Leslie estava suada e ofegante. Ela havia corrido sem parar da floresta até sua casa dizendo para si mesma que chegaria no horário.

Como sua mãe falecera tragicamente quando Leslie era pequena, a menina vivia com a avó numa pequena casa a beira da estrada que levava ao lago Alkali, já fora dos limites da cidade. Seu pai aparecia para vê-las de vez em quando, mas logo voltava para ficar com a nova esposa numa cidade vizinha.

Abriu a porta com cuidado e caminhou em passos lardos em direção ao seu quarto.

–Está atrasada – disse uma voz aborrecida.

Leslie girou o corpo e viu a sua avó sentada numa poltrona velha no canto mais escuro da sala e com cara de poucos amigos.

–Me desculpe vovó não foi de propósito.

Moira Donovan era uma mulher que aparentava ser bem mais velha do que era na realidade. Seus traços severos e seu jeito rude somados ao descaso ao qual se encontrava, com seus cabelos meio embranquecidos deixados sempre num coque frouxo e bagunçado, vestes velhas e manchadas contribuíam para deixá-la ainda mais feia.

–Eu pedi uma coisa simples – continuou a mulher como se ela não tivesse falado – para você chegar no horário. Será que é demais para você obedecer a uma coisa assim?

Leslie baixou os olhos.

–Onde você estava? – perguntou Moira – e com quem?

–Eu estava estudando com a Ravena e a Alina – mentiu Leslie.

–Ravena Daywood e Alina Ross? – disse Moira exasperada – não podia escolher pessoas melhores para passar o tempo?

–Elas são minhas amigas vó. Eu gosto delas – afirmou Leslie.

–Ora não seja boba Leslie essas meninas não são e nunca serão boas companhias para você. Essa Ravena já passou por uns dois reformatórios por brigas de rua e Alina não fica atrás. Elas são péssimas influências para uma menina fraca e boba como você. Porque não busca amigas melhores como Sophie Lavesque?

Leslie se segurou e evitou um revirar de olhos irritado.

–A Sophie não é nenhuma santa ok? Além do mais ela sempre me detestou. E eu não sou fraca e boba.

Moira deu um suspiro.

–Procure andar na linha Leslie. Regras existem por um bom motivo: para serem seguidas à risca. É bom que você não se esqueça disso.

–Eu não vou fazer nada de errado vó, não se preocupe.

–Tudo bem. Vá se lavar e vamos jantar.

Leslie assentiu e fez o que lhe foi dito.

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Depois do jantar, Leslie lavou a louça e foi para o seu quarto tomar um bom banho. Ao terminar resolveu estudar um pouco afinal, não tinha nem pego no livro graças à ideia “brilhante” de Alina.

Duas horas depois Leslie já estava meio sonolenta, porém satisfeita com os seus progressos. Se continuasse assim ela não teria nenhum problema com as provas no final das contas.

Já estava passando para o próximo capítulo do livro quando o seu celular tocou.

–Alô – disse Leslie um pouco irritada pela inadequada interrupção.

–Less? – disse Alina do outro lado da linha – tudo bem?

–Estou bem, só com sono – respondeu a menina.

–Estamos com um pequeno problema – disse Alina .

–O que foi?

–Bom, é o grimório. Não consegui abri-lo.

–E o que você vai fazer? – perguntou Leslie.

–O que “nós” vamos fazer – corrigiu a ruiva – eu já chamei a Ravena e ela disse que está a caminho. Vamos nos encontrar no lugar de sempre.

O sono de Leslie foi embora como se soprado pelo vento.

–Não, não mesmo. Eu estou estudando para as provas e além disso, minha avó nunca permitiria que eu saísse uma hora dessas. Ela já não gostou nem um pouco do meu atraso.

–Qual é Less, precisamos de você. E a sua avó não precisa saber que você saiu.

–Nem pensar! Eu não quero me meter em problemas.

–Você não vai Leslie. Qual é! Você só faz o que a sua avó manda?

Leslie não respondeu.

–Olha se não quiser vir ok. Faça o que você quer não importa o que seja. Tchau.

–Tchau – disse Leslie encerrando a ligação.

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Alina estava começando a ficar impaciente. Vinte longos minutos já haviam se passado e nenhuma das duas tinham chegado.

Logo, um farfalhar chamou a atenção da menina que ficou aliviada ao ver a loira se aproximar em passos calmos.

–Ravena! Eu já estava começando a achar que você não viria! – disse a menina.

–Eu disse que viria não foi? Você é apressada demais.

Alina revirou os olhos e sentou-se no chão. Ravena olhou ao redor e franziu o cenho.

–E a Leslie? Não vem?

–Acho que não – disse Alina dando um suspiro.

–E por quê? – indagou a loira.

–Por causa daquela megera da avó dela, só pode – disse a ruiva aborrecida – é incrível, a Leslie faz tudo o que aquela criatura diz.

–Tenho que confessar que eu nunca gostei daquela velha.- concordou a outra - eu não tenho medo de muitas coisas na vida, mas ela me dá arrepios.

–Vamos esquecer isso um pouco e nos concentrar no que viemos fazer – disse Alina decidida – e então, alguma ideia?

–Vocês iam começar sem mim? – disse uma voz se aproximando lentamente.

–Leslie! – disse Alina contente – você veio!

–Pois é, aqui estou eu – disse a menina sentando-se junto com as outras – temos que ser rápidas ok? Minha avó acha que eu estou no quarto estudando.

Ravena deu de ombros.

–Isso é o que todas nós devíamos estar fazendo. E no entanto...

–Bom – disse Alina colocando o livro no meio do pequeno círculo – eu tentei de tudo desde que eu fui para casa e nada. O livro não abre de jeito nenhum.

–Só pode estar selado com algum tipo de feitiço – disse Ravena.

–E nós nunca poderíamos abrir algo assim ser termos sido iniciadas nas atividades do coven – assinalou Leslie.

–Sozinhas não – disse a ruiva – mas se uma bruxa iniciada pode abrir, três bruxas sem experiência talvez possam.

Ravena tomou o livro em suas mãos e tentou abri-lo sem sucesso. Depois, pôs a mão esquerda na capa por alguns instantes e fechou os olhos. Nada.

–Parece ser um selo bem forte – disse Ravena enrugando a testa e colocando o livro de volta no chão.

Alina o pegou e estendeu para Leslie.

–Quer tentar?

Leslie olhou o livro e balançou a cabeça.

–Eu? Eu não sei se vocês notaram, mas eu sou uma Donovan, lembram? A família mais fraca de toda a cidade, a base da cadeia wiccana... Se a Ravena, uma Daywood não conseguiu por que você acha que eu conseguiria?

–Sei lá – disse Alina – tenta logo Less, não vai tirar pedaço.

Leslie deu um suspiro segurando o livro.

–Ok, tá legal.

Como se fosse um livro comum o grimório se abriu revelando suas páginas cheias de desenhos e inscrições antigas feitas a mão.

Alina e Ravena arregalaram os olhos em pura surpresa gritando em uníssono.

–Você abriu!