Saint Seiya - Klahan - O Escolhido dos Deuses escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 5
Recordações


Notas iniciais do capítulo

As «Correntes do Suplício» parecem surtir o efeito esperado por Promethee, levando Klahan a mergulhar nas lembranças das quais buscou esquecer e que tanto consomem sua alma.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497693/chapter/5


RECORDAÇÕES

______________________________________________________



Com os braços abertos pouco acima da cabeça, o corpo pendia para frente, com os cabelos negros caindo sobre seu rosto sujo de sangue pelas escoriações do ataque que sofreu. No canto da boca os resquícios do sangue que vomitou ao sentir sendo estrangulado, e os ferimentos das correntes em seus braços acabava por cria uma pequena poça de sangue devido as feridas abertas pelas correntes. Klahan respirava pesado, ainda sendo mantido ajoelhado, em posição de subjugo aos pés de Kaliam que o observava orgulhoso em assistir aquilo. Harish mantinha-se mais adiante, inconsciente devido os ferimentos provocados pela Entidade Suprema do Julgamento – uma vez que carregasse um doloroso ferimento de suas lutas passadas, potencialmente de sua última, que o debilitava a cada dia.

– Sente as correntes queimarem o mais fundo de sua alma, Klahan? Isso é o que a corrente faz: insere uma violenta dor em seu corpo direto em sua alma! – diz Kalian puxando-o pelos cabelos e levantando sua cabeça.

De fato, por mais que não expressasse claramente seus sentimentos, Klahan sentia aquela agonia dilacerá-lo. “É como se sentisse minha alma sendo rasgada em mil pedaços, perfuradas com milhares de agulhas incandescentes...”, pensava ele naquele momento trincando os dentes. Sentiu Kalian soltar sua cabeça e ouvi-lo tomar sua lança.

– Vou levar sua cabeça como um troféu e deixar exposto para que todos possam ver que ninguém pode desafiar os deuses, principalmente Apolo...

“Não deve se deixar entregar, Klahan...”

Ecoara uma voz em sua mente, uma muito familiar da qual ele hesitava em acreditar em primeira instância. Piscou aturdido buscando ver à sua frente. Não eram as ruínas do vilarejo que avistava, mas uma intensa luz e dela uma silhueta que se revelava alguém sobre brumas douradas.

“Não se deve deixar enganar por mentiras. Você conhece a verdade. Lembre-se da promessa que fez a mim? Lembra-se, Klahan...?”
, e a voz se perdeu como um vento. Toda aquela dor que consumia seu corpo agora parecia semelhante àquela noite, quando ainda era uma criança sozinha naquele templo.


.oOo.


O que hoje eram ruínas foi o vilarejo de Sharampur, um vilarejo pobre que mantinha certa singularidade quando comparada à outras próximas naquela região: a peregrinação junto a um templo que guardava uma criança ‘prodígio’ capaz de realizar milagres e profetizar visões que acabaram por transformar a vida daquelas humildes pessoas.

A região mergulhara na miséria em conseqüência das guerras, e aquela criança de cabelos negros como a noite e de olhos azuis como céu limpo da manhã, tornou-se símbolo de esperança. Alguns ousavam dizer que era a própria encarnação divina encontrado sozinho naquele templo, há muito abandonado, por alguns monges que o cercou de todos os cuidados. Após sua aparição, um período de prosperidade tomou a região, alimentando ainda mais sua ‘divindade’. Em seu sétimo aniversário, o menino que atendia pelo nome de Klahan, seria submetido a mais intensa transformação que marcaria para sempre sua vida.

Estava em meditação como era de costume, sozinho próximo às antigas estátuas de Buda ainda preservadas, em posição de lótus no chão e olhos fechados, marco da influência grega que chegou àquela região séculos atrás. Algo pareceu alertá-lo, fazendo-o apertar os olhos no instante em que sentiu todo o seu corpo pulsar. Uma sensação tomara seu corpo e mente, fazendo-o levantar a cabeça, antes baixa, e observar a única janela ali existente e perceber uma luz que cruzara o céu.

Os seus olhos azuis emitiram um intenso brilho naquele momento, acompanhado de um poderoso cosmo que era capaz de emanar em tons dourados com riscos azulados circundando-o. Os seus olhos azuis brilhavam intensamente fitando um ponto qualquer numa expressão de perplexidade. Quando seus olhos se fecharam, ele se mantivera num profundo estado de onisciência por dias, preocupando a todos que temiam por uma terrível revelação.

Escondida no templo, uma jovem assistia sempre o garoto em seu estado contemplativo. Em sua mãos ela carregava alguns ramos de flor de lótus a em tom verde azulado, estas das quais adornava o templo. Ela o assistia escondido quando o ouviu chamá-la.

– Não é preciso se esconder.
– disse ele em sua voz serena, sem nem ao menos se mover. – Aproxime-se!

A garota piscou aturdida, caminhando em sua direção com roupas surradas e descalça e deixando o ramo de flores diante dele, ainda imóvel.

