A noite já havia caído, eu estava sentada em um colchão que eu e Percy achamos no depósito.

Depois que Finnick havia se acalmado, ele voltou a dormir, sua febre baixou e ele parou de tremer, até agora não tinha acordado, eu só podia imaginar o trauma que ele passou em Panem. Depois que ele adormeceu, Percy e eu exploramos mais o depósito, achamos enlatados, bolachas, e até alguns outros colchões, comemos e depois fomos descansar sem falar nenhuma palavra. Eu ainda estava tentando entender o que havia acontecido, meu cérebro estava cansado, Seria aquilo tudo real?

Olhei para Percy e depois Finnick, ambos dormindo, nenhum dos dois eram parecidos com os atores que o interpretavam no cinema, talvez Finnick fosse mais parecido. Foquei em Finnick, ele era bonito, eu conseguia entender por que ele era o garanhão de Panem.

– Insônia? – Eu estava tão perdida em pensamentos que não percebi que Percy havia acordado, ele me olhava com aqueles olhos verdes inquietantes.

– Sim, eu estava pensando sobre hoje.

Ele apenas concordou, parecia que estava pensando em mil coisas, tão perdido em pensamentos quanto eu. Ele parecia cansado e preocupado, tive que segurar minha curiosidade para perguntar o que havia acontecido a ele.

– Então – Falei tentando puxar assunto – Acampamento Meio-Sangue e semideuses e esses outros lugares existem mesmo?

Ele sorriu – Mais ou menos, pelo que eu entendi nesse mundo não, esse é um mundo sem magia ou algo assim.

– Nesse mundo? Então existem outros mundos?

Percy fez uma careta – Pelo que eu entendi, esse mundo em que nós estamos é chamado de mundo matriz, um lugar em que todos os outros mundos e dimensões se originaram, os outros mundos são de alguma forma parecidos.

– Minha cabeça realmente explodiu agora – Falei.

– Nós dos outros mundos aparecemos para vocês em formas de livros e outras coisas, isso é bem louco pra mim, até agora nem mesmo eu consigo acreditar nisso.

Fiquei pensando sobre isso, era tudo tão inacreditável. Então aqueles personagens que eu passei a amar e odiar são reais, estavam vivendo em um lugar por aí. Várias perguntas começaram a martelar em minha cabeça, mas eu não sabia como organizar tinha acontecido tanta coisa, mas uma pergunta me incomodou mais que as outras.

– Como você sabia de tudo isso? E como você veio parar aqui? – Pela expressão que Percy fez, ele sabia exatamente as respostas.

– É uma longa história, tem certeza que quer ouvir? – Ele perguntou e eu apenas acenei concordando.

Então Percy me contou como no dia do seu aniversário ele descobriu que sua namorada Annabeth foi sequestrada por esse tal de Pain, e como seus amigos partiram em uma jornada para resgatá-la, e em como tudo saiu errado. Percy ainda explicou o plano de Pain e em como ele queria (e conseguiu) fazer o feitiço que enviou todos eles para cá.

– Parece que o feitiço dele se estendeu para outros mundos também – Apontei para Finnick.

– Qual a história dele? Você Sabe? – Percy Perguntou.

Eu confirmei com a cabeça – Ele veio de um lugar chamado Panem, era um país com um governo totalitarista, todos os anos eles colocavam um casal de jovens de doze distritos para se matar em uma arena, era chamado de Jogos Vorazes, Finnick participou de um desses jogos e ganhou, ele morreu em uma invasão à capital, o centro do governo de Panem.

Percy abaixou o olhar, outa vez ele se perdeu em pensamentos. Pensei que se Finnick estava vivo, outros que haviam morrido estavam vivos também. Uma ideia começou a me incomodar, se Pain trouxe as coisas boas para esse mundo (não que eu considere Finnick e Percy como coisas boas, longe de mim), então talvez ele também tenha trazido coisas ruins, vilões, se sim, então tínhamos muitos problemas.

Depois de um tempo o sono começou a pesar em mim, olhei para Percy, ele já havia adormecido, depois de um tempo me acomodei no colchão e adormeci. No sonho, ou melhor, no pesadelo, eu estava de volta em minha antiga casa, meu irmão estava caído no chão uma poça de sangue ao redor de sua cabeça, minha mãe chorava e gritava e meu pai chorava no canto da sala, ele segurava um martelo ensanguentado.

