Alderann escrita por Anatnasoicram


Capítulo 5
Capítulo 5 - Etínia


Notas iniciais do capítulo

De onde Etínia veio, é um mistério – até mesmo para ela. Tudo o que ela se recorda é de ter sido colocada dentro de uma esfera de cristal mágica, onde permanecera aprisionada por séculos até que um mago poderoso a libertou – para aprisiona-la novamente e torna-la sua escrava particular usando um dos desejos que ela mesma concedeu. Sim, Etínia é uma djinn – ou gênia, para os leigos. Apesar disso, ela não o odeia – na verdade, acha suas risadas maléficas muito fofas – e o serve fiel e alegremente, seja combatendo invasores de seu covil ou fazendo seu chá da tarde.



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– Chefinhooooo! – A voz estridente, porém melodiosa da jovem cruzando o amplo salão reverbera por todos os lados. Seu corpo esguio está vestido em couro e seda semitransparente, seu cabelo castanho preso num rabo-de-cavalo esvoaça enquanto ela anda em passos quase como que coreografados numa dança exótica na direção de uma mesa quadrada onde repousa, em pé, um livro tão grande quanto antigo. Atrás de ambos está um homem vestido em robes e chapéu pontudo, ambos escuros e feitos de tecido de algodão, ajustando nervosamente seu monóculo de vidro sobre o olho direito. Ela não sabe, mas este mesmo homem acabara de perder uma linha de raciocínio particularmente importante acerca de um tema indispensável para o correto entendimento de um assunto fundamental sobre o que tinha acabado de ler.

– Etínia – diz o homem, fechando o livro lentamente e o colocando deitado sobre a mesa – quantas vezes devo dizer para não me perturbar enquanto realizo meus estudos arcanos?

– Ahn, err... desculpe, chefinho...

– E não me chame de “chefinho”. Isso é ridículo!

– Mas...

O homem de chapéu pontudo a encara, não muito feliz em ser contrariado.

– Sim senhor... – ela diz, baixando a cabeça – Mas o senhor mesmo pediu-me que avisasse caso algo acontecesse com aquele ovo...

– Eu não tenho tempo para suas... O que aconteceu com o ovo?

– Quebrou-se.

– Que?! – o homem levanta-se alarmado – Por acaso ele não...

– Errr... ele caiu enquanto eu o estava limpando...

O homem se apoia na mesa e respira fundo. Ele sempre sonhara em ter alguém servindo-o fielmente, sem questionar nem reclamar das condições de trabalho. De preferência, milhares de alguéns. Mas por enquanto tinha de se contentar com uma única pessoa, de poderes mágicos tão grandes quanto os seus, mas de uma incompetência tão grande quanto seus poderes. Estava começando a se arrepender de ter encontrado aquela maldita lâmpada.

– Etínia – diz ele, massageando a têmpora direita com os dedos e aproximando-se dela. Sendo a djinn mais alta que ele, levanta a cabeça e a encara. Faíscas saem de seus olhos, e o ar ao redor começa a ficar mais denso, como se uma mini-tempestade estivesse para acontecer. Etínia encolhe-se um pouco, temerosa, mas ele prossegue – aquilo poderia ser minha arma de coerção, destruição e morte em potencial, e você simplesmente deixou cair e quebrar no chão. Cair. E quebrar. NO CHÃO!

Um barulho de trovões ecoa pela sala enquanto faíscas pairam no ar ao redor dos dois. Os olhos do homem de chapéu pontudo brilham intensamente com as faíscas saindo deles, assim como suas mãos, agora erguendo-se lentamente até a alutra dos ombros.

– Me perdoe chefinho! – Etínia joga-se aos pés dele, agarrando a barra de seu robe – Eu juro que foi sem querer, eu só estava fazendo o que o senhor mandou!

– Eu não mandei quebrar aquele ovo, serva inútil! Sofrerá as consequências por tal ato de negligência agora! Você por acaso tem ideia do que sairia daquele ovo?!

– Errr... na verdade sim... – Etínia levanta a cabeça, ainda no chão – mas acho que uma lagartixa com asas cuspindo fogo não seria lá uma...

– Espere, a criatura já nasceu? – As faíscas desaparecem das mãos e dos olhos dele, e o ar aos poucos volta ao normal. Puxando o robe das mãos de sua serva, dirige-se apressadamente para a porta. Etínia levanta-se e o acompanha, mas antes de abrir a porta ele vira-se e a encara – Aonde pensa que vai?

– Eu... o senhor pode precisar de ajuda...

– Não, eu não preciso – diz ele abrindo a porta – A menos que...

– Que...?

– Você não deixou a criatura escapar, deixou?

– Errr...

– Eu sabia.

– Mas chefinho, eu...

– Não me chame assim, já disse!

– Desculpe... mas eu...

– Não. Eu cuido disso. Você fica aqui.

– Sim senhor...

Então, o homem de robe finalmente abre a porta com um gesto de sua mão, e a fecha com outro gesto assim que passa, num baque surdo que faz Etínia encolher-se. A djinn observa o velho livro fechado, deixado sobre a mesa. Em letras grandes de um idioma antigo, ela reconhece a palavra “Draconomicon”. Ela recolhe-o para devolver à prateleira à qual pertence, tomando todo o cuidado que pode. O que não impede de algumas páginas caírem de dentro dele quando ela tenta fazê-lo.

– Ai, caramba... O chefinho me mataria se eu não fosse imortal. Vou consertar isso antes que... hum?

Ao recolher as páginas soltas e abrir o grande livro, Etínia nota que as páginas caídas no chão não são tão velhas quanto às do próprio. Mais do que isso, parecem estar escritos em um idioma diferente. “Élfico, talvez?”, pensou. Nem mesmo as páginas são do mesmo tamanho das outras ainda presas ao livro. Organizou as folhas em cima do grande livro velho e voltou à mesa onde estava sentado o homem. Sentou-se calmamente e começou a folheá-las. Parecia alguma espécie de carta. Observou e organizou-as na ordem correta, e começou a ler, ignorando os gritos e baques surdos vindos do lado de fora do salão. Por um instante pensou ter ouvido a voz do seu mestre chamando-a, mas ela mesma concluiu que deveria permanecer ali, como ordenado – além disso, a leitura parecia bastante interessante. Na verdade, a carta parecia ser um conto de romance (cujo enredo exato não influencia em nada na trama e, portanto, seria perda de tempo e linhas descrevê-lo) entre uma princesa élfica e um mago. Um mago?! Cada vez mais entretida com a estória, Etínia deixa-se cair no transe da leitura, agora ignorando completamente os gritos desesperados do seu amo do lado de fora. Quando a gritaria e os barulhos finalmente cessam, ela sente-se bem mais segura para ir em frente reler o conto.



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