As Crônicas de Astra escrita por Fantasius


Capítulo 3
Fogo -Idrian


Notas iniciais do capítulo

Bom, como vocês vão notar nesse capitulo ele será narrado pelo ponto de vista de Idrian, e não pelo de Joanis como fora no anterior. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/497139/chapter/3

O sol lá descrevia seu arco final em direção ao poente e a garota ainda não havia acordado. Nuvens cinzentas, vindas do oeste, cobriam o céu, ameaçando chuva. O vento invadia pelas paredes quebradas e chamuscadas, fazendo a poeira se levantar. A luta ali havia destruído quase a cabana inteira, e com certeza o lugar não apresentaria nenhuma proteção contra a tempestade, fora de época, que se aproximava.

Idrian, que escapara da batalha apenas alguns machucados, estava sentado, sem camisa, descansando, num canto das ruínas, observando a menina que dormia; anos de escravidão, sobre magia forte, haviam feito muito mal aquela jovem, que parecia uma andante. Porém, as coisas que mais intrigavam o cavaleiro eram quais seriam os motivos que uma menina normal, estaria escravizada com magia negra e o que seria aquele homem de capa negra. Enquanto aguardava sinal de vida da menina ele passou a pensar na luta e de como teve sorte de chegar a tempo.

Quando chegou ao vilarejo, acompanhado pela jovem, na noite anterior, ele já havia sentido alguma presença sinistra nos arredores, algo maligno e sombrio, mas se recusou a acreditar. Idrian passou uma noite agradável na pousada, fora bem recebido e bem tratado pela dona do lugar. Mas assim que acordou, quando o sol ainda desapontava no horizonte, sentiu novamente a “presença”, porém dessa vez ela estava mais forte e ameaçadora e não havia como negar que algo estava na vila. Os raios de sol que entravam pela janela iluminavam o quarto de maneira bela, fazendo a espada de ouro que estava na mesa brilhar em tons vermelhos, como no dia que fora forjada. Idrian, com agilidade, pegando apenas sua lâmina dourada saiu da estalagem em busca da presença. O céu estava limpo e tingido de muitos tons, mas algo na direção da entrada do vilarejo de Isan chamou a atenção dele. O céu, que em todos os lugares estava brilhante, naquele ponto parecia escuro e cinzento, como se algo estivesse sugando a vida e a luz do lugar. “Então ai está você...” pensou Idrian, enquanto corria para o lugar.

A cabana aonde ele chegou era a mesma que ele havia deixado à garota na noite anterior. Porém naquela manhã, que o mundo ao redor florescia de vida, o lugar parecia morto, cinza e gelado. A madeira parecia ainda mais velha e morta. A grama ao redor da casa estava murcha. Os vidros estavam embaçados e congelados e de dentro do casebre saia um ruído mesclado de gritos e dor. Idrian respirou fundo e desembainhou sua espada, então invadiu a casa. Na sala de entrada havia uma velha senhora, rindo como louca e um homem alto, cuja capa negra esvoaçava e cobria parte da visão do aventureiro. Toda a luz e calor que sobrava no ambiente parecia ser sugada pelo grande manto negro. A velha, ao notar Idrian ali, parou de rir a cara dela se torceu numa carreta demoníaca. A carne no rosto dela derreteu e começou a pingar no chão, enquanto as unhas se estendiam em forma de garras. Em alguns segundos a transformação estava completa e a velha havia se revelado uma demônia. O rosto era desfigurado e negro, da boca saltavam presas amareladas e das narinas saia uma fumaça negra.

– CAVALEIRO DE LUZ! – sibilou a demônia, colocando a língua bifurcada pra fora – COMO OUSA SE INTERPOR NO NOSSO CAMINHO?

Idrian se limitou a rir e disse:

– Belas ultimas palavras.

A lâmina na espada na mão dele emitiu um brilho avermelhado, iluminando o ambiente. O homem da capa se virou, e Idrian pode encarar, através da mascara dele, os olhos do outro demônio.

– INSOLENTE... – a voz dele era terrível, gritos e pedidos de ajuda saiam junto dela – SUA ESPADA DE LUZ NÃO É PAREA PARA MINHA ESCURIDÃO.

Idrian saltou em direção a ameaça com a espada em punho, fincando no peito do ser. A criatura ao lado emitiu um guincho e saltou sobre o agressor, enquanto quem fora atacado apenas riu.

– SAIA DE PERTO! – os olhos da mascara cintilaram e Idrian voou contra a parede. – QUAIS SÃO SUAS ULTIMAS PALAVRAS MEU JOVEM?

– Ast... – disse ele com um sorriso no rosto – AST!

O homem se afastou de Idrian, mas já era tarde, seu manto já estava em chamas.

– CONJURADOR MALDITO!! – gritou à velha demônia, enquanto saltava sobre o atacante, que rolou para lado e ficou em pé com um salto – PARADO!!

– IGNUS! – gritou ele e as pontas dos seus dedos lançaram fogo, atingindo a monstra – IGNUS MAGNUS!

Diversas labaredas surgiram queimando as paredes e atacando os monstros.

–EU PODERIA TE DESTRUIR, MAS PERMITEREI QUE VIVA CAVALEIRO! – a capa negra do demônio se agitou e começou a se comprimir, junto com seu dono, até que ambos desapareceram.

– CAVALEIRO DE LUZ MALDITO! – guinchou a fera que sobrou, enquanto tentava se livras das chamas, que já consumiam grande parte da casa – VAI TER VOLTA! EU IREI TE DESTRUIR PESSOALMENTE!

