As Crônicas de Astra escrita por Fantasius


Capítulo 9
A libertadora - Joanis


Notas iniciais do capítulo

Prometi que os capítulos iam voltar a sua postagem normal e aqui estou com o capítulo novo. Espero que sua sanidade se mantenha intacta até o final. -q
Ps: Nota final contem spoiler, não ler.



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Joanis gritou até que sua garganta ardeu. Idrian também gritava, mas um grito mesclado de pânico e dor, enquanto Antariad estava paralisada, numa expressão assustada. O cavaleiro cambaleou, tentando se afastar daquelas pessoas famintas que mais pareciam demônios.

– Faz tempo que eles não se alimentam... – disse o demônio sorrindo de forma maníaca – Precisava economizar a ração...

Idrian tropeçou e caiu novamente e por alguns segundos ele desapareceu abaixo das pessoas. Então ouve um grito e um clarão e aqueles famintos se afastaram queimando. O homem se levantou e tentou rastejar para longe das correntes.

– Você é realmente resistente seu verme – o demônio olhou com cobiça para Idrian –Esgotado e continua tentando usar magia...

– PARE! – gritou Joanis – NÃO O MACHUCA! EU SOU A PESSOA QUE INTERESSA AO SEU MESTRE!

O ser gargalhou e encarou a menina.

– Todos interessam ao Mestre... – a ponta de sua capa se tornou uma fumaça negra que o envolveu – Todos que sofrem interessam o Mestre.

Os homens acorrentados, mesmo em chamas, avançaram mais uma vez sobre Idrian, arrastando-o para eles novamente.

Ouve um silêncio mortal enquanto o cavaleiro era subjugado pelos outros.

Então ouve um grito de dor e um urro de prazer.

Os acorrentados saíram de cima de Idrian e um deles segurava algo. Idrian estava caindo no chão, sobre uma poça de sangue. Sangue que saia do lugar que um dia fora seu braço direito. Os homens comemoravam e repartiam o braço do outro, como feras.

Antariad gritou mais do que todos haviam gritado até aquele momento. A tabua se torceu nas pontas, como se um gigante estivesse amassando-a. O corpo de Idrian flutuou no ar e caiu num pedaço de terra longe dos famintos. As estacas na mão de Joanis se tornaram pó, fazendo assim que ela despencasse em direção àqueles humanos. Porém, alguns centímetros antes de cair sobre aquelas feras ela pairou sobre o ar e notou que Antariad estava a seu lado e ambas foram lançadas para o mesmo lugar que Idrian estava.

Joanis sentia cada parte do seu corpo doer, como se estivesse toda quebrada. Seu cabelo caia sobre seu rosto, dificultando a visão. Antariad parecia não estar num estado muito melhor que ela, seus olhos pareciam perdidos e suas mãos tremiam.

– Nunca imaginei que seriam tão resistentes. – o demônio sorriu – Vejo que o ódio faz realmente coisas incríveis...

A tabua de madeira explodiu numa esfera de chamas que queimou quem estava próximo. As línguas de fogo se moveram perigosamente sobre a cabeça dos acorrentados, se dirigindo na direção do demônio.

– VOCÊ FERIU O MEU CAVELEIRO DE FOGO! – a voz de Antariad tremia – VOCÊ ZOMBOU DAS CHAMAS DELE! EU O ENSINEI A USAR AQUELAS MALDITAS CHAMAS! – o fogo se propagava pelo chão e pelo ar, criando um domo de fogo – ZOMBE DAS CHAMAS AGORA!

Mais uma vez aquele ser riu.

– Crianças do Movimento fazem melhor que isso...

A temperatura continuava a subir e as línguas de chama se aproximavam cada vez mais deles.

– Você vai nos queimar Antariad! – gritou Joanis – Desfaça isso!

– A deixe queimar – o demônio dessa vez não sorria, como se estivesse com medo – Deixe me ver até que ponto ela é corajosa. Quero ver se ela vai ter coragem de queimar o noivo dela.

