A Nova Vida de Anne escrita por Biju


Capítulo 11
The test of my life




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Acordei cedo na manhã seguinte e deixe Tisha dormindo, pude perceber que ela mal conseguira pregar o olho na noite passada. Tá aí um dos motivos para eu concordar com a antiga Anne, se apaixonar tem seu lado bom e ruim, e a minha melhor amiga estava passando por esse lado ruim. Fiz um café forte para me manter em alerta o dia todo e me sentei em um banco de frente para a bancada e comecei a folhear um jornal. Teste para a peça da Broadway hoje a partir das 10 horas. Era o que dizia em um dos catálogos. Eu estava ansiosa e nervosa ao mesmo tempo, isso tinha que dá certo. Não sei por que estava tão animada assim, já que mesmo que desse errado eu tinha uma carreira de modelo pela frente. Meu celular apitou duas vezes, uma mensagem:

Está preparada criança?
Ricardo

Ri enquanto lia e respondi:

Estou capitão!

– Bom dia – Tisha chegou à cozinha cabisbaixa.

– Bom dia meu doce – Dei um beijo na bochecha dela – Está melhor?

– Na mesma – Suspirou e sentou-se em um dos bancos em frente à bancada.

– Meu teste é às 10h, quer ir comigo?

– Pode ser – Ela enchia uma xícara com café.

– Sabe... Você poderia fazer o teste comigo! – Tisha se engasgou.

– O que?

– É. Você sabe todas as músicas, as falas dos personagens, seus “sentimentos” e coisas do tipo. Por que não?

– Eu não sei Anne...

– Ah, vamos lá Tisha. Vai ser divertido! – Disse animada o que tirou um sorriso de canto de seus lábios.

– Por que não?

– Isso! – Dei pulinhos de alegria – Sabia que eu te amo?

– Sabia – Mostrei a língua pra convencida.

Fomos nos arrumar e eu fazia de tudo para ser a pessoa mais engraçada possível pra ver a minha melhor amiga feliz. Minhas tentativas eram falhas, o que a fazia rir. Eu devia estar sendo uma total palhaça, mas se isso não a deixava triste então estava tudo bem.

Depois de darmos uma última ensaiada fomos com o carro de Tisha até o teatro da Broadway, tinha várias pessoas formando uma fila e a porta já estava aberta, puxei a morena pelo braço e fomos entrando, até que um rapaz magricelo parou em nossa frente impedindo-nos que continuássemos o trajeto até o palco.

– Com licença, temos um teste pra fazer – Disse tentando passar novamente, mas ele me impediu com um pare com a mão.

– No final da fila.

– O que? – Olhei para a fila que cada vez aumentava conforme as pessoas chegavam – Temos que pegar essa fila filha da puta para chegar ao palco e cantar? – Sem perceber estava gritando com o garoto que me olhava assustado.

– Obrigada pela informação – Tisha forçou um sorriso e me puxou pelo braço – Vem, vamos – Disse mais baixo.

– Eu não acredito que temos que pegar fila para fazer o teste. Isso não estava escrito no folheto! – Sim, eu estava agindo como uma criança mimada e isso fez a minha amiga rir.

– Relaxa Anne. AI MEU DEUS – Ela quase gritou olhando para outra direção – Aquele ali não é o Ricky do escritório? – Olhei para a direção que ela olhava.

– É sim, vamos entrar na frente dele! – Puxei-a pelo braço – Ricky! – Dei um abraço nele que me retribuiu.

– Oi Anne – Ele deu um sorriso amplo, mas se desfez quando viu Tisha, a encarou confuso e preocupado ao mesmo tempo.

– Oi Ricky! – Tisha o cumprimentou, ele apenas retribuiu e deu um sorriso sem graça.

– Temos mesmo que pegar essa fila? – Falei com uma voz infantil novamente.

– Sim Anne – Tisha revirou os olhos – Relaxa que pelo que parece, cortamos metade da fila.

– Aqui é só o começo. Vamos pegar as nossas senhas, sentarmos e depois os diretores chamarão de 5 em 5 números para se apresentar no palco.

– OQUE? TODAS ESSAS PESSOAS ME VERAM CANTANDO? – Gritei atraindo alguns olhares bravos.

– É – Ricky riu – Não se preocupe, se você passar, o número de pessoas que verão você cantar será 5 vezes maior – piscou, dessa vez foi Tisha quem riu.

Fiz uma cara emburrada cruzando os braços e fiquei ali esperando. Depois de mais ou menos meia hora já tínhamos recebido nossas senhas e nos sentamos na quarta fileira vaga na plateia. Eram três diretores. Um homem que parecia ter seus 70 anos de idade – parecia ser o diretor dos diretores pelo jeito que os outros o tratavam – Outro homem com seus 35 anos e uma mulher bem jovem, poderia ter até a minha idade que pelo jeito que se movia deveria ser a coreografa, professora de dança ou qualquer outro nome que dão para pessoas que dançam.

A concorrência era grande. Não digo isso pelo número de pessoas que estavam presentes e sim pelas apresentações que se passaram. Havia pessoa que de longe dava para ver que jamais se encaixariam em papel algum, mas outras pareciam ter nascido pra isso. Meu estomago embrulhou. Droga estava com medo outra vez. Senti uma mão apertar carinhosamente a minha e vi que era a mão de Ricardo, que sorria. Retribui o sorriso e a apertei de volta e ficamos assim, sem mais nem menos, de mãos dadas e com medo – digo isso por mim, pois Ricardo estava tranquilo – Olhei para Tisha e ela assistia as apresentações com entusiasmo, ela também estava tranquila. Mas para ela passar ou não, não teria muita importância, afinal a sua área era psicologia e não artes cênicas. Já eu me formei nisso, teria que ter pelo menos algum trabalho na minha área, era como se fosse uma obrigação.

