Pale (interativa) escrita por Harpia


Capítulo 11
Honestidade


Notas iniciais do capítulo

1º missão de Jinx e Maisha. Estão presentes nesse capítulo: Sarah, Allan, Jinx e Maisha.



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No momento em que chegaram à Minato, bairro onde se localizava a Torre de Tóquio, abandonaram o veículo numa rua residencial pacata e antes de seguirem fizeram questão de checar se a linha cortante e mortal que levavam na bolsa estava bem enrolada e posicionada de modo que não tivessem dificuldade em retirá-la para ferirem a vítima.

– Se a missão der errado, não estou dizendo que vai, estará um caos lá em cima e nós vamos ter que passar pelos seguranças para descermos, por isso eu trouxe as pistolas.

Dentro de suas respectivas bolsas haviam duas pistolas carregadas. Jinx teve a ilustre ideia de que se algo não desse certo, o mais correto era que se suicidassem - o que com certeza poderia manchar a imagem da comuna e criar mais suspeitas. Por que duas jovens bonitas tentariam assassinar a mãe de uma aniversariante e ao não conseguirem se suicidariam?! Elas não tinham nenhum vínculo com a vítima, tampouco histórico criminal, obviamente haviam sido contratadas para matar a senhora viúva, e quem ultimamente era suspeito de contratar jovens para serem assassinos? A comuna de Pale! Os investigadores desvendariam o enigma instantaneamente e Obel seria preso. Jinx não queria prejudicá-lo, apesar dos incômodos que ele a proporcionou.

– Também existe outra opção, se a missão der errado... - Maisha anunciou, buscando qualquer opção além de tirar a própria vida. - Podemos fugir juntas, ir para o lugar mais distante possível e trocar nossos nomes e nossos rostos.

– Se conseguirmos fugir os líderes de Pale nos caçarão até no inferno e provavelmente nos encontrarão.

– Isso é loucura - aborrecida, Maisha sacudiu a cabeça negativamente. - De qualquer forma... Se alguma coisa de errado, nós estamos marcadas para morrer. Se conseguirmos sair, teríamos que voltar para Pale e eles nos executariam.

– Exatamente. Por isso, suicídio é a melhor opção, assim vamos ferrar com eles também.

– Jinx.

– Oi?

– Por que fizemos isso com a nossa vida?

– Porra, essa foi mesmo a maior merda em que me meti.

O relógio de pulso de Jinx marcou dezoito horas e elas tiveram que ir. Não foi uma caminhada longa até lá. Na entrada do local, próximos às portas automáticas, haviam dois seguranças. Um deles era um americano de pele negra que se comunicava com os parceiros em inglês através de um rádio e o segundo era um japonês robusto com o cabelo comprido e preso num rabo de cavalo. Ambos, vestidos em um terno, eram enormes e imbatíveis. Elas não conseguiriam combatê-los se a missão fracassasse. Se misturando entre um grupo de turistas que se dirigiriam às lojinhas do térreo, as duas compraram os tickets para subirem aos 250 metros e adentraram no elevador com uma assistente e um estrangeiro hipster abraçado à namorada loira. Desacostumada com altura, Jinx controlou a vertigem tentou não olhar para o chão de vidro conforme os prédios locais tornavam-se minúsculos debaixo de seus pés. No entanto, esvaziando a mente, Maisha contemplava a visão da cidade como se fosse a última vez - e de fato ela achava que seria.

Num piscar de olhos, aos 250 metros, saíram do elevador e na porta do observatório principal haviam meros orientadores, uma moça e um rapaz. A tensão aumentara e em breve eles exigiriam os convites ao barrá-las.

– Por gentileza, gostaríamos que apresentassem seus convites - ele pediu com educação.

Sentindo o suor brotar nas suas mãos, Jinx engoliu à seco e retirou o convite e a identidade do bolso externo de sua bolsa enquanto Maisha imitava tranquilamente sua ação. Entregou-os e tentou lançar um olhar honesto enquanto eles checavam a autenticidade dos documentos.

– Estão liberadas. Aproveitem a festa - a mocinha desejou, esticando um sorriso enquanto as devolvia as identidades e uma única pulseira branca de plástico exclusiva dos convidados.

Agradecendo, Maisha e Jinx pisaram no salão enfeitado e ficaram maravilhadas. No teto haviam bolinhas luminosas, cujas cores se alternavam entre amarelo e azul, penduradas como lustres que circulavam a torre, dando um toque requintado ao ambiente. Mesas estavam dispostas com bebidas para os adultos, doces, salgados e ao centro o bolo de cereja de dois andares da aniversariante. Sem entretenimento, não parecia apropriado para o aniversário de uma criança de dez anos.

– Espere um pouco - o rapaz chamou Jinx logo atrás, ressabiado. Em pose defensiva, Jinx se virou pronta para sacar a pistola da bolsa e estourar seus próprios miolos. – Você não pegou sua pulseira! - ele alertou, esticando um sorriso cafajeste ao entregá-la a pulseira.