De repente, os choros e os gritos cessaram, meu irmão que antes estava caído e morto no chão, começa a se levantar, seu rosto ensanguentado e deformado. Ele se aproxima de mim e me agarra pelo braço, seu rosto se contorce e ele começa a chorar lágrimas de sangue.

– Por quê? Por que você não me salvou? Por que me deixou morrer? – Ele gritava comigo, meu estômago apertou, era tudo minha culpa.

Eu acordei gritando e chorando, um braço me envolveu tentando me acalmar.

– Se acalma, está tudo bem ok, foi só um pesadelo – Uma voz firme e calma falava ao meu ouvido.

Afastei-me um pouco para ver quem estava me acalmando. Era Finnick, nossos rostos estavam tão perto que eu podia sentir a respiração quente dele, ele parecia melhor do que ontem à noite, suas energias pareciam revigoradas. Uma mão dele repousava sobre meu rosto, meu coração começou a bater mais forte e as palmas da minha mão suavam.

– Você está bem? – Ele perguntou.

Eu me levantei, fiz meu melhor olhar “Você não deveria ter feito isso”, me afastei dele, Finnick se levantou e me analisou (Por que eles fazem isso?), apesar de ele parecer melhor, eu conseguia ver um pouco de dor nos seus olhos.

– Eu estou bem, não preciso de ninguém – Falei.

Ele levantou as sobrancelhas – Não era o que parecia.

– Foi só um pesadelo, vai dizer que nunca teve um pesadelo – Coloquei sarcasmo na frase.

Ele sorriu e não respondeu, apenas ficou lá me olhando (de novo, pra variar). Olhei para Percy, ele estava sentado ao lado, sua espada em sua mão, ele me olhava com preocupação.

– Você estava chorando e gritando, ficamos preocupados – Percy disse.

Levantei-me e endireitei minha postura, queria mostrar para eles que eu não precisava de ninguém. Eu nunca gostei de ninguém tentando me proteger, eu sempre gostei de independência, todos os problemas que eu arranjava na escola eu mesma resolvia, nunca eu deixava que os meus amigos tentassem resolver por mim.

– Não preciso de proteção, a única coisa que eu preciso é de um hambúrguer – Olhei para Finnick – Você parece melhor, andou conversando com Percy?

Ele assentiu – Sim, Percy me explicou esse negócio de mundos e o fato de eu ser personagem de um livro, sabe esse negócio realmente está me deixando pirado.

Finnick e Percy trocaram olhares, ao que parece eles andaram conversando bastante tempo e sobre coisas que eles não estavam falando.

– Então, e agora, é cada um por si? – Perguntei

–Temos objetivos em comum, eu quero achar Annabeth e Finnick quer achar os seus amigos, nós vamos procurar juntos, se você quiser vir – Percy disse.

Eu assenti, a verdade, é que apesar de tudo, eu não queria ficar sozinha, e minha mãe havia sumido, eu não podia ficar parada, ela estava lá em algum lugar do mundo, ficar com eles é minha melhor opção.

Começamos a nos preparar para a viagem, não tínhamos um destino, mas sabíamos que íamos ter uma grande viagem, então pegamos comida e outros suprimentos para a viagem, eu achei algumas bolsas para guardar tudo oq eu a gente ia levar, e pegamos algumas facas para proteção apesar de eu achar inútil. Finnick se aproximou de mim.

– Então, você era minha fã ou algo assim? – Ele perguntou.

– Sim, quer dizer, não, você era o que eu menos gostava – Menti, Finnick era o meu personagem favorito em Jogos Vorazes, agora, aqui estava ele em carne e osso, fiquei pensado em o que minhas colegas fariam se o conhecessem. Provavelmente envolveria gritos e abraços desesperados.

– Vamos! – Percy disse – Nós precisamos sair daqui.

Saímos do depósito e andamos pelo beco, quando chegamos na rua, vimos que havia grande movimento, parecia que uma guerra havia começado, soldados do exércitos e policiais andavam pelas ruas, vários tanques de guerra eram vistos, a maioria dos carros que antes estavam na rua, agora estavam invadindo o meio fio.

– Gente, olhem isso – Finnick disse, ele estava agachado, olhando para uma caixa de sapato.

Em cima da caixa havia um papel com uma mensagem escrita “Para Percy, Finnick e Samantha”, olhei para os dois e abri a caixa. Dentro havia um celular (Um smartphone pra ser exata), liguei o celular e havia uma mensagem escrita, li a mensagem em voz alta:

– “Espero vocês em Chicago –A”.