POV Tris

Eu estava lá de novo, no meio daquele galpão, uma garota de cabelos castanhos e um capuz preto sobre eles, ela tinha uma expressão de surpresa em seu rosto, ela me olhou com olhos brilhando de lágrimas. Eu olhei para baixo e vi minhas mãos em volta de uma faca, havia sangue nela. Então eu entendi o que eu havia feito.

– Me desculpa, mas eu tinha que fazer isso – Tentei falar olhando para a garota que estava na minha frente – Você ia mata-lo.

Ela me olhou, seus olhos faiscando de raiva – Eu vou te matar, Tris Prior. E eu vou te levar para o túmulo comigo.

Então ela avança em mim e eu acordo gritando. Eu não estava naquele galpão horrível, eu estava no meu quarto no orfanato abandonado de Nova York. Olhei para o lado, Clary Fray ainda dormia na cama ao lado e mais no fundo Katniss Everdeen estava enrolada em sua cama. Suspirei, tinha sido apenas um sonho, mais um horrível pesadelo desde que eu cheguei aqui.

Já haviam se passado dois meses desde que eu cheguei nesse mundo, o mundo “real”. Meus primeiros dias aqui foram particularmente difíceis, eu quase morri três vezes, na primeira por um ataque de ladrões e nas outras duas por monstros que ela pensou serem ciclopes. No meu quarto dia, eu havia conhecido Clary, descobri que ela assim como eu havia vindo de outro mundo e que ela era um Caçadora de Sombras (demorei dois dias para entender o que era isso).

Depois conhecemos Harry e Katniss, Harry era um bruxo e Katniss havia vindo de um lugar chamado Panem, ele se juntaram a nós. Esse foi mais ou menos o tempo em que Nova York realmente começou a ficar um caos, a cidade estava praticamente sendo controlada por traficantes e marginais. Percebemos que precisávamos de um lugar fixo para ficar e se proteger.

Foi como viemos parar no orfanato. Era aparentemente um lugar vazio e abandonado, havia uma placa pendurada dizendo “Orfanato Radley Para Crianças Problemáticas”, logo que entramos percebemos que o lugar não estava vazio, havia crianças lá, descobrimos que o pessoal do orfanato havia se mudado depois do Dia D (O dia em que Pain, o cara que aparentemente é responsável por tudo, unificou o mundo), mas elas haviam permanecido.

Foi nessa mesma época que eu comecei a receber aquelas mensagens. Logo que cheguei ao orfanato eu comecei a receber bilhetes de alguém que se denominava como “A”, primeiro eram mensagens provocativas e debochadas, pensei que talvez fosse de alguma das crianças sobreviventes do orfanato tentando passar um trote, depois as mensagens começaram a se referir a minha família e a coisas que tinha acontecido no meu passado, mas depois me lembrei de que aqui nesse mundo minha história está em um livro. Qualquer um poderia ter escrito.

Mas as mensagens começaram a ficar assustadoras, eram ameaças de morte, descobri que meus amigos também estavam recebendo essas mensagens ameaçadoras de “A”, e logo depois Leo Valdez e aquela garota chegaram. Eu não podia mais pensar nela, o que está feito, está feito.

Levantei-me e saí do quarto. Ainda eram sete horas da manhã, de acordo com as garotas do orfanato, em um dia normal o zumbido de carros estariam me infernizando, mas depois do Dia D, tudo isso havia parado. Adentrei na cozinha e me sentei numa mesa.

Duas meninas do orfanato já estavam acordadas, a primeira era Alice, uma garota de cabelos e olhos escuros como o vazio (Como a mesma insistia em se descrever) e pele morena, ela era apenas uma das várias garotas do orfanato que tentavam flertar com Leo Valdez. A segunda era Pietra, uma garoto de cabelos castanhos claros, olhos azuis acinzentados, assim que ela me viu ela lançou um sorriso. Pietra tinha um crush por Tobias, meu namorado. Anotei mentalmente que se um dia eu encontrar Tobias e ela estiver por perto, vou me certificar que ela fique bem longe.

Leo Valdez entrou na cozinha e sentou ao meu lado.

– Bom dia – Ele falou sorrindo – Dormiu bem?

Tentei sorri – Mais ou menos.

– Pesadelos? – Ele perguntou.

Eu assenti. Alice que estava preparando o café, rapidamente o terminou e entregou uma xícara de café para Leo e outra para mim. Pietra se sentou na cadeira à minha frente e tomou seu café. Leo sorriu.

– Está ótimo, Alice – Ele sorriu para ela e depois deu uma piscadela, o rosto de Alice ficou vermelho.

– Vocês souberam? – Pietra falou – Sobre Chicago?

O nome rapidamente chamou minha atenção – O que tem Chicago?

