“Estou aqui sem você, amor
Mas você ainda está em minha mente solitária
Eu penso em você, amor
E eu sonho com você o tempo todo
Estou aqui sem você, amor
Mas você ainda está comigo em meus sonhos
E esta noite, somos só você e eu”

Here Without You – 3 Doors Down

Eu não estava na merda, quer dizer... eu até estava, mas sabe aquela sensação de você não estar feliz, de você não ser você mesma, não agir como você sempre age, de você estar... sei la, indo...

Eu não me sentia triste, ou acabada, quem dirá sofrendo, não vamos fazer drama né? É só uma fase, um período temporário onde com certeza eu tirarei um aprendizado que me impedirá de cometer o mesmo erro, mas essa fase foi se alongando, dias viraram semanas e semanas viraram meses. Sabe que eu nem percebi? Eu me sentia que nem a Bella em Lua Nova, que depois de levar um pé na bunda do Edward ficou sentada de frente pra janela mofando por sei la quantas estações, sem realmente perceber que o tempo tava passando.

Eu sentia que estava sendo uma péssima amiga pra Carly, eu acompanhava sua gravidez mas não de fato.. eu estava ali sem estar, soa confuso não? Eric também acompanhava, não nos olhávamos, não conversávamos, e era como se não precisássemos de nada disso, as coisas entre mim e Eric sempre foram um tanto silenciosas, ocultas, nunca se manifestaram realmente, mas sabíamos de fato que alguma coisa tinha. Era engraçado porque não parecia que tinha acontecido alguma coisa, eu nem me lembro mais se aconteceu, aconteceu? Parecia que tudo tava tão normal, e eu era só uma pessoa, uma telespectadora de como as coisas andavam, eu meio que não tava participando de nada disso, confesso... sempre odiei ser a excluída. Mas tava sendo bom pra mim sabe? Tirar um tempo, dar um tempo, perder tempo... não me fazia bem, e eu não estou mais feliz do que ontem ou semana passada, mas também não me fazia mal, eu sempre soube que pra amadurecer de verdade você precisa só de você e do tempo. É engraçado que estar sozinha sem realmente estar, me faz conhecer melhor a mim mesma, de uma forma que eu não conheceria se estivesse acompanhada.

Entretanto, Carly entendia, Chris entendia, Josh entendia, e meus pais transavam muito mas também entendiam. Ninguém me cobrou nada, ninguém me disse o que fazer e ninguém me perguntou se eu tava bem, mas ficaram todos do meu lado entende? Cada um do seu jeitinho, mas ficaram, e eu sabia que não estava sozinha, que quando eu voltasse ao normal talvez eu tivesse que dar algumas explicações, ou as coisas simplesmente voltariam normalmente, como se eu apenas tivesse tirado algumas férias.

Eu falei sobre não fazer drama mas parece que eu to fazendo... não é proposital, eu juro.

Mas vamos ao mais importante, estávamos em meados de novembro, começo na verdade, eu não tava la essas coisas na escola, mas da pra passar de ano, Carly estava no seu quinto mês de gestação e já já a gente volta pra ela. Eu estava surtada porque além de ter que me preocupar com as minhas notas, com qual faculdade irei cursar e pra qual irei ir (não faço ideia do que irei fazer) eu ainda tinha que me preocupar em fazer aquele estúpido discurso de oradora na porra da colação, ah e ainda tem o vestido da festa de formatura, eu não queria ir mas Carly me fez prometer que iria, e bom... ela esta grávida e estupidamente emotiva, melhor eu ir mesmo. E claro ainda tem o Eric, que não fala comigo e quando nossos olhares se encontram, o que tem sido bem raro por sinal, me olha com ódio. Eu não o culpava mais, ele não me devia nada... eu estava amena, sem sentir alguma coisa certa a todo tempo, ora eu me sentia culpada ora me sentia certa. Enfim, toda semana pra não dizer todo dia, ele aparece com uma nova garota, que fique claro que são todas vadias! Ele voltou a ser o galinha que era quando nos conhecemos, era ou sempre foi? Mas fora tudo isso, estava tudo bem, as amizades continuavam as mesmas e em nenhum momento o que aconteceu entre mim e Eric influenciou sua presença ou a minha presença, com Carly, Chris e Josh. Mas é o que falei, não estávamos sendo nós mesmos.

Voltando pra Carly... a quase um mês atrás descobrimos o sexo do bebê.

Flashback On

– AMIGAAAA! – Carly gritou do outro lado da linha, e pela primeira vez na vida eu não me emputeci por isso.

– É afilhado ou afilhada? – eu perguntei sorrindo.

– É AFILHADO, É MENINO! To tão feliz, apesar do Chris e do Josh ficarem jogando na minha cara “Eu falei que ia ser moleque”.. – ela disse e eu ri, imaginando um bebê totalmente muso vindo pra esse mundo não muito bom.

