Anúbis estava por perto quase que o tempo todo. A não ser por algumas vezes em que teve que ir visitar o Reino dos Mortos, ele não saia de perto de mim. A princípio, apesar de me encantar, sua presença mudou algumas coisas na minha rotina e de certa forma me distraiu dos meus afazeres. Mas não ousei reclamar, afinal a companhia dele mais de agradava do que incomodava. E aos poucos fui me acostumando com ela. Anúbis era muito prestativo e, como ainda estava se adaptando com a sua nova realidade humana, não percebia quando estava sendo um pouco inconveniente. O que era muito engraçado, por sinal. Mas eu sabia que aos poucos ele aprenderia a perceber os limites de uma convivência. Ainda assim, tudo estava tranquilo e eu o amava cada dia mais.

Chegamos a sentar e conversar sobre nós várias vezes. Não para brigar ou discutir, mas para nos assegurar de que tudo corria bem. Eu, principalmente, queria sempre saber se ele estava confortável. Se não se sentia pressionado a mudar tanto sua rotina e se precisava de ajuda. Não sei se ele estava sendo sincero, mas sempre me dizia que estava tudo perfeitamente bem. Sei que devia acreditar nele, afinal devíamos confiar um no outro depois de tudo que passamos. Mas eu estava com uma pulguinha atrás da orelha. Podia ser só paranoia minha, é claro, mas sentia que ele estava me escondendo algo. Não devia ser algo grave, porque quase não dava para notar. Na maior parte do tempo ele agia normalmente e se permitia desfrutar ao máximo os nossos momentos juntos, nossos passeios românticos e nossas noites de amor. Mas as vezes, quando eu ele ficava parado olhando pro nada por muito tempo e eu percebia que estava refletindo, sentia que algo o incomodava.

Acabei resolvendo que era melhor deixar o assunto de lado. Não devia ser nada de mais. Simplesmente acreditei que se fosse algo importante ele me falaria. E foi fácil esquecer essa preocupação. Foi fácil esquecer de todas as preocupações. Quando estava com ele poderia me esquecer totalmente do resto do mundo. E por muitas vezes realmente me esquecia. Dias atrás Carter preparou uma festa surpresa para Zia em seu aniversário e eu nem havia me dado conta. Só tomei conhecimento no dia da festa quando ele foi me procurar para irmos até a cozinha ficarmos escondidos antes de ela chegar. Eu não tive tempo nem de comprar um presente muito menos de me arrumar para a festa. Outro dia eu deixei o leite derramar no fogão porque fiquei olhando Anúbis fazendo o queijo quente. Também quase derrubei uma pilha de livros na biblioteca porque senti suas mãos em meus braços tentando me ajudar.

Certa manhã, acordei e Anúbis não estava ao meu lado na cama. Era raro não dormirmos juntos, mais raro ainda acordar e ver que ele não estava ao meu lado depois de ter passado a noite comigo. Me levantei e fui me arrumar. Depois saí pela casa procurando Anúbis. Ele devia estar em algum lugar por ali porque nunca saia sem me avisar. O encontrei na biblioteca consultando uns livros. Achei a cena muito estranha e intrigante. O que diabos Anúbis poderia estar procurando? Ele não era muito de ler por hobby então provavelmente estava fazendo alguma pesquisa. Mas para que?

– Anúbis? - chamei, já que ele estava tão concentrado que não havia percebido minha aproximação. Minha interrupção o fez pular na cadeira.

– Sadie! - exclamou ele assustado e parecendo um pouco apreensivo. Começou a juntar os livros que estava olhando e os colocou de lado quando me aproximei – Não vi você chegando, me assustou... - completou ele sem graça.

– Foi mal, não tive a intenção de te atrapalhar – falei segurando as mãos dele quando se aproximou de mim, ficando na frente da mesa, me impedindo de ver o que estava fazendo – O que estava lendo?

