Inesperado escrita por Chiisana Hana


Capítulo 9
Capítulo IX




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada. Se fossem meus, o negócio se chamaria Saint Shiryu. Não ganho nada com minhas fics.

INESPERADO
Chiisana Hana

“Mas o teu amor me cura
De uma loucura qualquer
É encostar no teu peito
E se isso for algum defeito
Por mim, tudo bem.(1)”

Capítulo IX

– Espera, Shiryu... – Shunrei murmurou, quando ele já ia fechando a porta. – Não vá.
Ele voltou-se para ela, mas ficou segurando a porta entreaberta.

– Eu não quero que você vá embora – ela prosseguiu. Respirou fundo, buscando coragem para dizer tudo que precisava, mas a voz saiu num sussurro arrastado e entrecortado. – Eu te amo como nunca amei ninguém. O que eu sinto por você é infinitamente maior do que o que um dia senti pelo Emanuele. E é por isso que eu tenho tanto medo. Se quando eu descobri a mentira dele já foi como ir para o inferno, imagino o que vai ser de mim quando nós...
– Se... – ele interrompeu. – Se nós...
– Se um dia nós nos separarmos – ela continuou. – Eu não sei se consigo lidar com isso outra vez.
Ele entrou novamente no apartamento e fechou a porta atrás de si.
– Você não pode passar a vida com medo – Shiryu disse. – Ainda mais um medo irracional e indefinido como esse.
– É fácil pra você. Você é corajoso, gosta da adrenalina, lida com o perigo o tempo inteiro. Eu gosto de segurança e não queria perder tudo o que eu tinha conquistado sozinha.
– Você não está mais sozinha... – Shiryu disse, aproximando-se dela. – Quantas vezes vou ter de repetir isso?
– Me livra disso, amor... Eu deixo você cuidar de mim. Me ajuda a superar esse medo...
– É o que estou tentando fazer desde o começo, Shunrei – ele disse e tomou-a nos braços. Deu-lhe um beijo intenso cujo gosto também era o das lágrimas que banhavam a face dela. Fizeram amor ali mesmo, no chão da sala, e enquanto ele movia-se sobre seu corpo, ela tomou a decisão de aceitar a proposta que ele fizera.
“Que seja o que Deus quiser”, decidiu, e voltou a concentrar-se nele, somente nele.

–--------------

Dias depois...