– Ai que bom amiga! To tão feliz por você, e olha... a gente vai ensinar ele a não ser um cretino.. – eu disse e ouvi Carly sorrindo do outro lado da linha.

– Sim! Já to pensando até nos nomes, são tantos... – ela disse ansiosa.

– Relaxa que a gente ainda tem tempo, e Carly... desculpa por não estar ai com você. – eu disse me sentindo culpada, eu queria ir mas Carly proibiu eu e Eric de irmos a sua ultrassom, alegando que nosso humor a estava deixando depressiva. Então não fomos.

– Nat eu te entendo... entendo o que você ta passando, e jamais vou te cobrar por isso, é como o Chris diz, o moleque não nasceu ainda mesmo... – ela disse me fazendo rir, Carly é a melhor.

– O Eric já sabe? – perguntei me arrependendo logo em seguida.

– Não... ele não ta atendendo o telefone. Mas a gente deixou recado. – ela disse meio relutante, ele deve estar transando com uma vadia isso sim.

– Entendi, eu estava pensando... podíamos fazer o chá de bebê aqui em casa, meus pais, ou melhor, minha mãe ia adorar organizar, e eu ajudo. – disse meio sem graça.

– Eu aceito, até porque meus pais não levam jeito pra isso, acredita que meu pai quase chorou quando soube que é um menino... ele ainda não fala comigo mas confesso que fiquei feliz com essa atitude dele. – Carly disse e eu senti sua felicidade.

– Que bom Carly! Depois passo na sua casa pra te dar um beijo e manda um beijo pro Chris. – eu disse.

– Pode deixar... – ela disse e desligamos, pela primeira vez ao mesmo tempo.

Flashback Off

E cá estou eu, enchendo bexigas verdes e azuis bebê enquanto deixo vocês por dentro da minha fantástica e maravilhosa vida.

Os convidados chegavam aos poucos, Eric já estava la, do outro lado da minha sala enchendo bexigas também com sua típica cara de garoto problema, em pensar que foi aqui que nos beijamos pela primeira vez...

Afastamos a maioria dos móveis da sala para um canto, no intuito de deixa-la mais espaçosa, colocamos a mesa da cozinha encostada na parede, que tinha um pano de fundo azul bebê com as letras de forma verdes coladas em cima formando o nome Dylan, a escolha não foi fácil, mas Carly disse que daqui uns anos terá mais filhos e poderá usar os outros nomes. Por sinal, ela estava linda.. sempre foi, mas agora estava com aquele brilho que todo mundo fala que só a gravida têm, e Chris sempre tão atencioso, nunca reparei antes mas eles ficavam lindos juntos, eram perfeitos um pro outro e seriam com certeza uma linda família, os pais dela e os pais dele conversavam alegremente uns com os outros e eu tive vontade de chorar, por ver que estava tudo perfeitamente perfeito. Era um chá de bebê básico, haviam alguns vizinhos da Carly, alguns amigos do Chris, um pessoalzinho da escola, uma grande concentração de desconhecidos na mesa, onde havia refrigerante, salgado e doce... normal já.

Foi uma surpresa o povo da classe ver que os mais inteligentes seriam pais, irônico até.. mas não teve nada de mais porque a quantidade de jovens que foram pais cedo naquela escola era indiscutível, Melanie, Natasha e Megan ora ou outra jogavam piadinhas, mas Carly não ligava e meu modo foda-se estava ligado 24h por dia.

Aos poucos todos foram indo embora, Josh que foi o que passou a festa inteira ao me lado foi o primeiro a ir, alegando que eu o estava deixando entediado, fazer o que... a família da Carly e do Chris agradeceram a mim e aos meus pais pela pequena reunião, que concordamos todos que seria melhor mista do que só para mulheres. Quando o ultimo convidado foi embora praticamente expulsei Chris e Carly da minha casa dizendo que não precisavam ajudar a limpar nada, e que eu me virava sozinha, aproveitei e expulsei meus pais também porque muita gente me deixava sufocada.

– Eu te ajudo... – Eric disse quando todos foram embora, me assustando, ele já não tinha ido?

– Não precisa eu.. – ia dizendo sem o encarar quando ele me interrompeu.

– Não pedi permissão. – ele disse e eu revirei os olhos.

– Grosso! – disse e vi um sorriso de canto em seu rosto. Caralho! Como eu sentia falta desse sorriso.

Na maior parte do tempo ficamos em silêncio, um silêncio dos bons e já estávamos acabando quando eu dei um suspiro cansado querendo acabar com aquela palhaçada.

