Ravena não conseguira pregar os olhos naquela noite. Passara o tempo todo pensando no que poderia fazer para evitar as consequências desastrosas de um ato impensado. Roubar um grimório.

Comeu muito pouco de sua refeição matinal, fazendo com que os olhos de seu pai se voltasse aflitos para ela.

–Algum problema querida? Está sentindo algo?

Ravena passou a mão pelo cabelo negando veementemente.

–Não.

Timothy estranhou. Sua filha não era o tipo de pessoa que se abatia com facilidade. Ou estava doente ou tinha problemas.

–Tem certeza? – indagou ele, tentando por insistência, descobrir o que incomodava sua filha.

–Eu não dormi direito – admitiu a menina – estava com dor de cabeça.

Timothy franziu o cenho.

–Está melhor agora?

Ravena esfregou os olhos. A verdade era que aquela dor de cabeça infernal ainda não tinha desaparecido e ela duvidava muito quem um remédio pudesse ajudá-la.

–Um pouco.

–Quer ficar em casa hoje? Descansar um pouco? – ofereceu ele – posso passar na sua escola e explicar sua ausência sem problemas.

–Não – disse a menina levantando-se da mesa e indo pegar sua mochila – um pouco de química vai fazer bem para o meu cérebro.

Timothy riu descrente.

–Se você diz.

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–Então ele te convidou para o baile – disse Alina com malícia – eu sabia que essa história de alimentar bichinhos de rua era uma desculpa esfarrapada.

Leslie revirou os olhos.

–Não seja boba Alina, não foi uma desculpa, ele apenas aproveitou uma oportunidade. Ele ajuda mesmo aqueles animais.

Alina ria ainda mais.

–Claro, o Romeu não queria ficar sozinho com você, nem um pouco.

As conversavam nos fundos da escola, quase no limite com a floresta. Leslie já estava arrependida de ter contado para sua amiga do passeio que ela fizera no dia anterior com seu amigo. Ela também contara que a casa abandonada pertencera aos Monroe.

Elas notaram de longe Ravena caminhar na direção delas com passos rápidos e uma expressão nada contente. Leslie se alarmou.

–O que ouve Rav?

A loira jogou sua mochila na grama e sentou-se logo em seguida.

–Temos que devolver o grimório – disse ela com firmeza.

Leslie e Alina trocaram olhares confusos.

–O que? Porque? – indagou a ruiva.

–Porque isso já foi longe demais! – trovejou Ravena.

–O que aconteceu Ravena? – perguntou Leslie.

–Hernand Lavesque esteve lá em casa! Ele falou com meu pai.

Dito isso, a jovem contou as outras tudo que ouvira da conversa entre seu pai e o líder do Coven.

Alina torcia o cabelo parecendo desinteressada.

–Qual é Ravena! Não é para ficar tão desesperada. A conversa é sugestiva sim, mas isso não significa muita coisa. Ninguém sabe que fomos nós e ninguém vai saber se continuarmos de bico calado.

Ravena a encarou furiosa.

–Ficou louca garota! É claro que eles só podiam estar falando do maldito livro que por sinal, você roubou! Vão acabar nos descobrindo e o meu pai vai se prejudicar.

Alina ficou de pé num pulo.

– Não me venha com essa Ravena! – bradou – eu posso ter pego o livro, mas todas concordamos em ficar com ele. Não queira dar uma de inocente. Além disso não podemos devolver, estão investigando o sumiço e, assim que tentarmos devolver vão nos pegar.

–É a nossa única chance! Se ficarmos com ele aí sim, vão acabar nos descobrindo! Leslie concorda comigo não é?

Leslie hesitou em responder. Há algum tempo ela não faria isso ,mas agora a curiosidade a respeito dos Monroe estava começando a incomodá-la.

–Leslie! – chamou Ravena.

–Devemos agir com calma – ponderou Leslie – agir no desespero pode ser perigoso.

–O que?! – grunhiu Ravena – até você Leslie? Pensei que fosse mais ajuizada, mais esperta!

Alina agitou as mãos.

–Para com esse drama Ravena! Se você não agir direito, vão acabar desconfiando de nós.