Lagrimas riscavam o rosto de Antariad. As pernas dela tremiam e ela se ajoelhou. As chamas se aproximavam lentamente, aumentando a temperatura, ameaçando-os. Joanis olhou para os lados, procurando algo para lutar, mesmo que não soubesse.

O domo de fogo se desfez sobre a cabeça deles, se dispersando pelo céu. O demônio deu uma gargalhada.

– Fraca e burra.

Antes das labaredas se dispersarem elas voltaram para a terra, avançando em direção a Antariad.

– Insolente! – gritou o ser – Morra!

As chamas atingiram Antariad no peito, incendiando-a. Joanis gritou e correu na direção da sua amiga, mas as mãos firmes do raptor a seguraram antes que ela chegasse à outra.

– Aceite garota – ele aproximou a boca do ouvido dela – Acaba aqui. Para todos vocês.

Antariad se debatia no chão, enquanto seu corpo pegava fogo. Seu grito de dor ecoava por todo o monte, reverberando em cada rocha. Ela tentou se levantar, mas caiu e ficou estatelada sobre a terra enquanto seu corpo queimava. Lágrimas silenciosas riscavam a face de Joanis enquanto ela via aquela cena. Idrian olhava para Antariad, com olhos cheios de lágrimas e sem poder fazer nada.

Após alguns minutos ouve silêncio.

Antariad estava morta.

As pernas de Joanis tremeram, e ela se precipitou em direção ao chão, porém foi segurada pelo demônio, que sorria de maneira maníaca.

– É isso o que acontece quando se apresenta resistência ao Senhor.

– Eu te odeio, eu odeio esse Senhor – falou a menina entre soluços – Vocês destruíram minha vida no passado. Vocês estão destruindo minha vida agora!

Idrian rasteja pelo chão, tentando chegar ao corpo em chamas de sua noiva. As lágrimas lhe riscavam a face, junto com sangue. Se ele não fosse tratado logo o braço iria infeccionar e ele também estaria morto. Todos estariam mortos. Não só os três ali, mas Astra iria morrer se eles falhassem. O Senhor iria se reerguer e sua fúria iria varrer o mundo.

Aquele era realmente o fim.

O demônio jogou Joanis para longe e se aproximou de Idrian.

– Você é um verme Idrian – ele chutou o cavaleiro caído – Você esqueceu quem te amou quando todos te abandonaram! – chutou mais uma vez – Você fez o que eu sou hoje – o ser se abaixou e levantou Idrian pelo pescoço e o fez olhar para seu rosto – Olhe nos meus olhos e se lembre deles. Se lembre do que você fez.

Joanis tentou se levantar, ficando de joelhos e observando a expressão de Idrian.

– Então você se lembra não é? – o demônio aproximou a boca do ouvido do outro e sussurrou algo – Diga meu nome Idrian. – disse novamente em tom alto.

– Jon – gaguejou Idrian – Jon Lamurides.

O demônio de nome Jon deu um tapa na face de Idrian e o soltou no chão.

– Agora Idrian, diga o nome dela. – Jon se inclinou sobre o homem – Isso é se ainda tem coragem depois de tudo que fez.

Idrian permaneceu em silêncio, encarando o ser. Então lentamente, como se cada palavra causasse dor, ele falou:

– Amélia Lamurides...

– NÃO! – o demônio chutou o homem mais uma vez e ele se torceu de dor – ELA NÃO SE CHAMAVA ASSIM, VOCÊ SABE DISSO!

O cavaleiro levantou a cabeça e encarou Jon.

– Amélia Varidiel... – e então abaixou a cabeça – Amélia Varidiel...

Jon fechou os olhos e cerrou os punhos e começou a desferir inúmeros chutes em Idrian, que gemia a cada chute. Joanis se apoiou em suas pernas fracas e correu em direção aquilo e reunindo todas suas forças empurrou o demônio, fazendo-o cair.

– SAIA DA FRENTE! – gritou ele – OU LHE MATO ANTES DA CHEGADA DO MESTRE!

