A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 8
Problems and debts




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– Que cara horrível! – Foi à primeira coisa que Tisha disse quando chegou até a minha casa.

– Muito obrigada – Respondi irônica.

– Amiga você está precisando de um dia no salão, sem querer te ofender, mas você anda meio acabada... – Se abaixou para fazer carinho em Lucy que estava grudada na perna dela.

– Não ofendeu – Ironizei mais uma vez.

– Se você quer o papel na peça é o melhor a se fazer, honey.

– Me conta mais sobre essa tal peça.

– Ah sim... – Ela abriu sua bolsa e me entregou um folheto.

– Grease? O musical? – Arregalei meus olhos quando li “Testes para o musical Grease, na Broadway”.

– Sim. Você adorava esse filme, sabia cantar todas as músicas de cor e salteado.

– Grease? – Repeti mais uma vez não acreditando no que estava vendo e ouvindo.

– Anne, relaxa, eu vou te ajudar. Você tem um DVD original esse filme, vim pra cá para assistirmos e te ajudar a cantar uma das músicas.

O filme era bem legal, a história de como os “garotos” mudam na presença dos amigos e o jeito que ela muda o físico para poder se encaixar na vida do cara que gostava... Recomendo para as adolescentes que postam no facebook que estão sofrendo por amor. Tisha me fez colocar na parte karaokê do DVD e ficamos horas tentando cantar uma das músicas, estava sendo patético e divertido.

– Última vez, Annezinha! – Ela fazia cara de criança.

– Você disse a mesma coisa às 10 músicas anteriores – Revirei os olhos.

– Dessa vez eu prometo que é a última, você está quase pegando o jeito.

– Tá, última vez. E eu sou a Sandy.

– Por quê? – Ela colocou os braços na cintura.

– Por que quem vai fazer o teste sou eu! – Imitei-a.

– Tá... – Ela deu play na música - Summer loving had me a blast - Ela começou.

– Summer loving happened so fast – Continuei.

– I met a girl crazy for me - Nos olhamos e caímos na gargalhada.

– Met a boy cute as can be - Cantei entre os risos.

– Summer days drifting away, to oh oh the summer nights - Cantamos juntas.

Resumindo o nosso dia foi assim… Cantamos a tarde toda naquele maldito karaokê, os testes começariam em duas semanas e eu precisava me decidir qual música cantar e como atuar, Tisha sugeriu que eu assistisse ao filme todas as noites ou quando eu não estivesse fazendo nada, para eu “sentir a energia dos personagens e ter conhecimento dos seus sentimentos” fala sério, Tisha realmente nasceu para psicologia.

Ela estava fazendo o jantar, pois disse que eu era uma péssima cozinheira. Caramba, ninguém me dá um voto de confiança nessa vida? Assim complica... Eu a ajudava a pegar os ingredientes, mas na verdade estava quase roendo as unhas para contar a ela sobre as minhas descobertas, porém não sabia se era o momento certo. Já que não contaria a ela sobre o Maurício, poderia contar sobre o Ricardo, assim ficaria mais aliviada e com a consciência mais leve.

– Tisha?

– Sim... – Ela respondeu enquanto mexia o arroz.

– Sabe o Ricardo? – A cara maliciosa daquela menina me assustou, que pervertida! – Não é isso sua idiota!

– Ah! – Ela retomou sua atenção para o arroz.

– Eu já o conhecia antes.

– Sério? – Se virou para mim novamente – Ele te contou?

– Não... Na verdade, ele ainda nem sabe que eu me lembrei dele.

– Como assim “se lembrou”?

– Tive uma memória da antiga Anne... Eu costumava o chamar de Ricky – Ela deixou a colher cair no chão – O que foi?

– Ricky? Ricardo Parker?

– Não sei...

– Como ele é Anne?

– Alto com cabelo tom loiro escuro e tem olhos verdes.

– Puta que paril, ele é totalmente, perdidamente, incondicionalmente apaixonado por você.

– O que? – Arregalei os olhos.

– Desde que começamos a trabalhar naquela empresa ele tentou se aproximar de você. Antes o motivo de você não querer a aproximação dele era o Maurício, mas ainda sim conversava com o Ricardo, porque ele é uma pessoa muito legal. Depois a sua revolta foi tão grande que não queria chegar perto de homem algum – Deu de ombros – Como está sendo “conviver” com ele sabendo disso?

– Bom, eu não estou mais convivendo... Quer dizer, não o vejo desde o dia em que descobri isso – Ela deu um sorriso de lado.

– Eu te entendo. Não fica assim...

– Não vou ficar só preciso que as minhas memórias voltem.

– Irão voltar.

– Falando nisso... – Fui até o armário e peguei dois comprimidos.

– O que é isso?

– Os medicamentos do senhor zumbi. Vão me ajudar – Engoli os dois com a ajuda de um copo d’água.

