Pequenos Segredos de Nico di Ângelo

Você já fez algo que teve vontade de esquecer ou guardar para si mesmo? Como naquela vez que você traiu seu namorado ou namorada, ou naquela vez que falou mal do seu melhor amigo sem ele saber, ou então quando saiu escondido (a) no meio da noite para a festa da pessoa que você tá afim sem o consentimento dos pais?

E as vezes nem precisa ser algo ruim, as vezes são coisas que você quer manter para si. Como aquela promoção do iphone que você aproveitou e não contou para seus amigos, afinal, só você merecia ter um aparelho de última geração, mesmo que ele fosse mais barato que o normal, ou então daquela vez que a professora de matemática passou uma avaliação extra e você não contou para seus colegas por puro egoísmo, eles faltaram, então eles que se ferrem.

De todos os jeitos, sempre há algo que queremos guardar, um segredo para nos proteger ou nos beneficiar, é da nossa natureza guardar coisas, é melhor que as coisas sejam assim.

Um certo garoto andou guardando segredos sobre o seu passado, coisas que ele não gostaria de contar, mas que o ajudaram o formar quem ele é agora, coisas que ele pode usar como vantagem no futuro.

Esse garoto era Nico di Ângelo, esse garoto era “A”.

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POV Nico

Há muita coisa que eu gosto de esconder, coisas que eu quero manter para mim, segredos que me empurram para frente, que me ajudam a manter o foco e destruir a pessoa. Mas há muitas mentiras que eu contei, algumas bastante necessárias, se eu quisesse que meu futuro plano desce certo, talvez eu deva começar pela minha primeira lembrança de algo que impulsionou, algo que me mantem focado em “A”.

Eu nem sempre fiquei no Cassino Lotús, alguns dias antes de eu estar fora do Cassino (Ou na época eu pensei que deveria ser dias antes, mas agora eu sei que foi anos antes), eu estava passeando pelas máquinas de jogos e por algumas crianças que brincava em outros milhares de jogos que eu não sabia nem nomear, Bianca estava em algum lugar do hotel. Eu lembro de me sentir sozinho e triste naquele dia, eu só queria sair um pouco de lá, um pouco de ar livre era tudo o que eu precisava.

Em um certo ponto eu encontrei um lugar mais isolado do resto do Cassino, era um sala pequena e escura, eu entrei lá, desejando que algo extraordinário aconteceu comigo, foi aí que eu aprendi que a força de vontade pode fazer milagres, eu simplesmente escorreguei e tudo ficou escuro ao meu redor, uma sensação de frieza se instalou ao meu redor e vozes sussurravam, eu não entendi o que aconteceu na época, mas hoje eu sei que eu viajei nas sombras.

E de repente eu não estava mais no cassino, eu estava num lugar que parecia um parque, crianças corriam ao redor de mim esbarrando uma nas outras, algumas riam, outras gritavam, tudo era um caos só, um pouco mais distante eu vi um grupo de crianças derrubando o sorvete de um garoto que estava sentado em um pequeno batente, o garoto chorou. Naquela época eu não sabia, mas a viagem das sombras não só me transportou para outro lugar, como também me transportou para outro mundo.

Eu notei um grupo de 5 crianças não muito longe de mim, eles pareciam estar na faixa dos 7 a 8 anos, todos eles olhavam para mim e riam, apesar de uma garota que estar entre eles ria meio envergonhada.

– Ele é perfeito – Um garoto de cabelos castanho sussurrou olhando para mim – Olha a cara dele de mendigo, ninguém vai se importar se a gente fizer com ele.

Uma garota de cabelos pretos olhou para mim assustada, os olhos azuis safira inquietos demais – Gente, eu não quero fazer isso, não tem outro jeito de pagar essa prenda e ele parece ser mais velho que a gente.

– Ele é um perdedor isso sim, deve ser daquele tipo de garoto que perdeu a mãe e o pai cedo e agora vive nas ruas – Uma garota de cabelos ruivos – Vamos Samantha você tem que fazer, ninguém vai ser importar com o que acontecer com ele.

– Não gente eu não posso, não tem como ser outra coisa? – A garota que se chamava Samantha falou.

O garoto de cabelos castanhos deu um passo na direção de Sam – Ou é isso, ou você está fora do grupo.

A garota de cabelos pretos deu um longo suspiro e assentiu, alguns outros garotos um pouco mais velhos trouxeram um balde e largaram no chão aos pés da garota, ela pegou um balde com cuidado e o levantou com dificuldade. Ela se virou para mim e deu um olhar pesaroso, ela caminhou devagar na minha direção e posicionou os baldes com as duas mãos prontas para derramar o liquido que havia dentro.

