Inesperado escrita por Chiisana Hana


Capítulo 8
Capítulo VIII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497224/chapter/8

Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada. Se fossem meus, o negócio se chamaria Saint Shiryu. Não ganho nada com minhas fics.

INESPERADO

Chiisana Hana

“Se você me ama de um jeito hardcore,

Então não vá embora.” (1)

Capítulo VIII

– Não quero que você saia da minha vida – Shiryu disse, quando a terceira música do CD acabou. Tinha pedido para que tocassem apenas as três primeiras canções, que eram as inéditas. As demais eram regravações de músicas que ele achava que tinham a ver com o momento.

– Só o tempo pode dizer isso, né?– Shunrei falou, ainda emocionada, porém resolveu não prolongar o assunto. – Vem cá, quantas surpresas você ainda vai tirar da cartola? Cantor? Nunca ia imaginar!

– Na verdade, o mérito não é só meu – confessou, e entregou a ela uma cópia do disco. Na capa, uma foto que ele fizera do pôr do sol na Tailândia e o nome: “Unexpected”(2). – Eu fiz com a ajuda de um amigo e de um produtor musical. Depois fui a um estúdio, gravei tudo e mandei o cara dar uma arrumada na voz. Os cantores profissionais fazem, por que eu não faria?

– A capa ficou linda! – ela exclamou, e virou para ver a lista de canções. As três primeiras chamavam-se “Unexpected”, que deu nome ao CD, “All I Want” e “Future”. O disco seguia com “Aishiteru”, “Stand Here With Me”, “Uncontionally”, “Burning Desire”, “Stay” e “Sei Sempre Stata Mia”.(3)

Shunrei não conseguiu segurar a risada quando leu o título da última música.

– Uma música em italiano? – ela indagou, ainda rindo. – Você é doido mesmo!

– Só uma brincadeirinha pra dizer que você sempre foi minha, mesmo antes de me conhecer.

– Mas você sabe italiano?

– Não muito. Escutei e decorei a letra.

– Que bonitinho! Isso foi muito, muito fofo. Tudo, as músicas, a capa. Eu estou realmente encantada, Shiryu.

– Que bom ter finalmente acertado o presente! – comemorou. – As joias não vinham agradando muito.

– Não é isso, meu amor – ela tentou justificar. – É que não tenho onde usar coisas tão caras.

Shiryu pensou em dizer que ela parasse de besteira, que a partir de agora ela teria onde usar joias porque ia querer a companhia dela nos eventos sociais que participava, mas não falou nada. Achava que com o tempo ela se acostumaria, da mesma forma como ele mesmo se acostumou rapidamente à boa vida proporcionada pelos milhões herdados.

Depois do jantar, ele a levou para casa. No caminho, falou:

– Queria marcar alguma coisa lá em casa para você conhecer meus amigos, sabe? Minha família era só minha mãe e agora não a tenho mais. Só me restam eles.

– Eu vou gostar de conhecê-los – ela disse. – Pode marcar.

– Ótimo! Que tal no domingo?

– Por mim está bem.

– Você pode levar sua amiga. Gostaria de conhecê-la também.

– Eu adoraria, meu bem, mas duvido que ela possa ir. É muito difícil a Mino sair do orfanato. Ela toma conta de tudo sozinha e não é fácil arranjar alguém que fique com eles para que ela possa dar um passeio...

– Achei que ela apenas trabalhasse no orfanato...

– Na verdade, ela mora lá. É o lugar onde ela cresceu e agora ela cuida das crianças. Eu a conheci há um tempo quando fiz uma matéria lá porque o governo ia fechar o orfanato e remanejar as crianças para outros lugares. A Mino lutou para mantê-lo e conseguiu, mas com a verba bastante reduzida. Agora ela cuida de tudo sozinha, com uma pequena ajuda do governo e com as doações que recebe.

Shiryu pareceu pensar sobre o assunto por algum tempo e depois disse:

– Hum... Sobre o convite para ir lá para a minha casa, basta ela levar a criançada. Eles vão adorar a piscina, não vão?

– Você faz ideia do que está propondo? Vinte crianças na sua casa, perto dos seus carros, das motos, das obras de arte, daquele seu sofá que deve ser caríssimo?