– Ahhh nada de mais... – respondeu ele fingindo indiferença. Mas Anúbis não era nem de longe o melhor em fazer isso. Dava para notar de longe que estava nervoso – Só estava procurando umas receitas da culinária egípcia para fazer pra você hoje a noite, amor.

– Sério? - perguntei desconfiada. No entanto, eu não queria pressioná-lo, então resolvi deixar pra lá. Assim como já tinha “acertado” comigo mesma, ia confiar que ele me contaria se algo importante estivesse acontecendo – Bom, está bem. Posso me preparar para um grande jantar hoje a noite então?

– Claro que sim – respondeu Anúbis parecendo instantaneamente mais relaxado – Estou aprimorando muito meus dotes culinários – brincou – Mas agora eu vou ter que sair um pouco. Recebi um chamado de Osíris e tenho que verificar umas coisas no Mundo Inferior. Não vou demorar. Tudo bem?

– Tudo TUDO bem não está, afinal preferia que ficasse – fiz um charme – Mas não tem problema eu sou forte e aguento as pontas por aqui.

– Você é mesmo uma brava guerreira – acrescentou ele antes de me beijar. Depois nos separamos e ficamos em silêncio. Eu estava esperando que ele desaparecesse ou algo do tipo, mas ele permaneceu lá, até que pareceu se dar conta de que ele é quem tinha dito que iria embora.

– Pode me levar até a porta, amor? - perguntou ele do nada.

– Você vai sair pela porta? - perguntei confusa – Você nunca sai pela porta...

– Pois é, mas sabe, acho melhor eu começar a adotar esse hábito se quero mesmo aprender a ser como um mortal de verdade.

– Está bem... - concordei rindo sem entender a lógica dele.

O levei até a porta de entrada da Casa e nos despedimos. Depois eu voltei para meus afazeres. Você não tem ideia do volume de trabalho que uma casa cheia de crianças e adolescentes pode dar. Eu tinha que providenciar tudo de que eles necessitavam. Além das coisas básicas como comida, produtos de limpeza e higiene, roupas e material escolar, ainda tinham as coisas para os magos poderem fazer seus feitiços e tal. Ou seja, era mesmo muito trabalho. O que compensava era que eu estava sempre rodeada de amigos, de gente que queria e tentava me ajudar de alguma forma. Logo consegui me distrair e esquecer um pouco a ausência de Anúbis, ainda que sentimento de saudade sempre insistisse em voltar a apertar meu peito. Mas sabia que a espera seria recompensada quando o encontrasse naquela noite.

Anoiteceu e eu me recolhi aos meus aposentos. Me arrumei mais do que o normal para ficar em casa, já que meu namorado havia prometido um jantar especial. Todos os moradores da Casa do Brooklyn jantaram e eu fiquei apenas assistindo, esperando Anúbis chegar. Ele estava demorando, mas aquilo era normal. Não dei bola para meu estômago roncando e continuei esperando. Precisaríamos de privacidade para ele preparar seu prato especial de qualquer forma. Os minutos se passaram e logo as horas. Todos já estavam indo dormir quando eu enfim desisti de ficar sentada na cozinha, aguardando ele surgir do nada. Algo muito sério devia ter acontecido no Reino dos Mortos para ele estar demorando tanto. Em vez de ficar brava com ele por me deixar esperando, fiquei preocupada.

Fui procurar Carter por que precisava da opinião de mais alguém no assunto. Ou, pelo menos, alguém que me dissesse que aquela demora provavelmente não era nada demais e que logo Anúbis estaria de volta. Sabe, as vezes precisamos ouvir umas mentiras para nos acalmar. Encontrei Carter em seu quarto. Estava com Zia, mas, graças a deus, estavam apenas vendo televisão. Pedi para falar com ele a sós e então saímos para ao corredor.

– Desculpa interromper vocês, mas é que era meio urgente – falei constrangida.

– Não tem problema – disse meu irmão, calmo mas interessado na minha inquietação – O que aconteceu?