– Muito obrigada - Jinx agradeceu novamente, portando-se com ternura.

Voltando suas atenções ao local da festa, dirigiram-se aos vidros das janelas onde as largas avenidas, Tokyo Skytree e a Rainbow Bridge reluziam em meio à penumbra do céu. Elas ficaram por cinco minutos sem trocar nenhuma palavra, somente apreciando a companhia uma da outra conforme outros convidados chegavam e lotavam o observatório com murmúrios e a barulheira das crianças que insistiam em correr independente de quantas vezes fossem pedidas para aquietarem-se. Jinx suspirou aliviada quando elas foram para os demais andares onde haviam disponíveis brinquedos, exposições e cafés.

– Como eu disse no carro, se a missão der errado estará um caos aqui em cima e nós vamos ter que passar pela staff para descermos - cochichou, pousando a cabeça sob o ombro de Maisha.

– Podemos atirar neles - ela sugeriu.

– Mesmo que eles caiam, ainda tem seguranças na entrada que vão escutar a gritaria. Você viu só o tamanho deles? - a contrariou, rolando os olhos.

Maisha se posicionou séria em sua frente, alertando com um tom baixo. - Então temos que ser cautelosas e matá-la silenciosamente.

– Eu trouxe um canivete em todos os casos. Quantas vezes precisamos esfaquear alguém para que ela morra no mesmo segundo?

– Só se cortarmos o pescoço dela... Mas vai jorrar muito sangue - lamentou sombriamente, tocando uma mecha azul bagunçada do cabelo de Jinx.

– Então nós vamos tentar levá-la a um canto onde não tenha ninguém por perto. Eu seguro a mulher com força e você corta enquanto tampa a boca dela - planejou.

Elas andaram até as telas que mostravam o mapa panorâmico da paisagem. Uma fila se formou atrás delas porque as telas são sempre concorridas. No visor, continham informações irrelevantes. Uma delas era de que essa torre era mais alta do que a torre Eiffel e que em dias ensolarados era possível avistar o Monte Fujii há quilômetros. Afastando-se do visor, Jinx enxergou pelo canto do olho quando a mãe e a aniversariante chegaram e os convidados se entusiasmaram para ir cumprimentá-las. Maisha acreditava de que todos estavam mais entusiasmados para comer logo o bolo de cereja.

Durante vários minutos, a senhora viúva interagiu com os familiares e amigos, recebendo presentes e cartões. Jinx notou uma oportunidade única no instante em que ela separou-se do grupo e foi para a mesa de bebidas. Aproximou-se e também pegou uma taça com champanhe, prestes a aplicar seu golpe cruel. Maisha fez um sinal e permaneceu próxima aos elevadores. Como o combinado, levariam a mulher para um lugar afastado para matá-la.

– Boa noite - Jinx disse num tom musical e abriu um sorriso encantador.

Sem reconhecê-la, a mãe da aniversariante foi simpática. - Olá, acho que ainda não nos falamos.

– Não mesmo - confirmou, eufórica. Precisava usar sua esperteza.

– Quem é você? Não me lembro do seu rosto - estreitou os olhos pequenos e castanhos para examinar melhor a feição da garota.

Ela mordeu o lábio inferior, as mãos voltaram a suar. – Na verdade, meu pai que é um amigo seu, não pôde vir então eu vim pessoalmente trazer o presente da sua filha.

– Um amigo meu?!

– Sim, aquele que não pôde vir, você sabe bem quem é - jogou.

A senhora bateu na própria testa, se achando estúpida. – Ah claro! Eu não sabia que ele estava doente, Takashi não me ligou para avisar sobre não vir. O que houve?– Sempre que a temperatura caí ele é internado com sintomas de pneumonia.

– Oh deus, sinto muito. Espero que ele melhore - de repente, a expressão da mulher se transformou em um intenso flashe de desconfiança. - Meu nome é Yoko. Qual é o seu? Não sabia que o meu amigo tinha uma filha inglesa.

Assumindo de que era a hora de agir, segurou a senhora pelo antebraço e a puxou em direção aos elevador aberto. – Pode vir comigo para que eu possa entregar o presente?

– Ah, sim, é que íamos tirar fotos... - Yoko tentou escapar.

Dócil, Jinx insistiu. - Eu prometo de que não vou demorar, estou com pressa e Takashi pediu para eu não ficasse até o fim da festa.

Convencendo Yoko, entraram no elevador, desceram e rumaram para um dos restaurantes isolados. O corredor estava parcialmente vazio se não fosse pelo funcionário da limpeza empurrando seu carrinho para dentro de uma sala de vassouras escura e apertada. Maisha ficou à espreita de uma das lojas fechada para manutenção, pronta para agarrar a vítima por trás e tampar sua boca para abafar um grito quando Jinx cortasse seu pescoço.

– Espere - a mãe da aniversariante estatelou.

