As Crônicas de Astra escrita por Fantasius


Capítulo 4
Sonhos e sangue - Rastiel


Notas iniciais do capítulo

Mudando o ponto de vista para um novo personagem, bem distante de Joanis e Idrian. Tanto em características, como em localidade. Apresento a vocês nesse capitulo, Rastiel Silverian.



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– Por favor... – sussurrou Rastiel – aqui não.

A sala do trono, embora vazia e escura como naquele momento, sempre atraia visitantes, principalmente conspiradores e pequenos lordes, que amavam se sentar no Trono de Cristal e se imaginar senhores de todo o Leste. Rastiel Silverian, o conselheiro do rei, era um desses lordes, mas ele, diferente de todos os outros, tinha a permissão de seu senhor, para se sentar no trono e até em algumas situações governar.

– Não faça isso... – implorou enquanto sua camisa era rasgada e um dedo ágil dançava sobre seu peito - Podem nos pegar aqui...

– Fo... – começou a pessoa, mas Rastiel, com velocidade, silenciou-a com um demorado beijo.

O conselheiro encarou os olhos azuis através do capuz que sua única paixão usava. E como Rastiel a amava.

– Por favor, vá embora. –repetiu, depois dum segundo beijo – Eu tenho que descansar um pouco... – Rastiel deu um sorriso simpático – Mas eu prometo, antes do raiar do dia, eu irei ao seu quarto. Agora vá.

Com um beijo rápido de despedida a pessoa partiu. O homem que permaneceu na sala, estava com o coração agitado, como sempre ficava depois desses encontros. Rastiel, ansiando pela próxima vez, subiu ao seus aposentos, a fim de descansar, pois o dia seguinte seria longo e cansativo.

Seu quarto ficava na torre do conselho e se encontrava no ponto mais alto, de onde ele conseguia ver boa parte da Fortaleza de Diamante. Rastiel, assim que adentrou no recinto escuro, apenasse se despiu e caiu na cama, para um sono com muitos sonhos.

A mão que levantou o cálice era feita de ossos, apenas de ossos. Os convidados a mesa, eram todos homens, porem as faces deles eram deformadas e dilaceradas. O conteúdo do cálice que a principio Rastiel achava que era vinho, na verdade era sangue. “o sangue que será derramado por todos os povos, para o meu reerguimento”. Então o pouco de sangue da taça começo a aumentar e transbordar, caindo por todos os lados, inundando tudo, enquanto as feras presentes riam e batiam palmas. O humano, amedrontado, saiu correndo por uma porta lateral, que dava numa escada espiral. Essa escada se propagava ao infinito, subindo eternamente, mas subitamente a torre sumiu e Rastiel se encontrava nas praias de Crastian, a cidade de cristal.

Mas tudo estava cinza e frio, as ondas rebentavam com força contra as rochas; o céu estava tempestuoso, porém havia algo diferente nele, parecia que pedaços se soltavam e caiam em direção a terra. Ao se virar, Rastiel viu a pior cena que poderia imaginar sobre a Fortaleza de Diamante: as muralhas estavam em chamas, as torres caídas, pessoas mortas por todos os lados e sombras se movendo entre os corpos. No horizonte, o próprio mar parecia arder e se agitar. No céu, ao longe estava projetada um enorme triângulo, e tempestades se agitavam ao redor, como se o céu quisesse se comprimir para lá. Então Rastiel piscou, e o mundo mudou novamente, para uma visão pior: o mar estava rubro e corpos boiavam nele, sendo um desses corpos, o corpo gordo do rei Nazur. Na praia um esqueleto segurando o cálice com sangue andava em sua direção.

Ele tentou gritar, mas as palavras não saíram, ele tentou correr, mas as pernas não se moveram. O ser se aproximou e jogou todo o conteúdo da taça na face de Rastiel. “O primeiro, de muitos...” disse o monstro. “Rastiel, eu sei de seus segredos...” os buracos negros que eram os olhos do esqueleto se iluminaram de azul. O mesmo azul dos olhos que ele tanto amava. A criatura gargalhou e se afastou “Pobre Rastiel...” o monstro deu outra risada e se dirigiu para a cidade que queimava. Aquele cenário se dissolveu em sangue e Rastiel se viu em outro lugar.

Havia flores por todos os lados, flores de sangue. O próprio céu estava tingido de vermelho. Em meio aquelas flores uma pessoa de costas aguardava o conselheiro. As plantas viraram areia e em meio aquela tempestade, Rastiel apenas conseguiu ver um par de olhos azuis sangrando. “Salve se for capaz” disse uma voz distante. Porém quando o homem tentou correr ele acordou.

Estava suado e assustado. Agradeceu aos deuses por aquilo ter sido só um sonho. Ainda nu, andou até a janela e olhou para o horizonte. Sem triângulos, sem fogo, sem sangue, apenas um brilho tímido e gelado da aurora. Estava na hora de sair para amar. Vestiu roupas quentes, pois estava frio e saiu para o pátio superior.

No castelo havia uma agitação estranha e anormal para aquele horário. Os escravos e lordes se aglomeravam ao redor dum poço. Pareciam chocados e assustados. O conselheiro, embora quisesse descer aos andares inferiores, tinha que averiguar o motivo da balburdia.

– Saiam todos da frente! Eu tenho que ver! – gritou Rastiel, abrindo caminho até o poço.

– Lorde Silverian! – saldou-o Rugar Malarar – Sinta o cheiro.

Rastiel se debruçou sobre a borda do poço e cheirou o ar. “Deuses.” Pensou ele. Era cheiro de sangue. E as bordas também estavam sujas, como se alguém tivesse se segurado.

– Tem um corpo lá em baixo – disse Malarar – Provavelmente é lorde Garion, pois ele, segundo seu escravo, desapareceu na noite anterior.

– Assassinato?

– Garion tinha muitos inimigos, ele era poderoso. Talvez tenha sido. – respondeu Rugar – Mas não temos certeza que é ele. O poço não é fundo, vamos esperar o sol nascer para podermos ver.

– VOLTEM AOS SEUS AFAZERES ESCRAVOS! – gritou Rastiel e os serventes saíram correndo.

Seriam aqueles sonhos uma visão dum futuro próximo? Mas, o que seria aquela caveira? As forças das trevas tinham sido destruídas há no mínimo dezoito anos, seria impossível. Devia ser apenas uma coincidência. Rastiel e Rugar e alguns outros lordes ficaram ao redor do poço esperando o sol raiar com mais força. Mas conforme o dia se iluminava tudo parecia ficar ainda mais frio, a cor parecia ser sugada e tudo parecia morto. O mar estava agitado e nuvens espessas se formavam no leste. O sol estava fraco e cinzento, como se não quisesse vir ao mundo. E ele realmente não veio.

O céu se tingiu repentinamente de negro, como a noite profunda, e o sol sumiu.


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Notas finais do capítulo

Sexta feira tem mais. Até lá.



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