– Bem, eu estava esperando Anúbis voltar, porque ele disse que iria preparar um jantar especial para nós e enfim... Você não o viu por ai, não é? - aquela pergunta era ridícula, afinal é claro que Carter não o vira. O deus da morte tinha ido ao Mundo Inferior e se já tivesse voltado teria me procurado antes de qualquer coisa...

– Vi sim – respondeu Carter para minha surpresa – Ele estava na biblioteca quando passei por lá cerca de uma hora atrás – arregalei os olhos. Aquilo não podia ser verdade.

– Mas o que? Você tem certeza? - perguntei quase engasgando com a minha própria saliva.

– Sim, tenho certeza. Ele estava lá consultando uns livros – confirmou Carter – E pelo jeito esteve lá a tarde toda porque passei várias vezes pela biblioteca e ele continuava lá, sem tirar os olhos daqueles livros. Você sabe o que tanto ele procura?

– Não, não sei... - respondi com a voz fraca.

Estava com vergonha de dizer a verdade ao meu irmão. Que eu não sabia o que Anúbis pesquisava, que nem ao menos sabia que ele havia estado o dia todo na Casa. Não podia admitir isso a ele, muito menos que meu namorado havia mentido para mim. Seria humilhante. Então fingi que estava tudo bem, agradeci Carter, e sai. Só o que eu conseguia pensar era: Porque? Porque ele havia escondido aquilo? Porque disse que estaria no Mundo Inferior, quando na verdade ficou ali o tempo todo? O que ele procurava? O que estava tentando esconder de mim? Talvez ele ainda estivesse na biblioteca. Corri para lá sem pensar em mais nada.

Infelizmente não encontrei Anúbis lá. Todas as luzes estavam apagadas. A biblioteca se encontrava em uma completa penumbra exceto por uma luminária acesa em uma das mesas. Exatamente onde eu o encontrara mais cedo. Fui até lá e olhei para o que havia sob a luz. Eram diversos livros de diferentes tamanhos e épocas. A princípio todos pareciam diferentes, mas depois de analisar melhor vi que falavam sobre o mesmo assunto: deuses que desistiram de sua imortalidade. Minha cabeça estava tão conturbada que por alguns segundos não entendi porque ele estaria interessado naquele tipo de coisa. Mas dai a fixa caiu. Me lembrei do que Seshat me falara antes de eu a expulsar do meu corpo. Aquilo sobre Anúbis ser imortal e eu não, e que isso faria nossa história de amor não acabar muito bem.

Ele deve ter ouvido, só podia ser isso. Ouviu quando ela me disse essas coisas. Isso explicaria o fato de eu notá-lo ligeiramente incomodado nas últimas semanas. E explicaria também porque ele ficou tão nervoso quando eu o surpreendi na biblioteca e depois mentiu para mim. Naquele momento Anúbis devia estar em algum lugar, tentando se livrar da sua imortalidade. Aquilo me deu um nó no estômago e senti que não conseguia respirar direito. Não podia permitir que fizesse isso. Não, de jeito nenhum! Ele não podia desistir de ser imortal por mim. Estava agindo de forma precipitada e com certeza se arrependeria depois. Eu tinha que impedi-lo. Mas como? Não fazia nem ideia de onde estava. Comecei a revirar os livros e cadernos até que achei uma folha com algumas anotações.

Era um ritual, com ingredientes e instruções. Devia ser o que Anúbis tinha escolhido. Não parecia tão complexo. Será que era assim tão fácil para um deus se tornar um mortal? Continuei lendo até que encontrei uma pista. No final do papel estava escrito que esse tipo de ritual precisava ser feito em um local aberto, de preferência com muitas plantas e natureza em volta. Se Anúbis tinha saído com tanta pressa a ponto de deixar tudo espalhado daquele jeito, era porque queria terminar logo com aquilo. Então não deve ter ido longe. Sendo assim, o único local que ele encontraria em Nova York com aquelas características, seria o Central Park. Não pensei duas vezes. Peguei minha bolsa de magia e sai atrás dele.