Jinx tocou o metal da pistola dentro da bolsa. Se precisasse, iria sacá-la. - Nós vamos para aquele lado.

– Eu sei bem por quê você me trouxe até aqui.

– Sim... Para entregar o presente.

– Não me venha com essa história, mocinha. Eu sei quem te mandou para me matar, mas não se preocupe, não vou fazer nenhum escândalo.

– Não?

– Eu já estava ciente de que uma hora ou outra isso aconteceria. Meu marido morreu há pouco tempo e eu estou em dívida com Obel.

Jinx não desmentiu e nem confirmou. Yoko guiou-a até um guarda-volumes dos funcionários e retirou uma bolsa de couro cintético pesada de um dos armários.

– Vai, pega, a quantia para pagar a minha dívida está nessa bolsa.

Maisha notou que sua aliada estava em dúvida entre pegar ou não, então se intrometeu entre as duas e puxou agressivamente a bolsa pela alça, tomando-a das mãos da senhora.

– Eu não tinha intenção nenhuma de matá-la, a senhora parece ser uma boa pessoa. Estamos sendo obrigadas a executar as ordens de Obel, nos sentindo tão ameaçadas quanto você – explicou-a.

– Acho que esse dinheiro será o suficiente para convencê-lo de me deixar em paz - ela garantiu.

– O que a senhora vai fazer agora? – Maisha abriu uns centímetros do zíper da bolsa e checou se realmente havia dinheiro ali dentro. É claro que havia, várias notas de ienes, separadas e amarradas com um pequeno elástico.

– Eu vou embora deste país, estou indo hoje à noite com a minha filha. Vou recomeçar em outro lugar e ninguém pode me impedir, nem você e nem a sua amiga ou serei obrigada a apertar esse botão e acionar a segurança desta torre – a mulher ameaçou ao correr até um botão do alarme de incêndio, próximo a um extintor.

– Por favor, não faça isso, nós já estamos indo embora – Jinx implorou erguendo uma mão em um sinal significativo de "Pare".

Desistindo de denunciá-las, Yoko cruzou os braços. – Ah, e tem mais uma coisa que vocês podem fazer por mim.

– O quê? – Maisha franziu a testa, esperando pelo pior. E se ela quisesse que elas mesmas se entregassem para a polícia por tentativa de homicídio?!

Ao contrário do imaginado, sua proposta dependia da caridade e honestidade da dupla. – Me levem para o aeroporto. Se não puderem atender esse meu pedido, coisas muito desagradáveis podem te acontecer.

– Mas e a festa?

– Espero que os convidados se divirtam - decretou.

Indo embora às pressas da torre de Tóquio, Yoko subornou os seguranças para que eles não dissessem a ninguém de que ela estava saindo da festa com sua filha. Levando-as até o carro abandonado na rua residencial, Jinx pediu para que Maisha dirigisse enquanto, no banco passageiro, vigiaria se não haveria outro veículo perseguindo-as. Depois de pegarem uma rodovia, chegaram ao aeroporto e descarregaram a senhora e a aniversariante no saguão.

– Sou muito grata pelo o que vocês fizeram, nunca mais vou ver o rosto de vocês outra vez, sinto muito não poder protegê-las, mas com certeza se precisarem de alguma ajuda para fugirem de Pale estarei disponível, tenho muitos contatos - Yoko se despediu brevemente e entregou um cartão de visita à Maisha que continha o nome e o telefone dela.

~

Jinx e sua aliada partiram para Pale, rindo da situação quando a adrenalina tinha acabado. Não havia sido tão ruim. Devolveram o carro na portaria da sede da comuna e entraram sorrindo triunfantes, deixando os guardas confusos. Mesmo com toda a alegria na expressão de Maisha, seu olhar era de estado de pânico.

– O que você tem? - Jinx indagou, passando um braço ao redor dela.

– Será que ele vai aceitar o dinheiro? Ele queria aquela mulher morta e a alma dela.

– Não sei - rebateu incerta.

Depois de vagarem pelas vilas, tomaram o caminho mais rápido até o castelo, sem passar pelas cabanas dos assassinos. Como o esperado, no salão estavam Allan, Obel e Sarah. Segurando forte a mão de Jinx, Maisha carregou a bolsa e se pôs à frente deles.

Lançando um olhar ostentativo, Allan estalou os dedos. – Pelo visto, vocês conseguiram.

Jinx ignorou-o. – Obel, gostaríamos de falar com você.

– Digam - o velho pediu, sem muito interesse.

Maisha arremessou a bolsa para ele.

Ao pegá-la, abriu em um segundo e ficou boquiaberto. – O que é isso?

– Yoko disse que isso deve ser o suficiente para pagar a dívida dela.


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Notas finais do capítulo

AEEEEEEEE Estamos com mais de 100 reviews!! Em comemoração quero fazer uma trilha sonora para essa fic, então ME MANDEM O LINK DE UMA MÚSICA QUE VOCÊS QUEREM QUE SEJAM DOS SEUS PERSONAGENS!