– Lótus...
– disse ele virando a cabeça sutilmente em direção das flores, mantendo os olhos ainda fechados.

A garota se sentiu maravilhada com aquilo, contemplando-o. e indagando como ele poderia saber com o que ela o presenteara se nem mesmo havia aberto os olhos. Ele esboçou um sorriso sereno.

– Não são os olhos que me fazem ver aquilo diante de mim. Posso dizem quem é você sem nem mesmo abrir meus olhos. Ela apenas ficou a fitá-lo, prostrada diante dele.

Nos dias que se seguiram, ‘tempos difíceis’ foram anunciados pelo monge através do garoto que se mantinha recluso. Um período de frio intenso no inverso que aproximava. Um certo pânico tomou aquelas pessoas, e o garoto pela primeira vez se mostrou diante de todos, os olhos fechados e sua expressão serena instruindo a todos a usarem o tempo que havia para se preparar produzindo pouco além do cotidiano naquela região que sobrevivia numa economia de subsistência.

– Antes dos tempos brancos, ainda teremos o calor do sol. Aproveitem esse período e se resguardem pelos meses que seguirão.
– anunciou ele antes de se retirar. Um velho homem que o assistia, manteve-se atento ao garoto que pressentiu algo peculiar emanando dele.

De fato, o inverno fora rigoroso, tornando a peregrinação escassa naquele período. Apenas alguns monges mantinham-se no templo, mas deixando Klahan na maioria do tempo sozinho em sua meditação. Eles não pareciam ter conhecimento de Sukhon, a garota que o presenteara com lótus semanas após seu sétimo aniversário e sempre presente desde então. Era a única a quem ele mantinha alguma conversação e conhecimento sobre o mundo exterior. Klahan crescera no templo, sem jamais pisar uma vez fora dele ao longo daqueles anos.

Nas semanas que antecedia seu 13º aniversário parecia pressentir algo, tomando seus sonhos e seu estado de onisciência bastante perturbado. Sukhon assistia seu transtorno meio sua meditação, um abalo em seu cosmo, e por esta razão conseguiu convencê-lo acompanhá-la para assistir o amanhecer no ponto mais alto que havia no vilarejo, este localizado atrás do templo. Houve hesitação, mas cedeu por fim por saber que os monges ainda dormiam. Sentir a brisa refrescante da manhã tocar o seu rosto foi uma sensação única da qual o fez sorrir – uma reação da qual a garota jamais assistiu vir dele naqueles anos.

– O sol logo vai nascer...
– comentou ela apontando na direção e ele apenas assentindo. Poderia não ver com seus olhos, mas conhecia bem as direções e ‘enxergar’ à sua volta. – Veja por seus olhos, Klahan, ao menos uma vez.– comentou ela recuando alguns passos para que ele tivesse a liberdade de ver por si só, e não pela sua onisciência. Afastou-se pouco mais ao encontrar Amarílis, flores típicas da região em seu tom avermelhado da qual comentou ser suas preferidas.

Klahan sorriu para ela, voltando-se a fitar o horizonte ao sentir o calor do sol, a beleza daquele mundo que conhecia apenas dos sonhos, do outro lado daquele mundo.

– Por que mantém seus olhos fechados para este mundo, Klahan?
– perguntou ela às suas costas.

A resposta parecia simples, mas nem mesmo ele parecia saber responder com precisão e ou de maneira objetiva. A verdade era certo medo. Seus olhos eram capazes de ver muito além do humano, enxergar os mundos que se cruzam sem que pessoas comuns pudessem ver.

Enquanto fechados, podia suprimir isso, projetar-se para esses mundos e conhecer seus segredos e mistérios, e nisso obtendo revelações. Mais que isso, foi capaz de aprender a ler a essência das pessoas, a sua alma. Foi assim que soube quem era Harish, pois a alma de um cavaleiro guarda bem mais que um 'sopro divino', mas um grande universo da qual ele é capaz de torná-lo quase divino... como ele próprio, capaz de despertar seu cosmo ainda muito jovem.

Quando seus olhos se voltaram para o céu, seus olhos brilharam intensamente, como se estivesse sendo revelado algo, sentindo todo seu corpo pulsar violentamente naquele momento. Ele caiu ajoelhando sobre a relva e levou a mão aos olhos. Seria uma vertigem ou realmente assistia toda aquela manhã bela ser tomada por sombras? Olhou à sua volta e não via a garota próxima a ele, mas assistiu o templo se tornar ruínas. Gritos ecoaram e chamas ganharam o alto. Era o vilarejo sendo entregue ao caos. Uma sinistra aparição se colocou à sua frente, fazendo Klahan o encarar assustado.

– É CHEGADO O MOMENTO, KLAHAN, DE ASSUMIR O SEU LUGAR PARA AQUILO DA QUAL FOI PREDESTINADO.
– ecoou uma voz imponente sem uma direção definida, até a imagem ganhou a forma à sua frente.