Foi uma noite muito agradável, nada melhor do que passar um tempo com a minha melhor amiga. Convidei-a para dormir na minha casa e ela não pensou nem duas vezes em aceitar. Mas não fez isso pelo amor que sente por mim, e sim porque queria realçar a cor do meu cabelo e cuidar da minha aparência – mereço... – ou seja, tive um dia de salão em casa, com direito a fazer o pé e a mão. Não vou mentir e dizer que não estava gostando, mas me fazer de chata com a Tisha era bem divertido, ela se irritava com tudo, e eu simplesmente adorava irritá-la.

No dia seguinte acordei já era bem tarde, e Tisha já havia saído para trabalhar. Estava dando banho nos meus bebês quando vi dois envelopes debaixo da porta de entrada, quando terminei peguei-as para ver o que era.

– Prezada senhorita Johnson – bufei – nós do condomínio Manhattan queríamos lhe informar que se as suas dívidas não forem pagas até o fim do mês seremos obrigados a lhe convidar a se retirar.

Li aquelas linhas várias e várias vezes e ainda não conseguia acreditar no que estava escrito, e o pior veio depois, o valor da minha dívida: U$3.900,90.

– PUTA QUE PARIL! – Gritei.

Peguei a minha carteira e vi que tinha alguns cartões de crédito de bancos diferentes, liguei para o primeiro, para o segundo e depois para o terceiro e último banco.

– Olá, meu nome é Anne Miller e eu gostaria de consultar o meu saldo.

– Olá senhorita Miller, bom... Seu saldo de emergência é de U$5.000 dólares – Aquela voz feminina me fez suspirar de alívio – Mas há uma clausula no seu contrato com o banco que diz que a senhorita só poderá retirar o dinheiro quando estiver com 40 anos completos.

– O QUE? COMO ASSIM? – Alterei minha voz.

– É o que diz no contrato senhorita, se quiser você pode alterá-lo...

– E como é que eu faço isso?

– Você precisa vir aqui no banco com seu advogado e pagar U$1.000 dólares para refazer o contrato.

É eu estava mesmo na rua.

– Ok, obrigada por NADA! – Desliguei o telefone.

O que eu ia fazer agora? Sem dinheiro e sem um emprego? Não esqueça que você tem mãe. Uma voz ecoou na minha mente. É isso! Eu poderia pedir um dinheiro emprestado para a minha mãe... Afinal, não é pra isso que a família serve? Nas horas boas e ruins, é quase um casamento. Até que a morte nos separe, eu ainda serei a filha dela.

– Mãe?

– Oi filha!

– Como você está?

– Estou bem e você? Aconteceu alguma coisa?

– Não vou mentir pra você, aconteceu sim.

– O que houve?

– Resumindo a história toda, se eu não pagar uma dívida de quase 4 mil dólares estarei pobre, desempregada e na rua.

– Anne Miller eu disse pra você arranjar um marido! – Ela falou séria.

– Você é a primeira pessoa que me chama de Miller sem eu corrigir.

– Não desconverse! Você achou que ligando pra cá eu te emprestaria algum dinheiro não é mesmo? Mas acontece que a minha situação é pior que a sua, se não fosse a sua irmã eu estaria morando debaixo da ponte!

– E ela é o que? Prefeita da cidadezinha de NashVille?

– Sim – Arregalei meus olhos – Ela ganhou o cargo duas vezes seguidas e graças a ela moro onde moro. Mas nem morta ela me deixaria enviar dinheiro pra você.

– E eu não quero nada que venha dela, e não quero que você comente sobre a minha crise financeira com ela.

– Apesar dos apesares ela é sua irmã!

– Apesar dos apesares ela arruinou a chance que eu tinha de ter um homem, como você diz.

– Se não fosse tão cabeça dura e tivesse aceitado o pobre Maurício de volta, nada disso teria acontecido. Não bote a culpa nela.

– Ah... Então você a defende? – Alterei a minha voz – Defende a gêmea vagabunda?

– ANNE, EU NÃO ADMITO QUE FALE ASSIM DA SUA IRMÃ.

– E EU NÃO ADMITO QUE VOCÊ A DEFENDA DEPOIS DE TODA A DOR QUE ELA ME CAUSOU.

– ELA CONTINUA SENDO DA SUA FAMÍLIA.

– NÃO! ELA NÃO É DA MINHA FAMÍLIA, NEM VOCÊ, NEM NINGUÉM. A PARTIR DE AGORA EU NÃO TENHO FAMÍLIA NENHUMA, QUERO QUE VOCÊS SE DANEM! – Desliguei.

Eu não podia acreditar no que acabara de ouvir. Minha própria mãe defendendo uma vadia de quinta categoria que arruinou a minha vida. Agora eu entendo por que a Tisha me disse que eu vivia brigando com a minha mãe e gostava mais do meu pai. Minha mãe sempre defendia a filha preferida dela, sempre a queridinha da família. Eu não podia contar mais com a minha mãe, não podia contar com um pai que eu nem lembro o rosto, não podia pedir uma coisa dessas para a minha melhor amiga e nem pra ninguém. O que eu ia fazer? Ir à luta.


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