– E aí, já está na casa nova? – Mino perguntou ao telefone. Estava ansiosa para saber como tinha sido a mudança de Shunrei para a casa de Shiryu.
– Acabei de chegar – Shunrei respondeu. – É tão estranho, mas eu tô achando que posso me acostumar.
– Ô sua boba, quem não vai se acostumar com coisa boa?
– Meus cacarecos nem combinam com essa casa e meu carro parece bem constrangido lá perto do Maybach, da Ferrari, do Lamborghini e dos outros carros de luxo do Shiryu.
– O importante é que você e o Shiryu fiquem bem.
– Ele tem sido ótimo e olha que eu nem merecia. Eu decidi começar a fazer terapia, sabe? Não quero ficar enchendo o saco dele com meus problemas existenciais, meu medo “irracional e indefinido” como ele falou.
– Acho ótimo! Vai te ajudar a se conhecer melhor.
– É, e acho que vai ser bom também para me ajudar a aguentar o coração sobressaltado quando ele está voando pelos ares com aquela moto. O campeonato começa em algumas semanas e ele já está treinando. Mino, me dá um desespero. Parece que ele vai se espatifar no chão a cada salto.
– Ele é profissional. Não vai acontecer nada.
– Rezo todos os dias por isso.
– E o seu apartamento?
– Ele quitou o financiamento. Agora está para alugar e essa vai ser minha renda enquanto eu estiver desempregada. Eu não quero ter que pedir dinheiro a ele pra comprar minhas coisas, embora ele já tenha solicitado ao banco um cartão de crédito no meu nome.
– Oh, my God! Um “ultra gold diamond platinum card”? Tipo sem limite?
– E eu sei lá, Mino! Nem perguntei! Só aceitei porque ele insistiu. Tem medo de eu precisar de alguma coisa quando ele estiver viajando.
– Tá, eu vou parar com o chilique! Ah, queria falar outra coisa. Shunrei, a van nova é tão perfeita! Estou encantada por dirigir aquela beleza!
– Fico feliz que tenha gostado. Vou falar pra ele!
– Fala que ele é um anjo, que eu amei, que as crianças agradecem, mas que eu rogo uma praga daquelas terríveis se ele magoar você.
Shunrei riu.
– Obrigada, amiga! Eu vou falar exatamente isso. Ah, no domingo vamos fazer uma jantarzinho com os amigos dele e eu gostaria que você viesse. Sei que é complicado por causa das crianças, mas se der, eu vou ficar muito feliz.
– Ai, minha amiga, você sabe que eu adoraria, mas arrumar alguém pra ficar com eles no final de semana é quase impossível.
– Eu sei disso... Quando eu estiver mais acostumada aqui, podemos marcar um almoço na piscina de novo e você traz todos eles.
– Fechado! Agora preciso desligar.
– Está bem. Passo aí no orfanato para conversar mais assim que arrumar tudo.
– Tá bom! Vou esperar!
Depois de desligar, Shunrei subiu para o quarto e olhou desolada para as caixas de “cacarecos e penduricalhos”, além de suas malas. Resolveu começar a arrumar as roupas no closet que ela achava ter mais ou menos o tamanho de seu apartamento inteiro. Shiryu tinha mandado separar um lado todo para ela. Shunrei achou que não conseguiria preencher um sexto do espaço. O mordomo e a arrumadeira ofereceram ajuda, mas ela recusou gentilmente e começou sua tarefa.
– É – suspirou Shunrei ao terminar de colocar tudo nos armários. – Não chegou nem perto de preencher.
Olhou para a ilha central, uma bancada de madeira escura, com tampo de vidro que permitia ver o conteúdo das gavetinhas internas superiores. Havia dezenas de relógios na metade esquerda. A metade direita estava vazia exceto por um dos nichos que continha um relógio feminino de ouro branco e diamantes, junto com um bilhete que dizia:
“Um mimo para começar a preencher seu lado... Te amo. Shiryu.”
Shunrei sorriu. Estava usando um relógio simples, de plástico branco, com flores estampadas na pulseira. Tirou-o do pulso e colocou o novo Girard-Perregaux. Olhou seus diamantes reluzindo, uma quantidade de pedras que ela não estava afim de começar a contar, o fundo de madrepérola com um desenho de flor em alto relevo e sua pulseira de couro vermelho.
– Essa é minha nova vida e eu preciso me acostumar a ela – disse para si mesma e saiu do closet.
Shunrei separou as caixas que continham os livros e os CDs para levá-las ao escritório. Arrumaria tudo depois. Pegou outra caixa onde estavam alguns objetos de decoração e retirou o porta-retratos com uma foto do avô em frente à cachoeira. Colocou-o sobre a cômoda, ao lado de uma foto da mãe de Shiryu.
Depois de descer e espalhar outras fotos pela casa, foi até a cozinha ver o que estavam fazendo para o jantar. Shiryu avisara que ia à empresa mas voltaria a tempo de jantar com ela.
– A senhora deseja algo diferente para o jantar ou está bom assim? – perguntou a cozinheira depois de mostrar a Shunrei o que estava sendo preparado.
– Não, Satsuki. Está tudo perfeito. E nada de “senhora”. Pode me chamar apenas de Shunrei.
A moça assentiu e Shunrei lhe disse que esperaria Shiryu na sala. Quando ele chegou, os empregados já tinham ido embora.
– É tão bom chegar em casa e te encontrar – Shiryu disse, abraçando-a.
– É, essa parte é muito boa – ela concordou e voltou o rosto para ele a fim de receber um beijo. – Vai ser muito bom te ver todo dia. Vamos lá para a cozinha, eu vou pôr o jantar.
Shiryu acompanhou-a até lá. Satsuki deixara a mesa arrumada e agora Shunrei esquentava a sopa que ela deixara pronta. Não quis bancar a chata já no primeiro dia, mas no futuro pretendia preparar ela mesma as refeições.
– Sabe o que eu pensei quando vi sua cozinha pela primeira vez? – Shunrei indagou.
– Que queria todos esses utensílios?
– Isso também... mas o que eu pensei mesmo foi que queria sovar um pão nesse balcão enorme... ou fazer amor sobre ele...
– Hum... por essa eu não esperava – Shiryu disse, com uma expressão maliciosa na face, e abraçou-a por trás.
– Viu? Eu também tenho minhas surpresas – disse ela.
Shiryu então a ergueu nos braços e carregou-a até o balcão de mármore negro.
– Não quero jantar agora – ele disse e levantou a blusa dela. – Temos coisa melhor pra fazer.
– Sim, temos – concordou Shunrei, e amaram-se num ritmo alucinado, espalhando as roupas pela cozinha, ou parte delas...