– Se me matar ira arruinar os planos do seu mestre! – a menina abriu os braços, desafiando o outro – Vai ter que me matar para chegar a Idrian.

Idrian fazendo grande esforço se levantou e cambaleou ficando ao lado de Joanis.

– Não é necessário fazer isso... – sua voz era quase um sussurro – Não se machuque mais...

– Tanto faz se você está viva ou morta garota! – gritou Jon enquanto se aproximava – Até seu cadáver será útil! O que é cobiçado pelo Mestre é seu sangue, não sua vida.

Ele estendeu a mão e ao aproximar as garras do peito de Joanis ele foi atingido por uma flecha. Rapidamente ele recolheu a mão e olhou para cima, procurando quem o atacava. Joanis sorriu e também começou a procurar.

Mais flechas caíram sobre Jon, pegando-o de surpresa.

– Milady! – gemeu Idrian – Corra!

Joanis se virou para correr, mas deu meia volta e puxou o cavaleiro pelo braço que sobrava.

– Eu não vou sozinha!

Apoiando o amigo enquanto tentavam correr, Joanis ouviu o grito de dor do demônio quando as flechas explodiram e incendiaram a pele dele.

– VOLTEM AQUI! – ele estendeu a mão, fazendo sair uma fumaça negra dela – VERMES!

Joanis não olhou para trás e continuo a “corrida” até que começaram a descer o monte.

– Idrian – a menina olhou nos olhos do amigo – Fique aqui. Eu prometo que volto.

E sem esperar resposta ela deu meia volta e correu segurando a barra dos restos de seu vestido. O lugar que haviam fugido estava envolvido por fumaça e Jon o demônio gritava lá dentro. Joanis sorriu, alguém estava atacando.

– Milady! – gritou uma voz aguda de dentro da fumaça – Pegue isso!

Alguém jogou uma espada para a menina. A espada de ouro de Idrian. Joanis pegou a lamina e a examinou, vendo o sol refletir nela.

– Mas eu não sei lutar com isso – e olhou para suas mãos que sangravam decorrente aos furos – E não estou em condições de lutar!

A fumaça por poucos segundo se tornou vermelha e incandescente, como se ardesse como o sol. A lamina de ouro cintilou e brilhou levemente, clamando por batalha. Porém Joanis não podia proporcionar aquilo para a espada.

Os gritos de Jon prosseguiam, ele estava perdendo, fora pego de surpresa e não conseguia revidar a altura. Seja lá quem fosse que atacava iria ganhar grandes graças no futuro reino de Pandorian.

– Uma rainha não fraqueja Milady! – gritou a voz novamente – Uma verdadeira rainha é também uma guerreira!

Dentro da fumaça ouve uma explosão que fez ela se dispersar. Revelando Jon caído no chão com uma espada apontada em sua garganta sendo segurada por um senhor. E uma flecha apontada para seu coração, mirada por um esquilo grande. O chão estava em chamas, e as pessoas acorrentadas tentavam se afastar daquela batalha.

– THOR! – gritou a menina se aproximando – Eu não acredito!

– Não foi necessário que lutasse Milady – ele olhou para o demônio – Iremos matar. Esta de acordo?

Ela olhou com desdém para Jon, caído no chão, como um verme. Incapaz de se defender. Tal como Antariad, tal como Idrian.

– Não. – ela encarou os olhos de Jon – Eu mesmo irei mata-lo.

Ela se abaixou e sussurrou no ouvido dele:

– Seu verme.

– Clemência Milady! Perdão.

Ela se levantou e sorriu para ele.

– Agora não é o momento para pedir perdão nem para ser educado – ela o chutou e cuspiu em seu rosto – Acabou para você – se virando para Thor e o homem disse – Coloquem esse demônio de joelhos.

O homem automaticamente obedeceu e forçou Jon a se ajoelhar e abaixar a cabeça.