A expressão da loira ainda era enfurecida quando Alina continuou.

–Descobrimos uma coisa incrível aqui. Esse grimório é poderoso, sem falar na descoberta do fantasminha da Leslie. É tarde para voltar atrás.

–E se descobrirem? – indagou a loira com o rosto congestionado – o que vão fazer conosco? Seremos expulsas antes mesmo da iniciação.

–Não precisam descobrir – disse James surgindo ao lado de Leslie que assustou-se.

–O que foi Leslie? – perguntou Alina.

–O James. Ele está aqui.

O garoto sorriu.

–Não tem porque ficarem preocupadas. O grimório não pertence a nenhum deles e eles não tem o direito de puni-las por pegá-los Leslie. O livro está com quem devia estar.

Leslie franziu o cenho.

–Como assim?

–O que ele está dizendo? – pediu Ravena que olhava de um lado para o outro como se tentasse ver também.

–É simples – respondeu James – você é uma Monroe.

As sobrancelhas da jovem subiram.

–Eu?

–Leslie, quer nos explicar o que está havendo? Tem mais pessoas aqui sabia?

Leslie não deu atenção as palavras da amiga. Ela estava espantada demais com revelação que o bruxo lhe fizera.

–Tem muitas coisas sobre você que não sabe Leslie. Eu posso lhe contar.

–Leslie! –insistiu Alina sendo contida por Ravena que fez sinal para que ela se calasse.

–Não, não pode ser. Eu não sou...

–Sim, você é – afirmou ele encarando-a com firmeza – a maior prova disso é o fato de você estar podendo me ver.

–Ei! – uma voz gritou distante, fazendo com que a atenção das meninas se voltasse para ela.

Sophie Lavesque caminhava enfurecida na direção das três, seguidas por suas amigas que tentavam acompanhar seu ritmo.

–O que é isso? – bradou Alina – todo mundo anda estressado agora?

Sophie passou diretamente pelas duas indo ficar de pé frente a Leslie, lhe apontando um dedo acusador.

–Você, sua esquisita! Como você ousa!

Leslie mal tinha se recobrado de um susto e já levava outro, ainda que meio estranho.

–Há quanto tempo você está saindo com o Ted?

–Isso não é da sua conta Lavaca – zombou Alina indo ficar do lado de Leslie.

A jovem trincou os dentes. Seus olhos cor de gelo brilhavam de forma quase assassina.

–Não se meta nisso, ferrugem – e virou-se para Leslie –é melhor você ficar longe do Ted ouviu?

você acha mesmo que ele gosta de você? Ele devia estar com pena de você, só isso.

Leslie cruzou os braços aborrecida.

–Se você veio aqui me ameaçar Sophie, pode dar meia volta. Eu não estou com paciência para o seu show de menina mimada.

Ravena que ainda estava de pé no mesmo lugar deu um sorrisinho.

Sophie deu um passo para trás, chocada pela reação inesperada da garota. Depois sorriu.

–Você acha mesmo que ele gosta de você? Ele devia estar com pena de você, só isso.

Leslie apertou os lábios.

–Pena é o caramba – rugiu Alina – a única com pena aqui é você sua galinha magricela.

–Vamos embora Sophie – chamou Faith que também assistia a cena.

–Tem razão maninha – disse a garota com desdém – elas não valem o meu tempo.

O grupo já se afastava quando Alina gritou.

–Espero que não tenha problemas para encontrar um par para o baile Lavaca! Eu soube que o Ted já tem par. Adivinha quem?

Sophie parou por uns instantes, mas não se virou. Leslie reclamou com a amiga.

–Alina! Porque você foi dizer isso?

–Não me diga que está com medinho dela Less.

Leslie suspirou e olhou em volta procurando por James que tinha sumido novamente. Talvez ele tenha se assustado com a discussão, pensava ela.

No entanto, enquanto as três caminhavam silenciosamente para a sala de aula, cada uma atormentada por sua própria parcela do problema, Leslie era aquela que estava mais aflita, talvez não tanto por seus problemas, mas pelo que o belo garoto bruxo lhe dissera.