– Eles não podem ser tão perigosos assim. E, se servir de consolo, acho que meu amigo Seiya é mais destrutivo que essas vinte crianças juntas.

– Então tá! Eu vou falar com a Mino e aviso se ela topar.

– Fechado!

–-s2—s2--

No domingo, Shunrei foi ao orfanato ajudar Mino a arrumar as crianças para o passeio, embora nenhuma das duas estivesse muito segura de que isso daria certo.

– Ai, Shunrei, será que devemos mesmo ir? Eles podem destruir alguma coisa cara na casa do seu milionário.

– Eu sei, mas foi ele quem mandou levar, não foi?

– É, mas tô aflita!

– Eu falei para ele que as crianças não eram fáceis, mas ele disse que tudo bem, que vai um amigo que é pior que criança. Aliás, eu disse que esse amigo se chama Seiya?

A informação pegou Mino desprevenida.

– Seiya? – indagou, arregalando os olhos. – Será que é...? Não, não é possível... É?

– Sei lá... eu fiquei meio intrigada, mas acho que seria muita coincidência se fosse ele, né?

– Nossa, demais... Não deve ser.

– Não, não deve – concordou Shunrei, encerrando o assunto.

Ela e Mino acomodaram as crianças na van do orfanato, um cacareco comprado quando já estava caindo aos pedaços. Mino sentou-se ao volante e Shunrei no banco do passageiro. Lá atrás, as crianças estavam numa alegria incontrolável. A ideia de passar um dia na piscina deixou todos empolgados. Para o gosto de Mino, estavam empolgados até demais. Além de se preocupar com a segurança deles e com os objetos da casa, agora ainda havia outro problema: a remota possibilidade de o tal Seiya ser o seu Seiya.

Mino deu a partida, enquanto Shunrei colocou para tocar o CD que Shiryu fizera.

– Amiga, ele tá de quatro por você! – exclamou Mino na metade da primeira música. – Se alguém fizesse uma música pra mim, umazinha só, ainda que fosse ruim, eu me casaria com ele!

– Não exagera, Mino.

– Tô falando sério!

– Tia, já tá chegando? – uma das crianças interrompeu.

– É, tia, tá? – outra emendou.

– Acabamos de sair, meus amores! – Mino disse. – Tenham calma, que a gente chega!

Depois de mais umas dez perguntas como essa, a van finalmente entrou na rua que Shiryu morava.

– É aquela casa ali – Shunrei apontou na direção da mansão.

– Uau – suspirou Mino, ao ver a enorme fachada de vidro que, na verdade, era a garagem. – É, eu pensei que você tinha exagerado sobre o amor dele pelos carros.

– Eu até suavizei bastante – Shunrei disse. Não precisou nem apertar o botão do interfone. Quando ela desceu da van e se aproximou, o portão se abriu.

– Mágica! – exclamaram as crianças, impressionadas.

– Não – ela explicou rindo e entrou de novo no carro. – Alguém me viu pela câmera.

Quando chegaram à entrada de veículos, Shiryu as esperava. As crianças desceram da van na mais absoluta ordem, como Mino ensinara (e também ameaçara punir com uma semana de castigo quem não passasse boa impressão). O dono da casa cumprimentou a namorada com um beijo discreto, depois foi apresentado a Mino e a cumprimentou com um aperto de mão. Então disse “olá” para as crianças e levou todo mundo até a área da piscina. As crianças, que já estavam com boias nos braços, ficaram olhando para Mino e dela para a água e de volta para ela.

– Já querem entrar? – ela perguntou, e recebeu uma onda de “sim” em resposta.

– Então entrem! – disse Shiryu, e completou, depois que a horda avançou para a água: – Não se preocupem. Nós vamos ficar por perto e meu motorista vai fazer o favor de ficar de olho neles – concluiu, apontando para um homem sentado perto da piscina. Shunrei acenou para ele, pois se recordou que era quem os tinha levado ao aeroporto na viagem para a Tailândia.

– Obrigada, Shiryu – Mino agradeceu. – Muito obrigada mesmo. Eles adoram piscina, mas é difícil levar todos a uma piscina pública e tomar conta de todos eles...

– Posso imaginar. Fiquem à vontade. Eu só vou à cozinha dar algumas instruções e já volto.

– Shunrei, isso é tipo um resort, não uma casa – admirou-se Mino quando as duas ficaram a sós.

