A Pátria. escrita por A Pátria


Capítulo 1
A Glória — Blair




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Estou em uma sala escura que só conta com a iluminação de pequenos painéis solares no teto. Olho para os lados e não vejo nada além de uma porta que se mantém fechada. Estou prestes a caminhar até a porta para abri-la quando a maçaneta gira e duas pessoas vestidas de branco entram e fecham a porta novamente. Eu recuo para trás com medo do que elas possam fazer comigo, então uma delas retira o capuz que esconde seu rosto e revela sua identidade. É a minha mãe. A segunda pessoa faz o mesmo, e eu reconheço, é o meu pai, com uma aparência mais velha e descuidada. Os dois caminham até mim e me abraçam, em seguida se afastam novamente e me fitam, eu não transmito nenhuma reação, até que minha mãe começa a falar.

— Você está tão linda. Eu sinto tanto a sua falta. — Meu pai a abraça, e ela cai em lágrimas. Não me contenho e começo a chorar.

— Por que vocês não voltam? Eu preciso tanto de vocês. — Falo entre soluços, mas nenhum deles me responde, se mantém parados olhando para mim. Meu pai, com uma feição assustada, e minha mãe, com lágrimas nos olhos. Eu também não consigo mais me mover quando tento caminhar para abraça-los, rapidamente eu me desespero e acordo.

Foi tudo um sonho.

Natalie entra em meu quarto e corre até a minha cama, eu estou suando muito e com a respiração ofegante. Sonhar com os meus pais me causa isso, principalmente quando a data da seleção da guerra está se aproximando. Eu me lembro do dia em que eles se foram e nunca mais voltaram. Tudo isso me dá vontade de chorar, mas eu me seguro.

— O que aconteceu? — Natalie pergunta segurando uma de minhas mãos. Ela está com uma feição preocupada, e eu dou um sorriso de canto para que pareça que está tudo bem, mas ela sabe que não está. — Sonhou com os seus pais de novo? — Eu não respondo. Ela me conhece tão bem que já deve imaginar a resposta. Natalie percebe que eu não vou responde-la sobre nada do tipo e então desiste, ela solta a minha mão e caminha até porta, mas antes, se vira. — Você não pode ficar sem falar pra sempre, Blair. Uma hora você vai ter que me contar o que está acontecendo. — Ela dá um sorriso amigável e se vai.

Eu levanto de minha cama e caminho até o banheiro do meu quarto. Me olho no espelho e vejo que estou com uma aparência horrível: olheiras, cabelo bagunçado, pálida. Porém, eu ainda lembro a minha mãe, de uma forma descuidada, mas lembro. Todos me lembram disso. Escovo os meus dentes e tomo um banho rápido, em seguida, saio do banheiro e visto a primeira roupa que encontro pela frente. No segundo ano do ensino médio, não é necessário o uso do uniforme, apenas a camiseta.

Quando saio de meu quarto, passo pelo corredor até encontrar o antigo quarto o qual meus pais costumavam dormir. Ele é grande, bem arrumado e foi decorado por minha mãe, que além de tudo, tinha bom gosto. Eu adentro ao quarto, tudo ainda está como eles deixaram. Tenho uma regra pessoal que diz que eu não posso mexer em nada ali, seria um pecado em memória de minha mãe e de meu pai. Saio do quarto com um sorriso no rosto, mas ele some assim que eu desço as escadas e caminho até a cozinha. Natalie está sentada tomando o seu café da manhã, ela sorri para mim mas eu finjo não ver, ultimamente eu não tenho a menos vontade de demonstrar os meus sentimentos e de falar, então eu sou uma completa '' sem sal '' como diz algumas garotas da escola. Coitadas, eu penso, nem me conhecem direito.

— Bom dia, B. — Natalie diz animadamente e eu assinto para ela. — Agora é sério, quando você vai voltar a falar? — Eu dou de ombros e ela revira os olhos, em seguida ri e volta a comer. Eu faço o mesmo.

O caminho até a escola não é muito longo. Eu moro em um bairro que é próximo de tudo, porém, é totalmente sem vida. As casas são todas brancas e grandes, nenhuma criança brinca nos gramados e ninguém ali da se quer um bom dia. Quando viro a esquina, encontro um grupo de alunos caminhando para a escola, me afasto deles porque eu simplesmente os odeio. Atravesso a rua e continuo caminhando até finalmente chegar a escola, todos ali são felizes e conversam uns com os outros, eu simplesmente os ignoro de uma forma arrogante e de certa forma, eles me respeitam por ser filha de dois dos líderes falecidos da Carolina do Norte. A imagem que eles tem de mim é de guerreira arrogante e superficial que a qualquer momento pode trazer uma faca e esfaquear todo mundo. Eu não sou assim, só gosto do título de '' Bad Girl '' que recebi ao longo desses anos, junto de outros títulos como '' sem sal '' para um grupinho de garotas. Conforme vou caminhando, entro nos corredores da escola até que chego ao meu armário. Ao lado, tem um casal se pegando, e quando eu chego e abro meu armário fazendo o máximo de barulho possível, eles saem e eu dou uma risada baixa. Pego todos os livros necessários para as aulas seguintes e caminho até a sala três onde terei a primeira aula: História das Nações Passadas.

