A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 7
Tears wash the soul




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Acordei em uma cama de casal grande e macia, a janela estava fechada e já era de noite. Sentei-me e novamente aquela dor de cabeça veio me irritar. Observei bem o quarto, tons pastéis, grande, bem organizado, uma TV estava na minha frente, um criado mudo do lado esquerdo e um closet espelhado fechado. Eu estava horrível! Parece que a cada vez que acordo minha aparência piora. Ou talvez seja por que eu não tenha me arrumado adequadamente para sair. Levantei-me e fui abrir a porta do closet para poder usar o banheiro, sei que a casa não era minha, mas obviamente havia um banheiro dentro do closet. Estava tão desnorteada que só quando abri a porta que eu reparei que havia alguém debaixo do chuveiro – Maurício – pensei. Ele pareceu não notar a minha presença ali, e quando dei por mim eu já estava analisando o seu corpo. Maurício era um homem muito bonito! Com seus 1,8 de altura, loiro, olhos claros, musculoso. Perdi-me nos pensamentos e acabei suspirando alto de mais, pois segundos depois ele se virou assustado para onde eu estava e a minha primeira reação foi virar de costas e cobrir o rosto com as duas mãos.

– Anne, você está bem?

– Ahn... Sim, estou bem. Me desculpa, eu já vou sair.

Ainda de olhos fechados peguei na maçaneta da porta, mas sua mão pegou em meu braço me impedindo. Ele já estava com a toalha enrolada na cintura e com alguns pingos de água escorrendo pelo peitoral definido e sem querer novamente eu estava olhando para o seu corpo. Seus olhos se encontraram com o meu e eu me perdi naqueles lindos olhos azuis hipnotizantes. Aquele silêncio confortável tomou conta do recinto, era como se apenas nossos olhos se comunicavam e o tempo parecia não passar nunca. Eu poderia ficar horas encarando aquele homem que um dia já chamei de meu, mas se ambos não falassem algo logo daqui alguns míseros segundos estaríamos nos beijamos. Se eu queria? Por um lado sim, sentir a sua boca como se fosse à primeira vez. Mas por outro lado, era melhor não. Isso poderia confundir a minha vida mais do que já estava.

– Eu... Vou pra casa – Disse abrindo a maçaneta da porta.

– Eu te levo! – Ele disse saindo atrás de mim.

– Não precisa! – Peguei a minha bolsa que estava em cima da cama.

– Eu faço questão, não saia dai, eu já volto! – Ele foi para dentro do closet e fechou a porta.

Bufei e sentei na cama. Esse homem ainda vai me deixar pior do que já estou... Rola um climão desses, ele quer me levar pra casa, e daqui duas semanas terei uma consulta com ele. Isso é como se fosse aqueles momentos em que uma aluna pega um professor. Peguei meu celular e já marcava 7h30 da noite. Puxa, eu dormi bastante! E ainda na minha “antiga” cama... Havia algumas mensagens.

Anne, onde você se meteu? Está com o tal do Ricardo? Passei na sua casa e nenhum sinal de você. Não se esqueça dos seus filhos!
Tisha

Nunca me esqueceria dos meus bebês. Achei melhor não responder a mensagem, ligaria pra ela quando chegasse em casa sã e salva, se é que era possível. Depois de alguns minutos Maurício apareceu. Vestia uma polo azul, calça jeans escura e um all star velho.

– Quer comer alguma coisa antes de irmos? Você nunca foi uma boa cozinheira... – Ele riu.

– Engraçadinho – Fiz careta – Hoje no almoço eu fiz um macarrão delicioso, ok? – Me fingi de ofendida.

– Parece então que a sua perda de memória valeu um pouco a pena – Mostrei a língua pra ele e em seguida cruzei os braços, o fazendo rir – Falando nisso, o que aconteceu com você antes de desmaiar?

– Nada de mais – dei de ombros.

– Anne...

– O que?

– Eu sou seu médico, preciso saber – Ele cruzou os braços e me encarou firme.

– Tive uma memória de quando a gente terminou só isso. Podemos ir pra minha casa agora? – Desconversei.

– Claro...

O caminho todo foi um silencio puro, a não ser pela música que tocava no rádio. A letra da música me fez lembrar o Maurício e dos “momentos” pelos quais eu mal me lembrava de que passamos, e ele parecia ter imaginado o mesmo que eu já que o pegava me encarando de vez em quando, senti minhas bochechas arderem – Droga Anne, não piora a situação – ele apenas sorriu para mim e continuou dirigindo sem dizer uma só palavra, hora ou outra uma troca de olhares, mas nada de mais. Suas mãos batucavam o volante de vez em quando e foi ai que eu reparei que ele tinha uma aliança banhada a ouro no dedo também.

– Está noivo?

Ele estranhou a minha pergunta e quase bateu o carro em um caminhão a nossa frente, brecou em cima da hora e eu quase que bato a minha cabeça no vidro. Buzinas de pessoas estressadas começaram a me perturbar.

– Você está bem? – Ele me perguntou preocupado verificando se eu havia me machucado.

– Estou e você?

– Sim – Virou para frente. Ele percebeu que eu ainda esperava uma resposta – Não. Essa é a nossa aliança.

Eu sabia, só queria ouvir isso da boca dele. Se eu gostava de ver as pessoas constrangidas? Um pouquinho... Um sorriso sapeca surgiu nos meus lábios, mas logo tratei de tira-lo de cena.

– Ah sim...