– As autoridades estão tentando entrar em Chicago, mas aparentemente existe uma barreira invisível que impede qualquer pessoa de entrar lá – Ela me deu um olhar rápido.

Chicago existia no meu mundo também, era a cidade em que eu vivia. Pietra me deu outro olhar, eu sabia o que ela estava pensando, que Tobias podia estar lá. Eu tenho passados os dois últimos meses pensando em meu reencontro com Tobias e onde ele estava, Chicago era uma das minhas primeiras apostas.

Clary, Harry e Katniss entraram na cozinha.

– Bom dia – Eles falaram quase ao mesmo tempo, então começaram o café.

– Leo, você vai comigo e com Katniss procuram suprimentos para o Orfanato, a comida começou a acabar – Harry anunciou.

Katniss se remexeu em seu banco – E então, alguém tem recebidos mensagens de “A”? – Katniss parecia nervosa, não era por menos, as mensagens que ela recebia de “A”, era sempre envolvendo sua irmã, Prim.

Todos balançaram a cabeça.

Leo soltou – Não desde que ela sumiu.

Meu lábio inferior tremeu, ele não sabia ninguém ainda teve coragem de contar a ele. Eu, Katniss, Harry e Clary trocamos um olhar, havíamos combinado de não contar nada a ele. Harry se levantou.

– Bom, é melhor irmos – Ele falou.

Katniss e Leo se levantaram de suas cadeiras e seguiram Harry. Eu me levantei também, Clary me seguiu e fomos até o quarto em que estávamos dormindo. Quando chegamos lá, havia quatro garotas do Orfanato rindo e conversando. Quando elas nos viram, elas tropeçaram e tentaram se ajeitar, as crianças do orfanato me tratavam como uma heroína, isso era bom, mas também era uma farsa. Eu não era essa heroína que elas pensavam.

Olhei para as meninas, Esther uma garota morena, olhos da cor de chocolate e cabelos pretos que se considerava uma seguidora de Katniss estava sentada em minha cama com um caderno em mão. Bárbara, uma garota de cabelos encaracolados cor de mel, pele branca e olhos azuis me olhava meio envergonhada, mas não desviava olhar. Mariana, uma garota de cabelos e olhos castanhos, segurava o livro que por acaso contava minha história chamado Divergente. E por último, Ariana, que estava com o rosto vermelho, ela tinha cabelos e olhos castanhos e escuros e usava um óculos ao melhor estilo Harry Potter.

– A gente já está saindo – Bárbara anunciou e saiu do quarto com as outras logo atrás.

Clary olhou para mim, eu sabia o que ela estava prestes a falar.

– Olha, eu sei que você está se culpando pela morte dela – Ela falou – Mas era ela ou Leo.

Me sentei em uma das camas – Eu não sei se eu queria ter o sangue dela nas minhas mãos.

– Eu sei, mas foi preciso Tris, você não deve se culpar – Clary falou.

– Nós devíamos ter contado a verdade para Leo – Falei.

Clary se sentou ao meu lado – E contar que a namorada dele era “A”? E que queria mata-lo? Acho melhor ele pensar que ela morreu impedindo “A”. Tris, Calipso era “A” e ponto final, você não teve outra opção.

A porta do quarto se abriu e Ariana entrou, ela tinha na expressão algo entre nojo e medo, ela só ficava assim quando via uma pessoa.

– Ele está aqui – Ela anunciou.

Eu me levantei e me dirigi até a porta, troquei um olhar com Clary. Eu sabia muito bem de quem Ariana estava falando. Desci as escadas para o hall de entrada do orfanato e rapidamente localizei os visitantes, havia cinco deles, eu reconheci dois deles, o primeiro que era o líder, ainda estava do mesmo jeito de quando eu o conheci, seu rosto coberto de piercings. O segundo era um garoto alto de rosto meio robusto, havia uma cicatriz sobre o olho direito dele.

– Olá Tris – Eric falou – Há quanto tempo.

– Eric – falei – Conseguiu o que eu pedi?

Eric acenou com a cabeça – Sim, mas eu quero o pagamento antes.

Clary me entregou alguns suprimentos, comidas e armas e entreguei para Peter, o segundo garoto que eu reconheci. Quando cheguei em Nova York, o bando de ladrões que quase me matou era o bando que Eric e Peter haviam formado. Peter me reconheceu e me liberou, desde então, quando quero alguma informação eu pago para eles e geralmente eles conseguem.

– Ele está aqui – Eric falou com desdém – Aquele desgraçado está aqui.

Dei dois passos na direção dele – Onde?

– No Empire State, no topo, mas você sabe né? – Ele falou me dirigindo um sorriso – É impossível chegar naquela área.

O último serviço que havia pedido a Eric era conseguir informações de Pain. Havia rumores de que sua sede ficava em algum lugar de Nova York.