Assim que entro na sala de aula não encontro ninguém. Me sento na última fileira na penúltima carteira e abro um livro que estou lendo a mais de três meses e não terminei por pura preguiça. Aos poucos, com o barulho do sinal, a sala vai se enchendo e toda aquela conversa atrapalha a minha leitura, então fecho o meu livro e o guardo, não demora muito para que o professor entre na sala. Ele está animado, e rapidamente começa a falar.

— Pessoal! Sentiram falta da escola? — Não houve resposta, um silêncio de cinco segundos pairou pelo ar e o professor ficou meio sem graça, então continuou o assunto. — Vou começar a matéria, não esqueçam que hoje só teremos as quatro primeiras aulas. Hoje teremos a primeira seletiva do ano para a Carolina do Norte. — O professor caminha até a lousa e escreve com uma caligrafia perfeita '' História das Nações Passadas '' e então se vira, onde começa a falar. — A muito, muito, muito tempo atrás, o mundo não era divido em nações. Eu sei que soa estranho, mas toda essa nossa realidade de hoje em dia soaria estranho para eles também. Não havia guerras anualmente e as pessoas conviviam de certa forma, em paz. Haviam países de primeiro, segundo e terceiro mundo, dessa forma, os países de primeiro mundo sugavam toda a economia dos países de terceiro mundo. Dessa forma, as condições de vida foram se acabado, alguns países de segundo mundo, por incrível que pareça, ajudaram financeiramente os países de terceiro mundo, que chamarei de T3. — O professor olhou para os alunos, todos pareciam interessados. — O S2, mais conhecido como países de segundo mundo, impôs uma pequena regra para continuar ajudando os países restantes do T3: eles tinham de se rebelar contra o P1. E foi isso que aconteceu. — O professor olhou para o seu relógio e se deu conta de que a aula já tinha acabado. — Bom pessoal, meu tempo acabou, até a próxima aula. — Ele saiu da sala feliz, pois todos ali prestaram atenção em sua aula pelo menos uma vez.

A segunda aula foi um tédio, e o mesmo aconteceu com a terceira e a quarta aula. Procurei ler o meu livro, dormir, ouvir música, desenhar e escrever para que o tédio e o tempo passasse, mas nada adiantou. A professora tagarelava sobre números, letras e vez ou outra gritava o nome de alguém que estava conversando. Ela escrevia na lousa e ninguém entendia nada, eu me perguntava a todo momento em que aula eu estava pois ás vezes tinham coisas escritas em outras línguas. Quando o sinal finalmente tocou, sai com toda a velocidade da sala e caminhei até o banheiro, eu estava morta de sono, então resolvi lavar meu rosto para acordar um pouco. Quando levantei para me olhar no espelho, outras garotas entraram, então tratei de arrumar minhas coisas e sair dali rapidamente.

O intervalo foi tranquilo, fiquei no gramado lendo meu livro e ouvindo a conversa de alguns casais que achavam que ali era lugar para pegação. Quando o quinto sinal tocou, caminhei para o auditório, era a hora da seletiva. É claro que eu estava nervosa, na verdade, eu estava morrendo por dentro, mas procurei não demonstrar e nem pensar nisso durante a manhã. Já fui em duas guerra, mas isso não significava nada perto do título que minha mãe tinha e de seu recorde que era de cinco guerras. Ocorreu duas guerras seguidas, uma porque os Estados Unidos ofereceu a Carolina do Norte para receber mais dinheiro, e outra, porque realmente foi escolhida. Nesse ano, os Estados Unidos ofereceu novamente a Carolina do Norte, o que causou uma revolta em Natalie. O auditória é grande e abriga todos os alunos da parte da manhã, há muitas cadeiras, porém alguns alunos sentam na escada por falta de mais lugares. Estou na quinta fileira, bem no meio, ao lado de suas garotas que conversam sem parar. Uma delas está nervosa e começa a chorar, eu reviro os olhos e olho para o diretor para que entra no palco. Ele começa a falar:

— Estamos na quarta guerra em cinco anos. Agradeço aos nossos guerreiros que venceram essas duas guerras para nós e trouxeram ajuda. — Todos olham para mim e para outros guerreiros sobreviventes. — Esse ano, nós temos que contar com a boa vontade de vocês. O governo não nos deu verba suficiente para uma boa seletiva, então, precisamos de 50 voluntários e outros 50 serão escolhidos. Conto com a boa vontade de vocês, a Carolina do Norte precisa de vocês. —


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