– É, ele mora bem – riu Shunrei. – Mas você bem sabe que o que me importa realmente é que ele seja bom pra mim.

– É, eu sei. E, pelo que vejo, ele tem sido.

– Sim... – Shunrei admitiu. – Ele é maravilhoso, mas sei lá... ainda é cedo pra dizer. E eu ainda não me sinto muito confortável nesse mundo dele.

– Pois eu adoraria entrar num mundo assim e nunca mais ter que me preocupar se no final do mês o dinheiro vai dar pra comprar carne. Relaxa, Shunrei. Já falei mais de mil vezes que você precisa parar com isso.

Shunrei não fez nenhum comentário e agradeceu internamente pela chegada de um convidado, interrompendo o assunto.

– Ué? Acho que errei de casa! – exclamou uma voz divertida ao ver a piscina lotada de crianças e boias.

Mino voltou o olhar para o recém-chegado e ficou totalmente sem ação. Reconheceu de imediato que o rapaz era o seu Seiya, seu amor platônico desde a infância, que conheceu no orfanato onde ambos viviam e de onde ele saiu aos oito anos, quando foi adotado. Ele também pareceu reconhecê-la.

– Eu acho que conheço você – ele disse, coçando a cabeça. – Tenho certeza que sim, só não me lembro de onde.

– Mino – ela murmurou, porque seu nome era mesmo a única coisa que conseguia dizer.

Seiya bateu a palma da mão na testa.

– Claro! Você é a Mino do orfanato! Que coisa louca ver você aqui! Então você que é a amiga da Shunrei! Aliás, olá, Shunrei. Muito prazer! Eu sou o Seiya.

– Oi, Seiya! – ela cumprimentou de volta, tentando não parecer chocada com a coincidência. Então era mesmo aquele Seiya! Mundo pequeno demais...

– Cara, você virou a cabeça do Shiryu, hein? – comentou, deixando Shunrei constrangida. – Eu quase arranquei os cabelos quando vi o que ele tinha feito com você na final do campeonato.

– Pois é...

– E as músicas, hein? Você curtiu? Fui eu quem ajudou Shiryu a fazê-las.

– Ah, eu amei! Ficaram lindas!

– Que bom! O Shiryu estava completamente neurótico! – ele exclamou rindo. Depois continuou: – E essa criançada toda?

Mino não conseguiu responder, então foi Shunrei quem explicou:

– São do orfanato que a Mino toma conta.

– Então você ficou cuidando do orfanato? – ele perguntou, dirigindo-se a Mino.

– É, ela ficou – Shunrei continuou respondendo, ao perceber que a amiga ainda estava totalmente sem ação.

– Que legal! Uma atitude muito bonita ter ficado lá.

“Eu não tive muita opção”, Mino quis dizer, mas ainda não conseguiu.

Shiryu voltou, cumprimentou Seiya com um abraço e ele falou sobre a coincidência de já conhecer a amiga de Shunrei:

– Cara, a gente morou no mesmo orfanato! – ele disse. – Não é super doido isso?

– Coincidência demais, né, Shunrei?

– E como! – ela concordou, torcendo para que os dois se afastassem um pouco. Estava doida para falar a sós com Mino, mas teria que esperar porque acabara de chegar mais uma convidada. Shiryu apresentou-a como Saori Kido. Ela cumprimentou as duas e deu um beijo em Seiya. Mino sentiu um tremor percorrer-lhe a espinha.

“O que eu esperava?”, pensou. “Que ele continuasse parado no tempo como eu?”

Logo em seguida, chegaram os irmãos Ikki e Shun, e pouco depois chegou Hyoga. Todos se acomodaram em uma das mesas externas, onde lhes eram servidos petiscos e bebidas.

Não demorou muito para Seiya jogar-se na piscina com as crianças, dando um salto que espalhou água por todo lado, para delírio dos pequenos. Com o sucesso no salto, ele saiu da piscina e deu uma nova pirueta, conquistando de vez seus pequenos espectadores.

– Eu não disse que ele era um crianção? – Shiryu indagou, abraçando Shunrei.

– Estou vendo que é mesmo – ela respondeu, rindo.

– Ele é terrível – Saori disse. – Mas é isso que eu gosto nele!

