O vento uivava naquele dia. Nunca, nenhum bruxo, ousava interferir na vida dos humanos. Muitos não tinham interesse nos humanos ou em suas vidas, diziam que eles eram monótonos demais. Mas o fato de serem ignorantes e não enxergarem diretamente as mágicas e encantamentos que também existiam no mundo deles, não significavam que eram entediantes. Pelo menos era assim que Thomas pensava.

Ele nunca havia prestado atenção em seu irmão, pelo menos não no fato de ele prestar atenção nos humanos. Seu irmão, Vladmir, nunca demonstrou nada por eles. Desde aquele incidente, ele não tinha tocado nem falado sobre os "não mágicos", como eram chamado os humanos em Scaris.

E agora ele estava esperando a resposta de Thomas, sobre voltar, depois de muito tempo, para o mundo humano.

— Ir ao mundo humano? - Ele repetiu, sua voz quase falhada ao se lembrar do que tinham vivenciado antes. Não havia sido uma crise de grande nível, tampouco o Apocalipse de ambos os mundos, mas nem ele nem seu irmão tinham sido os mesmos depois daquela perda.

— Diga-me, irmão, também não estás curioso? Magos sempre vão lá.

Thomas sabia que muitos anos haviam se passado e talvez muitas coisas tivessem mudado, mas a ideia não deixava de ser hesitante para o mago. Apesar de serem gêmeos, não eram nada parecidos. Nem na aparência, e muito menos na personalidade. Filhos de um dos grandes magos de Scaris, eles eram bem vistos e constantemente cortejados. Thomas tinha cabelos castanhos e olhos escuros, quase pretos, era carismático e seus poderes se desenvolviam muito bem. Vladmir tinha cabelos cacheados e loiros, olhos azuis e gélidos e tinha o dom nato para persuasão. Ambos tinham desenvolvido muito bem seus poderes durante suas infâncias, e o resultado na fase adulta era notável.

— É proibido - Lembrou o irmão. - Humanos não conseguem entender-nos. Sempre há briga. Como da última vez.

A expressão de Vladmir vacilou uma vez e se tornou sombria por um mísero segundo. Depois seu sorriso voltou, falhado, em seu rosto.

— Devemos superar esse acontecimento, Thomas, sei que ainda está abatido... Eu também estou, mesmo depois desses longos anos, mas está na hora de recomeçar. Criar uma família seria o primeiro passo.

Mesmo os cortejos que ambos recebiam, Thomas não havia criado sua própria família. E sabia que deveria deixar pelo menos um herdeiro. As leis de Scaris eram mais rígidas que a dos humanos. Via-se diariamente milhões dos não mágicos infligindo leis e uma misera porcentagem pagava por seus atos. Não em Scaris. As famílias tinham a opção de continuar ou não sua linhagem com herdeiros legítimos, mas se caso não quisesse, poderia passar a herança e os status para alguém de confiança como um amigo muito intimo ou um familiar distante.

Thomas não conhecia nenhum familiar próximo de sua família. Havia, por incrível que pareça, competições entre os familiares e poucos eram de confiança. Como os seus amigos.

Suspirando, Thomas fitou seu gêmeo.

— Muito bem, se você insiste tanto, vamos.