Eric se dirigiu até a porta – Se você conseguir falar com ele, certifique-se de dar um murro bem no meio do rosto dele.

Então ele saiu até a porta. Já fazia um mês que estávamos tentado achar informações de Pain, mas o feiticeiro era quase impossível de se achar, apesar de já suspeitarmos há algum tempo que ele estava naquela área de Manhattan, era uma área cheia de dinossauros e monstros, era com se houvesse algo lá e os monstros estivessem protegendo, chegar até lá ia ser difícil.

Harry, Katniss e Leo entraram no orfanato. Harry estava com as sobrancelhas franzidas.

– O que Eric estava fazendo aqui? – Harry perguntou.

– Ele conseguiu – Clary respondeu.

Katniss que passava a maior parte do tempo calada, falou – Ele conseguiu descobrir onde Pain está? Onde é?

– Empire State – Respondi.

Leo se encostou na porta – Agora faz bastante sentido aquela área estar cheia de monstro, aquele desgraçado estava lá esse tempo todo.

Ninguém falou mais nada, Pain havia destruído a vida de muita gente, fora que várias pessoas desse mundo já haviam morrido. Um tremor passou pelo meu corpo, um frio irrompeu no Orfanato, como se ele soubesse que estávamos falando dele e estivesse se divertindo com isso.

Eu quase podia ouvir a voz dele. Venham me pegar.

Um rugido ecoou pelo hall de entrada, eu rapidamente me levantei em estado de alerta, os outros seguiram o exemplo.

– É um cão infernal – Leo falou – Esse é dos grandes e está do lado de fora.

Leo se dirigiu até a porta e saiu, eu e Clary trocamos um olhar e seguimos Leo, Katniss e Harry foram logo atrás. Um cão infernal do tamanho de um hipopótamo estava lutando contra três indivíduos, um garoto estava investindo contra o cão om uma espada que parecia ser de bronze, o outro estava usando o que parecia ser um tridente e havia uma garota acertando flechas no cão. O garoto com a espada acertou um golpe na barriga do cão e o outro garoto enfiou o tridente na garganta do monstro que explodiu em pó dourado. Os guerreiros se viraram para nós.

O garoto com a espada tinha cabelos pretos, pele bronzeada e olhos verdes-mar, o garoto com o tridente tinha cabelos castanho-claros quase loiros, olhos verdes-claros e pele bronzeada. A garota tinha cabelos pretos que caiam como cascata pelo seus ombros e olhos azuis-safira, ela tinha uma expressão um pouco orgulhosa, como se dissesse acabei de derrotar um monstro sozinha.

Leo correu para o garoto com a espada e lhe deu um abraço – Percy!

Katniss correu para o garoto com o tridente e lhe deu um abraço também.

– Eles se conhecem? – Harry conheceu

Clary bufou – Obviamente.

A garota parecia desconfortável, e então eles vieram até nós, Leo tinha um grande sorriso no rosto.

– Gente esse é o Percy, ele é um grande amigo meu – Leo falou, Percy acenou e cumprimentou todos nós.

– E esse é Finnick – Katniss falou – Ele é um amigo meu – Ela se virou para o garoto – Fico feliz que você esteja vivo.

Ele riu – Pain decidiu que eu tinha mais uma chance de sofrer.

A garota revirou os olhos e nos cumprimentou – Meu nome é Samantha, sou a amiga mortal deles dois.

– Então – Leo falou – O que vocês estão fazendo na Big Apple?

– Estamos procurando... Alguém – Percy respondeu.

Leo se virou para mim – Ei, eles podem ficar aqui no Orfanato, enquanto estão na cidade, certo?

Troquei um olhar com Clary e Harry, então eles acenaram.

– Ok, eles podem ficar – Falei por fim.

Leo comemorou – Vamos Percy, eu vou te mostrar o lugar.

Leo entrou com Percy, logo atrás Katniss entrou com Finnick ao seu lado. Clary entrou também e Harry bufou e seguiu eles, sua mão estava sobre a varinha no seu bolso. Eu não me mexi, nem Samantha, ela me deu um sorriso incerto, como se não soubesse o que fazer.

– Então, seu nome é Tris, não é? – Ela perguntou e eu acenei – Imaginei que fosse, eu li sobre você.

Acenei sabendo sobre o que ela estava falando.

– Acho melhor nós entrarmos – Eu falei e ela concordou.

Ela foi até meu lado e nós fomos juntas até a porta. Então eu senti um arrepio na nuca e me virei, Samantha também fez o mesmo, aparentemente ela também sentiu o mesmo, vi um movimento em um beco próximo, então uma voz ecoou nos meu ouvidos, era a voz de Calipso e ela dizia:

Assassina.