Depois das risadinhas de todos, Saori procurou manter a conversa com Shunrei.

– Então você é repórter esportiva? – perguntou.

–Não, não. Eu sou repórter do programa matutino. Só estava no evento de motocross para cobrir a falta de uma colega.

– Foi o destino quem a colocou lá, Saori – Shiryu disse.

– Bota destino nisso! Ela ganhou seu coração imediatamente! Eu estava assistindo e vi o beijo que você roubou. Totalmente fora do seu comportamento normal, Shiryu! Foi inacreditável.

– Depois roubei outro – ele confessou, rindo. Shunrei, que já estava levemente corada, ficou mais vermelha.

– Eu vi esse também – Saori disse. – No programa de fofocas!

– Nem fale nessa aberração – Shunrei disse, revirando os olhos.

– Eu quase enlouqueci nesse dia – comentou Shun. – Os telefones não paravam de tocar. – Meu celular também não – disse Shunrei. – Eu não fazia ideia de quem era o Shiryu e não estava entendendo o porquê de tanto interesse na gente. Só que a Eiri sabia tudo desde o começo, e eu lá, fazendo papel de boba.

Shiryu discordou.

– Não foi bem assim – Shiryu disse. – E foi bonitinho ver você chocada quando eu fui te buscar na Lamborghini. Se você soubesse, não seria tão engraçadinho.

– Eu não sabia no que estava me metendo! Pensei que você fosse só um maluco motoqueiro. Nunca imaginei que fosse um milionário excêntrico.

– E tem algum problema nisso? – Ikki finalmente abriu a boca. Shunrei voltou-se para ele, surpresa com o tom ligeiramente agressivo. – Algum problema em ser “maluco” motoqueiro e ter uma grana a mais? Você parece incomodada demais com isso.

– Não é isso, Ikki – Shiryu tentou apaziguar.

– Me incomoda entrar num mundo que não é o meu – ela disse, sentindo-se acuada. – Porque eu já fiz isso antes e a coisa acabou mal. Mas não vou entrar em detalhes.

– Então tá... Eu só queria entender... – Ikki disse de forma irônica. – Embora não tenha entendido nada.

– Acho que é hora de servir o almoço, não é? – Shiryu disse. Sabia bem como Ikki podia ser irritante e também sabia que não ia permitir que ele passasse da implicância gratuita com Shunrei para a grosseria real. Como não queria que a reunião acabasse em briga, resolveu intervir.

– Ehr... vou chamar as crianças – Mino disse, sentindo-se duplamente chocada. Primeiro a chegada do Seiya. E o rapaz que ao ver na televisão ela classificou como “brutamontes sexy” agora podia ser facilmente chamado de “troglodita imprevisível”.

– Eu vou te ajudar – Shunrei disse e a acompanhou.

– O que foi aquilo? – sussurrou Mino. – Foi bem... deselegante. Ele parece ser totalmente o contrário do seu milionário.

– Eu não sei... parece que ele não foi com a minha cara.

As duas encerraram o assunto e, com a ajuda de Seiya, fizeram as crianças sair da água. A maioria não fez muita birra, pois a fome já estava enorme.

Enquanto elas tiravam as crianças da piscina, Shiryu foi falar com Ikki.

– Eu não gostei daquela provocação gratuita – ele disse.

– Ah, cara, a mulher tá toda cheia de coisa porque você é rico pra caralho? Por favor, né?

– Eu fiquei rico – corrigiu. – E você não sabe nada sobre ela. Não pode julgá-la.

– Você tá falando isso agora, mas essa besteirada dela ainda vai encher seu saco. E na hora que ela exigir que você largue as motos, você vai lembrar o que eu disse no dia de hoje.

– Melhor voltarmos à mesa. E, por favor, não quero mais provocações.

– Eu vou me comportar – ironizou Ikki e os dois voltaram para as mesas da área externa.

O almoço foi servido assim que as crianças estavam acomodadas nas mesas. Quando todos já estavam quase terminando de comer, um barulho chamou a atenção deles.

– Olha, tio, um helicóptero de brinquedo! – gritou um dos meninos.

Shiryu voltou o olhar na direção que ele apontava.

– É um drone – disse, fazendo uma careta de insatisfação. – Acho que alguém está nos espionando.