– Joga! Joga! Joga! – O grupo de crianças começava a gritar, mais e mais, enquanto outras crianças mais velhas e mais novas chegavam e se juntavam ao coro.

Ela deu um sorriso forçado – Como é a frase daquele filme? Eu não lembro... Ah, lembrei! Sangue de porco para um porco.

Então a garota levantou o balde e jogou o liquido vermelho sobre mim, era quente e tinha um cheiro nauseante, comecei a ouvir risos e gargalhadas, olhei ao meu redor e vi que todos riam de mim e repetiam “Sangue de porco para um corpo”, olhei para as minha mãos, meus braços e para toda a parte do corpo que minha visão capturava, estava tudo coberto desse líquido vermelho. Oh meu deus, eu pensei, aquilo era sangue?

E todos continuavam rindo de mim, um ódio como eu nunca sentia antes subiu em mim? Por que eles continuavam rindo? Eu sentia ódio, raiva, humilhação, tudo ao mesmo tempo eu só queria sair dali, correr. Me levantei, ainda com as crianças rindo e comecei a correr, não sabia para onde, só sabia que eu tinha que sair de lá. Olhei para trás uma última vez, as crianças ainda apontavam e riam de mim, mas uma se destacou, a garota de cabelos pretos que se chamava Samantha, ela não gargalhava como todas as outras, mas eu via no rosto dela, o quanto ela havia gostado de tudo o que fez.

A imagem da garota congelou na minha mente e um ódio surgiu em mim. Eu passei por uma sombra de uma arvore e então tudo ficou escuro ao meu redor de novo, aquelas sussurros, aquela sensação de embrulho no meu estômago voltou e então eu estava de volta no Cassino. Eu lembro de correr desesperadamente até o meu quarto e ficar deitado lá por horas achando que era um pesadelo.

Mas o líquido vermelho não me deixava mentir.

Alguns anos mais tarde, depois de eu descobrir que eu era semideus, eu estava tentando treinar meus poderes, naquele tempo eu sentia raiva de Percy, mas não o ódio que eu sinto dele agora. A lembrança do ocorrido com as crianças ainda estava fértil na minha mente, eu suspeitava que o lugar para onde eu fugi não era no mesmo mundo que eu estava agora, então eu fiz um teste, eu entrei nas sombras de novo e desejei ir para um lugar desconhecido, algum lugar fora desse mundo.

E de repente, eu não estava mais no mesmo lugar eu estava em uma festa, de todos os lugares que eu poderia estar, eu vim parar justamente numa festa, pessoas se contorciam e dançavam por todos os cantos, levando bebidas nas mãos e em alguns cantos, alguns casais se agarravam, eu simplesmente odiava esse tipo de lugar. Eu senti um cheiro de maresia que rapidamente me fez lembrar Percy.

Foi então que eu notei algo de diferente, eu não conseguia sentir a presença do mundo inferior, eu não estava mais no que eu conhecia como mundo, esse era um lugar diferente, dava para sentir só pela energia que esse mundo me transmitia, era um tipo de força diferente. Mas em qual o mundo eu estava?

Comecei a tomar caminho entre as pessoas que pareciam nem notar a minha presença, quase como se eu não fosse importante, bom o que eu não era. Vi um pequeno bar ao lado da pista de dança, havia alguns bancos e me senti em um deles, eu precisava saber onde eu estava, mas nenhumas dessas pessoas pareciam dispostas a falar qualquer coisa, pelo tanto que elas estavam bêbedas, elas não iriam só vomitar palavras como provavelmente toda a bebida que havia ingerido.

– Você vem sempre por aqui? – Uma voz falou e olhei ao meu lado, um garoto que deveria ser uns três anos mais velho do que eu se sentou ao meu lado, o rosto dele estava corado e eu conseguia sentir o bafo dele de longe, ele devia ter menos de 18 anos e já estava bebendo – Quer dizer você não parece ser o tipo de garoto que vem por aqui.

Eu poderia ter ignorado o garoto, mas algo nele me atraia – Nem você.

Ele riu – Você tem um ponto, meu nome é Finnick e o seu?

– Meu nome? – Por que aquele garoto estava falando comigo e o pior, por que eu estava com vontade de falar com ele, mas eu não podia falar o meu nome – Will.