Em pouco tempo chegamos ao meu condomínio, eu não sabia se só falaria tchau e saísse do carro, se fazia algum comentário sobre hoje ou se apenas agradeceria a carona... E como eu era uma pessoa um tanto confusa decidi fazer tudo isso.

– Obrigada por hoje, me ajudou bastante. Sua casa é bem legal, gostei do colchão da sua cama. Tchau – Já fui saindo do carro.

– Ei – Ele gritou do carro e eu me virei pra trás – Você sempre dizia isso sobre o colchão da minha cama ser melhor que o seu, sinta-se convidada para dormir lá quando quiser. Boa noite.

Eu acenei sem graça e ele se foi. Eu deveria levar isso como uma coisa boa ou ruim? Pois esse convite me pareceu um pouco sutil demais. Tratei logo de livrar esses pensamentos e fui para casa. Mike e Lucy estavam na sala, mas graças a Deus não destruíram nada, só derrubaram a comida que tinha deixado antes de sair no chão. Estava sem fome, então decidi ligar logo pra Tisha antes que ela aparecesse na minha casa com uma viatura.

– ANNE MILLER JOHNSON, ONDE A SENHORA SE METEU?

– Oi amiga, eu estou bem obrigada por perguntar...

– Você quase me matou do coração, tá meio ruim da memória e resolve dar perdidos por NY?

– Eu perdi a memória, mas não sou tão burra assim, Tisha. Tive uma consulta com o Ma... – Quase pronunciei Maurício - Com o doutor zumbi que eu te falei e depois fui conhecer um pouco a cidade – Menti.

– Sozinha?

– Sim.

– Sei... – Falou desconfiada – Amanhã à tarde vou passar ai e te dar alguns detalhes sobre os testes ok?

– Tudo bem... Preciso logo de um emprego.

– Sei muito bem disso – Rimos – Bom, eu tenho que desligar e, por favor, não suma. Me sinto responsável por você nesses momentos.

– Tudo bem mãezinha, amanhã nos falamos, beijos.

Desliguei o aparelho e fui direto para o meu quarto. Estava sem sono e sem fome, por isso decidi “descobrir” as coisas em minha casa... Debaixo da cama havia outras caixas que resolvi xeretar também. A maioria era álbum de fotos, mas eu não estava nem um pouco afim de rever a cara feia de ninguém, então apelei para uma caixa cheia de cartas e peguei a primeira – De Mauricio para Anne – respirei fundo e comecei a ler.

Anne,

Aquele seu olhar me matou. Eu sabia que tinha de recolher minhas armas e recuar, percebi que já não havia nada pra se salvar dessa “história de amor”, pois você não queria me escutar. Toda vez que me lembro disso eu chego a me desesperar, sem saber o que eu irei fazer daqui pra frente. Eu ainda posso ouvir as palavras que você sussurrou, quando me disse que me queria eternamente em seus braços e me perguntou se é por causa de um mal entendido que deixou todos aqueles sonhos que construímos no passado, amassado e jogado no lixo. Desde que você me deixou eu não consigo passar um dia sem pensar em você. Já faz três anos e eu ainda te amo. Queria te agradecer pelas manhãs de sorrisos, pelos abraços fortes e os carinhosos. Obrigado pelos conselhos. Obrigado por me fazer, mesmo que por pouco tempo, feliz. Obrigado por me dar carinho, quando ninguém estava disposto a dar. Obrigado pelas conversas sem nexo. Obrigado por me fazer esquecer as más lembranças. Obrigado por me fazer esquecer tudo que me fazia mal e que ainda faz. Obrigado por estar tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo. Bom se a gente volta-se não sei, mas daria minha vida por você, eu juro pela minha morte que eu nunca vou fazer o que eu fiz com você novamente. Eu ainda sinto algo forte por você. Espero que um dia você possa me perdoar, se esse dia chegar ao menos me mande uma carta dizendo que já esqueceu e que eu posso voltar a viver sem essa culpa que tanto me corrói, me mande uma mensagem, me liga, fala para Tisha entrar em contato comigo, qualquer coisa, apenas tente me perdoar antes que eu morra com essa culpa me sufocando. Nunca te esquecerei.

Maurício.

Sim, eu estava chorando. Sim, a antiga Anne era uma idiota sem coração. Como ela pode ser tão ruim com Maurício depois dessa carta? E havia mais umas 20 assinadas por ele. Aquela cena deveria ter mexido realmente com o psicológico dela pra ser tão sangue frio de nem ao menos perdoar o coitado. Sei que a antiga Anne sofreu com isso, mas a nova Anne estava sofrendo mais ainda por ter sido uma pessoa horrível, por ter sido tão egocêntrica e só ligar para os sentimentos dela e não da outra pessoa envolvida. Pessoas cometem erros, certo? E todos nós devemos ter uma segunda chance, ou apenas uma. Meus pensamentos agora estavam voltados em Ricardo, ele também era outro que sofreu nas mãos da antiga Anne. Ainda era tudo muito confuso, precisava me abrir com a minha melhor amiga amanhã e saber o que ela achava de toda aquela loucura e dor de cabeça que estava rondando a minha vida. Será que os problemas sempre apareciam dessa maneira? E se eu guardava essas cartas poderia ser um sinal de que eu ainda as lia e pensava sobre o assunto, caso contrário já teria jogado fora. Não estou certa? Uma chama de esperança se acendeu dentro de mim, talvez eu não fosse uma pessoa tão horrível assim como eu julgava ser. Espero estar certa. Espero que tudo se resolva. Apenas espero.


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