– Ah, não! – exclamou Shunrei, deduzindo quem teria interesse nisso.

Mais tarde, a suspeita dela confirmou-se no programa vespertino de fofocas, quando uma Eiri sorridente anunciou a “bomba” do dia, enquanto exibia fotos do almoço e de outras ocasiões:

– Babado milionário! O beijo roubado na final do motocross estilo livre virou noivado! O pedido foi feito em um almoço super informal que aconteceu nesse domingo, à beira da piscina da casa de Shiryu Suiyama, o motoqueiro milionário. Os noivos contaram com a presença da empresária Saori Kido e de amigos íntimos do casal. Shunrei Tzeng, nossa repórter fisgada pelo ricaço, já usa uma aliança Bvlgari, conforme você vê nas fotos exclusivas que estamos mostrando! É, pessoal, o amor bateu forte no rapaz. Em quanto tempo nossa repórter deixará o emprego para se tornar a senhora do império Suiyama? Façam suas apostas!

–-s2—s2--

– E aí. Como é que você tá, Mino? – Shunrei perguntou, ao telefone. Era começo de noite e ela ainda estava na casa de Shiryu. Resolvera ficar depois que todos foram embora porque Shiryu não estava nada satisfeito com a história do drone.

– Ainda estou meio chocada – Mino disse. – Como é que pode o Seiya ser aquele Seiya?

– Eu também ficaria chocada se estivesse no seu lugar...

– Estou tentando esquecer, mas confesso que está difícil. E você, como está?

– Nem sei dizer. Acredita que foi mesmo aquela filha da mãe daquela Eiri que colocou o drone? Acabou de passar a matéria exibindo fotos da gente à beira da piscina.

– Caramba! Eu estava cuidando das crianças, não vi. Que safada!

– E ainda inventou que foi uma festa de noivado. Ela viu meu anel na semana passada!! Ela sabia que não era nada disso.

– Mas que sacana! O que você vai fazer?

– Eu não vou fazer nada, mas Shiryu disse que vai processá-la, que não estávamos em local público, que ela não podia ter invadido a casa dele dessa forma. Ele está furioso.

– Ih, agora ela vai se ferrar, mas tomara que sirva de lição. Fofoca tem limite!

– É, mas eu posso me ferrar junto, já que ele vai processar a emissora também...

– Relaxa. Não vai rolar nada disso, amiga.

Mino quis completar dizendo que em breve ela se casaria com Shiryu e não iria mais precisar desse emprego, mas guardou o comentário para si porque achava que Shunrei ia se chatear.

– Vamos ver... – Shunrei disse e mudou de assunto imediatamente. – Ah, o Shiryu quer ajudar as crianças virando um colaborador mensal.

– Ah, meu Deus! Isso é ótimo! Você bem sabe que eu sempre estou com o orçamento apertado, né?

– Eu sei, amiga. E tem mais. Ele vai dar uma van nova pra vocês!

Mino quase pulou da cadeira.

– Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Sério? Você pediu?

– Eu não! Imagina se eu ia pedir! Ele que notou o estado da van velha. Aí quando vocês foram embora ele falou que vai mandar entregar uma nova ainda essa semana.

– Ai, Shunrei, isso vai ser perfeito!!

– E, depois que vocês saíram, ele também falou com os amigos e eles também vão virar doadores mensais.

– Ai, caramba! Eu vou chorar!

– Tem mais! A Saori Kido possui um hospital e vai oferecer atendimento médico gratuito para todas as crianças.

Do outro lado da linha, Mino não conseguiu mesmo segurar as lágrimas de alegria.

– Amiga, eu não tenho como agradecer – disse. – Seu milionário é um anjo! Fala pra ele que em nome das crianças, eu agradeço muito, muito, muito. Isso vai ser tão importante pra nós!

– Eu falo, sim. Pelo menos alguma coisa boa aconteceu hoje, né?

– Ah, o dia foi ótimo, apesar do Seiya, do troglodita deselegante, do drone... As crianças amaram, se divertiram muito e agora estão dormindo feito anjos.

– É, o dia foi ótimo – Shunrei concordou –, mas eu vejo a tempestade vindo...

–-s2—s2--

Uma semana depois, Shiryu foi à casa de Shunrei no final do dia.