– Olha Eric, acho que já deu né? Somos padrinho e madrinha do Dylan, pelo bem do bebê a gente tem que pelo menos se dar bem, tudo bem que ele ainda não nasceu mas.. vai acontecer uma hora ou outra. – eu disse o encarando e ele fez o mesmo.

– Aham.. – ele disse e eu bufei.

– A gente estragou as coisas mas ainda podemos ser amigos.. – eu disse e foi a vez dele de bufar.

– A gente? não foi “a gente” foi você! – ele disse calmo e eu o fuzilei.

– Seria mais sensato a gente dividir a culpa, mas já que você se sente melhor falando que a culpada sou eu, então tudo bem... – disse quase me convencendo de que eu realmente era a culpada, bom talvez eu seja...

– Tá. – ele disse dando de ombros.

– Tá o que Eric? – disse já perdendo a paciência.

– Tá Natalie, nós seremos amigos... – ele disse e eu suspirei.

– Então tá...

– Tá.

– Para de falar “tá”. – eu disse e ele me olhou com raiva.

– Quando o Dylan nascer não vai ser muito bom você aparecer com uma garota diferente a cada semana, vai confundir o garoto.. então eu acho.. – eu ia dizendo com um pouco de ciúmes admito, quando ele me interrompeu novamente.

– Você não tem que achar nada Natalie. – Eric disse se aproximando.

– Você não tem motivos pra essas mudanças drásticas Eric! – disse me exaltando e ele parou a poucos centímetros de mim e me enxergou do mesmo jeito que me enxergou no primeiro dia de aula.

– Acontece que eu não mudei por mim ou por você, nem porque me convém mudar ou por causa dos benefícios... – ele disse calmo olhando nos meus olhos, e pela primeira vez nesses quase quatro meses eu estava sentindo alguma coisa, tristeza... eu estava chorando.

“O que você não entende Nat, é que eu não preciso de motivos pra mudar, minhas mudanças são aleatórias e vêm de repente. O que eu sinto por você mudou, drasticamente na verdade, ficou mais intenso e mais forte e eu sinto o que eu jamais poderia imaginar ser capaz de sentir por alguém, e por coincidência eu mudei junto, o que sinceramente tornou tudo tão mais fácil pra você garota...” – ele continuou e sorriu no final e eu assenti o acompanhando e percebendo que eu sou otária pra caralho.

“Não pense que não foi assustador pra mim, porque foi, foi algo novo do qual eu não sabia lidar direito... mas pro meu espanto eu lidei com isso melhor do que você! Eu sei das suas inseguranças e sei dos seus medos, e tudo bem, não direi que te entendo mas não te julgo e nunca irei julgar..”

“Mas tudo exige reciprocidade Nat, é dar e receber.. que nem sexo entende?” – ele disse e eu ri em meio as lagrimas.

“Do mesmo jeito que eu acredito em você, você deveria acreditar em mim, do mesmo jeito que eu confio em você, você deveria confiar em mim! Tem de ser mútuo entende? Só você pode resolver suas inseguranças! Enquanto isso eu mudo quantas vezes preciso for, você sinceramente não está em posição de exigir nada, e você sabe disso.” – ele disse por fim, e eu o entendia perfeitamente como se ele fosse um ótimo professor.

Quando a vida tiver te cortado profundamente e tiver te deixado ferido

Eric delicadamente secou minhas lágrimas com seus dedos compridos e gelados, me deu um beijo na testa e foi embora. Ele ainda estava puto, eu sabia, mas ele não gostava de me ver chorar.

O futuro que você esperava agora está queimando
E os sonhos que você segurou tão forte perderam o significado

Eu ainda estava confusa, não sabia direito o que fazer, o que falar ou pra onde ir. Me julguem! Eu posso ser o ser humano mais lerdo do mundo, mas eu sou assim... eu cresço aos poucos, me apaixono aos poucos, supero aos poucos, entendo aos poucos... eu deveria ter confiado nele.

E você não sabe se irá encontrar cura

Ele estava chateado, puto, decepcionado.. seria difícil conseguir ele de volta quando eu ainda não tenho certeza absoluta dos meus sentimentos, nem dos dele, é o que ele disse, eu tenho meus medos e inseguranças e preciso perdê-los antes de tomar qualquer atitude!

Você vai conseguir
Você vai conseguir
A noite só pode durar por um tempo

Eu não sei quanto tempo vai levar, eu não posso focar nisso agora.. tem tantas coisas das quais precisam da minha atenção..

Seja o que for que você está enfrentando
Se seu coração está quebrando
Há uma promessa para aqueles que esperam

Espero que ele espere, mesmo que seja do seu jeito.. pegando várias garotas e agindo feito um idiota, mas se não... ele terá sido um belo aprendizado.

Levante os olhos e veja
O sol está nascendo