O lugar era enorme, e escuro. Não digo isso apenas pela falta de iluminação – pois estava concentrada no palco – mas porque tudo que alimentava o local era de tons escuros. Era amplo e convidativo, mas me dava medo. Medo de cair, medo de errar, medo que riam de mim. Medos e mais medos, mais uma vez senti a mão de Ricky apertar a minha. Um aperto que dizia “Fique calma” e outro olhar que dizia “Estou com você” sorri largo e tentei me concentrar nas apresentações.

O que os diretores diziam para as cinco pessoas que estavam no palco era para fazerem uma cena da escolha dos próprios diretores e simplesmente, encenar. O diretor mais velho escolhia os papéis provisórios para que eles atuem e assim faziam. Quando ele não gostava, trocava os papéis até conhecer um pouco de cada um e avalia-los. Eles eram bem rígidos, esse meu pensamento fez meu estomago embrulhar de novo.

– Números: 151, 152, 153, 154 e 155 – O diretor mais novo disse em alto e bom som.

– Somos nós... – Disse olhando para eles em pânico, eles me olharam serenamente e sorriram indo em direção ao palco.

Além de nós três havia um rapaz moreno dos olhos negros, alto e musculoso. Pela maneira que se vestia já tinha na cabeça que conseguira o papel de Danny. Ao lado dele, uma garota loira com cachos na ponta, olhos azuis e roupa preta colada se achando a próxima Sandy, o que me deixou com a cara amarrada.

– Sorria e seja simpática – Ricky sussurrou no meu ouvido, me fazendo lembrar o dia em que estava me dando dicas sobre presença de palco – Melhor, seja você mesma – Olhei para ele e sorri.

– Número 151 – O diretor chamou – Me diga seu nome e sua idade.

– Ricardo Parker, 28 anos – Ele sorria mostrando seus dentes brancos perfeitos mantendo um sorriso travesso nos lábios e suas mãos estavam para trás.

– Número 152...

– Anne Miller, 25 anos – Falei em um tom determinado que nem eu mesma sabia que tinha, com a cabeça erguida e um sorriso de canto. O diretor olhou para mim e sorriu, posso estar ficando louca, mas juro que vi piscar para mim.

– Número 153...

– Patrícia Jones, ou Tisha. 25 anos. – Ela falou de um jeito meigo atraindo a atenção do diretor que sorriu da mesma forma que Tisha sorria.

– Número 154...

– Logan Patterson, 27 anos – Piscou para a possível coreografa que na hora corou. Segurei meu riso.

– Número 155...

– Mary Stevens, 22 anos – A loira piscou para o diretor que retribuiu da mesma forma, droga!

– Bem... – o diretor mais velho nos estudou pelo olhar – Senhorita Stevens será Sandy, senhor Patterson será Danny, Senhorita Jones será Betty, Senhorita Miller será Jan e senhor Parker será Kenickie. Quero que vocês atuem a cena final.

O outro diretor que agora percebi ser o roteirista nos passou um papel com a fala de cada um, era uma para cada na verdade, e depois de falarmos teríamos que cantar a música You Are The One That I Want. Estudei-as rapidamente e encenamos. Todos foram muito bem, confesso. Acho que teria problemas para conseguir o papel da Sandy, como eu disse, a concorrência estava grande. Mas na hora de cantar, acho que nem Mary e muito menos Logan estavam qualificados, eu quase tive uma crise de risos se não fosse pelos cutucões de Tisha e os olhares “Tenha postura” do Ricky não tivessem me parado. O diretor mais velho sorriu satisfeito com a nossa apresentação, pediu para que fossemos atrás do palco dar nossos dados a um de seus funcionários e nos ligaria dizendo se passamos ou não.

– Vocês viram a voz dele? – Estava falando entre as gargalhadas enquanto saiamos do teatro – Parecia um pássaro engasgado. E a voz dela? Não gente, espera. Acho que alguém estava em um enterro – Ri mais ainda e eles me acompanharam.

– Mas não posso negar que atuam muito bem – Ricky disse com uma cara meio desanimada.

– Mas a sua voz é melhor do que a atuação deles, isso já te faz um Danny Zuko, gatinho – Apertei suas bochechas e sai saltitando na frente dos dois rindo feito uma criança.

– Que tal sairmos pra comer? Por minha conta! – Tisha disse sorrindo.

– Tem certeza? – Perguntei meio aflita já que ela acabara de ser demitida.

– Claro que sim, vamos!

Então nós três fomos até o Nando’s comer. Pude observar Tisha e Ricky cochichando quando voltei do banheiro, mas assim que eu me sentei agiram como se nada tivesse acontecido. Poderia adivinhar pelo olhar de ambos do que se tratava, Tisha perguntaria o porquê ele não me disse a verdade sobre me conhecer e Ricky perguntaria para ela como se sentira depois de tudo que aconteceu e lamentava muito a sua demissão. O clima só não ficou tenso, pois eu “não sabia de nada” e estava muito animada depois de ouvir a voz das estrelas do rock. Almoçamos assistindo A última música, que me rendeu algumas lágrimas no fim do almoço. Tisha me olhou estranha e fez um comentário sobre eu não chorar quando assistia filmes, e eu afirmei que era uma nova pessoa e senti um olhar alegre de Ricardo. Talvez ele não tenha entendido muito bem a “nova pessoa” que eu disse, mas logo entenderia.


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