–----------

No domingo, conforme combinado, os amigos de Shiryu vieram para o jantar.
Ikki e Shun foram os primeiros a chegar. Logo depois de cumprimentar o casal, o irmão mais velho fez algo que tencionava fazer há tempos.
– Desculpa, Shunrei – Ikki pediu, e conhecendo-o como conhecia, Shiryu sabia que ele estava fazendo um enorme esforço. – Vamos recomeçar, sim? Eu sei que fui estúpido aquele dia.
– Tudo bem, Ikki, não precisa... – ela respondeu. – Não precisa...
– Sério, me deixa continuar. Às vezes eu sou um bruto mesmo.
– Muitas vezes – Shiryu corrigiu.
– É. Mas poxa, você ficava de marra porque o Shiryu é motoqueiro... Isso meio que ofende a todos nós.
Shunrei quis dizer que não “ficava de marra”, mas que tinha medo e se preocupava com ele, porém ficou quieta e deixou Ikki prosseguir.
– E também ficava incomodada com a grana do cara, pô. Se ele fosse um traficante de drogas, eu até entenderia, mas é dinheiro honesto. Ele não tem culpa de ser filho de um milionário safado.
– Eu sei disso – ela falou. Ikki continuou.
– E também eu achei que você ia acabar fazendo Shiryu largar o esporte e tal...
Sem vontade de falar mais nada, ela apenas balançava a cabeça afirmativamente. Queria que Ikki encerrasse logo o assunto.
– Enfim, desculpa aí – ele disse.
– Tudo bem, Ikki – ela repetiu. – Está tudo bem.
– Senta aí, cara – Shiryu disse, satisfeito por essa atitude de Ikki. Achava que Ikki já tinha tomado algo para estar pedindo desculpas e falando tanto, mesmo assim resolveu oferecer mais. – Eu vou abrir um vinho e vamos ficar numa boa.
– Espero que não seja um vinho italiano – Shunrei brincou. Shiryu riu e disse que o vinho era francês, deixando Ikki e Shun sem entender a piada interna do casal.
– Shiryu me falou que você perdeu o emprego – Shun disse. Shunrei respondeu afirmativamente. – Eu tenho bons contatos na imprensa, posso ajudá-la a arrumar alguma coisa.
– Eu agradeceria – ela disse, embora ainda não tivesse certeza de que queria voltar à televisão. Achava que talvez fosse melhor trabalhar na imprensa escrita, pelo menos por um tempo, mas resolveu deixar isso a cargo do destino. Pegaria o que aparecesse.
– A Mino está chegando! – Shiryu gritou da cozinha, enquanto abria o vinho. – Acabei de ver na câmera do portão.
– Ah, que bom! – exclamou Shunrei, feliz por ter alguém mais íntimo na reuniãozinha. Tinha alguma afinidade com Shun, mas era bom ter sua melhor amiga por perto. Pediu licença aos rapazes e foi recebê-la. – Que bom que você veio! Estava triste porque você disse que não tinha arrumado ninguém para ficar com as crianças.
– Arrumei na última hora!! – explicou Mino. – Ainda bem! Não queria perder sua primeira reuniãozinha como moradora da mansão.
Mino entrou com Shunrei e cumprimentou formalmente Ikki e Shun. Seiya e Saori ainda não estavam lá, o que ela agradeceu mentalmente, para logo em seguida sentir-se culpada. Como a milionária cumprira o que prometera e as crianças já estavam recebendo atendimento médico gratuito no hospital dela, sentia que tinha o dever de ser gentil e agradecer.
– Hoje veio sem a pirralhada, né? – comentou Ikki, assustando-a. Não esperava que ele puxasse conversa consigo.
– Pois é... – ela respondeu, pensando se ele achava que ela seria louca o suficiente para trazê-los a um jantarzinho íntimo.
– Você toma conta de tudo sozinha? – Shun quis saber.
– Bom, mais ou menos. Tenho alguns funcionários que me ajudam, uma cozinheira, uma faxineira... O resto é comigo. O governo custeia os salários deles, felizmente.
– O Seiya morou lá antes de ser adotado, né? – Ikki perguntou.
– Sim, na época em que eu também era interna.
Mino começava a se sentir incomodada pois à medida que falava, Ikki parecia examiná-la com o olhar.
“Será que está me achando malvestida demais?”, perguntava-se a moça. “Arg! Para de me olhar, seu brutamontes absolutamente... maravilhoso... Tá me deixando encabulada.”