– Quem diria seu demônio nojento – com um chute Joanis o fez levantar a cabeça – Que toda aquela força seria tão fácil de ser subjugada... – ela riu – Alguns momentos atrás estava destruindo a mim e meus parceiros. Agora aqui esta, ajoelhado, perante a rainha de Pandorian.

– Você não é rainha! – gritou Jon num ato de coragem – Sua vaca!

Joanis lhe desferiu um tapa e o fez virar o rosto.

– Onde esta aquela educação? – ela brandiu a espada e se virou as pessoas acorrentadas – Eu irei libertar cada um de vocês! Darei de comer e cuidarei para que estejam seguros! Quem não estiver contente com as leis de meu reino que se vá. Pois cada ato de injustiça – ela se virou para o demônio – Será lavado com sangue! – e desferiu um golpe, cortando de uma vez a cabeça de Jon – Esta feito.

Thor se afastou do corpo do demônio e ficou ao lado de Joanis.

– Você – ela se virou para o homem que viera com o esquilo – Vá até onde começa a descida do monte e traga um amigo meu, ele não esta bem.

O velho saiu cambaleando em silêncio pela estrada a procura de Idrian.

– E você senhor Thor – ela sorriu para seu amigo – Que proeza foi essa? Subjugou um demônio, pegando-o de surpresa.

– Disse para não me subestimar Milady – ele emitiu um guincho de alegria e tornou a ficar sério – O que pretende fazer agora.

Joanis começou a caminhar em direção aos acorrentados, com espada em punho.

– Pretendo libertar meu povo.

E então com golpes rápidos e firmes ela destruiu uma a uma todas as correntes que prendiam as pessoas. Elas estavam magras e famintas, além de seus inúmeros machucados. Mas não ameaçaram fazer mal para ela, pelo contrario, eles se ajoelharam e abaixaram suas cabeças conforme ela passava. Após quebrar cada uma das correntes ela se voltou até onde Thor estava e começou a conversar com ele.

– O que aconteceu a essas pessoas? – ela olhava com pena em direção a seu povo – Por quanto tempo estão aqui?

– Milady, segundo Bart, meu amigo – respondeu ele – Todas as pessoas que chegavam a Hakar eram capturadas por esse demônio e então ficavam aqui, recebendo doses de ração, duas vezes por semana. Muitos morreram aqui, Milady não tem noção.

Após alguns minutos Bart chegou carregando Idrian, que sangrava muito. Ele foi colocado no chão, ao lado de Joanis.

– Meu senhor! – exclamou Thor – O que aconteceu com o senhor?

– Meu bom senhor Thor, não foi nada – ele respondeu, tentando sorrir – Um machucadinho – então se dirigiu a jovem – O que pretende fazer agora?

– Defender meu povo.

Ela andou até as pessoas que permaneciam ajoelhadas.

– Levantem suas cabeças! Os dias de dor acabaram! – ela olhou para o rosto de cada um, vendo a dor neles – A partir de agora o vilarejo de Hakar é parte unificada do reino de Pandorian! E eu serei a rainha de vocês – Joanis sorriu – Sinto muito por não poder ficar para ver a reestruturação de cada um de vocês, mas tenho uma missão a cumprir, porém... – estendendo as mãos ela prosseguiu – Quem quiser vir conosco será de grande ajuda.

Por alguns segundos o silêncio permaneceu, mas logo o ar se encheu de gritos de alegria, comemorando sua nova rainha. Alguns mais ousados se aproximaram de Joanis e a abraçaram e logo ela estava envolta num grande abraço coletivo.

– Meu povo... – então se desvencilhando daquele abraço e andou até Thor – Chame ajuda. Precisaremos de muita.

Joanis se abaixou e abraçou Idrian.

– Por favor, Idrian... – lágrimas caíram – Não morra... Eu preciso de você aqui...

– Farei o possível – e sorriu.


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Notas finais do capítulo

Sobreviveram até aqui? -q Antariad só é a primeira duma lista de personagens pra morrer. MUAUHAHUAHUAHUAHUHA Até a próxima morte, digo, capítulo.