Já era tarde e as ruas da cidade estavam escuras e desertas. Eu não temia ser assaltada nem nada. Temia ter que usar magia para me proteger se alguém tentasse. E temia também ser que não chegasse a tempo até o deus da morte para impedir a loucura que estava prestes a fazer. Corri até minhas pernas começarem a doer e eu ficar sem fôlego. Só depois que cheguei até o Parque me lembrei de que ele era enorme e que, apenas saber que Anúbis estava lá não era suficiente para encontrá-lo. Já ia começar a surtar e me xingar mentalmente, quando vi uma luz subindo até o céu à minha esquerda. Era como um canhão de luz desses que usam nos jogos de basquete, e outros esportes. A diferença é que esse ficava parado apontando para cima e não dançando no céu, iluminando as nuvens. Não estava acontecendo nenhum evento esportivo no meio do Central Park que eu soubesse, então deduzi que devia ser Anúbis e o que quer que ele estivesse tentando fazer. Voltei a correr.

Fui na direção da luz o mais rápido que pude e quando a alcancei estava quase morrendo. Enquanto apoiava as mãos no joelho para descansar e recuperar o ar, vi Anúbis sentado no centro de uma clareira rodeada por árvores. Ao seu lado havia uma vasilha de prata de onde estava saindo o tal canhão de luz. O deus estava com um livro nas mãos e o olhava concentrado. Meu coração voltava a bater no ritmo normal enquanto eu voltava a ir na direção dele, dessa vez andando bem mais devagar. Ele parecia tranquilo, então imaginei que tivesse chegado a tempo. Ou então havia chegado tarde demais e ele já terminara o ritual. Voltei a me apressar até chegar a ele. Ele jogou a cabeça para trás para poder olhar para mim, já que estava sentado enquanto eu estava parada de pé na sua frente. Percebi seu rosto ficando sério mas também ansioso. Por um segundo não disse nada. Só olhei para ele e tentei decifrar se havia virado mortal. Ele parecia o mesmo, então resolvi perguntar.

– O que diabos você pensa que está fazendo? - quase grito, porque a “tigela” com luz também está emitindo um som agudo e alto.

– Sadie, você não devia estar aqui – disse ele se levantando, como se me desse uma bronca.

– Pois devia ter escondido melhor o seu planinho – rebato.

– Você não entende... Preciso fazer isso!

– Não precisa não! - insisto, segurando seus braços, como se pudesse impedi-lo de seguir adiante só fazendo isso. Como se ele não fosse infinitas vezes mais forte do que eu – Escute, eu não quero que você desista de ser um deus por mim, ok? Não tem que fazer esse sacrifício...

– Mas não é nenhum sacrifício. De verdade não me importo em não ser mais um deus – ele parecia realmente sincero – De que me adianta a eternidade se não posso passá-la ao seu lado? Confie em mim, tudo será melhor se eu for como você, se também for um mortal...

– Não Anúbis, isso não está certo... - voltei a dizer, mesmo que já não tivesse argumentos para confrontar o que ele dissera. Sabia que tinha razão. Sabia que nossa relação não daria mais certo quando eu começasse a envelhecer e ele não. Mas, ainda assim, eu não estava disposta a deixar que ele fizesse aquilo. Estava abrindo mão de seus poderes, de tudo o que ele sempre foi, por mim. E ele nem sabia ainda se daria certo essa coisa de viver entre os mortais... E se não se adaptasse? Daí seria tarde demais para voltar atrás.

– Sadie, por favor, não tente me impedir – pediu ele se soltando das minhas mãos – Não pedi sua permissão para fazer isso e não estou pedindo agora. Essa é uma decisão que cabe apenas a mim e ela já está tomada.