– Você deve ser bem brava pra conseguir manter aquelas crianças na linha – Ikki continuou enquanto mexia displicentemente no cabelo, gesto que Mino achou extremamente charmoso.
– Um pouquinho – Mino respondeu. – Bom, é que se não botar moral eles tomam conta, sabe?
– Criança é fogo mesmo – ele disse rindo.
– Deve ser uma loucura nas férias! – exclamou Shun.
– Nem me fale... – Mino disse, suspirando. – Preciso ficar inventando coisas para mantê-los ocupados. Faço qualquer negócio para gastar toda aquela energia acumulada.
– Até eu vou para lá ajudar nas brincadeiras – Shunrei disse.
– Queria ir lá um dia também – Shun falou.
– Claro. Pode ir – Mino disse, imaginando se Ikki também iria. Pelo pouco que ela o conhecia, achava que gostar de criança não era exatamente o forte dele...
Shiryu voltou à sala trazendo o vinho.
– Falávamos do orfanato – Shunrei disse a ele.
– Ah, sim. A Mino faz um trabalho muito bonito lá.
– Bonito e difícil – completou Shun. – Deve exigir um desprendimento muito grande.
– Ela às vezes se esquece de si mesma – Shunrei disse.
Mino já estava ficando extremamente encabulada por ser a pauta da noite, então resolveu virar o jogo.
– Mas me diga, Shunrei – ela começou. – Já se acostumou à casa nova?
– É tão grande!– respondeu a outra. – Ainda estou me acostumando, mas certamente é bom poder ver o Shiryu todos os dias. Morando longe a gente às vezes não conseguia passar muito tempo juntos.
– Esse pode ser também o teste definitivo – começou Shun. – Porque é morando junto que se descobrem aquelas manias chatas, os defeitos que a gente não demonstra quando se vê apenas algumas horas por dia.
– Isso é verdade – concordou Shunrei, lembrando inevitavelmente do ex-marido e sentindo um calafrio ao imaginar a possibilidade de a história repetir-se.
Seiya e Saori logo chegaram, praticamente ao mesmo tempo que Hyoga. Depois de mais um pouco de conversa, Shiryu e Shunrei convidaram os amigos à mesa para que o jantar fosse servido.
– Ela fez questão de preparar tudo – anunciou Shiryu. – Eu já andei provando e está tudo uma delícia.
– Ele adora exagerar!
Depois do jantar, foram à sala de jogos, onde os rapazes começaram a se divertir com o videogame.
– Eu tenho que ir – Mino anunciou depois de alguns minutos. – Não posso ficar tanto tempo longe.
– Eu sei – Shunrei disse, compreensiva, e abraçou a amiga. – Fiquei muito feliz por você ter vindo. Muito mesmo.
– Eu também gostei de vir. E já reparei no seu toque pessoal em cima do console da sala.
– Sim! Coloquei aquela foto que tiramos no orfanato.
– Ficou ótimo! Obrigada por tudo, Shunrei.
– De nada, minha querida amiga.
Shunrei acompanhou Mino até a porta, depois retornou à sala de videogame, onde Saori já estava sentada no bar, bebericando um drink.
– Parecem crianças – disse a milionária, rindo. – Se alguém ouvisse esse barulho nunca iria suspeitar que já são homens feitos e não adolescentes com a cara cheia de espinhas.
– Eles se empolgam mesmo, né?
– Demais. Isso aí vai longe, Shunrei. Acho bom se acostumar.
– Já tive de me acostumar com coisa pior – falou, pensando no ex-marido. “Tive que me acostumar com aquele maldito me tratando como se eu fosse uma retardada. Ver Shiryu jogando não é nada. Posso até aprender e jogar com ele...”
– Então, está curtindo a mudança? – indagou Saori displicentemente.
– Sim. Foi uma solução meio drástica, mas estou feliz. Shiryu tem sido maravilhoso.
– Ele é um cara excelente – Saori disse. – Você não vai encontrar outro como ele. Não combinava comigo, mas combina perfeitamente com você.
Shunrei sorriu. Era verdade. Ele combinava.

Continua...


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Notas finais do capítulo

(1) Tudo Bem, Lulu Santos



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