– Meu advogado entrou com o processo contra a Eiri e a sua emissora... – Shiryu anunciou. Estava empolgado com a ideia de dar uma lição nos fofoqueiros. – Eles precisam aprender a respeitar a privacidade das pessoas! Logo eles serão citados e...

– Eles já sabem – Shunrei interrompeu. – Aparentemente a Eiri tem informantes no fórum.

Shiryu fitou-a surpreso. Sabia que ela não estava gostando da determinação dele em entrar com o processo, mas não esperava encontrá-la tão irritada.

– Fui demitida essa manhã por conta disso – ela prosseguiu. – Parece que é o que estava fadado a acontecer desde que te conheci, né?

– Não é bem assim, Shunrei – ele disse, tentando acalmá-la.

– Ah, é. Meu chefe ficou furioso, me falou horrores, disse que eu tinha que ter convencido você a não entrar com o processo, que eu devia ser ruim de cama mesmo, porque se eu fosse boa teria te convencido...

– Que coisa mais nojenta de se dizer a uma mulher – indignou-se o rapaz. – Merecia levar um processo só por isso.

– Ele falou coisas piores... inclusive a respeito do meu ex-marido e do meu casamento falso. Provavelmente foi a Eiri quem descobriu essa história, porque eu nunca a contei para ninguém de lá.

Shiryu continuava indignado na mesma proporção em que Shunrei estava irritada.

– O fato é que agora eu estou no olho da rua! – exclamou a moça.

– Eu não podia deixar passar aquela invasão à minha casa. Ainda que o processo não dê em nada, eles precisam tomar um susto.

– Eu sei, mas acabou sobrando pra mim. Agora eu estou completamente ferrada porque além de todas as porcarias que ouvi do meu chefe, ele ainda falou que vai fazer de tudo para que eu não arranje emprego em lugar nenhum.

– Não estou entendendo a razão de você estar irritada desse jeito. Se está preocupada com as contas, relaxe. Você sabe que eu posso ajudar enquanto você estiver sem emprego. Isso não é um problema.

– Não é só isso!

– O problema é o financiamento do apartamento? Não importa quanto falta, eu quito pra você. É só me dizer quanto é.

– Não faça isso! – ela exasperou-se. – Eu não quero!

– Por quê? Eu não sou um estranho, eu sou seu namorado! Qual é o problema de aceitar minha ajuda?

– Eu não quero ser sustentada por você!! – ela gritou. – Eu não quero o seu dinheiro! Eu não quero depender de homem nunca mais na minha vida!

– Deixa de orgulho bobo! – ele retrucou, também irritado. – Já está na hora de você parar de me comparar ao seu ex-marido, não? Eu já provei que não sou como ele, mas você ignora isso! Você insiste em achar que eu vou fazer o que ele fez. Para com isso! Eu não sou esse maldito italiano!

Shunrei calou-se. Não teve coragem de rebater as acusações, pois sabia que ele estava completamente certo. Estava mais do que provado que Shiryu era diferente de Emanuele, mesmo assim ela não conseguia parar de pensar que a história ia se repetir. Que no final das contas, acabaria magoada, sozinha e sem rumo. Ela simplesmente não conseguia superar totalmente o passado, apesar de Mino insistir em dizer que se ela fora capaz de sobreviver uma vez, conseguiria fazê-lo de novo.

– Eu a amo mais que tudo – ele continuou, num tom mais ameno. – O que eu fizer por você, será por amor. Abaixa um pouquinho essa guarda e me deixa entrar completamente no seu coração. Me deixa arrumar sua vida. Me deixa cuidar de você, Shunrei.

A chinesa permaneceu calada, envergonhada, com a cabeça baixa e o rosto escondido pelas mãos. Shiryu impacientou-se com a falta de resposta dela.

– Está bem, Shunrei – disse o rapaz tristemente. – Eu vou embora. Quando você chegar a uma conclusão sobre o que quer, me procure. Você sabe onde. Mas acho bom não demorar.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) Never Let Me Go, Lana Del Rey (música nunca lançada oficialmente, mas é só catar no Youtube)
(2) Inesperado.
(3) Mika Nakashima, Creed, Katy Perry, Lana Del Rey, Rihanna e Gianluca Grignani, respectivamente. Usei algumas dessas músicas para abrir capítulos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Inesperado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.