A imagem que surgiu diante de Klahan era um homem de porte altivo e cabelos vermelhos que lembravam chamas, enquanto seus olhos eram um dourado que lembrava o próprio sol. Aquele garoto, adorado como um deus vivo, estava sendo convocado pessoalmente por uma divindade para assumir o seu lugar junto aos deuses? O garoto apenas estremeceu, embora isso não era o suficiente para intimidá-lo e fazê-lo baixar os olhos e a cabeça. Ele se levantou, observando aquela deidade à sua frente e ao vilarejo mais abaixo.

– Fala de... abandoná-los?
– disse esticando o braço e apontando o lugar sem desviar seus olhos da aparição diante dele.

SEU DESTINO RESERVOU-LHE ALGO MAIOR. DENTRO DE TRÊS SEMANAS, KLAHAN. ESTEJA PREPARADO!
– e a aparição desapareceu meio a névoas.

Klahan sentiu o toque de Sukhon em seu ombro, com a outra segurando algumas flores e ele a fitando-a perplexo, piscando aturdido. Tudo à sua volta estava relativamente normal, com o templo inteiro e o vilarejo em sua mais completa paz. Teria sido um sonho, uma revelação?

Aquilo o deixou atônito por alguns instantes, levando-o a voltar rapidamente de volta ao templo, onde mergulhou em profundo estado de meditação por dias mantendo-se em jejum e recluso. Nem mesmo com Sukhon trocava qualquer palavra. Ela o assistia transtornar-se em suas meditações, o seu cosmo atingindo níveis elevados. Os aldeões mostravam-se preocupados , assim como os monges... mas ninguém ousava perturbá-lo.

Na manhã que antecedia seu aniversário, a cidade foi tomada por um forte vento e as nuvens se mostraram carregadas. Era um período de moções na região, algo até comum naquela época do ano, mas Klahan pressentia que havia algo mais. Naquela madrugada que seria seu 13º aniversário, aquela aparição novamente se fizera presente, mas diferente de antes, não houve surpresa ou mesmo qualquer temor.

O garoto abriu os olhos, levantando-se e encarando aquela entidade à sua frente que o convocava em acompanhá-lo. A sua resposta foi um passo atrás e um virar do rosto, fechando os olhos.

OUSA RENEGAR A MIM? VOCÊ FOI POR MIM AGRACIADO E POR ISSO ADORADO POR ESSAS PESSOAS. COMO SE ATREVE REAGIR ASSIM DIANTE DE MINHA PRESENÇA?

Klahan voltou para encará-lo, fitando-o com seus profundos olhos azuis.

– Foi através do que chama de ‘graça’ que posso compreender o que quer, e por isso não pretendo ser parte de algo tão sórdido.

As palavras de Klahan foram calmas, mas incisivas, provocando uma fúria naquela aparição de modo a emanar uma poderosa força que foi capaz de subjugar o garoto a ajoelhar-se diante dele pressionando seu corpo para baixo – criando uma fissura no chão onde ele até então mantinha-se de pé.

SEU INSOLENTE! QUEM PENSA QUE É PARA RENEGAR A MIM? FAREI DE SUA GRAÇA SUA MAIOR PENITÊNCIA!!!

Exclamou a deidade elevando sua mão sobre o jovem Klahan que sentiu seu corpo ser paralisado naquele instante. Seus olhos, tão expressivos, brilharam de tal modo que o garoto sentiu queimar como se fossem chamas. Jamais as sentiu antes em suas provações, mas aquela era diferente.

Os seus olhos escuros logo se transformavam em um dourado como daquele deus diante dele, mas criando faíscas e luzes sem qualquer controle por parte do garoto. A sua reação foi cobri-lo com as mãos, mas foi em vão. Uma forte dor foi sentida por Klahan que tentou controlar-se até gritar em agonia por aquilo. A deidade diante dele sorri com aquilo, recolhendo a mão e recolhendo algo da essência de Klahan para que, em seguida, desaparecesse.

Na câmara onde sempre se exilava, Klahan apenas ouvia seus gritos, o que chamou a atenção dos monges sempre presentes no templo para assisti-lo, ouvindo-os se aproximarem. A sua reação oi apenas de se virar, inconsciente de sua condição naquele momento, e aquilo o fez gritar ainda mais quando viu aqueles homens serem consumidos pelas chamas e se tornarem uma pilha de cinzas que desmoronou ao toque do jovem deus daqueles homens. Sentia as lágrimas descerem por sua face, mas não a sentia queimar.

Tateou até a saída, sendo guiados pelos gritos que atravessavam as paredes do templo. Ameaçou abrir os olhos, mas nem bem era preciso. Ele podia «ver» com clareza a cidade ardendo em chamas e a rua sendo banhada com sangue pelos corpos que jaziam no chão. Klahan caiu ajoelhado, deixando seu grito ecoar mais alto que tudo sem que houvessem quem o silenciasse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo...
As lembranças podem guardar segredos e grandes revelações, e agora é o momento de «abrir os olhos» para a verdade escondida meio às mentiras.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Saint Seiya - Klahan - O Escolhido dos Deuses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.