Ela então se curvou e começaram a surgir penas nos braços, até que toda ela estivesse cheia de penas e começasse a encolher, tomando a forma duma ave, no caso um corvo. O pássaro crocitou e saiu voando pela janela, deixando cair algumas penas negras. Foi só ali que ele enfim notou que havia uma garota desmaiada inalando toda aquela fumaça. Ele bateu palmas e disse:

– Quiescitum... – as chamas, que comeram grande parte das paredes de madeira e quase todos os moveis, se extinguiram instantaneamente - Oh, deuses....

Idrian se agachou sobre a menina, que era a mesma jovem que havia lhe mostrado o caminho para a vila de Isan e notou que ela estava nua e muito ferida. Tirou sua camiseta e cobriu a menina, para que ela não se sentisse constrangida quando acordasse. No pescoço dela havia uma coleira que emitia uma luz mortiça, uma marca da escravidão, da escravidão por magia, usada nos anos negros. Na Torre seriam capazes de tirar aquilo dela.

Então o dia se arrastou por intermináveis horas sem que a menina acordasse. Até que a noite caiu e o clima ficou ainda mais frio. Idrian conjurou uma pequena fogueira perto da garota desmaiada e se sentou próximo. Depois de mais algumas horas, enfim, ela despertou com um grito de pavor.

– NÃO ME MACHUQUE! – gritou.

Idrian segurou a mão dela e disse:

– Está tudo bem, não vou te machucar milady, eles se foram. – e sorriu, como fazia com as crianças – Eu te salvei.

– Senhor... Obrigado...

– Está tudo bem, apenas me diga seu nome.

– Meu nome é Joanis Dragomir... – lágrimas começaram a sair dos olhos dela – O que era aquilo? O que queria comigo?

– Fique em paz essa noite milady Joanis, amanhã partiremos para um lugar onde todas as suas perguntas serão esclarecidas, Garidis, a cidade da Torre.

– O seu reino, senhor? – perguntou ela, com um brilho nos olhos.

– Mais ou menos... – ele se levantou e pegou um pedaço de pano chamuscado, entregando-o a Joanis - Coloque isso, iremos para a pousada passar a noite.

Joanis enrolou o tecido ao redor da cintura, tapando suas partes intimas. Ela arrumou o cabelo repicado, colocando-o atrás da orelha.

– Senhor... – começou ela – Por favor, não faça nada comigo...

– Milady! – exclamou Idrian – Se eu quisesse ter feito algo, eu teria feito enquanto milady estava desmaiada e alem do mais, eu tenho uma noiva a minha espera em Garidis, meu lar.

– Sim senhor, perdão.

Idrian riu e pegou na mão de Joanis, guiando-a para fora da casa, em direção ao vilarejo. Nas ruas de Isan não havia nenhuma pessoa, mas Idrian sentia os olhares curiosos que lhe eram lançados pelas janelas. “O lorde e sua puta” devia ser o que pensavam os habitantes. A estalagem era uma casa grande no centro do vilarejo. As janelas ficavam sempre brilhando durante a noite, pois as velas não se apagavam até que o ultimo homem caísse bêbado. Ao entrar, sem camisa e com Joanis no salão, Idrian atraiu todos os olhares e alguns comentários. Ele se dirigiu a estalajadeira, que estava sentada no balcão, tomando uma caneca de cerveja.

– Olá meu bom Idrian, vejo que está acompanhado! – exclamou ela e se aproximando do ouvido dele sussurrou – Existem vadias mais belas e menos maltratadas na cidade. Espero que esta ai esteja fazendo de graça.

– Ela não é uma vadia milady. – disse Idrian em tom baixo e elevando um pouco a voz disse o que queria dizer – Quero outro quarto para que milady Joanis possa dormir e tomar banho e leve roupas limpas e confortáveis para ela.

A estalajadeira entregou uma chave para Idrian, que entregou para Joanis.

– Já vou levar a roupa. – disse a mulher, tomando um gole de sua cerveja.

Quando já haviam subido as escadas e já estavam em frente ao quarto que Joanis passaria a noite, a menina abraçou Idrian.

– Obrigado por tudo senhor! – exclamou – Nunca ninguém fora tão gentil comigo.

Idrian riu e deu-lhe um beijo na bochecha.

– Tenha bons sonhos milady, descanse bem, pois a estrada até Garidis será longa e cansativa.

– Sim senhor!

Ela abriu a porta e entrou em seu quarto, enquanto Idrian se dirigia para o do lado, que lhe pertencia. Entrou e se despiu. Ao lado da banheira havia alguns baldes para aquecer a água e o homem fez isso. Em alguns minutos estava numa banheira quente, relaxando, pois embora tivesse apenas 27 anos, conjurar tanto fogo era exaustivo. Então, em tom baixo, começou a cantarolar:

Para Garidis, onde o sol brilha

Onde o aço fulgura

Onde a beleza se renova

Para Garidis, para Garidis

Cidade mais bela, com torre mais alta,

Para Garidis, onde o sol brilha

Onde o pássaro canta

Onde o rio se liberta

Após ele sair da banheira uma garoa fina começou a cair do lado de fora, até que se transformou numa tempestade. Idrian continuou a cantar, até que adormeceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Os próximos capitulos segurão o mesmo esquema, sendo narrados pelo ponto de vista de outros personagens. Por hoje é só, até segunda feira.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas de Astra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.