Me senti totalmente impotente quando ele andou para longe de mim, se aproximando do facho de luz. O que eu podia fazer eu já tinha feito. Pedir que ele parasse, dizer que eu não estava de acordo. Mas ele não me deu ouvidos, então só me restava sentar e assistir ao ritual. Não ia lutar contra ele. Podia até conseguir impedi-lo ou ao menos atrasá-lo em sua tentativa, mas não mudaria sua mente dessa maneira. Ele continuaria convicto de que estava fazendo o melhor para nós. Mesmo assim, todo o meu ser se negava a aceitar aquilo. Tudo bem, podia ser que ele estivesse certo e eu errada afinal. Podia até ser o melhor para nós, mas será que era o melhor para ele? Disso eu tinha muitas dívidas, por isso queria que ele parasse. Precisávamos conversar melhor a respeito. Era uma decisão dele, mas eu estava envolvida também. Ele podia ter me contato. De repente fiquei com raiva e decidi interferir. Mas ao pensar nisso outra pessoa surgiu em cena fazendo Anúbis cair para trás, como se uma onda de água o tivesse atingido.

Era Osíris. Pela sua cara, não devia estar mais satisfeito do que eu com o que o deus da morte estava fazendo. Suspirei de alívio. Não precisaria impedir Anúbis, meu pai já havia feito isso. Ele andou até nós em sua forma humana, era Julius que estava na nossa frente, com forma e roupas de mortal. Mas quando ele falou, senti o poder do deus do Reino dos Mortos por trás de sua voz.

– O que diabos pensa que estava fazendo? - esbravejou Osíris muito alterado.

– Deixando de ser imortal – respondeu corajosamente Anúbis enfrentando o “patrão”.

– Não pode fazer isso!

– É claro que posso. Por que todos acham que podem ficar me dizendo o que devo ou não fazer? - se irritou meu namorado, se levantando do chão e limpando a roupa.

– Por que está fazendo uma besteira! - acrescentou Osíris, deixando um pouco de lado a raiva e adotando um tom mais paternal – Não pode tomar uma decisão dessas assim, sem mais nem menos. Depois que você desiste da imortalidade não dá mais pra voltar atrás.

–Eu sei disso, já pensei bem, é isso o que eu quero!

– Ok. Mas você pensou em perguntar o que Sadie acha disso?

– Sabia que ela não ia concordar, por isso não lhe disse nada – contou ele, sem olhar para mim – Mas esqueci que ela é uma Kane e acabou descobrindo tudo.

– E mesmo assim você ainda quer continuar com isso – não era uma pergunta.

– Sim, quero – persistiu o deus da morte – Ou você conhece outra forma para eu não ter que perdê-la enquanto vivo para sempre...

– Na verdade eu conheço sim – respondeu meu pai.

– O que? - perguntamos Anúbis e eu ao uníssono.

– Sim, há uma maneira – repetiu ele – Sadie pode decidir viver como uma deusa, se tornando de parte de uma, assim como eu. Então poderá ser imortal. Os dois podem viver para sempre juntos! - exclamou ele empolgado como se sua sugestão fosse a solução perfeita.

– Espera aí – intervi – Não sei se seria muito legal viver para toda a eternidade dividindo o corpo com uma deusa. E que deusa concordaria com isso?...

– Bom, meninos, de qualquer forma são essas as suas opções – continuou Osíris – E a verdade é que não devo intervir, mas devo orientá-los a não tomar nenhuma decisão ainda. Seja qual for a escolha, ela tem que ser de vocês dois. Então primeiro precisam sentar e conversar muito a respeito. Assim chegarão a melhor solução.

Ele tinha razão. Aquelas eram nossas opções. Cedo ou tarde teríamos que optar por uma delas. Ou isso, ou eu morreria algum dia deixando Anúbis abandonado por toda a eternidade. E não era esse o final que eu queria para nossa história de amor. Ficamos nos olhando por um momento sabendo que não seria fácil decidir o que fazer...


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Notas finais do capítulo

E ai, que acham que eles vão fazer?! :D
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