O garoto franziu as sobrancelhas – Will? É um nome bonito, escuta Will, você não quer sair para fora daqui? Já estou cansado desse lugar, mas eu não queria ficar sozinho.

Meu coração começou a bater mais forte, por que eu estava sentindo isso? Finnick era um cara atraente, cabelos castanho-claro, quase indo para um loiro, olhos verdes-claros e tinha um físico de quem praticava luta, eu o segui para fora daquele lugar. Durante o caminho Finnick acabou deixando escapar que estávamos num lugar chamado Panem, no distrito 4, o nome era desconhecido para mim, definitivamente era um mundo diferente.

Depois de alguns minutos já estávamos fora do estabelecimento, Finnick continuava falando sobre as coisas do distrito 4 mesmo parecendo muito bêbado, ele falou que é conhecido por aqui por ter ganhado um tal de Jogos Vorazes, seja o que quer que for isso. Finnick fazia piadinhas a todo o momento e de vez em quando ele parecia... ele estava flertando comigo? Algo no jeito dele me lembrou Percy.

– Então você é alguém da Capital? – Ele perguntou e então começou a me analisar, senti um arrepio no meu corpo – Não se veste como alguém da Capital, de onde você é? Obviamente não é do distrito 4.

Sorri, eu não entendia muito bem o por que, mas Finnick me fazia eu me sentir bem e confortável, mesmo sem ter o conhecido direito e o modo que ele me olhava, nós paramos ao lado de uma casa que parecia abandonada e ele ficou bem a minha frente, o olhar dele era forte e me atraía, um sentimento impulsivo tomou conta de mim e eu o beijei.

Quase que instantaneamente Finnick me empurrou – Você tá louco cara? Eu nem te conheço.

– Mas, eu achei... – Meu estomago embrulhou, eu era um idiota – Você estava flertando comigo e eu...

Finnick sorriu maliciosamente – Eu estava brincando contigo e provavelmente nem vou me lembrar disso amanhã, mas eu nunca ficaria com um perdedor.

Seria melhor se ele tivesse me dado um soco. Aquela mesma sensação de humilhação e ódio me atingiu em cheio, eu queria matar ele ali e era isso que eu deveria ter feito, mas em vez disso eu saí correndo dali, entrei numa sombra e logo depois eu já estava no meu mundo.

Eu saí em cima do Empire State, não no Monte Olimpo, mas em cima dele propriamente dito, me debrucei sobre a grade de proteção e olhei os carros la para abaixo, uma sensação de vertigem que nada tinha a ver com a altura do prédio tomou conta de mim, como eu fui burro, o que havia acontecido comigo? Por que eu fiz aquilo? Beijar aquele idiota, ah como eu fui burro.

Eu odiava sentir isso, eu não queria ser humilhado, nem desprezado, eu estava cansado e farto disso, primeiro aquela garota de tempos atrás, depois Percy Jackson que além de não ter conseguido salvar minha irmã, ainda fez eu me apaixonar por ele e agora esse tal de Finnic, todos eles símbolos da minah humilhação, do meu ódio.

– Sabe, de vez em quando é bom botar todo esse ódio para fora Nico – Pela segunda vez naquele dia eu fui surpreendido, um garoto de cabelos pretos estava ao meu lado, ele era da minha idade, ou parecia ser, e mantnha um sorriso nos lábios – As vezes a vingança é o melhor caminho.

Franzi a testa – Quem é você? E como sabe meu nome?

Ele riu – Eu sei de muita coisa e meu nome é “A”.

– “A”? Isso não é um nome, é uma letra – Falei sarcástico.

O garoto pareceu pensar – Tem razão, que tal Pain? Parece um nome apropriado.

– Afinal o que você quer? – Perguntei com uma ponta de irritação.

– Só ser seu amigo, sou novo na cidade e não conheço muita coisa, sou aprendiz de Hécate, acho que seria interessante fazer amizade com você – Ele falou e então se virou de costas para mim – E acho que vamos ser grandes amigos e pense no que eu te falei, vingança é o melhor caminho, acabe com eles.

E então ele desapareceu numa nevoa preta, de repente tudo o que ele falou fazia sentido para mim, vingança é o melhor caminho, sempre é, eu não sei como, mas eu ia acabar com todas as pessoas que me humilharam, eu ia tentar até ser bom com todos, eu ia ajudar Percy a vencer a batalha de Cronos e quando ele menos esperasse, eu ia acabar com ele.

De repente, o futuro pareceu muito mais feliz para mim.